segunda-feira, 20 de julho de 2015

Regular excedentes, necessidade absoluta

A politica ambiciosa de contratações - as incorporações de Iker Casillas, Maxi Pereira, Imbula, já confirmadas e as "possiveis" de João Moutinho e Aleksander Mitrovic - dicta claramente o ritmo a que segue a planificação de temporada. Depois de um ano de investimento imediato mas sem um desembolso financeiro considerável (jogadores a custo zero e emprestados da liga espanhola) agora o objectivo é dotar de experiência e jogadores caros (seja no passe, seja no salário) para recuperar o titulo de liga e voltar a dar cartas na Europa. 

Considerações à parte sobre essa politica há algo imperioso para procurar equilibrar, de algum modo, a balança. As saidas de Danilo, Jackson, Quaresma e Casemiro desafogaram o topo da lista entre os mais bem pagos (ficou Tello), mas esta já foi imediatamente ocupada (e com juros). O caminho que o clube pode, deve e já está a seguir é um já reclamado há muito tempo, desde que se implementou uma politica de "contentores", como se chamou, onde havia um claro excedente de jogadores nos quadros do clube que não traziam nada de novo ao plantel. Esse excedente continua a existir e é preciso ser cortado pela raiz. Para um clube das nossas caracteristicas ter um Casillas ou um Moutinho (de regresso) é preciso deixar de ter, e já, muitos Carlos Eduardos, Josués, Andrés Fernandez, Opares e afins. Jogadores cuja aportação desportiva foi/é minima e que cobram o seu salário regularmente sem trazerem nada de novo. Envia-los para novos destinos (preferencialmente com vendas ou com o clube de destino responsável do seu salário) é forçoso para encontrar uma especie de equilibrio cada vez mais complicado. O FCP tem mais de duas dezenas de jogadores nos seus quadros que não pertencem ao primeiro plantel ou não estão nas contas de Lopetegui e nesta lista excluo já, à partida, os futebolistas de formação. Uma segunda equipa paralela que não faz sentido que continue nos quadros do clube. Não serve desportivamente, é um lastre económico e se é verdade que alguns vêm como algo util ter jogadores emprestados noutros clubes portugueses para manter sobre eles uma certa influência (politica popular, tanto no Porto como no Benfica desde os anos noventa), o facto de alguns desses jogadores andarem perdidos pelo estrangeiro sem qualquer seguimento anula, de certo modo, essa filosofia.

Felizmente a SAD está atenta a essa necessidade e tem trabalhado nesse sentido. 
Foi um problema que criaram - há contratações que, desde o primeiro dia, todos sabiamos que faziam pouco sentido - e que devem resolver quanto antes. O poder na gestão do plantel de Lopetegui, superior ao dos seus antecessores, também engrossou essa lista. Talvez um Vitor Pereira estivesse disposto a ficar com este ou aquele jogador, dar-lhe alguns minutos, mas Lopetegui não está pelos ajustes (ele que, também, foi responsável por algumas dessas incorporações) e sabe com quem quer trabalhar e quem não se enquadra na sua filosofia. É nessa lista que o clube tem de trabalhar para que não exista uma especie de Porto C por esse mundo fora. As saídas anunciadas de Carlos Eduardo e Kleber são um óptimo sinal nesse sentido. Ambos jogadores tiveram a sua oportunidade e, noutro cenário, podiam perfeitamente ser parte do plantel como fundo de armário. Mas no contexto actual- de elevado investimento - nota-se me excesso a diferença de qualidade que apresentam em comparação com outras opções. A venda desses dois activos representa de forma perfeita o que é necessário fazer com vários outros jogadores. Vão para mercados periféricos onde há dinheiro. O clube ingressa o que pode por apostas que não resultaram e livra-se de lhe pagar os salários. Um Win-Win em toda a regra.



A partir desse pressuposto há vários dossiers que há que trabalhar até ao final de Agosto. 
Jogadores que podem sair por empréstimo ou em venda definitiva (ainda em, alguns casos, com opção de recompra) para regular o peso do navio. Tal como as saidas da dupla de brasileiros é absolutamente lógica, também o é o empréstimo de Diego Reyes (sem opção de compra) à Real Sociedad e o eventual empréstimo de Juan Quintero ao Bologna (sem opção de compra). São jogadores que vão para os seus dois potenciais mercados (Quintero veio de Itália, Reyes assinou pelo Porto recusando equipas espanholas), exibir-se como potenciais titulares, contra rivais de nivel superior ao da liga portuguesa e que, se funcionarem, permitem ao clube negociar a partir de uma posição favorável. E - no improvável caso - de darem um importante salto de qualidade, poderão voltar ao plantel.
Distinto é o caso de Andrés Fernandez. Foi um erro de casting por assumir e agora em Granada - um clube amigo via Doyen - vai rodar para ser vendido a posteriori, a sua recuperação nem sequer se discute. A mesma situação aplica-se a Ghilas, cuja culpa de não estar no plantel é exclusivamente sua e da sua atitude (reproduzida em Espanha, aliás). Mas, cuidado com esses empréstimos. Os últimos Relatórios de Contas foram evidentes, os empréstimos dão prejuizo no modelo actual. Ou o clube que fica com o jogador para o seu salário ou o melhor é forçar a venda, ainda perdendo dinheiro à primeira vista. A SAD sabe perfeitamente dessa situação.

A partir destes nomes há uma lista variadas que podemos englobar em duas visões paralelas.
As que seguem a estela Reyes e, eventualmente, Quintero, jogadores que convém emprestar por um ano (com salário a ser pago pelo clube destinatário) para uma derradeira prova de fogo, e os jogadores que haveria de vender a todo custo de forma a aligeirar essa carga salarial. E vamos excluir a formação - Rafa, Gonçalo, David Bruno, Ivo Rodrigues, André Silva, Francisco Ramos - desta equação. Jogadores a quem um ano na equipa B já não traz nada e que podem potencialmente servir, num futuro próximo, ao plantel principal.

No primeiro grupo - a imitar o exemplo de Otávio que volta a Guimarães - estão Kayembe e Victor Garcia, contratados para a equipa B (e portanto não são formação) mas que precisam de minutos como titulares o mais depressa possível. Urge tê-los por perto, clubes portugueses, partilhando o salário mas com seguimento exaustivo. A prova dos nove.

No segundo falariamos de Josué (outro erro de casting), Kelvin, Caballero (emprestado a um clube suiço sediado no Lieschtein pela alma de quem?), Ricardo Nunes, Tiago Rodrigues (idem), Quiño, Ba, Djalma, Sami, Licá, Bolat, Opare, Rolando, Pedro Moreira, Izmailov e o inanarrável Adrian Lopez. Futebolistas que - por um motivo ou outro - não deveriam ter pertencido aos quadros em primeiro lugar (excepção feita a Kelvin e Rolando) e que são um peso morto para as finanças do clube. Se queremos contar com Casillas e Moutinhos é aqui onde temos de começar a cortar.

São, mais homem menos homem, quinze futebolistas a que podemos juntar ainda outros dos quais detemos percentagens nos passes que convinha que nos livrassemos num futuro não muito distante e que todos os anos lá vão aparecendo no Relatorio de Contas (Walter, olá). Uma autêntica equipa C que só nos prejudica. Se algum desses jogadores for realmente bom para o futuro (e há muito poucos que encaixam nesse perfil) então que se vendam com opção de recompra. Tal foi feito, por exemplo, com o Tozé que encaixa no perfil do Sergio Oliveira. Veremos daqui a um par de anos como se safa em Guimarães. Um FC Porto com um plantel principal de 24 jogadores e uma equipa B que faça a ponte com outros tantos jogadores - incluindo meia dúzia que saltem, nos treinos e convocatórias - entre um e outro, é o cenário ideal. A esse juntem meia dúzia de jogadores que não encaixam na B mas ainda não servem para A e temos o plantel ideal para o FC Porto do futuro. 

Tudo o resto são, inevitavelmente, sobras. Sobras caras e que em nada ajudam as contas no fim do trimestre. A SAD está a fazer o trabalho de casa como os sinais do mercado têm evidendiciado. Têm um mês e meio para dar vazão aos restantes jogadores. Estaremos atentos!

13 comentários:

DC disse...

Se se vendesse estes 15 (que acho que são bastante mais) a uma média de 2M por jogador eram 30M mais a poupança em salários.
Acho que a política devia ser mesmo essa. Vender tudo o que era mais do que óbvio que não ia dar para o plantel, nem que se colocasse cláusula de recompra nos que parecessem ter mais futuro.

João Machado disse...

O Izmailov já não é jogador do Porto. O contrato maturou.

Azulantas disse...

Totalmente de acordo, e penso que será uma opinião consensual generalizada (salvo raras excepções - Eu por exemplo deixei de acreditar no Quintero e por muito que me custe tenho que dar razão a todos os clubes italianos que não se interessaram por ele quando passou pelo Pescara)

Penso no entanto que será difícil abrir a comporta para vazar todos esses seres humanos que em boa fé assinaram contratos de trabalho que em Portugal ou noutro lado qualquer dificilmente encontrarão equivalente.

Unknown disse...

O Walter ainda está no Relatório?
4 anos depois e ainda não nos livramos dele?
Há de facto muita papelada para se organizar.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Exactamente, é uma operação tão urgente como reforçar o plantel!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Obviamente que, em grande parte, o erro foi a contratação mas acho que qualquer adepto está preparado para assumir um Quintero ou um Quiño que corra mal. Já um Opare, um Bolat ou um Sami, são negócios claramente contraproducentes e que nada dão nem dariam ao clube!

Mário Faria disse...

Prognósticos, depois de se saber os resultados, são infalíveis. Só que as contratações decorrem “antes do jogo”: a prospecção, feita de sinais, não é suficiente, a maioria das vezes, porque o novo recruta vai encontrar uma realidade, modelo e exigências diferentes. Tal como os miúdos quando são promovidos. É uma chatice. Danilo foi caro. Valeu a pena? Hulk que veio da 2ª divisão japonesa foi consensual? O que se escreveu nas redes sociais a propósito da sua contratação? Qual a margem de sucesso nas contratações de baixo e médio custo em equipas de topo como o FCP? Quanto gastam as esquipas de primeiro nível para apetrecharem as suas equipas? Falham? Como nos saímos no confronto com elas? O FCP pretendeu contratar um ponta-de-lança, Mitrovic, e já se questionava o valor do dito. Foi para o Newcastle. Quanto devemos investir por um jogador que possa interessar? Sei a resposta: um novo Jackson e com o mesmo esforço financeiro. Afinal esta coisa da gestão da bola é fácil: um oheirocompetente e boa pontaria, bastam. E já está. Os números deixam claro que temos excedentes e deveríamos ter menos. Num clube não rico todo o dinheiro desbarato, por não ser produtivo, faz falta. O que acho é que há um tratamento demagógico da situação, como se estivesse à frente dos olhos que cuidar bem da coisa é fácil, barato e dá milhões. Se todos os clubes seguirem essa cartilha do “bem maior”, como iríamos obter sempre lucros, se os outros não admitissem os elevados encargos que os cobrem?
Resolvi, por metodologia, relativizar, o acerto ou não, das decisões decorrentes da gestão desportiva; acho que o Kelvin valeu todo o tostão que investimos nele.

Jorge Vassalo disse...

Bravo Mário. É assim mesmo.

Abraço Azul e Branco,

Jorge Vassalo | Porto Universal

Pedro Mota disse...

Concordo em absoluto, e sem duvida esse é o caminho a tomar e que já está ser tomado pela SAD. Há umas epocas atrás o numero de excedentes era muito maior, aos poucos temos andado a "limpar a casa" e cometer menos esse erros, isso é evidente.

Concordo que há jogadores que não tem nivel para o Porto e a partida já se notava isso, temos o caso de Djalma,Lica,Sami etc que era evidente não terem categoria para serem mais valias no Porto.
Outro caso flagrante é o de Ghillas, que tem tudo para ser um bom jogador menos cabeça e profissionalismo, já se sabia desde os tempo do Moreirense que era um jogador habitual na noite do Porto, isso deveria ter sido ponderado quando se pagou 3,8 M por 50% do jogador.

De resto há contratações que tem tudopara ser boas e só com o temo se vê que foramerradas, essas existirão sempre em todos os clubes, não se acerta sempre.

Convém também ter atenção á progressão do atleta, porque razão se investe 5M em comprar o restante 50% do passe de Quintero quando o jogador nem titular era do Porto?! Eu sou dos que ainda tenho esperança no Quintero,mas não ao ponto de fazer esse investimento.

Para terminar, se queremos evitar excedentes é necessário que os treinadores saibam valorizar jogadores, se tivermos treinadores que não valorizam nada, nem potencializam ninguém então os excedentes irão sempre aparecer em maior numero. Racionalidade e não andar a comprar porque capricho e o que se pretende.

Caso Quintero e Adrian sejam emprestados termos mais de 40M de euros investidos em jogadores que não fazem parte do plantel,e apesar de ter muitas esperanças em alguns deles, penso que isso que deve ser reflectido na SAD.

Abraço

Lápis Azul e Branco disse...

A grande questão, que quase sempre parece ser tabu intocável, é que se contratam jogadores por vários motivos e nem todos têm que ver com a qualidade ou interesse que eles possam ter para a equipa.

É evidente que faz parte da natureza deste negócio falhar contratações, é mesmo assim e todos os clubes têm que saber viver com isso. E não interessa se foram caros ou baratos, o risco está sempre lá.

Outra coisa é comprar... por comprar. Para satisfazer caprichos, para agradecer outras transferências, para encher bolsos. É a realidade.

E quando há um desequilíbrio acentuado entre uma e outra, temos problemas não só no curto mas sobretudo a médio prazo. Fica a sensação de que o imenso sucesso como que deu carta branca para (quase) tudo. E isto tem que ser corrigido, antes que seja tarde.

http://doportocomamor.blogspot.pt/

Miguel Lourenço Pereira disse...

Lapis Azul e Branco,

"Outra coisa é comprar... por comprar. Para satisfazer caprichos, para agradecer outras transferências, para encher bolsos. É a realidade. "

Não diga isso que pode ofender os mais susceptiveis, os que acreditam que só compramos jogadores errados porque o erro está inerente a cada negócio, nada mais. Porque todos sabemos que o FCP nunca comprou nenhum jogador com o objectivo claro de NÁO O UTILIZAR na sua primeira equipa. Foi tudo um engano!

Azulantas disse...

Miguel, quantos desses contratos não servem de 'lubrificante' para outros negócios? O Bolat por exemplo, jogador do Standard de Liége (leia-se Lucioano D'Onofrio) e vinha de uma grave lesão; Opare, ex-Real Madrid Castilla e também ex-Standard de Liége foi uma opção para satisfazer a necessidade de um suplente para Danilo. Não tem qualidade sufuciente para o treinador o manter no plantel; Sami, Licá, etc. obviamente erros de casting do género de alguem que vai à feira comprar para um relógio de qualidade.

Azulantas disse...

Concordo com o essencial da ideia mas não deixo de acreditar que há negócios que se fazem para "adoçar bocas" e negócios que se fazem com vista a outros negócios, passados ou futuros. Já que no futebol não há subornos.