segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Para quando?


São escolinhas, escolas ou academias, são treinadores, professores ou mestres. Campeiam pelo país as mais diversas instituições vocacionadas para o futebol-lazer das crianças e dos jovens. Não deve faltar aos miúdos ambição para se tornarem profissionais, e é para isso que são preparados por pessoal competente com passado e diploma. A criação destes campus tem-se vulgarizado e está espalhada pelos principais centros urbanos. Os principais clubes aprimoraram-se e trataram de liderar a captação e a formação, a partir de tenra idade: vai-se para a escola para aprender a ler e na mesma altura, para uma outra escola, para aprender a dar uns pontapés na bola.

O futebol deixou de ser quase exclusivamente para o pé descalço: é uma carreira justamente respeitada e os jogadores dos principais clubes são alvo de todas as atenções. O futebol está na moda, e as vedetas tiram o máximo partido do facto. A maioria tem empresários para servir os seus interesses e diabolizar os clubes.

Alguns dos nossos principais jogadores são artistas, manequins, têm uma vida social muito activa e nos intervalos são profissionais de futebol. É e uma chatice, não porque não adorem a profissão, mas porque têm de aturar os directores, os treinadores, os colegas, os adversários, a crítica da imprensa que nunca escreve o que querem dizer e os sócios que exigem que cada jogo seja um autêntico recital.

É demais para os coitados dos jogadores: adoram a profissão, trabalham como poucos e estão sempre dispostos a levantar a cabeça sempre que perdem. Como compreendo o desassossego do José Correia quando escreveu sobre os comentários do Cebola.

Porém, há incompatibilidades. O caso concreto do ultimato do FCP ao Nuno Valente e a sua posterior saída para o Everton, é prova disso. Provavelmente, Rodriguez, pressionado e “ameaçado” pelos da selecção terá dito na Pátria o que a Pátria esperava que dissesse, depois daquela expulsão sem jeito.

O jogador Josué foi dispensado do plantel do Sporting da Covilhã por alegada indisciplina, anunciou o presidente do clube, José Mendes, na assembleia geral de quinta-feira. Hoje, 'O Jogo', confirma a rescisão. É um bom jogador, mas isso não chega, disse o Presidente.

O futebol de rua é coisa do passado ou dos países de terceiro mundo. No primeiro mundo há uma grande sofisticação de meios, de processos e de recursos. Portugal tem acompanhado esse progresso, os resultados é que nem tanto. Somos compradores e nas nossas ligas principais abundam estrangeiros. Apesar da excelência da nossa formação, dizem eles, já importamos, com frequência, jogadores para reforçar as nossas camadas jovens.

Os nossos jovens parecem ter perdido qualidade. Vi o mundial sub-21 no Egipto e vi os jogos da nossa selecção – da mesma categoria – com a Grécia e a Macedónia, e é uma diferença abismal. A miudagem se calhar é demasiado mimada, e o futebol exige, cada vez mais, que o jogador seja um atleta e se porte dentro e fora do jogo de acordo com essa condição.

A passagem para sénior e a competição nos escalões superiores são uma espécie de passagem do Rubicão, onde desfalecem demasiadas promessas, tantas que poucas sobram. Porque será?

Têm a palavra os técnicos e os que vivem de perto esta problemática. O FCP tem um projecto ambicioso e a melhor escola de formação segundo o seu coordenador. As últimas tentativas de aproveitamento dos “recursos próprios” (Ivanildo, Helder Barbosa, Bruno Gama, Vieirinha, Machado) não resultaram e já saíram. Fernando Gomes, Rodolfo, João Pinto, Jaime Magalhães, Domingos e Vítor Baia são históricos do FCP que transitaram directamente dos juniores para os seniores, com sucesso. Queremos mais, precisamos de mais. Para quando, eis a questão.

4 comentários:

HULK 11M disse...

"A miudagem se calhar é demasiado mimada, e o futebol exige, cada vez mais, que o jogador seja um atleta e se porte dentro e fora do jogo de acordo com essa condição..."

Penso que o "problema português" será mesmo esse e não é só no futebol mas também nos outros desportos.

No atletismo, por exemplo, já não aparecem Carlos Lopes, Antónios Pintos, Rosas Motas ou Auroras Cunhas... e aqueles que vão aparecendo... são portugueses por naturalização ou, nascendo cá, descendem de naturais de outros países.

Resido perto duma escola secundária do Porto e cruzo-me com frequência com um autocarro do FCP que leva e trás um grupo de miúdos do Lar para a Escola. Se por um lado fico feliz ao pensar que o meu FCP está assim bem organizado, por outro lado penso: valerá a pena o enorme investimento que o FCP faz na formação quando, nos últimos anos, quase nada aproveitamos?

Para se ir longe no desporto tem que se começar cedo, gostar e... trabalhar muito!

Mas este não é um problema específico do desporto mas sim um problema da sociedade portuguesa. Olhe-se para o que está a acontecer nas Escolas...

Rui disse...

Não me parece que o Paulo Machado e Vieirinha não tenham ficado no Porto por falta de profissionalismo.

Basta ver que nos clubes onde estão são apontados como exemplo de dedicação e competência.

Anónimo disse...

Não creio que o Mário Faria pretendesse dizer que o P. Machado e o Vieirinha sairam por falta de profissiomalismo, mas sim por falta de categoria, caro Rui.

"Fernando Gomes, Rodolfo, João Pinto, Jaime Magalhães, Domingos e Vítor Baia são históricos do FCP que transitaram directamente dos juniores para os seniores, com sucesso."

E eu juntaria o Oliveira, que hoje muito provavelmente iria fazer um tirocínio pelo V. Setúbal ou pelo Olhanense. Sem contestar a utilidade para o jogador e para o clube de um empréstimo que não se estenda por anos e anos, não deixa de ser verdade que, de hoje em dia, nenhum jogador consegue, no nosso clube, passar directamente dos juniores para o plantel principal. Contudo, eu creio que tal coisa não é apenas "defeito" do sistema vigente no clube ou "teimosia" dos treinadores, mas também e essencialmente sintoma da qualidade menos que excelente das sucessivas "colheitas".

jdm.dragão.lisboeta disse...

SÓ UMA OBSERVAÇÃO! Por acaso viram o recente Toulouse-PSG? E deram conta da exibição do Paulo Machado?
Quanto à política de integração/rodagem/ dispensas, tenho a minha opinião, mas certamente no Clube/SAD há quem perceba mais do que eu, por isso... e nem sempre se acerta, como é lógico, se não o jovem Pauleta teria continuado o percurso no F.C.PORTO e teria jogado na primeira liga portuguesa, ou não, pois poderia não evoluir cá dentro como o conseguiu lá fora!