sábado, 20 de dezembro de 2008

A Taça do Arsenal (III)

A Taça do Arsenal (I)
A Taça do Arsenal (II)

III. As comemorações da vitória e a maior taça do Mundo

No jogo contra o Arsenal o FC Porto alinhou com:
Barrigana (foto ao lado); Alfredo e Francisco; Joaquim, Romão, Virgílio; Lourenço, Araújo, Correia Dias (cap.), Gastão e Catolino (Sanfins na 2ª parte).

O árbitro foi o escocês Webb, auxiliado pelos bandeirinhas portugueses Vieira da Costa e Avelino Ribeiro.

Os golos do FC Porto foram marcados por Araújo (9’) e Correia Dias (20’ e 28’).

A vitória teve uma repercussão espantosa, tendo chegado centenas de telegramas de felicitações de todo o lado (Brasil, Angola, Moçambique, etc.).
A própria Direcção-Geral dos Desportos (DGD) também decidiu louvar o clube. Assim, na presença de toda a Direcção azul e branca, o Delegado do Porto da DGD, Mário de Carvalho, leu o seguinte louvor,: “Depois do êxito desportivo alcançado pelo FC Porto, cuja vitória sobre o Arsenal, primeiro classificado da Liga Inglesa, fortaleceu o prestigio do nosso futebol no plano internacional e deu relevo ao desenvolvimento da campanha desportiva portuguesa, entendo dever louvar: os jogadores do FC Porto pelo aprumo e lealdade com que se comportaram, aos quais também felicito pelo êxito que reflecte o bom desempenho das funções que exercem”.
a) Pelo Director Geral, o interino António Cardoso


Após o desafio, à noite, realizou-se um banquete dedicado aos dirigentes e jogadores londrinos. Presidiu Júlio Ribeiro de Campos, presidente do FC Porto, que tinha à sua direita o comandante Bones, presidente do Arsenal, e à sua esquerda o Cônsul da Inglaterra, o representante do comandante da 1ª Região Militar e o Delegado da DGD.

Durante os discursos, o manager do Arsenal Football Club, Tom Whittaker, afirmou:
Viemos aqui mais para representar a Inglaterra do que o nosso próprio clube. Contudo, nunca contamos com adversário tão difícil e que se revelou de uma classe muito superior à do Benfica.
Ganharam e ganharam bem. O Arsenal quando vai para o campo procura sempre fazer o melhor e esse melhor está pendente do que o adversário consente. O FC Porto não nos deixou fazer mais, surpreendendo-nos os 3-0 que nos obrigaram a tentar uma recuperação, mas o adversário não consentiu.
Não há desculpas. O FC Porto venceu e venceu bem. Defrontamos uma grande equipa
.”


Ganhar aquela que era considerada a melhor equipa do Mundo e, ainda por cima, no timing e contexto em que tal vitória tinha ocorrido, era um feito que, no entender de muitos portistas, tinha de ser imortalizado.

Deste modo, um grupo de seis sócios do FC Porto - Eduardo Soares, José Moreira, Ivo Araújo, Manuel Ferreira, Elói da Silva e Torcato Plácido - decidiram abrir uma subscrição pública para compra de um troféu condigno que perpetuasse aquela tarde de glória portista.

A subscrição foi um enorme sucesso. Centenas de simpatizantes aderiram, tendo sido angariado 200 contos, dinheiro suficiente para mandar fazer um troféu majestoso - a Taça do Arsenal -, que seria oferecido ao clube um ano depois.

A Taça do Arsenal é composta por duas peças monumentais: uma peça totalmente concebida em prata e um relicário.

A peça de prata é constituída por três figuras esculturais de mulher, erguendo-se nas pontas dos pés, segurando a taça, circundada por três dragões dominados por três atletas que procuram alcançá-la para beberem dela o vinho da vitória. Na sua construção gastaram-se 130 quilos de prata!

O relicário, que tem 2,80 metros de altura e pesa 120 quilos (!), é uma espécie de caixa assente em quatro dragões de prata, com quatro portas de cristal. O relicário é rematado com um grupo escultório constituído por uma figura de atleta, de joelho em terra, dominando um leão, que tem uma bola junto dele. Na mão direita o atleta ergue um facho, enquanto que na mão esquerda segura a bandeira do FC Porto. Por detrás dele, dominando toda a peça, a figura da vitória.

Todo o conjunto, pesando mais de 250 quilos, custou 200 contos, exactamente a importância que se arrecadara ao longo de todo um ano de colectas. Os portistas ofereciam, assim, a si próprios o maior troféu do Mundo.



Fontes:
‘A Vida do grande clube nortenho (2)’, Selecções Desportivas, Dezembro de 1978
‘História de 50 anos do Desporto Português’, A BOLA
‘Glória e vida de três gigantes, A BOLA
MaisFutebol, 2006/09/24

Fotos:
Paixão pelo Porto
Óculos azuis e brancos

2 comentários:

Jorge Aragão disse...

Embora saiba que Roma e Pavia não se fazem num só dia, Museu, Museu, Museu...Precisa-se urgentemente como forma de passar às novas gerações e não só - a grandiosa e gloriosa História do nosso Clube.
É só ir a Barcelona e ao Museu do Barça e isso sente-se à légua, contribuindo para a afirmação de um Clube e uma região.
E de pequenino se torce o pepino.
Imagine-se a sensação de uma visita ao Estádio,uma ida à Loja Azul e depois, terminar em apoteose vendo e sentindo a História do Clube num museu que se pretende moderno e interactivo !!!!!!!

Filinto Almeida disse...

A taça foi executada por meu Avô Filinto Elísio de Almeida, existindo ainda o desenho original na posse do Sr. Nelson Abreu, que foi seu discípulo.

A oficina de meu Avô, portista ferrenho, era no Passeio das Fontaínhas, 36.