quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Resultados da FCP SAD 08/09

Os resultados da FCP SAD para o ano fiscal de 08/09 foram ontem anunciados: http://www.fcporto.pt/Noticias/Futebol/noticiafutebol_futcontaspositivas_131009_46981.asp

Os dados para já são bastante limitados, por isso uma análise detalhada ficará para aquando da publicação do R&C. Não obstante, aqui ficam as minhas primeiras reacções gerais.

De positivo:

1) Subida dos proveitos em 13 milhões (ou 23%). Dois principais factores: as receitas da Liga dos Campeões em 4,6 milhões (aqui não há novidade nenhuma) e de "outros proveitos" em 5,9 milhões (quase o dobro do ano anterior). Nesta última rubrica está incluída uma receita one-off (irrepetível) da indemnização de Co Adriaanse (salvo erro 1 milhão).

2) Subida dos capitais próprios para um nível menos incomodativo (isto é uma consequência automática do lucro de 5 milhões) - 23 milhões.

3) Aumento do cashflow de 29 para 32 milhões.

4) O facto destes resultados não incluírem as vendas de Lisandro e Cissokho (embora inclua Quaresma e Lucho).

De negativo:

1) Aumento da dependência das mais-valias na venda de jogadores para ter resultados positivos; sem essas mais-valias teríamos feito um prejuízo de 35 milhões. Parece-me insustentável (seja financeira ou desportivamente) contar com mais e mais mais-valias em vendas de jogadores todos os anos - mas tenho esperança que este ano a situação melhore; para tal, é necessário que os 2 seguintes pontos apresentem uma melhoria no ano corrente.

2) Aumento brutal nos custos com pessoal em quase 9 milhões, ou 23% (salários, bónus, e outras despesas correntes com jogadores e outros funcionários). O valor actual de quase 50 milhões parece-me muito difícil de sustentar.

3) Continua a tendência dos últimos anos de um rápido aumento em FSE (Fornecimentos e Serviços Externos), mais rápido do que o aumento nos proveitos "normais". Já vai nos 20 milhões, com um aumento de 20% em relação ao ano anterior (e o aumento tem sido de 2 dígitos ano após ano).

4) Subida do passivo de curto prazo (i.e. com deadline até 30 de Junho próximo) em 25 milhões, para os 125 milhões (principalmente quando o activo de curto prazo não subiu na mesma proporção, nem pouco mais oumenos).

Assim se compreende em boa parte a necessidade de vender tanto no Verão (necessidades urgentes de tesouraria). Suspeito que vamos ter novo empréstimo obrigacionista quando o actual terminar em Dezembro de forma a financiar dívidas correntes; esperemos que a subscrição seja boa e/ou os juros pagos não sejam muito altos. Gostava também imenso de saber qual é o prazo de pagamento de Lisandro e Cissokho, espero que bem curto...

5) aumento dos resultados financeiros negativos para os 5,5 milhões (fruto sem dúvida do aumento absoluto do passivo). Em boa parte é dinheiro deitado ao lixo, do ponto de vista da SAD; viver sem empréstimos (e portanto sem juros) é utópico, mas penso que 1-2 milhões/ano é uma meta realista a médio prazo.

Concluindo, não me agrada nada ter que depender de mais-valias superiores a 35 milhões por ano para poder fazer lucro - e isto num ano em que fomos aos 1/4s final da Liga dos Campeões.




É muito, muito dinheiro, e assinale-se q mais-valias é algo bem diferente do encaixe nas vendas; para se fazer mais-valias muito substanciais é preciso que o custo de aquisição seja muito baixo (o q não foi o caso com Rodriguez ou Hulk, por exemplo). Pessoalmente penso que seria possível e desejável trazer esse défice estrutural para uns 10 a 15 milhões negativos (mais baixo não; seria mesmo contraproducente porque corresponderia a um apertar do cinto absolutamente brutal ao nível de salários).

Caso contrário, "basta" ficar de fora da Liga dos Campeões uma época para termos que vender uns 4 ou 5 titulares de uma assentada pela melhor oferta. Mesmo indo à LC andamos um pouco no fio da navalha, arriscando bastante.

De qualquer forma constato com satisfação que uma boa parte das receitas das vendas de Lisandro e Cissokho não foi re-investida em passes. Presumo que em boa parte isso tenha sido mais fruto da necessidade (tesouraria) do que estratégia - provavelmente uma mistura das duas coisas - mas é boa notícia de qualquer forma.

Mas isso não invalida que se tenha que ter mão nos custos com pessoal (principalmente salários do plantel, e já agora nesse aspecto dava muito jeito ter mais jogadores da casa para o banco, que custam incomparavalmente menos do que jogadores que costumam ocupar esse banco como Guarins, T Costas e Farias, etc; mas também nos custos com administrativos) e nos Fornecimentos e Serviços Externos.
Enfim, isto são as minhas primeiras impressões; uma análise mais sólida e aprofundada ficará para depois da "digestão" do Relatório e Contas.

14 comentários:

HULK 11M disse...

Parabéns pela excelente análise mesmo sem terem tido, ainda, acesso ao "Relatório e Contas"!
Os "Custos com Pessoal" e os "Fornecimentos e Serviços" parecem estar fora de controlo e a provocar a tal necessidade sistemática de realizar cada vez maiores receitas com a venda de jogadores.
Embora reconheça a grande capacidade que temos tido para realizar receitas com as vendas de jogadores, o futuro do Clube, em minha opinião, continua preocupante!

Hugo M disse...

Relatório & contas já disponivel no site da cmvm

Um abraço

PS: Boa análise

rui disse...

O que caraigo é são os "Fornecimentos e Serviços"??


Ruibonga

dragao vila pouca disse...

Como não sou especialista na matéria não vou dizer se as contas são positivas, negativas, preocupantes...eu confio em quem gere as finanças e quem gere diz isto no Jogo:«Lucro e bons prenúncios

A SAD do FC Porto divulgou ontem os resultados consolidados do exercício de 2008/09 apresentando como dado mais relevante o lucro de 5,1 milhões de euros. Este é o terceiro exercício consecutivo em que os tetracampeões nacionais registam resultados líquidos positivos o que leva Fernando Gomes, administrador da SAD portista com responsabilidades na área financeira a classificar as contas como "francamente positivas". "Registámos inclusivamente uma melhoria significativa em relação ao que estava orçamentado, e que apontava para um resultado positivo na ordem dos 2,4 milhões de euros, fundamentalmente graças ao excelente percurso na Liga dos Campeões", revelou.

Em contrapartida, a SAD portista registou um aumento do passivo total em 19,7 milhões de euros, valor que faz aumentar o passivo acumulado para os 160,8 milhões de euros, um valor que não preocupa Fernando Gomes. "Mais importante do que o valor do passivo, é avaliar a capacidade do clube para fazer face às suas obrigações e a esse nível o FC Porto está mais do que tranquilo", sublinhou. Recordando que as vendas de Lisandro López, Cissokho e Ibson não constam das contas apresentadas, o responsável pela área financeira do clube frisa que o documento divulgado ontem é "uma radiografia estática de um determinado momento que nem sempre reflecte a saúde real do clube". "Basta referir que este exercício encerrou a 30 de Junho, e que nos dias seguintes, por exemplo, o FC Porto recebeu sete milhões do Real Madrid pelo Pepe, mais seis do Inter pelo Quaresma, mais 10 do Lucho, mais 10 do Lisandro e por aí fora. Ou seja, se a 30 de Junho o panorama é o que consta das contas, a 19 ou 20 de Agosto era consideravelmente diferente", frisou aquele responsável.

De resto, Fernando Gomes garante que a preocupação do clube é encontrar um equilíbrio entre os resultados desportivos e os resultados financeiros, opção que frisa de uma forma vincada: "Se os adeptos do FC Porto quiserem um clube com resultados com os do Sporting, podemos gastar menos, liquidar passivo e correr o risco de não sermos competitivos." Recusando comentar os investimentos realizados pelo Benfica, bem como as críticas de José Eduardo Bettencourt ao fundo de jogadores criado pelos encarnados, Fernando Gomes sempre foi confessando alguma curiosidade quanto às contas dos encarnados. "Vamos ter de aguardar para ver os números que divulgam e de que forma pretendem fazer-lhes face", referiu.

Voltando ao FC Porto. Fernando Gomes tem poucas dúvidas que os próximos exercícios sejam tão ou mais positivos do que o actual, recordando, por exemplo, a considerável diminuição registada nos custos com o pessoal já depois do encerramento do exercício 2008/09. "Transferimos alguns dos jogadores mais pesados do plantel principal em termos salariais e ainda conseguimos aligeirar a carga salarial com as vendas de elementos como Adriano ou Pitbull, factos que se vão reflectir nas contas.»

Um abraço

HULK 11M disse...

Em relação à entrevista ao Dr. Fernando Gomes aqui transcrita pelo "Vila Pouca", gostaria de deixar claro que, quando critico contas e estratégias não estou a criticar pessoas.
Tenho o máximo respeito e consideração pelo Administrador Dr. Fernando Gomes, meu colega de profissão.
Como portista, comecei a admira-lo há muitos anos quando fazia parte daquela maravilhosa equipa de basquetebol, onde jogavam também o Alberto Babo e esse fenómeno chamado... Dale Dover!!!
Como gestor das contas da SAD, comecei a apreciar o seu desempenho quando, há já alguns anos atrás, assistindo eu a mais uma tomada de posse de Pinto da Costa e da sua equipa, ouvi o Presidente elogiar a acção de Fernando Gomes, dizendo que ele era o homem que estava sempre a tentar "trava-lo" acusando-o de que ele (Pinto da Costa) só pensava em comprar, comprar, comprar (jogadores). Ao que ele, Pinto da Costa, respondeu, defendendo-se: "pois... e Você está sempre a pensar em vender, vender, vender".
A partir daí, ficou para mim bem claro que o Dr. Fernando Gomes é o homem que naquela casa luta pelo equilíbrio das contas.
Neste sua entrevista, fica claro que ele se preocupa com o elevado "ratio" dos Custos com Pessoal/Receitas Ordinárias, quando afirma: ""Transferimos alguns dos jogadores mais pesados do plantel principal em termos salariais e ainda conseguimos aligeirar a carga salarial com as vendas de elementos como Adriano ou Pitbull".
É este o caminho que temos de seguir para não hipotecar o futuro.
Mas, como também queremos continuar a ganhar, ganhar, ganhar... temos que conceder alguma liberdade aqueles que só pensam em comprar, comprar, comprar...
Difícil... não é?
Pois...

dragao vila pouca disse...

Hulk, eu também só trouxe a entrevista do Fernando Gomes à colação, para deixar a análise do responsável pelas finanças da Sad, sobre matérias que eu não me atrevo a discutir por falta de conhecimentos.

Um abraço

Rapidinhas disse...

Acho que nos últimos 2/3 anos os ganhos económicos com os prémios da liga dos campeões são residuais.
Grande parte desses prémios são distribuídos pelos jogadores novamente como prémios. A grande mais valia vem da valorização dos jogadores e alegria da Malta (eu, por exemplo).
Se o clube não fosse aos 1/4's da champions acho que os custos com pessoal iria descer 8 Milhões ou coisa e tal. Nunca saberemos pois a publicação dos contractos dos jogadores era muito mal para o negócio do FCP.

João Ribas disse...

Tem sido um trabalho notável, não tenho dúvidas.

Anónimo disse...

A SAD é gerida no fio da navalha, com constantes fugas para a frente e aumentos dos custos e do passivo apesar das vendas milionárias ano após ano. Esta gestão nada tem de racional, claro, mas como se vai ganhando títulos, há muito quem elogie.

Quanto às entrevistas do Dr. Fernando Gomes, eu bem imagino o que lhe irá na alma ao fazer a sua justificação anual ao JN ou ao Jogo para benefício dos adeptos crédulos.

Delindro disse...

Não fosse uma gestão como uma boa dose de risco e estando inseridos neste mercado com as receitas que daí advêm e teríamos resultados ao nível do Sporting.

Anónimo disse...

Isso tornou-se um chavão, caro Delindro. Só entrámos nesta loucura orçamental DEPOIS de Gelsenkirchen, ou seja, ganhámos a Taça UEFA e a Liga dos Campeões com uma gestão "à Sporting". E desde aí, com orçamentos bem maiores do que até então, chegámos uma vez apenas aos 1/4 de Final da LC. Para ser campeão nacional e chegar anualmente aos 1/8 de Final da LC não é preciso ter um orçamento três vezes superior ao do Sporting.

José Correia disse...

David disse...
«Para ser campeão nacional e chegar anualmente aos 1/8 de Final da LC não é preciso ter um orçamento três vezes superior ao do Sporting.»

Isto é um mito. Conforme se constata dos R&C de 2008/09, o orçamento do FC Porto não é três vezes superior ao do Sporting.

Anónimo disse...

Então quantas vezes é superior, caro José Correia? Duas vezes? Uma e meia? Independentemente do número exacto, eu apenas pretendia frizar que o argumento do orçamento "arrojado" me parece exagerado, como tive oportunidade de ilustrar.

Delindro disse...

Se tivéssemos o orçamento do Sporting íamos à LC quando o rei faz anos, e nessas vezes passávamos aos 1/8 final raramente e depois levávamos 12-1 no conjunto das 2 mãos.