domingo, 22 de agosto de 2010

Há 30 Anos...o "Verão Quente das Antas"


Passam este ano 30 anos sobre o famoso Verão Quente das Antas, um acontecimento - ou série de acontecimentos - de grande importância na história do clube. Mas não pretendo historiar aqui em pormenor os eventos desse conturbado Verão, até porque a generalidade dos leitores do Reflexão Portista decerto os conhece muito bem.

Resumidamente, o que se passou foi o Presidente Américo Sá, ao iniciar novo mandato, ter substituído Jorge Nuno Pinto da Costa na chefia do Departamento de Futebol (por Luís Teles Roxo), e José Maria Pedroto ter reagido com violência e apresentado a sua demissão, no que foi acompanhado pela equipa técnica e não só. Quando começou a pré-época de 1980/81, sob o comando do austríaco Hermann Stessl, grande parte do plantel, em solidariedade com Pinto da Costa e indirectamente instigado por Pedroto, boicotou os treinos, que passou a fazer à margem, no Pinhal de Santa Cruz do Bispo, sob a orientação de Hernâni Gonçalves, o Bitaites. As coisas acabaram por se compor e os jogadores regressaram às Antas, com a excepção da estrela da companhia, António Oliveira, o qual, mercê dos bizarros regulamentos de então, conseguiu libertar-se do contrato que tinha com o clube e apareceria pouco tempo depois como treinador-jogador do Penafiel (e na época seguinte rumaria a Alvalade).

Mas os dois anos de mandato que o recém-reeleito Dr. Sá tinha pela frente não haveriam de ser coisa doce e em 1982 Jorge Nuno Pinto da Costa seria eleito presidente pela primeira vez, sem opositores (o antigo presidente Afonso Pinto de Magalhães também se candidatara, mas desistiria antes da votação).

Fundamentalmente, os acontecimentos de 1980 foram uma revolta contra o que na aparência seria um regresso a um passado em que o F.C. Porto era pacato e timorato e se deixava intimidar com a travessia da Ponte D. Luís. José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa, para mim, e decerto para muitos, as duas maiores figuras da história do clube, tinham alterado radicalmente a estrutura e postura da secção de futebol e, por inerência, do próprio clube, nas mais diferentes frentes de batalha. O clube fora campeão dois anos consecutivos após 19 anos de jejum, e falhara o tri por entre habilidades que os Eduardos Barrosos, Dias Ferreiras e Ruis Oliveira e Costas deste mundo decerto há muito esqueceram (foi o Sporting o campeão em 1980). Todo esse trabalho parecia ameaçado.

Américo Sá teve, contudo, um grave erro de cálculo: pensou que Pedroto continuaria a treinar o clube e se alhearia das questões directivas. Enganou-se redondamente. O Zé do Boné foi a voz da revolta e mais uma vez mostrou o seu carácter. Bateu com a porta e abriu a boca.

Os anos passaram, a coisa sarou, o próprio Pinto da Costa, numa atitude de grande estadista do clube, sempre tratou com grande respeito o seu antecessor (foi um dos que, inclusivamente, lhe pegaram no caixão aquando do seu funeral) e com isso - e com a sua triunfante gestão, claro - conseguiu unificar a massa adepta, que tinha ficado profundamente dividida com os eventos do Verão Quente. Sim, não se pense que os opositores do Dr. Sá em 1980 faziam a unanimidade: o tempo é que se encarregou de lhes dar razão e a maioria.

José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa nunca se importaram de estar até numa minoria de uma só pessoa, se em causa estivessem questões de princípio.

Ao alto: 1976: ladeado por Américo Sá e Jorge Nuno Pinto da Costa, José Maria Pedroto assina contrato com o F.C.P., pondo termo a um "exílio" de 7 longos anos

Ao meio: António Oliveira, "Sandokan das Antas", um dos maiores produtos de sempre da formação do F.C.P., campeão nacional pelo clube como jogador e como treinador.

28 comentários:

meirelesportuense disse...

Oliveira e "o seu bracinho maroto"...
-Américo de Sá era uma personalidade distinta, mas por isso mesmo, por ser bem comportado e diplomata, não conseguia suportar atitudes mais agressivas e rompeu com JNuno...Foi o seu fim.

meirelesportuense disse...

Desculpem esta divagação mas ela pode fazer luz a alguma coisa...

"Sem se deter, Carlos Pereira fez alusão à concorrência, às movimentações de mercado e ao facto de o Marítimo sair penalizado em algumas situações. Como a que se verifica, por exemplo, com o ponta-de-lança Kléber, alvo do interesse do FC Porto, como fez questão de explicar. "A qualidade tem o seu preço. Sem ovos não se fazem omeletas. Basta verificar os valores que se praticam no mercado para constatar que o Marítimo não tem condições para disputar estes valores. Se o FC Porto nos tivesse pago a tempo e horas [o presidente referia-se ao defesa-central Pepe - ler na peça ao lado], talvez o Marítimo tivesse exercido a cláusula de opção sobre o Kléber...", concluiu."

Boa!

Anónimo disse...

Se os críticos de hoje em dia fizessem ou dissessem metade do que há 30 anos fizeram e disseram os opositores de Américo Sá caía o Carmo e a Trindade.

O próprio Verão Quente legitima - eu diria até que exige - uma atitude de permanente atenção dos portistas sobre os destinos do seu clube. E mostra também que aqueles que hoje acham que deve haver unanimismo em torno dos orgãos sociais do clube não aprenderam nada com a história do mesmo, ou nada dela sabem.

O autor do post acha que a generalidade dos leitores deste blogue conhece bem os acontecimentos de 1980, mas eu não estou tão certo disso, Ganaipada iletrada é o que mais há de hoje em dia.

rogério paulo almeida disse...

Caro David, por favor não compare o F. C. Porto de há 30 anos atrás com o actual. Não quero acreditar que o seu "conhecimento" da nossa história lhe permita sequer imaginar alguma semelhança entre ambos. Seria uma brincadeira de mau gosto fazer alguma equivalência. Se há muito a fazer, a dizer, e a criticar agora, o que pensar do F. C. Porto de há 30 e 40 anos atrás?

Pedro disse...

@David

Acho que quem não conhece a história do FCP é o senhor. É incomparável a situação, o contexto, o mundo do futebol, e a cultura do FCP. É de muito mau gosto sequer usar essa comparação.

A nossa história é rica, mas nem sempre positiva, e o facto é que Pedroto mudou tudo isso. Deixamos de ser uns meros "parolos para a imprensa lisboaeta" que ganhavam de vez em quando para um clube que passou a lutar pelos seus direitos e a acreditar em si próprio.

Antes do Verão Quente, o FCP era grande, movia multidões nos jogos fora, enchiamos os campos alheios, mas eramos incapazes de levantar a voz perante as injustiças.

Hoje mudamos, e por isso mesmo somos um dos clubes mais vitoriosos no mundo nos últimos 30 anos, e o maior de Portugal. E cada vez com mais adeptos.

E isso devemos em primeiro lugar a um tal de José Maria Pedroto. Não retiro mérito a PC, mas Pedroto foi o catalisador de tudo oq ue temos hoje. A ausência duma estátua continua a ser para mim a grande injustiça no FCP de hoje.

Da mesma forma que no dia em que PC desaparecer, merece o nosso eterno agradecimento.

meirelesportuense disse...

David:
O Porto de Américo de Sá, não tinha nada a ver com o Porto de hoje.
O nosso Clube adquiriu estatuto Mundial, é um Clube grande, de referência, tem no seu currículo conquistas inimagináveis em 1980!...E este Porto tem na sua génese, quer alguns queiram quer não, indissociável, tremendamente indissociável, a figura de Jorge Nuno Pinto da Costa.
Não há volta a dar.
Há um FCPorto de antes, e um FCPorto bem diferente, depois de PCosta.
O de antes era um Clube bonito, que jogava um futebol agradável mas que não singrava, não desenvolvia, estava a amarrado a uma conjuntura de comodismo que o esmagava...E reparem, esta dissensão entre JNuno e Américo de Sá, sucedeu depois de dois Campeonatos conquistados já com JNuno ao leme do futebol do Porto, nesses dois títulos há o dedo de PCosta!...JMPedroto sabia disso e ficou do lado de JNuno.
E ainda bem.

meirelesportuense disse...

Claro que também é verdade que JMPedroto está absolutamente ligado a todo este fenómeno...A sua passagem pelos Clubes de Setúbal, Guimarães, Bessa, o trabalho realizado, demonstram bem esta capacidade...Mas Jn bebeu essas teorias, essa filosofia pessoal e nunca a abandonou, passaram 26 anos sobre José Maria Pedroto e o Porto continua imparável...São os dois os seus construtores iniciais, um terminou a sua vida cedo, o outro, mantém esse projecto comum, mas teve que passar e enfrentar por coisas incríveis que foi vencendo, muitas vezes contra tudo e contra todos...

Anónimo disse...

meirelesportuense, Pedro e Rogério Paulo Almeida

Eu conheço bem a história do FCP e sei bem o que se passou há 30 anos, e dispenso lições nessa matéria, até porque também não pretendo dá-las a ninguém. Não pretendi fazer comparações com a situação actual, apenas manifestar a legitimidade de quem por vezes ousa criticar este ou aquele aspecto da actual gestão, coisa tantas vezes posta em causa por alguns adeptos, que acham que só é portista quem está sempre de acordo com a administração. É que, por essa bitola, em 1980 PC e Pedroto, teriam sido "maus portistas", por se oporem do modo que o fizeram ao presidente do clube.

Notem bem que, em 1980, eu estive sempre ao lado de Pedroto e Pinto da Costa, na minha qualidade de adepto anónimo, não é isso que está em causa. Mas Américo Sá, agora com o benefício da passagem do tempo, foi um presidente muito importante do FCP, quanto mais não seja por ter sido ele a escolher PC para Chefe do Departamento de Futebol e por ter apoiado o regresso de Pedroto ao clube. E é também justo frisar, que mesmo antes da chegada de PC ao futebol e do regresso de Pedroto, já se notava alguma coisa a mexer no clube, com contratações como as de Cubillas, Octávio, Murça, Tibi, Simões e Adelino Teixeira, movimentação que há muito se não via no clube. Que Américo Sá depois tresleu, ao aparentemente ceder a pressões de seus pares na Assembleia da República e substituir PC, disso não restam dúvidas.

Mas, reitero, basicamente o que eu queria frisar era o direito à crítica, mesmo a administrações de sucesso, como aliás era a direcção de Américo Sá, e por isso fiz o contraste entre as críticas de hoje e a verdadeira revolução de 1980, a qual não deixou de ter aspectos que tenho hoje de considerar inadmissíveis, como o boicote dos jogadores que o post refere. Uma espécie de precursor de Saltillo. E no meio disso ainda ficámos sem o Oliveira.

@ Pedro

"Antes do Verão Quente, o FCP era grande, movia multidões nos jogos fora, enchiamos os campos alheios, mas eramos incapazes de levantar a voz perante as injustiças."

Pelos vistos você é que não conhece bema história do clube, e não eu. PC era o chefe do Dep. Futebol desde 1976, Pedroto regressara às Antas nesse mesmo ano, e logo a mentalidade e modo de estar se alteraram. Em 1978 e 1979 fomos campeões. O Verão Quente fez-se para impedir um regresso ao passado (embora Américo Sá tenha, na prática, saído vencedor, pois continuou presidente) e não para alterar a anterior pasmaceira.

Obrigado a todos pela atenção com que leram o meu comentário.

Anónimo disse...

Caros amigos,

O Verão Quente foi uma coisa complexa e, para mim, empolgante. José Maria Pedroto foi um fenómeno raro - um D. Sebastião que regressava mesmo e que fazia obra. Duas vezes regressou e duas vezes a fez.

Concordo que o Dr. Américo Sá, pese embora a sua aparente fraqueza posterior, é que iniciou a mudança no clube, e às aquisições mencionadas pelo David eu juntaria a do Dinis, um verdadeiro golpe, pois tratava-se de uns melhores jogadores portugueses da altura. Infelizmente teve de regressar a Angola para garantir a propriedade dos seus bens e deixou o clube prematuramente. E ao referir-se Américo Sá também não devemos esquecer Jorge Vieira, que foi o Chefe do Dep. Futebol que trouxe o Cubillas em 1974.

No fundo, acho que nunca se escreveu devidamente a história do Verão Quente, e recentemente Pinto da Costa disse nada ter tido a ver coma rebelião dos jogadores, no que eu acredito.

Mas de facto a situação de 1980 nada tem a ver com a de agora (ainda bem!).

É pena que estes artigos sobre o passado do clube pareçam apenas despertar o interesse dos mais velhos. Mas já não é mau assim!

meirelesportuense disse...

Pedroto -segundo as imagens apresentadas- veio para o Porto pela mão de PCosta...A presença de JNuno e Américo de Sá no acto da assinatura do contrato de Pedroto é bem elucidativo.
Quanto à liberdade de crítica, ninguém o contesta, eu acho que é absolutamente necessária para combater a inércia, o comodismo e o abuso.

rbn disse...

Não estava em Portugal hà 30 anos atrás, mas muito ouvi falar deste "verão", que no meu entender(certo estou que muitos aqui viram com os próprios olhos), foi o divisor de águas na recente história azul e branca.

Apenas sei que em 16 anos que cá estou, que a imprensa lisboeta não mudou as 1ªs páginas nem o discurso pró-ben7as.

O que sei realmente é que o que realmente mudou foi o FCP a partir de Pinto da Costa em 1982, que começou a ganhar tudo o que havia para ganhar(exceto a Taça das Taças que já não existe, senão também ganhava) e peitou o sistema de 3 ligas para o ben7a e 1 para o SCP a cada 4 anos.

E o simpático clube da invicta deixava de ser simpático eh eh eh

Isto incomoda até hoje os pinhões(pai e filha ou filho, não sei ainda o que é leonor),os cartaxana, os bonzinhos e mauzinhos e delgados que escrevem com amor clubístico lampião e não com isenção, e estes sonham com a volta dos anos 60 das suas tenras idades onde deviam pensar que nunca, jamais e em tempo algum, algum clube portugues ultrapassasse os galináceos a nível internacional.

Pois bem, nosso palmarés internacional fala por si e internamente, cheguei a Portugal com 18 campeonatos de atraso, já só tenho 8 e parafraseando Miguel Sousa Tavares, hei de viver para ver essa diferença ser igualada....e ultrapassada.

Anónimo disse...

"Pedroto -segundo as imagens apresentadas- veio para o Porto pela mão de PCosta...A presença de JNuno e Américo de Sá no acto da assinatura do contrato de Pedroto é bem elucidativo."

Claro que foi Pinto da Costa que trouxe Pedroto de volta, sete anos depois de ter sido despedido em circunstâncias lamentáveis por Pinto de Magalhães, mas mesmo que assim não tivesse sido, é natural que ele, como Chefe do Dep. Futebol, estivesse presente na assinatura do contrato.

Por falar no despedimento de Pedroto em 1969, Pinto de Magalhães convocou uma AG para proibir o regresso dele ao Porto, e o pessoal votou favoravelmente - e vergonhosamente - essa proposta. Em 1976 teve de haver nova AG para lhe levantar o castigo.

meirelesportuense disse...

RBN:
"Isto incomoda até hoje os pinhões(pai e filha ou filho, não sei ainda o que é leonor)"

O Pinhão pai já morreu.
A filha, acho que é uma menina, mas é uma menina que gosta de meninas...E para ter mais sucesso nas suas conquistas e devaneios sexuais, veste-se à menino...Ela gostava de ter sido o Afonso Henriques, sempre de pila -espada- na mão, a combater os infiéis vermelhos e verdes, reparem nas cores das bandeiras dos Líbios, Marroquinos, Magrebinos e Argelinos!
Arraialle, arraialle por PortusCalle!...

Anónimo disse...

"Por falar no despedimento de Pedroto em 1969, Pinto de Magalhães convocou uma AG para proibir o regresso dele ao Porto, e o pessoal votou favoravelmente - e vergonhosamente - essa proposta. Em 1976 teve de haver nova AG para lhe levantar o castigo."

São assim as turbas. E ai de quem se fia nelas. Num instante mudam, basta um tipo com jeito para as manipular.

meirelesportuense disse...

David, é verdade que as multidões são imprevisíveis, mas nada podemos fazer para alterar essas oscilações de humor a não ser, criar condições de equilíbrio e elevar o nível cultural da sociedade...Depois, esperar que cada ser humano saiba ser digno da sua condição.

S.G.S. disse...

o dr Américo de Sá era um indefectível adepto do Infante de Sagres, que viu a sua oportunidade na Comissão Administrativa do Sá da Bandeira, ele que se fizera sócio a pensar na oportunidade do azul e branco.
O resto são fantasias. Ou de ignorantes, ou de aprendizes de feiticeiro.
O FCP é Pinto da Costa e Pedroto.
O resto, infelizmente, o tempo vai-nos mostrar.

Daniel Gonçalves disse...

Sr. Navegante: O FCP não é só Pinto da Costa e Pedroto, já existia (bem ou mal podemos agora especular) antes deles e houve outras personalidades de grande craveira no nosso clube. Eu considero que o FCP de hoje é fruto do trabalho dessas 2 grandes personalidades, que engrandeceram o Porto e lhe deram a dimensão que tem actualmente, mas também reconheço que o FCP só não se tinha desenvolvido mais até essa altura devido à situação económico, cultural e social do País, que fomentou um certo "amadorismo" (já reconhecido aqui pelos autores deste blog) nos nossos dirigentes durante o Estado Novo e porque eramos discriminados dentro e fora de campo pelas autoridades desportivas.
Quando aconteceu o "Verão Quente" eu ainda era uma criança pelo que só tomei conhecimentos dos factos pelo que o meu Pai me contou, mas agradeço aos autores do blog por recordarem esse acontecimento.

Daniel Gonçalves disse...

Sr. Navegante: "O resto, infelizmente, o tempo vai-nos mostrar."
Existem/Haverá personalidades que conseguirão manter o FCP no topo e a ganhar, já não vivemos no tempo do Estado Novo, em que Portugal vivia numa ditadura oligárquica em que os interesses de uma elite estavam defendidos e o "status quo" não podia ser atacado, relembro uma frase do jogador Frasco:"Se não fosse o 25 de Abril, nem com 20 Pintos da Costa conseguiamos ganhar".

André Moura e Cunha disse...

Era muito novo na altura, teria à volta de uns 8-9 anos, mas já acompanhava o meu pai, tios e avô ao futebol, a que se juntava uma mão-cheia de primos.
Recordo-me especialmente de um domingo à tarde, estava um calor tórrido e o estádio estava cheio. Naquela altura, se bem se lembram, as equipas entravam em separado no campo. Não me recordo com clareza do emblema do visitante, suponho que era o Sporting, e o Estádio estava à cunha. Recordo-me, no entanto, dessa entrada do FCP, como sempre por trás da baliza da Superior Sul (tal como as restantes equipas), e do momento inesquecível quando os jogadores já se encontravam no relvado a fazer os últimos alongamentos, etc. e os delegados ao jogo se dirigiam para o banco de suplentes, ouviu-se um clamor que, de início me assustou, o estádio inteiro gritava "Palhaço! Palhaço!". O som reverberava por todo o Estádio das Antas, como um trovão interminável e ensurdecedor. Quando se calaram o meu pai conseguiu finalmente ouvir a pergunta que lhe fazia insistentemente havia uns minutos: "Se o árbitro e o Sporting [talvez, como disse, sei que era um dos grandes] já entraram, a quem é que estamos a chamar Palhaço?".
A resposta foi óbvia, atente-se em tudo o que já foi aqui dito. O meu pai explicara-me, sem se meter pelo intricado da questão, que aquele senhor que era presidente do nosso clube, apenas o foi para subir na política, fazendo com que o nosso FCP continuasse a vergar-se perante o poder lisboeta.
Já li muito sobre esses acontecimentos, porventura truncados ou com uma visão parcelar, e só deixo ficar uma pergunta: O que seria de nós hoje sem JNPC e JMPedroto?
Saudações portistas,
André (sócio há 34 anos)

Anónimo disse...

Daniel Gonçalves disse: "(...)já não vivemos no tempo do Estado Novo, em que Portugal vivia numa ditadura oligárquica em que os interesses de uma elite estavam defendidos e o "status quo" não podia ser atacado,(...)"

Graças a Deus que agora não se passa nada disso! : -)) Agora é tudo transparente, livre e honesto.

fiona bacana disse...

Deste período conheço apenas os traços gerais. Por isso pedia aos que dele têm memória 1 espécie de serviço público: uma resenha histórica (com factos, nada de lendas) e preferencialmente documentada. A nossa História é preciosa e é preciso saber passá-la.

Desde já, muito obrigada

Anónimo disse...

Ana,

Foi isso que tentei fazer, procurando salientar os principais factos, que, se reparar, ninguém aqui pôs em causa.

Mas claro que nestes artigos cada um imprime também o seu cunho pessoal. Afinal isto é um simples blogue.

Um dia hei-de escrever aqui sobre a crise de 1969 (Pinto de Magalhães/Pedroto). Essa custou-nos um título.

Não há, contudo, necessidade de alguém se coibir de discutir estes assuntos só porque era uma criança à data dos acontecimentos. Nenhum de nós era nascido em 1498 e isso não nos impede de sabermos muito bem quem chegou à Índia nesse ano e até de discutir os méritos e consequências desse facto!;-)

Cumpts

Anónimo disse...

navegante disse: "o dr Américo de Sá era um indefectível adepto do Infante de Sagres, que viu a sua oportunidade na Comissão Administrativa do Sá da Bandeira, ele que se fizera sócio a pensar na oportunidade do azul e branco."

Agora é fácil falar, mas em 1972 o Pinto de Magalhães bateu com a porta, deixou-nos um calote do caraças ao banco dele e ninguém queria ir para presidente. E a verdade é que o Américo Sá foi, fosse ele adepto do Infante de Sagres, do Vigorosa ou do Vasco da Gama.

Vímara Peres disse...

Lembro-me dessa época em que tivémos o Stessl como treinador, foi por esses tempos que comecei a ir à Antas.
A ideia que eu tenho é a de uma equipa aguerrida, que tinha alguma dificuldade para ganhar a equipas muito defensivas que iam lá jogar, mas não me lembro da volta dos jogadores que treinavam à parte, só me lembro de um tipo pequenino e mexido que acho que era o Coelho, mas não tínhamos estrelas. Não terá sido por essa altura que o Gomes foi para Gijón, o Octávio saiu, etc?
O Stessl saiu e voltou o Pedroto no ano a seguir?
Desculpem lá, mas esse tempo ainda é um pouco nebuloso para mim.

Daniel Gonçalves disse...

David disse: "Agora é tudo transparente, livre e honesto."
Não se leia nas minhas palavras algo que eu não quis/queria afirmar. Claro que agora não é tudo honesto, temos um sistema imperfeito, não temos, na práctica (apenas no papel), um Estado de Direito perfeito como na Inglaterra ou Alemanha, mas houve uma evolução depois do 25 de Abril, não nasci no Estado Novo mas para quem estudou História de Portugal sabe que existem diferenças: Antes do 25 d Abril era mais fácil cometer "ilegalidades", negócios obscuros, que as "cumplicidades" políticas podiam esconder essas situações, a estabilidade e a salvaguarda do regime podiam sacrificar o julgamento dessas injustiças, que ficavam para sempre apagadas. Hoje não temos apenas 1 "Partido Político" como era a União Nacional, mas vários que lutam entre si pelo poder, hoje pudemos criticar e EXIGIR clareza e honestidade no sistema, algo que não existe no Estado Novo.

fiona bacana disse...

@Alexandre

Sim, percebi e agradeço! (O meu pai, quem me iniciou nestas coisas do evangelho azul e branco, não gosta de falar destas coisas...).

"Mas não pretendo historiar aqui em pormenor os eventos desse conturbado Verão", diz-se no post. E era isso q eu queria, 1 espécie de cronologia de acontecimentos.

Já agora, 1 pergunta: pq é q todos regressaram, menos Oliveira?



cumps

Daniel Gonçalves disse...

David disse: "Agora é fácil falar, mas em 1972 o Pinto de Magalhães bateu com a porta, deixou-nos um calote do caraças ao banco dele e ninguém queria ir para presidente. E a verdade é que o Américo Sá foi".
Agradeço que me fosse dado a conhecer esta situação, que desconhecia. Sendo assim o Dr. Américo de Sá também tem o seu mérito, pois em tempos difíceis teve a audácia de ser Presidente do Clube, independentemente das asneiras que cometeu depois.
Agradeço aos autores do blog os posts que recordam pedaços da História do FCP.

Anónimo disse...

@ Justiceiro Azul

Hermann Stessl treinou o FCP nas épocas de 1980/81 e 1981/82. Depois da sua eleição, Pinto Costa negociou a saída do austríaco e trouxe o Pedroto de volta.

O Coelho era um ex-junior, ponta-de-lança. Se não me engano, jogou mais tarde no Boavista e no Penafiel. Foi na época de 1980/81 que o Gomes foi para o Gijón, e foi substituído pelo Mick Walsh, um dos melhores cabeceadores que já actuaram no futebol português. O Octávio, de facto, também não voltou a jogar pelo Porto, mas tinha partido uma perna um ou dois anos antes e nunca mais foi o mesmo jogador. Ainda voltou ao V. Setúbal, seu clube de origem.

@ Ana Martins

Como já expliquei ao "Justiceiro" o Octávio também não voltou, mas estava em fim de carreira. O que se passou é que esses dois jogadores eram os mais "pedrotistas" do plantel. O Octávio foi inclusivamente, se não me engano, o jogador português mais anos por ele treinado (já fora seu treinador em Setúbal).