Nota introdutória
No próximo dia 28 de Setembro o FC Porto completa 120 anos de existência e, se tudo correr dentro do previsto, nesse dia será inaugurado o novo museu do clube.
No dia seguinte, 29 de Setembro, há eleições autárquicas e fecha-se um ciclo de 12 anos de Rui Rio à frente dos destinos da cidade invicta, durante o qual a Câmara Municipal do Porto e o principal clube da cidade estiveram de costas voltadas.
O ‘Reflexão Portista’ não é um blogue político e, portanto, não cabe aqui uma análise política ao que foi o desempenho de Rui Rio como presidente da Câmara Municipal do Porto. Contudo, importa recordar o que esteve na origem deste corte de relações institucionais entre duas entidades que, à partida, deveriam estar alinhadas e colaborar ativamente em iniciativas que contribuam para a dinamização, projeção e crescimento da cidade do Porto.
É o que tenciono fazer, num conjunto de artigos que irei publicar durante as próximas semanas e onde irei recordar factos, declarações de protagonistas, encargos com obras, etc.
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A decisão do FC Porto de construir um novo estádio foi tomada em 1997, muito antes do EURO 2004, já então por se considerar que o Estádio das Antas estava a chegar ao fim da sua vida útil e que os gastos de manutenção anuais não o tornavam rentável.
Por outro lado, a ideia da Câmara Municipal do Porto (CMP) de fazer uma nova centralidade na zona oriental da cidade era ainda mais antiga (conforme declarações dos responsáveis autárquicos e documentos existentes o podem comprovar).
Deste modo, sendo os interesses da câmara e do clube convergentes, em Agosto de 1998, e por iniciativa da autarquia, o arquitecto Pedro Guimarães apresentou um primeiro estudo de renovação da zona, que ficou conhecido como a “Cidade do Dragão”. Nesse estudo, a localização que o clube tinha previsto para o novo estádio era no local ocupado pelo antigo campo de treinos n.º 1, ao lado do já demolido Estádio das Antas.
Entretanto, e por não ter ficado satisfeita com o estudo de Pedro Guimarães (Nuno Cardoso, na altura vereador do pelouro do Urbanismo, considerou a proposta inconcretizável e qualificou o trabalho de “banda desenhada”), a CMP decidiu, em Agosto de 1999, entregar ao arquitecto Manuel Salgado (responsável pelos projectos da EXPO'98 e do Centro Cultural de Belém) o projecto de requalificação urbana daquela zona oriental da cidade.
Segundo a introdução do relatório do Plano de Pormenor das Antas (PPA), trata-se de “um projecto urbano de grandes dimensões na zona das Antas e que abrange uma vasta área onde se localiza o estádio do Futebol Clube do Porto (FC Porto), diversas unidades industriais – algumas obsoletas –, terrenos camarários e terrenos privados ao abandono”. Abrange uma área de 41,3 hectares e fixa “a implantação do novo complexo desportivo do FC Porto e define a reutilização a dar aos terrenos que vão ser disponibilizados, estabelecendo uma estrutura de espaços públicos diversificados e o redesenho da malha urbana circundante e assegurando a articulação com os bairros mais próximos e a acessibilidade e a circulação em toda a zona, respeitando o regulamento e zonamento das Normas Provisórias do Plano Director Municipal”.
O PPA contempla uma área delimitada pelo Bairro de Contumil (a Norte), pela Rua de S. Roque da Lameira (a Sul), pela via-férrea (a Nascente) e pela Avenida de Fernão de Magalhães (a Poente).
Imagem aérea que inclui a zona abrangida pelo PPA (fonte: APOR) |
Em Janeiro de 2000, o arquitecto Manuel Salgado apresentou a primeira versão do estudo, a qual já definia, com detalhe, a estrutura de toda a área do ponto de vista urbanístico e, nomeadamente, já previa uma grande superfície comercial (que haveria de se tornar polémica… dois anos depois!).
«Esta intervenção iniciou-se com a elaboração de um Estudo Urbanístico para a área compreendida entre a VCI, a Av Fernão de Magalhães, a Praça das Flores e a Praça da Corujeira e confinante com o Plano de Urbanização de Contumil (cerca de 85 ha) o que deu origem à realização do Plano de Pormenor da Zona da Antas (cerca de 40 ha). O Plano de Pormenor das Antas, assenta num princípio de reestruturação fundiária e de perequação compensatória de custos e benefícios e tem com objectivos criar uma nova cidade com funções variadas - 3000 fogos habitacionais que concentrarão uma população de cerca de 10000 pessoas; espaços comerciais e de serviços onde se prevêem a criação de cerca de 5000 postos de trabalho; 2 hotéis, um de 3 e outro de 4 estrelas; 1 estádio de futebol para 50000 espectadores, complementado ainda com áreas de lazer e desporto; 1 pavilhão multiusos; 1 centro comercial com cerca de 40000 m2 destinados a área de venda, armazéns e estacionamento para mais de 2000 viaturas; 1 parque verde urbano com 10 ha, equipado com zonas de desporto ao ar livre; 1 equipamento de saúde; 1 equipamento de ensino; estação e interface de metro; parques de estacionamento público para mais de 1000 viaturas.»
(fonte: APOR - Agência para a Modernização do Porto, S.A.)
Neste estudo, elaborado por Manuel Salgado para a CMP, o novo estádio do FC Porto é colocado numa localização diferente da inicialmente prevista, junto à VCI. Face a esta nova localização, que implicou custos acrescidos para o clube, o FC Porto aceitou discutir e negociar com a câmara o que tinha anteriormente preparado e que mais tarde virá a resultar no protocolo assinado entre a CMP e o clube.
Mapa do PPA com legenda (fonte: JN, 06-01-2000) |
No dia 8 de Fevereiro de 2000, o estudo elaborado pelo arquitecto Manuel Salgado foi aprovado por unanimidade pelo executivo da CMP e, segundo a Direcção de Planeamento e Gestão Urbanística da CMP, foi desenvolvido de acordo com o conteúdo das normas provisórias do Plano Director Municipal (PDM). No estudo são propostas, regras e parâmetros que cumprem, quer as normas provisórias, quer o PDM.
(continua)
10 comentários:
Olá
Excelente post...excelente tributo aos (des)portistas, dias antes do aniversário do FCPorto.
Obrigado e fico á espera dos posts seguintes.
Cumprs
Augusto
Este artigo e os que se lhe irão seguir são acerca do Plano de Pormenor das Antas (PPA).
É este o mote da discussão.
Nesse sentido, agradecia que evitassem comentários que nada tenham a ver com o PPA e com esta discussão.
Comentários que sejam de mera análise ou propaganda política e sem relação com o PPA, não serão publicados.
Excelente artigo para memória futura.
O PPA parece-me que foi importante e até benéfico para a cidade do Porto e não só para o nosso FCPorto, as discussões levantadas na altura por Rui Rio,além de manifestarem um certo anti-portismo tipico de alguns boavisteiros (como por exemplo,João Loureiro),serviu para desviar (como se isso fosse preciso) as atenções do verdadeiro ROUBO que se passou na capital em beneficio dos dois clubes da 2ª circular aquando da construção dos seus estádios, mas como sempre a comunicação social centralista delirou com o ataque de Rui Rio ao FCPorto e fechou os olhos ao que se passava na capital.
Saudações Portistas
Paulo Almeida
Excelente artigo em vésperas de mudança de presidente de câmara que, sem fazer qualquer análise política, apenas digo que sempre tratou mal o nosso clube para gáudio de uma manada vermelha. A verdade é que tudo isto foi aprovado por unanimidade e mal o actual presidente foi eleito tentou, não digo evitar, mas chatear o clube.
Na parte relativa ao clube tudo foi feito com rigor e muita qualidade. Aliás temos um dos mais belos estádios do mundo e um pavilhão que sendo pequeno está muito bem conseguido. Parabéns ao arquitecto Manuel Salgado que apesar de ser mouro merece um grande aplauso de todos os portistas. Todo o complexo desportivo do F.C.Porto está muito bem encaixado na paisagem urbanística em que se insere.
Pena que à volta ainda estejam muitos espaços por concluir embora se perceba que a crise não ajudou nada.
Amigo Queiroz, se você conhecesse os meandros e as "influências" que se fazem sentir, os figurões que se movem nos bastidores, não ficava contente em poder dizer: "foi aprovado por unanimidade! " como sendo um selo de qualidade e honestidade!
Não vou dizer mais nada, dado que não sei aonde o post do Zé Correia vai levar.
Vou deixar o fim para o fim...
já aquí foi dito tudo o que interessava, o rio mal cheiroso comprou uma guerra que serviu de cortina de fumo para o verdadeiro roubo que o proprio tribunal de contas denunciou, roubo sim com todas as letras...o FCP na liga interna tem alguns adversarios e alguns inimigos, os inimigos toda a gente sabe quem sao...podía-se viver sem um determinado clube dito do regime? sim podía-se , o país nao acabava de certeza absoluta.Mas falta coragem, somos um país de bananas governado por sacanas.
Quando o Nuno Queiroz escreve "foi votado por unanimidade" eu entendi muito bem o que ele quis dizer. Não interpretei essa frase da mesma forma que o "reine margot" interpretou.
Eu sei bem os interesses muitas vezes obscuros q estão por detrás dessas votações unânimes. E sabemos (todos) que houve muitas "negociatas" por detrás do estádio do Dragão. Mas também toda a gente sabe que toda a zona que hoje está transformada estava quase ao abandono. E com todas as alterações que foram feitas houve muita gente que ganhou mas o clube e a Câmara do Porto também ganharam.
Quando o Dr. Rio chegou (algo que nem ele acreditava ser possível) resolveu que a melhor forma de ganhar popularidade era afrontar o FC Porto. E foi essa estratégia que ele seguiu e a construção do Estádio foi apenas um pretexto. A verdade é que a única pessoa que ganhou alguma coisa com a guerrinha foi ele próprio (os palhaços anti-portistas deliraram) e uma D. Laura da Associação de Coemrciantes q meteu 1 milhão de euros ao bolso.
E se a unanimidade não é muitas vezes boa, neste caso foi aceite com naturalidade por todos os partidos e não só. Apenas o Dr. Rio resolveu tentar criar problemas apenas por motivos puramente pessoais.
E mais uma vez os negócios do Porto foram investigados até ao limite enquanto os da Câmara de Lisboa com os lagartos e os benfas passaram muito levezinho e esses bem maiores e onerosos e muito mais obscuros como Miguel Sousa Tavares sempre mostrou e muito bem.
Em relação a construção do novo estádio do Dragão, a minha opinião vai incidir essencialmente a lotação em si e não em outras questões laterais.
Constata-se que a capacidade maxima 50 000 espatadores são um exagero ,visto que só meia duzia de vezes atingiu-se esse numero.O Dragão esteticamente na minha opinião é um estadio harmonioso,mas quem fica nas "superiores" no Inverno aquilo parece um figorífico,alem da chuva cair nas primeiras filas de cadeiras....
As causas para o aumento de lotação de 40 000 do 1º estádio projectado nos finais de 90 para o actual já foi abordado nestes artigos,mas também tem correlação com a participação do Euro 2004. Um estadio semelhante ao da Juventus era o ideal as nossas actuais necessidades.
Acordou-se com o grupo Amorim vender os terrenos por 80 M€ e ainda hoje estou na duvida se o clube recebeu a verba ou esta só entra nos cofres do clube com a comercialização dos mesmos. Espero que não tenha acontecido o mesmo que ao Valencia que tentou construir o novo estadio sem primeiro vender o Mestalla. .Fica a duvida?
Em questões urbanísticas e troca de terrenos .os autores deste blog estão a prestar uma grande contribuição ao Portismo. Um bem HAJA.
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