quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A SAD pós-Pinto da Costa (I)

Imaginem que em Portugal não havia nenhum líder político carismático e ao mesmo tempo consensual (não é difícil).

Imaginem que, para evitar eventuais assomos de populismos demagógicos impulsionados por 2 ou 3 anos menos felizes na economia portuguesa (digamos, uma recessão), se decidia separar as funções governativas das eleições legislativas.

Mais concretamente, imaginem que o cabeça-de-lista do partido mais votado não teria direito a integrar o governo, não vá ele ser um demagogo eleito pelo "povo"; apenas a integrar o governo num cargo sem poder executivo (mais de supervisão e estratégia, i.e. não vinculativo). Uma espécie de conselho consultivo de uma só pessoa - mas "inofensivo".

Imaginem que o governo (primeiro ministro e restantes ministros) seriam eleitos directamente pelos deputados. O partido mais votado não teria qualquer "golden share" (i.e. a representação seria puramente proporcional ao número de votos; por exemplo se o partido mais votado tivesse 40% dos votos teria apenas 40% dos membros de governo, a não ser que outros deputados "virassem a casaca").

Imaginem que se acabava com a Assembleia da República (os deputados serviam apenas para eleger o governo, não para votar ou sugerir leis).

Esse governo (basicamente tecnocrata) teria carta livre para fazer o que quisesse durante 3 ou 4 anos, por muito que o líder do partido mais votado nas legislativas não gostasse da forma como as coisas estivessem a decorrer (ou da actuação de um ou outro ministro).

Pois bem... Este é o modelo que alguns defendem para as relações SAD<->FCP clube no pós-Pinto da Costa (que espero esteja ainda relativamente longe).

Por "eleitores" entenda-se "sócios do FCP"; por "cabeça-de-lista do partido mais votado" entenda-se "presidente do FCP"; por "governo entenda-se "conselho de administração da SAD"; por "ministros" entenda-se "administradores"; por "deputados" entenda-se "accionistas da SAD"; por "Assembleia da República" entenda-se "Conselho Consultivo".

Este é um cenário que não me agrada nada.

1) Isto seria afastar os sócios e adeptos do clube/SAD, cavando um fosso de comunicação e participação ainda maior do que já existe hoje.

2) A SAD passaria a ser uma máquina que se alimentaria a si mesma, em círculo fechado, com todos os vícios e "clãs" que daí pode advir.

3) Não é difícil imaginar que em caso de maus resultados teríamos o presidente do FCP (sem poder executivo na SAD) a entrar em guerra aberta com a SAD, tanto nos bastidores como na praça pública.

4) Adeptos ou sócios com menos paciência poderiam ver-se tentados em "intervir" pelas suas próprias mãos de forma catastrófica quando os resultados não forem bons (e esse dia infelizmente vai chegar, mais cedo ou mais tarde) ao verem que o presidente por eles eleito é impotente na gestão do futebol. Mesmo como as coisas são hoje, já tivémos very lights no carro de um treinador. Imagine-se se os sócios se sentissem ainda mais impotentes, sem Pinto da Costa para serenar ânimos...

Resumindo e concluindo: a SAD é um mero instrumento para a gestão do futebol ao serviço do clube. Afastar o clube da gestão do futebol seria pois contraproducente, útil apenas a eventuais tecnocratas que tenham medo de não conseguirem impôr as suas ideias perante os sócios e que queiram ser deixados em paz e sossego.

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