quarta-feira, 13 de maio de 2009

O ano horribilis do basquetebol portista


15 de Julho de 2008. Num artigo que intitulei “Sai Alberto Babo, fica Júlio Matos”, escrevi o seguinte:
«Como treinador principal, no FC Porto e no Queluz, e apesar de nunca ter tido a possibilidade de treinar equipas de orçamentos elevados, [Alberto Babo] ganhou dois campeonatos nacionais, cinco Taças de Portugal, três Taças da Liga e três Supertaças, tendo sido eleito várias vezes treinador do ano»

Sobre o desempenho do FC Porto nas épocas 2006/07 e 2007/08, escrevi:
«Alberto Babo foi capaz de construir equipas competitivas, que conseguiu levar à final dos play-off, tendo de ambas as vezes obrigado a Ovarense a um sétimo jogo. Além disso, ganhou a Taça de Portugal na época 2006/07 e a Taça da Liga na época 2007/08.
É pouco?
Para a Administração da Futebol Clube do Porto – Basquetebol, SAD parece que sim, que já escolheu para sucessor de Alberto Babo o seu antigo adjunto, Júlio Matos.»


Em 18 de Setembro de 2008, numa entrevista publicada no site Planeta Basket, o Director Geral do Basquetebol no FC Porto, Fernando Assunção, quando questionado sobre os objectivos da equipa liderada por Júlio Matos para a época 2008/09, respondeu o seguinte:

"Como sempre, o lema deste clube é tentar ganhar todas as provas em que entramos. Nem sempre isso é possível, mas essa é a nossa postura nas competições. A saída de Alberto Babo significou o fecho de um ciclo no clube. A escolha do seu sucessor foi um homem da casa, Júlio Matos."

Sobre o treinador que tinha escolhido para orientar a equipa nesta época, a opinião de Fernando Assunção era a seguinte:
"Como sempre gostamos de dar oportunidade aos nossos e o Júlio Matos é nosso há muito, muito tempo. No entanto gostaria de realçar que este predicado sendo relevante não é o mais importante. Essencialmente é a qualidade e a capacidade de trabalho e esses são predicados que não tenho dúvidas o Júlio Matos reúne em grande quantidade e por isso foi o escolhido."


Infelizmente, e conforme é sabido, era quase impossível o desempenho da equipa ter sido pior. Ao longo da época a equipa alternou as exibições entre o sofrível e o péssimo, vivendo na esmagadora maioria dos jogos da inspiração individual de alguns jogadores.
Júlio Matos nunca foi capaz de construir um colectivo forte e coeso (as lesões servem de atenuante mas não explicam tudo) e só in extremis o FC Porto conseguiu o apuramento para os play-off (os dragões ficaram em 8º lugar da fase regular).

A vitória no jogo 2, quebrando a invencibilidade do SLB em pleno pavilhão da Luz, ainda criou alguma ilusão, mas isso rapidamente foi desfeito nos jogos 3 e 4, ambos disputados no Dragão Caixa, com as equipas do FC Porto e do SLB a voltarem ao seu normal: de um lado os encarnados com rotinas ofensivas e defensivas bem oleadas e do outro um conjunto de jogadores, a envergarem camisolas azuis-e-brancas, perdidos dentro do campo, à espera de um momento de inspiração de um deles.

Seria fastidioso falar na sucessão de falhanços, alguns deles a roçar a infantilidade, da equipa do FC Porto nestes dois jogos, mas há coisas que me custam a perceber.
Por exemplo, como é possível que no jogo 3, os jogadores (profissionais!) do FC Porto tenham convertido apenas 10 de 25 lançamentos da linha de lances livres? Não treinam este tipo de lançamentos?
Como é possível que no jogo 4, o FC Porto tenha falhado as primeiras 16 (!!!) tentativas de lançamentos triplos?

No final do jogo 4, Júlio Matos afirmou:
Estamos fora. A época acabou. Agradeço a confiança da direcção e tenho pena de não ter chegado onde o clube merecia

Não tenho dúvidas do portismo de Júlio Matos, nem que ele terá feito o melhor que pode e sabe, mas parece-me evidente que a sua escolha para treinador principal terá sido um enorme erro de casting. Os resultados são inequívocos e, perante a pior época de que tenho memória, é óbvio que o Júlio Matos não tem condições para continuar a ser treinador do FC Porto. Estou certo que ele próprio terá consciência disso.
Mas é apenas a ele que cabem responsabilidades?
Então e quem achou que o ciclo de Alberto Babo tinha terminado e decidiu entregar a equipa ao seu adjunto, sabendo dos elevados riscos de tal opção, nomeadamente ao nível da autoridade (ou falta dela) do novo treinador principal perante jogadores com quem tinha um relacionamento muito “tu cá, tu lá”?

Fernando Assunção está ligado à modalidade e ao clube desde 1963 e, em Março de 1992, juntamente com o Dr. Fernando Gomes e com um grupo de antigos praticantes, contribuiu para que o Basquetebol não acabasse no FC Porto.
O trabalho desenvolvido nessa altura, quer ao nível dos escalões de formação, quer da equipa sénior (superiormente orientada pelo Professor Jorge Araújo), permitiu que o FC Porto construísse uma equipa alicerçada em jovens valores da casa – Rui Santos, Paulo Pinto, Nuno Marçal, Fernando Sá, João Rocha, etc. – e se sagrasse campeão na época 1995/96.

Na altura desta fornada de jogadores, o treinador-adjunto do Professor Jorge Araújo e treinador das camadas jovens portistas, onde ganhou N títulos em juvenis, juniores e esperanças, era Alberto Babo. Deve ter sido coincidência...

O que se passou esta época foi mau demais e não pode ser dissociado de duas decisões da esfera de responsabilidade de Fernando Assunção: a saída de Alberto Babo e a escolha de Júlio Matos para treinador principal.
Por isso, e porque o FC Porto não é o SLB (onde a culpa é sempre dos treinadores e dos jogadores e nunca dos dirigentes), é preciso que essas responsabilidades sejam assumidas por quem de direito e na sua plenitude.


Como sócio do FC Porto, estou grato ao Fernando Assunção, velha glória do basquetebol portista (venceu o campeonato nacional em 1971/72, numa equipa da qual também faziam parte Fernando Gomes, Alberto Babo e... Dale Dover!), por tudo aquilo que fez pelo Basquetebol do FC Porto mas, na minha opinião, está na hora de ele passar a bola e de renovarmos a direcção com sangue novo, novas ideias e redobrada ambição.

Fotos: www.fcporto.pt, 'Bibó Porto, carago'

11 comentários:

J F C Castro disse...

Excelente Artigo.
Realmente foi com um sentimento de impotência com que assisti a estes dois Jogos no Dragão Caixa.
É que realmente custa perder assim! E muito mais com o Benfica.
Mas, fomos muito fraquinhos.

Um Abraço

JC

Manuel Guedes disse...

Má demais esta época. Treinador demasiado incompetente, a equipa não tem organização defensiva nem ofensiva. Já vi equipas amadoras melhores nesses aspectos.

Em relação ao plantel, parece-me um pouco curto para formar uma equipa vencedora. O 5 inicial está ao nível das melhores equipas mas não há soluções no banco com capacidade para marcar pontos ou lutar nas tabelas.

miguel87 disse...

Não tenho acompanhado a modalidade nos últimos anos mas fui assistir ao jogo 3, e realmente é confrangedor a falta de jogo colectivo, o fraco aproveitamento dos lances livres e, talvez o que me saltou mais á vista, a incapacidade e falta de garra nos ressaltos em ambas as tabelas. Realmente nem parece uma equipa do Porto! Além do mais, a equipa do benfica não me pareceu assim tão forte, a menos que estivessem a querer gerir esforço em função do marcador.

Mário Faria disse...

Não creio que Fernando Assunção tomasse decisões estruturantes, sem o acordo de Fernando Gomes.
Ambos antigos e brilhantes atletas são profundos conhecedores da modalidade. No FCP - também no andebol e no hóquei - os dirigentes tendem a manter-se muitos anos na actividade - , e os benefícios estão à vista. O tempo não cria só bolor.
Acho que os dirigentes do FCP - em todas as modalidades - tem um capital de experiência que não pode nem pode ser mandado às urtigas, embora reconheça que no basquete tem havido indícios inquietantes.
Começou com a ameaça do fecho da secção, continuou com a uma intervenção no mercado não muito bem sucedida na aquisição de jogadores para terminar na escolha do treinador que não correspondeu, embora seja justo referenciar que é sempre o elo mais fraco do ciclo da produção desportiva. Que se passa ?
Era muito bom que os dirigentes viessem junto dos sócios e adeptos fazer um balanço da actividade, dar conta dos erros, dos pormenores e pormaiores que regulam a actividade, dos problemas orçamentais, da falta de regulação, se for o caso, e como se está a equacionar a continuidade da secção.
Detesto o silêncio. Espero que os nossos dirigentes do basquetebol se expliquem e nos justifiquem os insucessos recentes que não estão ao nível do prestígio do clube. Não gostamos de crucificar ninguém – os dirigentes continuam a merecer a n/confiança até prova em contrário – mas gostamos de estar minimamente informados sobre tudo o que é importante na vida do clube.
Aos sócios e adeptos é devida essa explicação. Espero que os nossos dirigentes não consideram essa proximidade ao sócio e adepto uma minudência e ou que considerem que é um sinal de fraqueza sujeitarem-se a prestar contas quando estão acima do escrutínio popular.

Jorge disse...

Nao sou adepto de basketball e vivendo nos EUA nao estou minimamente a par do que se passa nessa area no Porto, no entanto acho que um erro de casting nao justifica a demissao de uma pessoa que tenha mostrado competencia em muitas outras ocasioes.
Se bem que espere que um dirigente assuma o erro, talvez nao seja desejavel que o assuma publicamente ja que isso passaria por passar um atestado de incompetencia ao treinador escolhido que e uma pessao que tambem ja deu muito ao clube e ainda o podera fazer se bem que noutras funcoes.

José Correia disse...

Mário Faria disse...
«Acho que os dirigentes do FCP - em todas as modalidades - tem um capital de experiência que não pode nem pode ser mandado às urtigas, embora reconheça que no basquete tem havido indícios inquietantes.
Começou com a ameaça do fecho da secção, continuou com a uma intervenção no mercado não muito bem sucedida na aquisição de jogadores para terminar na escolha do treinador que não correspondeu, embora seja justo referenciar que é sempre o elo mais fraco do ciclo da produção desportiva. Que se passa?»


Em Março de 1992, quando Fernando Assunção, Fernando Gomes e um grupo de antigos praticantes tomaram conta do Basquetebol do FC Porto, havia ideias e um projecto com bases sólidas, que foi posto em prática e com um sucesso assinalável.
Daquilo que foi visível para quem acompanha a modalidade, esse projecto assentava nos seguintes pilares:

1) Aposta séria na formação de modo a proporcionar à equipa sénior jogadores de boa qualidade e com o espírito do dragão

2) Um treinador principal com curriculum, de créditos firmados e conhecedor da casa - Professor Jorge Araújo

3) Um treinador-adjunto competente, solidário com o treinador principal e que fizesse a ponte junto das camadas jovens - Professor Alberto Babo

4) Escolha criteriosa de jogadores americanos

5) Manutenção da maior parte dos jogadores de uma época para a outra

Os sócios e adeptos do FC Porto que têm estado atentos, comparem com aquilo que se tem passado nos últimos anos e tirem as suas conclusões.

José Correia disse...

Jorge disse...
«Nao sou adepto de basketball e vivendo nos EUA nao estou minimamente a par do que se passa nessa area no Porto, no entanto acho que um erro de casting nao justifica a demissao de uma pessoa que tenha mostrado competencia em muitas outras ocasioes.»

Caro Jorge, a dispensa de Alberto Babo (chamaram-lhe fim de ciclo) e a escolha do seu adjunto - Júlio Matos - para treinador principal tinha tudo para dar errado (conforme as pessoas que acompanham mais de perto a modalidade saberão).
Para mim não foi apenas um erro. Foi a "gota de água" que fez transbordar um copo que já vinha enchendo há algum tempo.

José Correia disse...

O seleccionador nacional de basquetebol gostava de acumular as funções de treinador da selecção com as de técnico de uma equipa da Liga Portuguesa de Basquetebol.
A prestação da equipa de basquetebol do FC Porto esta época (8º lugar na fase lugar e eliminação nos play-off diante do Benfica) deixou muito a desejar esta época.

Para a próxima época, os dirigentes portistas vão fazer algumas mudanças, inclusivé de treinador. Júlio Matos deve estar de saída do comando técnico do FC Porto.

Para o seu lugar têm sido vários os nomes veiculados, mas o mais forte é o do seleccionador nacional de basquetebol, Moncho López.

O técnico, ouvido pela Antena 1, diz que com ele ninguém falou, contudo mostrou-se disponível para acumular funções: "A realidade é que o meu contrato oferece essa hipótese, sei que o presidente da Federação tem conhecimento de que há alguma equipa de Portugal com interesse em contratar-me. Mas, neste momento ,ainda não tive contacto com ninguém. Já manifestei muitas vezes publicamente que eu gostava de fazer as duas coisas".

Segundo Moncho López, o presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, Mário Saldanha, não se opõe a esta situação, até porque permite uma maior proximidade do técnico aos jogadores e à Liga portuguesa.

in http://ww1.rtp.pt/desporto/
13/05/2009

Manuel Guedes disse...

«Exmo Sr(a),

Vimos convidá-lo a participar num estudo que pretende avaliar o impacto das modalidades desportivas no valor global da marca do seu clube preferido.

O estudo é autorizado pelo Futebol Clube do Porto, é realizado no âmbito de uma tese de Mestrado em Marketing no ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão e conta com a colaboração da Faculdade de Motricidade Humana, ambas da Universidade Técnica de Lisboa.

O questionário é totalmente anónimo e os resultados serão publicados no site oficial do clube (www.fcporto.pt).

Agradecemos antecipadamente a sua colaboração.»

http://www.fmh.utl.pt/sitiodagestao/observatorio/marcabps/index.php

dragao vila pouca disse...

Como adepto do Basquetebol, que acompanho há muitos anos, não me lembro de uma época tão mazinha como esta. Chegamos ao ponto de perder em casa frente ao Sampaense, para o campeonato, quando para a Taça de Portugal, lhes tinhamos ganho por 50 pontos.
Há culpados e são: Fernando Gomes, F.Assunção e em menor escala, um treinador, que as primeiras palavras que teve, quando assumiu o cargo, for ser deselegante, para co Alberto Babo, seu antecessor e seu chefe, na equipa técnica do ano anterior.

Pelo que já me chegou, as coisas para o ano vão mudar, com a aposta em valores reconhecidos, a ser a política a seguir, tendo já sido contratado um americano que joga em Portugal, de grande qualidade.

Um abraço

José Correia disse...

dragao vila pouca disse...
«Pelo que já me chegou, as coisas para o ano vão mudar, com a aposta em valores reconhecidos, a ser a política a seguir, tendo já sido contratado um americano que joga em Portugal, de grande qualidade.»

Não sei se será o mesmo, mas chegou-me aos ouvidos que Gregory Stempin (da Ovarense) será jogador do FC Porto na próxima época.