sábado, 30 de junho de 2012

Quem (não) gosta de futebol

Tenho idade suficiente para me lembrar de um clima futebolístico mais pacífico em Portugal. Principalmente na Comunicação Social. O azedume e as queixinhas sempre existiram entre adeptos mas raramente (segundo me lembro) transparecia para as páginas dos jornais.

Sempre existiram aqueles adeptos que declaravam que as más prestações da selecção eram devidas aos jogadores de clube A, B ou C (digamos que a culpa era sempre do Porto...) mas um gajo entendia isso sempre e só como conversa de café.

O que não existia nos anos 80 e grande parte dos anos 90 era uma tamanha desconfiança nas instituições reguladoras do futebol, mesmo a nível internacional, ie. UEFA e FIFA. Seria fácil dizer que essa postura de suspeita é fruto de uma benfiquização do zeigeist futebolistico nacional: todos os titulos do Porto são tingidos pelo café e pela fruta, o Proença é nosso amigo, etc e tal. Mas reparo que muitos adeptos europeus padecem do mesmo mal, muitos acusam o Barcelona de só ganhar graças aos árbitros e hoje em dia o Platini (e daqui a 2 anos novamente o Blatter) é o grande bode expiatório do futebol internacional.



E o que me preocupa mesmo é que esse discurso não se cinge só aos foruns e facebooks, o equivalente ao café e à tasca da internet, basta ver as primeiras páginas dos jornais desportivos para se ter uma ideia da forma tóxica como se envenena a opinião pública. Ou dos tabloids britânicos.

Em Portugal é fácil de perceber: uma geração de adeptos (digamos uns 60%) que passa o dia a ler, ouvir e ver palermas a desculparem os fracassos desportivos com os mesmos cenários regurgitados ad nauseam, só irá perpetuar essa postura oficiosa de que o futebol é podre, corrupto e até um amigo da UNICEF está contra nós!

O rol de conspirações tem atingido níveis ridículos. É o Proença que, graças ao Pinto da Costa, apitou a final da Liga dos Campeões e agora apitará a final do Euro 2012. É o árbitro turco, amigo dessa organização criminosa UNICEF, que afastará (ou afastou) Portugal da final do Euro contra a Espanha.
É o Platini que não tem vergonha na cara e dita quais os finalistas para o Euro. Até mete um francês a apitar o Itália - Alemanha para assegurar a presença dos teutónicos (oops, algo correu mal). E isto é só uma pequena amostra.

Até há bem pouco tempo era mais ou menos certo atribuir esta perspectiva de ver futebol aos lampiões, mas cada vez mais vejo portistas a regurgitar a mesma léria. O futebol em Portugal assim permanecerá num clima de podridão graças aos aziados do costume, azia essa aparentemente contagiante.

Agora no resto da Europa é que não consigo perceber. Ou talvez consiga.



7 comentários:

Anónimo disse...

Zeitgeist e não zeigeist,como por lapso,dec erto,aparece no texto

Anónimo disse...

Mas será que os avermelhados gostam de futebol? Para eles quando não ganham a culpa é do sistema, é do arbitro, é do Pinto da Costa, é do vento, é do frio, é da água e do vinho, e até de deus se forem crentes!!!!!
O mal leva anos a ser extirpado, mas a cada dia que passa a raça avermelhada vai ficando como o PCP (sem ofensas politicas, apenas uma realidade!); gastos, velhos, reformados e lavados cerebralmente...

Felisberto Costa

Bacalhau_com_belgas disse...

Já lhe deixei a minha opinião num post que fez há uns dias. Essa da "benfiquizacão" é mais um soundbite que simplifica as coisas em prol de uma guerra clubística em que as duas partes têm responsabilidades. Neste mesmo post é dito (e muito bem) que esse problema não se resume ao panorama nacional. Mas cá pelos vistos é fácil encontrar a explicacão, principalmente quando nos interessa. Já escrevi aqui várias vezes que abomino a postura publica e a filosofia de comunicacão do meu clube, comecando por LFV, passando por João Gabriel e Jorge Jesus, e acabando na BenficaTV. Concordo com muito do que escreve no seu artigo, mas neste como na maioria dos escritos que vejo na blogosfera portista, há dois pesos e duas medidas e simplifica-se um problema complexo, que envolve componentes sociais, historicas e culturais de todo o país, para incidir num alvo único.

Antonio Silva disse...

Bacalhau, tb reconheço que essa paranóia por conspirações tb atinge os adeptos do Porto, e olha que não são poucos. Nos foruns, blogosfera e irc tb há muitos portistas que se queixam de árbitro A, B ou C logo a seguir à nomeação. Mas isso no Porto é um fenómeno relativamente recente, entre benfiquistas é desde que me conheço.

Anónimo, obrigado pela correcção, esqueci-me do primeiro t na palavra zeitgeist.

José Correia disse...

Foi uma pena que a FPF, ou pessoas ligadas à FPF, tenham alinhado na cena triste montada pela generalidade da comunicação social portuguesa, relativamente à nomeação do árbitro turco para o jogo da meia-final.

Já por várias vezes "bati" no Carlos Daniel mas, acerca deste caso, foi uma das poucas honrosas excepções no panorama mediático português.

Anónimo disse...

Sobre a opinião do caro Bacalhau, há que diozer honestamente que de fato é um problema social, histórico e cultural, não se detendo apenas no clube de Lisboa.
Desde um simples jogo de amadores até ao Euro 2012, o árbitro é um gatuno e um grande filho da... mãe!
Mas que o exagero da conspiração (publica, não dos adetos e seus foruns e ou blogs) se torna histérico e demente, vem precisamente dos dirigentes e da Comunicação Social afeta ao clube encarnado. Basta ver as capas de jornais quando um arbitro erra... E como disse um prof meu de filosofia, um simples titulo garrafal vale mais que mil imagens!!!

Felisberto Costa

eu disse...

já agora é: decerto e não dec erto