Rival directo por um dos títulos mais importantes do ano superado? Check.
Triunfo fora sobre uma das equipas que melhor joga em Portugal e que ainda não tinha caído em casa desde Agosto? Check.
Utilização de vários jogadores habitualmente suplentes descansando titulares? Check.
Demonstração constante de superioridade colectiva e individual? Check.
Em pouco mais de uma semana, depois de um ciclo normal de maior desgaste, dúvidas e alguns tropeções absolutamente naturais, o FC Porto de Sérgio Conceição decidiu dar um par de golpes na mesa nas duas competições que realmente interessam este ano e contra rivais e contextos que exigiram sempre a melhor versão deste projecto.
É certo que Janeiro tinha sido um mês problemático - especialmente tendo em conta o feito nos meses anteriores - tanto no desgaste colectivo da ideia de jogo, no cansaço individual que inevitavelmente produziu uma quebra de produção de jogo e de golos, o que gerou alguns sustos e tropeções. Chegar ao intervalo a perder em Estoril (uma equipa que vai de menos a mais), empatar em Moreira de Cónegos, cair nas meias-finais da Taça da Liga e sofrer na primeira parte contra o Vitória de Guimarães foram sintomas claros de uma realidade absoluta. Ninguém joga bem ou ao mesmo nível dez meses de temporada e tarde ou cedo qualquer equipa sofre uma sequência de maus resultados. Que essa sequência não tenha resultado sequer em nenhuma derrota - o FC Porto continua, 30 jogos depois, invicto em competições nacionais, algo que não se via desde 2003/04 - e que no final da mesma a equipa continue na liderança isolada do campeonato (com menos 45 minutos por disputar, ou 3 pontos a menos do devido, segundo se olhe) e esteja na frente na luta por um lugar da final da Taça de Portugal é elucidativo. Todas as crises fossem assim.
O certo é que as sensações estavam a dar asas aos rivais a anunciar uma crise que, lamentavelmente para eles, não chega. Entre um título caído do céu para um e uma recuperação nada milagrosa tendo em conta as ajudas habituais recebidas de outro, parecia que 2018 estava a ser um inicio de ano para esquecer para o Dragão e era necessário mudar percepções, sobretudo entre os adeptos mais duvidosos porque o grupo de trabalho e o treinador parecem estar bastante convencidos do seu potencial, prova da solidez de discurso e mentalidade oferecida. Tentaram fazer da discussão de Soares com Conceição uma crise, inventando noticias sobre uma venda apressada para a China e um problema de balneário e como respondeu o grupo e os protagonistas? Três golos em dois jogos.
Festejaram a lesão de Danilo Pereira, timoneiro fundamental desta equipa e deste modelo de jogo, anunciando uma hecatombe competitiva e o que respondeu o grupo, o treinador e o seu sucessor em campo, Sérgio Oliveira? Com uma versão igual de omnipresencia e garra que ajudou a solucionar dois jogos problemáticos com solvência.
Brahimi estava cansado, Aboubakar estava a meias com uma lesão, Marcano estava lesionado (e uma vez mais, de fora, tentaram transformar um problema físico numa vendetta pela mais do que provável não renovação do espanhol) e, ainda assim, cada qual que ocupou o seu lugar mostrou estar à altura e a equipa nunca deu sinais de ressentir-se. Num grupo manifestamente pequeno - ainda que ampliado com mais três opções que, como era previsivel, vão ter muito trabalho para entrar na dinâmica que já existe - todos deram um passo em frente sem excepção. Maxi Pereira rendeu bem o melhor lateral direito português num campo dificil como o de Chaves. Soares voltou a mostrar porque a sua contratação há um ano manteve durante tanto tempo o incompetente NES na corrida pelo título. Sérgio Oliveira mostrou pela primeira vez na sua carreira uma solvência física, liderança e qualidade que muitos suspeitavam que nunca tinha existido. E ainda que em menor nível, Corona e Otavinho deram oxigénio a um ataque necessitado de outras opções mais além do génio de Brahimi.
Conceição soube fazer uma gestão humana exemplar num periodo complicado - de entradas, saídas e dúvidas - e essa gestão em minutos de jogo ofereceu também variações a um modelo que os rivais já conhecem de memória mas que, em muitos casos, continuam sem saber contrariar. Soares é um jogador diferente de Aboubakar, ataca as jogadas de um modo distinto e isso engana defesas habituadas a procurar o contacto físico com o camaronês e a negar-lhe o espaço para impor o seu jogo. Oliveira é menos físico do que Danilo mas a forma como conectou com Herrera, que está a fazer, depois de tantas dúvidas geradas, um ano excepcional, permitiu ao meio campo recuperar frescura, ideias e alternativas no momento de posse. Mesmo no eixo da defesa, que por falta de opções e lesões tem sofrido mais alterações do que seria de esperar, a coesão mantém-se e o Porto está sem sofrer golos há vários jogos a que ajuda também ao facto de que José Sá estar a ganhar confiança a cada jogo que faz e sai da sombra de Iker Casillas. Tudo apostas arriscadas em cada momento, tudo apostas ganhas por Conceição que até tem visto recompensada a sua insistência em fazer jogar sempre Marega que, por todos os seus mil e um defeitos, sempre acaba por gerar perigo e ocasiões de golo.
O certo é que bater - e superar, outra vez - o Sporting na primeira mão da meia-final da Taça (depois de dois jogos de manifesta superioridade em jogo mas sem golo) foi uma mensagem importante a todos os niveis. Demonstrou que, por muito investimento e discurso, o Sporting de Jesus continua a jogar com medo do Porto de Conceição, e que os azuis-e-brancos são superiores, jogadores por jogadores, linha por linha, aos leões. Depois de cair com manifesto azar na Taça da Liga era importante dar um golpe emocional antes do duplo confronto que ainda falta e, sobretudo, face ao presente barulhento do clube lisboeta destabilizar com mais uma prova de superioridade real. Em Chaves, onde um grande treinador como Luis Castro montou uma excelente equipa que ainda não tinha perdido em casa e aspirava (e aspira) a lugares europeus, com várias mudanças mas uma fome de bola há muito não vista, a equipa soube ser sólida, concisa e fazer aquilo que tinha sido incapaz em Janeiro, atacar e decidir cedo o jogo com golos e superioridade. Duas formas diferentes de mostrar que este Porto não se deixa amedrontar ou assustar por nada e que continua inequivocamente a ser a melhor equipa a jogar futebol em Portugal. Antes de um duelo que apetece, muito, mas que não deve distrair dos objectivos reais e factíveis que são os dois títulos nacionais em disputa, é bom saber que o Porto que muitos davam por cansado e em crise está bem vivo e com a mesma fome e autoridade de sempre.
Sem comentários:
Enviar um comentário