quinta-feira, 5 de junho de 2008

Arrumar a Casa


Há uns meses atrás, com o campeonato praticamente ganho, escrevi que os tempos do sucesso, alegria e de aparente acalmia, não me acalmavam. Tinha a percepção que a “vingança” continuava em preparação, e temia o pior da Justiça Desportiva.

Sou um leigo, em assuntos do direito, mas sou muito desconfiado relativamente ao poder e poderes dos diversos actores que interagem naquele espaço. Admira-me, pois, que os assessores do FCP e do nosso presidente não estivessem suficientemente avisados. Só depois de conhecido o real perigo de sermos afastados da CL é que jorraram uma série de pareceres jurídicos, vindos de vários "mestres" de direito sobre os fundamentos jurídicos do castigo aplicado a PdC.
Porque não, antes do acórdão do CD da Liga?
O que andamos fazer, nesse período?
Alguém tem dúvidas quem são os passarões que comandam a Liga?
Tipos de "boas palavras", políticos com os piores tiques, ex-árbitros que repetem até à exaustão o jargão tecnocrata mais vulgar e um "puto" vaidoso, rápido a condenar, armado em duro, para glória presente e prebendas futuras.

O que andamos fazer?
Que esperavam que o SLB fizesse?

A estratégia da SAD falhou. PdC deve ser responsabilizado:
1) porque sendo um alvo privilegiado deveria estar duplamente prevenido;
2) porque os serviços jurídicos do FCP não funcionaram de forma competente: como se provou, não ganhámos.

A comunicação e o trabalho de contra-informação não existiu, e aparece só agora, de forma desesperada. Não acreditei, nem um momento, que não fossemos castigados. Mais: temia que o castigo pudesse ter sido pior.

Neste momento, sou muito mais crítico em relação ao trabalho da SAD, que relativamente aos inimigos e aos conluios que se formaram.
Quem pode estar admirado que os inimigos se portem como tal?
O que podíamos esperar da FPF e de Madaíl?
Quem tinha ilusões que podíamos contar com mais do que a nossa força e sobretudo com a força da nossa razão? De que nos queixamos?

Esperavam que o SLB e os que ainda ponderam ganhar umas migalhinhas com este processo, passassem a nossos amigos, numa espécie de happy end à melhor maneira das telenovelas?

O IN é forte e tem muitos aliados, enquanto as nossas fraquezas foram expostas de forma cruel. Não soubemos manobrar, não soubemos defender-nos e ficamos expostos à justiça bruta da UEFA, que normalmente bate forte e feio, ciente que é uma instituição intocável. Pode ser que um dia o tecto lhes caia em cima, mas de certeza que não vai ser agora e com o FCP.

Aliás, todas as defesas que podem servir o direito e a absolvição do FCP não explicam tudo: foram cometidos erros graves que continuamos a não perceber porque foram cometidos e, se não foram, porque nunca mereceram o contraditório categórico, por parte do FCP. Bem sei que o ónus da culpa compete aos acusadores, mas era importante que a Nação portista recebesse alguns outputs do que se passava, para que a união em torno da direcção fosse menos emocional e mais racional. A emoção nos casos em apreço serve-se no momento, funciona bem em acções populistas e “comícieiras”, mas dura pouco, pois tende a terminar nesses momentos de êxtase.

Ora esta luta exigia e exige uma acção continuada. Pior, os sócios não estavam avisados e jamais lhes passou pela cabeça que poderia acontecer este terramoto. Afinal, sempre contaram que o nosso Presidente fosse invencível e que, tal como a nossa equipa de futebol, lhes pregasse uma cabazada.


Nada disso aconteceu. Perdemos. O êxtase esvaiu-se com a derrota e como os resultados são deprimentes, ficamos deprimidos. Tende-se a baixar os braços. Esperamos e confiamos. Nem sabemos como ajudar e ser úteis. A bravata que conforta, momentaneamente, poderá ser o pior remédio, pois nunca serve como estratégia. Mais: desconfiamos que pouco contem connosco, apesar das palavras de ocasião que nestas alturas se costumam dizer.

É frequentemente preferível, nas organizações, uma ”boa” ruptura a uma “falsa” conciliação e unidade. É curial que PdC saiba gerir o futuro, depois de terminado o processo e esgotados os recursos.

Se perdermos os recursos e se não houver uma clarificação das acções e omissões praticadas pela SAD, no tratamento dos processos em curso, mais tarde ou mais cedo teremos problemas complicados no nosso clube.

A luta não passa apenas por “abater” os inimigos do costume, que todos conhecemos e que, obviamente, deve continuar sem concessões. Mas, não chega: temos de arrumar a Casa, e quanto mais cedo melhor! Depois de uma derrota como esta, costumam acontecer no futebol as chamadas chicotadas psicológicas. Não vou tão longe, nem peço a cabeça de ninguém, mas não posso reagir, neste momento, como se nada tivesse acontecido no nosso clube. Aconteceu e foi muito grave. Exigem-se medidas. Estamos todos suspensos delas.

Nota: Escrevi este artigo antes da entrevista do nosso Presidente. O que disse não altera em nada o que referi neste artigo. E as certezas do nosso Presidente são as minhas dúvidas. Continuo a ouvir na TV advogados, juristas, doutores, mestres e tudo passa por estes sábios homens. Palavras, palavras novas, palavras velhas que dão para tirar o quer der mais jeito, segundo a cor de cada um. Há pareceres para todos os gostos. Uma enxurrada.

17 comentários:

José Correia disse...

«Não vou tão longe, nem peço a cabeça de ninguém, mas não posso reagir, neste momento, como se nada tivesse acontecido no nosso clube. Aconteceu e foi muito grave. Exigem-se medidas. Estamos todos suspensos delas.»

A exclusão do FC Porto da LC, a confirmar-se, é uma situação muito grave.
Não defendo mexidas na Administração da FCP SAD, até estarem esgotados os recursos que possam evitar esta situação inédita.
Depois disso, e a confirmar-se o pior cenário, então sim, será altura para apurar responsabilidades.

José Correia disse...

«O IN é forte e tem muitos aliados, enquanto as nossas fraquezas foram expostas de forma cruel. Não soubemos manobrar, não soubemos defender-nos e ficamos expostos à justiça bruta da UEFA»

Não tenho qualquer dúvida que, nos últimos anos, facilitamos imenso, desguarnecemos a "rectaguarda" e permitimos que os nossos inimigos tomassem conta, de forma quase total, dos poderes dentro da Liga e da FPF.
Ora, se dentro do campo continuamos a ser muito superiores, fora das 4 linhas estamos, conforme se viu, muito enfraquecidos. As consequências estão à vista.

Fernando disse...

Caro Mário Faria, como eu o entendo...
A "mansidão" tomou conta da SAD. Só novos ricos ou gente adormecida com as vitórias não percebeu que desgarnecer o flanco era a morte do artista. E facilitaram. E calaram-se. Porquê?
Desde Rui Costa a fazer publicidade a uma agência de apostas, desde o Estoril Gate e as coações a treinador e jogadores, as botas do árbitro e a contratação de jogadores adversários nas véspereas de jogar com essas equipas, escutas a escolher árbitros, almiços no sapo, etc etc.... E tudo calado na SAD.
Quem nos defende, afinal? Há necessidade de sangue novo, de bons Homens do Porto, tipo Miguel Guedes, Rui Moereira, Miguel Sousa Tavares, e outros... Eu sou apenas um Homem do Porto que gostava que anónimos como eu se reunissem e debatessem a defesa presente e futura, o reforço da blindagem do Clube. Afinal todos sabemos quem são os inimigos!

Mefistófeles disse...

Compreendendo a revolta, não deixo de dizer que, de repente, parece que o FCP está nas mãos de um grupo de palermas. Como José Correia, defendo que se espere pelo final da história para se tirarem conclusões. E, mesmo assim, se perdermos na última instância não deixarei de estar ao lado de PdC e do FCP. Tenho memória.E gratidão.
O que me custou mesmo muito foi ver PdC ( porque sei que sofre com o nosso desgosto), expor-se às câmaras da asquerosa SIC ( que tanto nos perseguiu )para acalmar os adeptos e ter que suportar o "arzinho" moralmente superior de RGC e "partenaire" com perguntas idiotas, de como será o FCP sem a LC, etc.etc. E o evidente gozo de o verem naquela posição "supostamente" menor como se fosse um condenado à morte. Isso é que me custou.
É preciso gostar muito do FCP para se sujeitar a tanto, a maioria de nós não estaria para tal.
Acredito que se faça justiça, mais tarde ou mais cedo. E, se tudo correr mal, saberemos honrar a nossa história.

César disse...

É incrivel! O Discurso do Norte vs Sul e de uma guerra constante com inimigos e sabotagens, está mais do que empregnado nos adeptos do Porto.

Já nem sei se são adeptos do Porto, ou de Pinto da Costa.

Nuno Nunes disse...

Não tenhas a mínima dúvida que estamos e estaremos sempre em guerra. Contra o centralismo podre, contra a mediocridade, contra a inveja, contra os que jogam nos bastidores, no corredor do tráfico de influências que passa impune.
E continuaremos a vencer.

Nelson Carvalho disse...

Sr César;

Aqui neste espaço, que se afirma incondicionalmente Portista, com autores de inquestionavel Portismo, assume sem rodeios a defesa desta causa que é o FC Porto, com paixão e muito fervor. Defenderemos sempre e incondicionalmente o nosso Clube, mas tambem meditamos em consciência sobre os seus problemas e tudo o que o rodeia, não somos seguidistas. Somos sócios atentos e que se informam sobre o seu Clube. Somos tambem conhecedores da realidade mesquinha que nos rodeia, da hipocrisia latente e que faz escola neste país, dos papagaios que se pavoneiam impunemente lançando repetidos e ridiculos apelos à justiça e transparencia, sabemos muito bem que teremos andar sempre em alerta perante os abutres e toupeiras que tentarão atacar num momento nosso de maior fraqueza.

Já que tanto gosta de nos visitar (e faz muito bem), aproveite e leia os artigos com pouco mais de atenção, saiba retirar algo com eles, ou pelo menos não nos tome por parvos, sectários e naifs. Sabemos quem somos e com quem lidamos, o seu discurso é repetido e tem 6 milhões de copias, o que lamentavelmente leva a concluir que ainda pouco apreendeu no tempo que por aqui andou.

Anónimo disse...

Os adeptos do Porto, gente letrada, escrevem "impregnado" e não "empregnado". Avé César!

Unknown disse...

Quando há 1 ano escrevi num certo boletim de voto: "Não brinquem com o clube" nunca imaginei que a realidade chegasse a este ponto.

Leceiro disse...

Quem é o TRIcampeão?
Quem é o BIcampeão da Europa e do Mundo?
Qual é o clube que bate records de transferências?
Qual é o clube com mais adeptos a presenciar os seus jogos?

Estaremos sempre em guerra contra a máfia do polvo dominada pelo homem do pó branco, que continua com uma pena na prisão por cumprir, que manda os seus capangas bater em pessoas que simplesmente estavam a estorvar o seu carro.

Já agora lamps, vão comer uns tremoços e deliciem-se com o vosso marisco, talvez acalme a vossa azia. E espero que gostem de participar na taça UEFA uma vez mais, vocês já são a prata da casa dessa taça.

PORTO SEMPRE!

Miguel Teixeira disse...

Leio habitualmente o «Reflexão Portista» ainda que nunca tenha comentado.

Queria apenas congratular o blogue pela defesa que faz do FCP. É bom ler adeptos que ainda sabem pensar.

O seguidismo cego que grassa no nosso clube deve ser combatido sob pena de o futuro do FCP estar irremediavelmente atingido na sua honra e bom nome.

Estou unido ao FCP e não àqueles que preferiram assumir uma "estratégia" sem alma. Quando isso foi assumido, não me pareceu que a SAD estivesse minimamente preocupada com a honra do FCP que afinal também é a nossa.

Eu não sou pago para ser do FCP. Também me recuso a partilhar o champanhe dos camarotes e a ébria faceta seguidista daqueles que confundem pessoas - seja ela quem for - com FCP.

Um abraço!

César disse...

A razão pela qual esta guerra norte vs sul me incomoda, é porque apesar de ser residente em lisboa, nasci no Porto, em Cedofeita, tenho familia no Porto, onde vou muitas vezes, e continuo sem perceber a razão pela qual os culpados são todos menos aqueles que não recorreram, que recebem árbitros em casa, e que oferecem fruta, chocolates e café com leite...

José Correia disse...

Caro César, a guerra Norte-Sul foi inventada por vocês.
Não existe qualquer guerra Norte-Sul, até porque, conforme é evidente, o FC Porto tem cada vez mais adeptos em Lisboa, Amadora, Setúbal, Quarteira, Portimão, etc, etc.
Quanto muito existe uma "guerra" dos que beneficiam dos favores do monstro do centralismo, contra aqueles que são vitimas desse monstro.
E isso, meu caro, mais do que ao nível desportivo, é evidente ao nível político e judicial.
Não é preciso dar exemplos, pois não?

Mefistófeles disse...

Caro César,

Já lhe passou pela cabeça que alguns de nós sejam do Sul ? Não ?
É porque não é suficientemente observador. Em Lisboa há muitos mais Portistas do que imagina.
Tire lá a cassette.

César disse...

exactamente porque há Portistas (do FCP), em Lisboa, e alguns são meus amigos, é que não percebo muito a aluzão a um discurso gasto e caquético, que ao contrário do que se diz foi o Presidente do Porto que criou!

Mefistófeles disse...

Não, César. Quem o criou não foi PdC. Foi o nojento centralismo político. E, olhe, estou mesmo à vontade porque sou de Lisboa: sabe quantos lisboetas há em Lisboa ? Apenas 300.000. Os outros são de todas as regiões do País. Sabe de que é que isso é sinal ? Aliás, você é o exemplo perfeito.

Nelson Carvalho disse...

Exactamente, mefistófeles, quando o portuense ou um qualquer outro cidadão Português se vê obrigado a "emigrar" para a Capital para conseguir um emprego condigno com a sua formação, é o maior exemplo de como este país é pintado de duas realidades distintas; Lisboa e a "provincia", como os outros outrora lhe chamavam.