segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um FCP Europeu


O FCP é um clube de dimensão europeia, como comprovam o número de presenças e a qualidade dos resultados.
Não creio que entre nos planos revalidarmos qualquer título mas, tal como no passado, as surpresas ocorrem, mas são cada vez mais difíceis. No passado, aconteceram porque houve nesses momentos históricos, para além do valor inquestionável do plantel, uma conjuntura favorável que permitiram tais sucessos. Mas, fazer parte da elite e ser tomado como parte do grupo, como acontece hoje, não significa ter de ganhar a CL ou a taça UEFA.


Então o que exige:

1. Bem, relativamente ao FCP significa (apenas) conseguir com muito menos recursos e num mercado (interno) bastante pobre, ser capaz de concorrer com os tubarões da indústria e os patrões do negócio.

2. Não terá o FCP – em princípio – condições muito favoráveis de superar os constrangimentos referidos acima, no próximo futuro. A “meta” tem sido chegar aos oitavos, o que foi conseguido nos últimos três anos. Tudo o que vier por acréscimo é muito bem vindo em termos desportivos e financeiros. Mas, temos de convir que, sendo obrigados a uma rotação do plantel relativamente elevada, é muito complicado manter um alto nível de competitividade de forma consistente, pois a tendência é o encurtamento do ciclo, e passarmos a estar demasiado dependentes dos “tempos de construção”.

3. Além disso, as dificuldades vão crescer. Há mercados emergentes que só podem valorizar-se. Alguns dos países saídos do bloco de leste, concorrem directamente com Portugal, e a tendência é o estreitamento da vantagem que ainda dispomos relativamente a alguns outros.

4. Penso que a qualidade do produto e os consequentes resultados desportivos foram sempre a locomotiva do clube, e não pode ser, na minha opinião, de outra forma.
O FCP conseguiu notoriedade europeia – com extrema competência – mas financeiramente o clube continua desequilibrado.

5. Obviamente que temos um problema financeiro e que a situação de crise geral é preocupante. Já vivemos essas crises no passado. Hoje, está mais difícil. A conjugação de um maior sufoco numa economia débil como a nossa, com uma mais que provável redução de receitas desportivas e a pressão crescente da concorrência no futebol europeu, poderão provocar uma séria debilidade no futebol indígena, de consequências imprevisíveis, interna e externamente. Temos de estar preocupados e preparados, para que o pior não aconteça.
Os sucessos do passado e do presente foram construídos com trabalho e com erros. O tempo presente exige mais trabalho e menos erros: esbanjar fica proibido.

6. O Real Madrid quis mais que um projecto europeu: planeou um projecto galáctico. Valdano, o director desportivo, é um homem de competência indiscutível. O presidente do clube de então, F. Perez (?), um gestor e empresário famoso e de sucesso. Os jogadores eram todos de grande valia. O que ganharam? O plano arrancou, viveu, teve um êxito efémero e morreu de morte súbita. Quanto gastaram? O que falhou no projecto? Simplesmente: não chega ter um óptimo projecto e não basta o curriculum para formar ou manter uma equipa ganhadora de forma continuada.

7. Por isso, temos que ser mais eficazes e errar menos que os nossos concorrentes directos. As contas e a consolidação orçamental são importantes. Mas, temos de ousar encontrar os caminhos da conciliação entre esse equilíbrio e o investimento que produz riqueza. Não é obra fácil, nem coisa pouca.

8. O futuro está complicado no plano interno e externo. O reforço da nossa continuidade entre os maiores da Europa vai ser tarefa árdua. Os tempos próximos vão ser decisivos. As soluções financeiras que forem encontradas e uma óptima gestão dos activos validarão (ou não) o projecto futuro e a nossa continuidade na Europa.


9. Para estar lá, vai ser um sobressalto permanente: continuaremos dependentes das mais valias financeiras com a venda de jogadores, enquanto vai ser pedida à equipa uma competência acrescida, porque as vagas mingaram. Não foi muito diferente no passado, mas creio que vai ser bastante mais difícil essa conciliação que tem permitido manter-nos à tona e navegar sem perder o rumo, pois os candidatos são os mesmos do costume, os acessos é que são mais escassos.

10. Apesar das dificuldades, acho que o FCP tem futuro, ainda que tenha de mudar um “pouquinho”, ora aproveitando melhor os recursos próprios, ora sendo mais certeiro e menos gastador na contratação de novos jogadores. O que é fácil na teoria, mas na prática nem por isso.


Concluindo: A Europa é uma miragem e um destino. Para lá nos aguentarmos temos de saber esconder as fraquezas e maximizar os pontos fortes. Precisamos das receitas da CL, por isso temos que lá estar. E para lá estar temos de ganhar. E para ganhar temos de ter uma equipa competitiva. E para a constituir temos de formar jogadores e contratar outros tantos – a preços relativamente baixos - capazes de se envolverem num processo evolutivo que lhes permita competir com as equipas de topo. Complicado? Muito! Mas é esse o caminho, como foi no passado. Só que as margens de erro são cada vez mais apertadas.

2 comentários:

José Correia disse...

«aproveitando melhor os recursos próprios, ora sendo mais certeiro e menos gastador na contratação de novos jogadores. O que é fácil na teoria, mas na prática nem por isso»

Sem dúvida.
Se as contratações das últimas duas épocas - 2006/07 e 2007/08 - tivessem a qualidade que se perspectiva nas que foram feitas esta época teríamos, já nesta altura, uma equipa mais coesa e bem mais forte do que o onze actual.

Nuno Nunes disse...

Parece-me que o mais difícil é conseguido pela sociedade: potenciar e vender jogadores por valores astronómicos. O problema vem a seguir, quando não se consegue conter uma onda de contratações por atacado onde mais de 50% dos jogadores não se afirmam como mais-valias no plantel.

E na verdade o futuro não vai poupar erros desta dimensão. O desafio é grande e os 2 próximos anos vão tirar muitas dúvidas.