A arbitragem está sempre sob suspeição. Os árbitros julgam os lances e é sobre eles que alguma opinião pública e publicada, jornalistas desportivos e comentadores encartados enchem a boca, nomeadamente e particularmente se o FCP é suposto ter saído beneficiado de algumas decisões tomadas.
A mão na bola do Rolando não é com toda a certeza casual e o Otamendi é que meteu a cara debaixo do pé do Luisão. Não falam de outra coisa. Suspeição, certezas, insultos… e muita estupidez.
Infelizmente, somos todos um pouco culpados: no domingo, no Dragão, virei-me várias vezes contra o árbitro porque achei que usou duma gritante dualidade de critérios na marcação das faltas e na amostragem de cartões. Essa foi a leitura principal que fiz da arbitragem em causa.
A gente cá do meu bairro não saiu imune dos conflitos dos dois últimos clássicos. No café do costume as coisa azedaram. O Luís do café (SLB), o Zé da frutaria (FCP), a Manela cabeleireira (FCP), o Santos da retrosaria (SLB, disfarçado de boavisteiro) e o Silva recepcionista da pensão “Lua de Mel” (SCP) pegaram-se e já falavam grosso uns com os outros, de forma nada cívica. O Luís e o Silva estavam possessos e gritavam: “gatunos, gatunos, gatunos, exigimos respeito….”, o Zé dava baile e perguntava: “estais com dores? é dos pontos…”, a Manela repetia, como um disco arranhado: “toma lá três e já vão quatro… lá vai a taça com arquinhos e balões...” e o Santos, muito sério, não se cansava de repetir: “é preciso saber ganhar, é preciso saber ganhar…”.
Mantive-me tranquilo e tentava acalmar os ânimos. Dei uma espreitadela à rua, pois alguns mirones tinham formado um pequeno ajuntamento. O Karate Kid (FCP) aproximava-se com ar ameaçador. Felizmente que no auge da discussão, e antes de Karate Kid, entrou a universitária russa, de seu nome Svetlana, a cujo sortilégio ninguém escapa: de calções que deixavam ver umas pernas que apeteciam tocar, com uma blusa generosamente decotada e uma forma de caminhar graciosamente felino, parou de repente e mirou a “assembleia”, de forma desafiadora. Fez-se silêncio por encanto. Junto dos amigos que discutiam mais acaloradamente, disse docemente: “Oh Luís deixa lá, o que tu precisas é de bom sexo, e tu Silva as toalhinhas são a tua serventia!”. O Luís e o Silva ficaram amarelos e sem fala, e sabe-se porquê, o Zé riu-se, a Manela deu uma sonora gargalhada e o Santos ficou-se pelo sorriso. A paz voltou. Svetlana lançou mais algumas provocações e saiu a cantar: “Ai estes são os filhos do dragão/unidos para vencer/ansiosos por fazer/deste Porto campeão!”
O Karate Kid que se tinha mantido meio dentro, meio fora, já completamente calmo, atirou em jeito de despedida: “decididamente a rapaziada da 2a. Circular não têm cabedal para nos ganhar e não sabe perder. São bons nos golpes baixos. Porto, Porto, Porto, Porto, Porto, Portoooooooooooooo".
A debandada foi geral. A crise é que não, essa veio para ficar. Boa Páscoa para todos.
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