segunda-feira, 20 de julho de 2009

A "Superliga Europeia": o Regresso da Febre do Ouro


Pela voz de um conhecido promotor castelhano de espectáculos de circo, F. Perez, a peregrina ideia da “Superliga Europeia” voltou à “actualidade noticiosa”. Uma coisa me deixa logo de pé atrás quando se fala desta competição: é que, curiosamente, tanto o Sr. Perez como todos aqueles que antes ou agora defendem esta ideia, nunca o fazem alegando benefícios de ordem desportiva. É de facto bizarro a ideia de uma competição desportiva ser apenas defendida com base em argumentos de ordem financeira. Decerto isto significa que, desportivamente, pouco há a dizer em abono de uma prova desta natureza. E, de facto, uma coisa é vermos algumas vezes por época pela televisão as principais equipas europeias a defrontarem-se, ou recebê-las no nosso estádio, outra bem diferente seria isso passar a ser um acontecimento semanal. Estou em crer que, passada a novidade, o sucesso da prova não seria assim tão retumbante. O que torna a Liga dos Campeões especialmente apetecível é também o facto de se “fazer rogar”, de não ser uma rotina semanal. Para isso existe o “rame-rame” semanal dos campeonatos nacionais.


O conceito da “Superliga Europeia” fora enterrado com o alargamento da Liga dos Campeões, garantindo às ligas mais fortes quatro presenças na competição. Ninguém tem voltado ao assunto nos últimos anos, tendo a ideia apenas regressado à superfície, como referido no início, pela boca do mencionado empresário de espectáculos circenses. Mas não me parece que tenha, neste momento, pés para andar, ainda para mais vinda de quem vem, um personagem olhado de esguelha pela maioria dos outros principais clubes da Europa.

A mais grave consequência previsível da criação desta competição seria a morte das ligas nacionais, pelo menos tal como agora existem. O futebol não pode sobreviver sem a solidez da sua "pirâmide". Se a base ruir, o topo cairá também.

Nós portistas gostamos de atacar Benfica e Sporting e de vê-los pelas ruas da amargura, mas, no fundo, sentiríamos a falta deles se deixássemos de jogar contra eles regularmente. Precisamos deles um pouco como o Mouzinho precisava do Gungunhana em Chaimite, é verdade, mas também é dessas rivalidades que se alimenta o futebol. Basta ver, por exemplo, que, na Premier League, os grandes derbies de Liverpool, Manchester e Londres têm regularmente maiores assistências que a maioria dos jogos em casa das equipas inglesas na Liga dos Campeões, e, mesmo por cá, temos melhores assistências contra o Benfica e o Sporting que em muitos jogos da LC. Uma coisa é o gozo que dá ganhar a esses clubes, outra, bem diferente, seria ganhar a Man. U., Real Madrid ou Milan: saboroso, sem dúvida, mas sem aquele gozo interior que transborda à 2ª feira de manhã para o colega de trabalho que tem o azar de ser benfiquista ou sportinguista. E mesmo sob o ponto de vista estritamente financeiro, se tal competição nos permitiria alcançar maiores receitas, também, provavelmente, ela serviria para cavar ainda mais o fosso que nos separa dos clubes mais ricos da Europa, pois nada faz crer que a distribuição das receitas provenientes dos direitos televisivos viesse a ser feita de modo diferente do actual, isto é, privilegiando os clubes de países mais populosos e com, consequentemente, maiores mercados televisivos.

Na minha opinião, aqueles que, por essa Europa fora, possam achar que o futuro do futebol está numa superliga, podem perceber muito de cifrões e de marketing, mas não percebem nada das paixões e dos valores desportivos de quem gosta mesmo de futebol. Acho que, ao deixarem-se fascinar pelos milhões que uma superliga poderia dar a ganhar aos seus clubes, estão essencialmente a olhar para o curto prazo e para o seu umbigo, esquecendo o futuro do futebol em geral.

13 comentários:

dragao vila pouca disse...

Meu caro Alexandre, concordo com muito do que você diz sobre as ligas internas, as rivalidades, etc., mas uma Superliga, só fará sentido, no formato da NBA, caso contrário e como você diz também, continuaria tudo na mesma.
O que está na cabeça dos promotores e já há muita "gente" importante a pensar como Florentino, é um campeonato com jogos a meio da semana, com o fim-de-semana, para as ligas e com as taças - Ligas e dos países - a serem sacrificadas pelos participantes. As excepções, seriam os jogos das selecções.

Um abraço.

PS- Para mim a transferência do Cissokho foi um negócio extraordinário, independentemente de haver, ou não, mais valias futuras.

Um abraço

HULK 11M disse...

Sou a favor da "liga europeia", ficando as ligas nacionais a servirem de acesso à liga europeia. Isto é, descidas e subidas consoante as classificações, tal como agora acontece dos campeonatos distritais para os nacionais e dos nacionais para as ligas profissionais. A liga europeia seria o topo da pirâmide. Os últimos classificados desceriam às ligas dos seus países e os 1.º classificados subiriam à liga europeia.
Não vejo em que é que isto mataria as rivalidades internas.
Não concordo é com o modelo de criar uma élite de clubes europeus a competir numa liga fechada!

Anónimo disse...

Pois, pois, Hulk Onze Milhas: e quais os países que teriam direito a terem o seu campeão promovido anualmente? Não se esqueça que há mais de 40 federações na UEFA.

Isto para mim é mais uma manifestação de europeíte aguda e nada mais.

Mas não me surpreende que haja muitos portistas favoráveis: o presidente já se manifestou a favor, coisa de que, aparentemente, o articulista não se apercebeu (não que isso tenha importância). E, quando o presidente fala, o seu vasto rebanho começa a balir ternamente. Se ele tivesse dito que era contra outro galo cantaria (não estou a referir-me aos dos leitores que comentaram o artigo antes de mim, claro).

Anónimo disse...

Correcção:

(não estou a referir-me aos DOIS leitores que comentaram o artigo antes de mim, claro).

HULK 11M disse...

Meu caro "V.R":
Acho que o articulista (Alexandre Burmester) sabe que o PdC é favorável à Superliga Europeia. Só portistas muito distraídos é que não saberão isso! Não é por acaso que o FCP é um dos fundadores do "G-já não sei quantos"!
Quanto ao problema das rivalidades, penso que elas não são estáticas!
Agora temos SLB e SCP, mas já tivemos outras: Leixões, Boavista, Progresso, Académico, etc!!!
Em relação ao modelo a adoptar para contentar os tais 40 países inscritos na UEFA, penso que daria uma óptima discussão já que existem "n" soluções!

Anónimo disse...

dragao vila pouca disse:

"O que está na cabeça dos promotores e já há muita "gente" importante a pensar como Florentino, é um campeonato com jogos a meio da semana, com o fim-de-semana, para as ligas"

Acho isso impossível, caro dragao vila pouca. Os clubes teriam de ter plantéis enormes. Não, a meu ver uma superliga implicaria a saída dos clubes seus membros dos respectivos campeonatos nacionais.

Ignoro qual seja o formato da NBA.

Azulantas disse...

Bem, eu sou suspeito porque mais do que concordar ou discordar acho que é uma inevitabilidade. Seja com o Porto ou não.

O futebol hoje em dia gira à volta do dinheiro e quem ainda acredita na "pureza" e "verdade" desportiva quando somas astronómicas são pagas a clubes, jogadores e agentes, mais lhe vale acreditar no Pai Natal.

Eu estou muito desencantado com o futebol porque já não é o desporto do João Pinto e do André e do Paulinho Santos, onde a camisola que o jogador veste ainda dizia alguma coisa.

Hoje, qualquer jogador que vista o Azul-e-Branco tem em mente uma mais que possível transferência para um outro "Gigante" europeu com bolsos mais fundos que os nossos.

Quando na imprensa desportiva a entrevista de fundo é com o Gestor Financeiro do clube em vez do treinador ou director desportivo ou mesmo de algum jogador, vê-se claramente onde caiu o futebol.

Hoje em dia a importância de se chegar aos Quartos-Final da Champions não é pela proeza desportiva, mas sim pelos cifrões que se vislumbram de potenciais vendas de jogadores no defeso.

Este desabafo não é um ataque ao futebol, apenas a constatação de uma triste realidade: Há de haver a Superliga Europeia e a razão é que não lhes chegam os ovos de ouro - há que matar a galinha.

Anónimo disse...

Pois, caro hmocc, eu cheguei a pensar em abordar a questão da "inevitabilidade", até porque já a vira mencionada noutro local. Mas, como sabemos, "inevitável" não é sinónimo de "desejável", e eu já vi suficientes "irreversibilidades" serem desmanteladas e suficientes "inevitabilidades" não chegarem a acontecer, para me deixar embalar por determinismos.

Eu não falo em nome de um futebol de amor à camisola, não sou sentimental ou irrealista a esse ponto. Mas o que é de mais, é moléstia, convenhamos.

Um abraço

jchs disse...

O caro AB coloca e explica muito bem esta questão da superliga. Porém, isso a mim pouco me sensibiliza, por uma razão muito simples: não me preocupo com conceitos, só vejo os interesses do FCP.
Se for bom para o FCP, sou a favor; se for mau, sou contra.
Obviamente primário, mas é assim que eu vejo as coisas. Acima de tudo os nossos interesses, não é assim que funciona o mundo actual?

DemiGod disse...

Acho a superliga europeia uma ideia ridicula, que tiraria muito mais prestigio aos pequenos clubes do que daria aos grandes clubes. teria ainda grandes custos a nivel das deslocaçoes todos os fins de semana, e uma enorme quantidade de factores que simplesmente inviabilizam essa ideia. também não acho que alguma vez essa ideia seja aprovada, por estes exactos motivos. sou portista e gosto muito do vosso blog, será que podiam dar uma visitinha ao meu?

O URL é:
http://futebolefixe.blogspot.com/

Obrigado e cumprimentos

PortoMaravilha disse...

Viva !

Eu continuo a pensar que a chegada de Glazer como presidente do Manchester irá modificar algo no Continente Europeu.

Glazer vem do mundo americano onde o sistema desportivo é comunista : Partilha igual quanto aos direitos televisivos , limitação do orçamento dos salários. O que não impede uma maximalização do lucro no âmbito dum contexto desportivo.

Glazer aturou Sir Fergurson durante um ano. Em seguida, mandou este passear. A homenagem que Sir Fergurson faz a Cristiano Ronaldo não é mais que um grito de revolta.

Glazer era um caso isolado. O regresso de Perez vai reconfortá-lo na sua ideia. O importante é a maximilização de resultados económicos no âmbito desportivo.

Glazer está muito longe, quanto a mim, do modelo europeu segundo o qual o orçamento depende dos resultados.

Não é a primeira vez que a Inglaterra aparece como um traço de união entre os Usa e a Europa, defendo a ordem da lei da selva.

Basta pensar em Reagan e Thachear.

Isto dito : O Porto em caso duma criação duma superliga parece bem posicionado. E tanto melhor !

Resta agora saber se a criação de uma "superliga Europeia" é viável economicamente.

É que o futebol, devido às violências dos ultras e holigans, está a perder visibilidade.

É que outros desportos estão a investir. E defendem, hipocritamente, a sua boa fé.

Tomemos o caso da França : Primeiro destino turístico do Mundo. Abramos o jornal do Mickey, distribuido gratuitamente, nas praias . Basta comparar o número de torneios - praia futebol / rugby , para ver o peso do rugby.

Resumindo : Para Glazer é tapete verde ( ou roleta russa ? ) ; Para Perez uma brincadeira : A monarquia é monarquia !

E Viva o porto !

José Rodrigues disse...

Sou totalmente contra uma NBA para o futebol europeu.

Uma grande diferença em relação aos EUA é q na Europa os adeptos são muito bairristas. Não é por não haver Southampton numa Superliga Europeia q o pessoal de lá ia começar a apoiar em massa um Man Utd, um Arsenal, um Liverpool ou um Chelsea. Menos ainda com adeptos de países q iam ficar sem qualquer representação. Ou seja... seria uma machadada no interesse em geral pelo futebol (progressiva, mas inexorável).

De um ponto de vista egoísta, o pessoal tb se esquece q, se isto ia fazer entrar mais dinheiro nos nossos cofres (q ia), o q interessa não é o valor absoluto de receitas mas sim relativo. Ou seja, se por um lado ia entrar mais dinheiro, o fosso entre nós e os clubes ricos europeus iria AUMENTAR (já q os ricos iam ficar a lucrar ainda mais), o q só iria DIMINUIR a nossa competitividade na Superliga Europeia.

Alguém tem interesse ver o FCP numa Superliga Europeia a lutar época após época, sei lá, pelo 12o, 11o ou 10o lugar (ou pior)? Eu não.

Azulantas disse...

Alexandre Burmester disse...

"Pois, caro hmocc, eu cheguei a pensar em abordar a questão da "inevitabilidade", até porque já a vira mencionada noutro local. Mas, como sabemos, "inevitável" não é sinónimo de "desejável", e eu já vi suficientes "irreversibilidades" serem desmanteladas e suficientes "inevitabilidades" não chegarem a acontecer, para me deixar embalar por determinismos."

Sem dúvida, caro Alexandre. Felizmente que existirão sempre forças de bloqueio e pedras nos sapatos. Ajudam a tomar melhores decisões.

Eu espero bem estar completamente errado na previsão (fatalista) mas temo que já não seja uma questão de opinião mas de matéria factual, senão vejamos:

1) Hoje em dia o topo do futebol é a Champions League, nem tanto pelo prestígio da vitória final, mas porque a presença na fase final da prova já garante visibilidade suficiente aos clubes para "mostrarem" os seus "activos";

2) Quantos clubes à partida consideram realisticamente poder vencer a Champions? Real Madrid, Barcelona, Inter Milão, Chelsea, Manchester Utd e ainda, talvez, Arsenal, Milão e Bayern Munique. São estes 8 clubes mais os outros 8 (entre os quais o FC Porto se encontra) que estão imediatamente abaixo no ranking Uefa que querem salvaguardar o futuro (leia-se dinheiro futuro) através duma competição fechada ao estilo da NBA;

3) Já se viu que a Uefa pretende salvaguardar o futebol, mas também já se viu que a Uefa teve de acomodar os desejos dos clubes para evitar a secessão do G14 das suas provas. O que será a Uefa sem os maiores clubes Europeus?

4) Cada vez mais os clubes se endividam para "estar" na alta-roda do futebol, na sala do casino que é só para os verdadeiros "players" e onde as apostas são altas. Que melhor maneira de garantir o pagamento desse crédito do que uma "NBA" para o futebol europeu?

5) E mesmo a questão do "circo" - não era o povo romano que para além do pão também queria circo? Não será melhor institucionalizar o "circo" e deixar o futebol "a sério" evoluir paralelamente em paz?

Eu acho que é inevitável mas acreditem que preferia que não fosse. Por mim, a solução passa por criar um "Franchise" da marca FC Porto para competir nessa Super Liga Europeia, canalizando as receitas geradas pelo "franchise" para o desenvolvimento do futebol nos escalões inferiores.

Venho o Circo, mas que paguem renda.