sábado, 30 de junho de 2012

Quem votou a favor?

(Kelvin e Atsu, jogadores do FC Porto que estiveram emprestados ao Rio Ave na época 2011/12)


«A Liga Portuguesa de Futebol Profissional aprovou, esta quinta-feira [28 de Junho], uma nova norma que visa impedir os empréstimos de jogadores entre clubes da mesma Divisão, para entrar em vigor já na época 2012/13. A decisão foi tomada na Assembleia-Geral extraordinária do organismo e resultou de uma iniciativa do Nacional da Madeira. O Sporting também tinha intenção de fazer uma proposta idêntica. A revelação, de resto, veio da boca de Rui Alves, presidente do Nacional, que adiantou, à saída da reunião, que a proposta teve o voto favorável de 19 emblemas, uma abstenção e nove votos contra
Maisfutebol, 28/06/2012


Numa entrevista publicada no jornal PÚBLICO de hoje, quando questionado se tinha ficado surpreendido com a decisão de acabar com os empréstimos de jogadores entre clubes que disputam o mesmo escalão, o presidente da Liga de Clubes, Mário Figueiredo, respondeu assim:
Muito surpreendido e a medida coloca-me grandes reservas, até pela rapidez com que foi aprovada [durante uma assembleia geral extraordinária, de quinta-feira passada]. Acho que fazia mais sentido limitar o número de empréstimos. Passámos do oito para o 80.


É raro estar de acordo com o atual presidente da Liga, mas neste caso estou. Faria muito mais sentido limitar o número de jogadores que um clube pode emprestar a outro (para evitar casos como o União de Leiria da época passada, que era quase um benfica B, tantos eram os jogadores emprestados pelo clube da “verdade desportiva”).

No imediato, quais são as consequências desta medida radical, em que nem sequer houve o cuidado de definir um período de transição (prevendo casos como os Ukra e Ruben Amorim, cujos empréstimos abrangem a época 2012/13)?

«A inesperada e surpreendente decisão, tomada por maioria na última assembleia geral da Liga, de impedir os empréstimos de jogadores já a partir da época de 2012/2013, deu cabo da planificação de muitos clubes. Alguns deles ontem ainda tinham esperança de ver a FPF não ratificar esta decisão, mas o Record sabe que não há volta a dar.»
in record.pt

«A regra aprovada pela Liga, que impossibilita os empréstimos entre emblemas do mesmo escalão, veio atrasar a construção do plantel do Rio Ave. Os vila-condenses terão de procurar outro guarda-redes que não o jovem Oblak, que seria cedido pelo Benfica, a exemplo do que poderia acontecer com Roderick e Diego Lopes, entre outras possibilidades que estavam a ser estudadas. A chegada de Soares, do FC Porto, também fica sem efeito. Pelo menos por empréstimo.»
in record.pt


Que o SCP e os clubes da II Liga tenham votado a favor, percebo perfeitamente. Mas, alguém sabe quem foram os clubes da I Liga que votaram a favor do fim dos empréstimos entre clubes do mesmo escalão?

P.S. Entre outros casos parecidos, será que o FC Porto consegue convencer o guarda redes Fabiano (contratado ao Olhanense mas que iria permanecer mais um ano no Algarve a título de empréstimo) a ir jogar para a II Liga?

Quem (não) gosta de futebol

Tenho idade suficiente para me lembrar de um clima futebolístico mais pacífico em Portugal. Principalmente na Comunicação Social. O azedume e as queixinhas sempre existiram entre adeptos mas raramente (segundo me lembro) transparecia para as páginas dos jornais.

Sempre existiram aqueles adeptos que declaravam que as más prestações da selecção eram devidas aos jogadores de clube A, B ou C (digamos que a culpa era sempre do Porto...) mas um gajo entendia isso sempre e só como conversa de café.

O que não existia nos anos 80 e grande parte dos anos 90 era uma tamanha desconfiança nas instituições reguladoras do futebol, mesmo a nível internacional, ie. UEFA e FIFA. Seria fácil dizer que essa postura de suspeita é fruto de uma benfiquização do zeigeist futebolistico nacional: todos os titulos do Porto são tingidos pelo café e pela fruta, o Proença é nosso amigo, etc e tal. Mas reparo que muitos adeptos europeus padecem do mesmo mal, muitos acusam o Barcelona de só ganhar graças aos árbitros e hoje em dia o Platini (e daqui a 2 anos novamente o Blatter) é o grande bode expiatório do futebol internacional.



E o que me preocupa mesmo é que esse discurso não se cinge só aos foruns e facebooks, o equivalente ao café e à tasca da internet, basta ver as primeiras páginas dos jornais desportivos para se ter uma ideia da forma tóxica como se envenena a opinião pública. Ou dos tabloids britânicos.

Em Portugal é fácil de perceber: uma geração de adeptos (digamos uns 60%) que passa o dia a ler, ouvir e ver palermas a desculparem os fracassos desportivos com os mesmos cenários regurgitados ad nauseam, só irá perpetuar essa postura oficiosa de que o futebol é podre, corrupto e até um amigo da UNICEF está contra nós!

O rol de conspirações tem atingido níveis ridículos. É o Proença que, graças ao Pinto da Costa, apitou a final da Liga dos Campeões e agora apitará a final do Euro 2012. É o árbitro turco, amigo dessa organização criminosa UNICEF, que afastará (ou afastou) Portugal da final do Euro contra a Espanha.
É o Platini que não tem vergonha na cara e dita quais os finalistas para o Euro. Até mete um francês a apitar o Itália - Alemanha para assegurar a presença dos teutónicos (oops, algo correu mal). E isto é só uma pequena amostra.

Até há bem pouco tempo era mais ou menos certo atribuir esta perspectiva de ver futebol aos lampiões, mas cada vez mais vejo portistas a regurgitar a mesma léria. O futebol em Portugal assim permanecerá num clima de podridão graças aos aziados do costume, azia essa aparentemente contagiante.

Agora no resto da Europa é que não consigo perceber. Ou talvez consiga.



sexta-feira, 29 de junho de 2012

O ovo e a galinha

O que apareceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Esta eterna questão vem-me à cabeça a propósito de um lugar-comum sobre a qualidade da seleção nacional de países com um elevado número de jogadores estrangeiros, e em particular a Inglaterra. Diz-se nomeadamente que a seleção inglesa é medíocre porque há muitos estrangeiros a jogar na Premier League.

Ora parece-me que em grande medida se está a ver a coisa ao contrário... se não há mais ingleses na Premier League é porque não serão grande coisa e acima de tudo porque o poderio financeiro dos clubes ingleses é imenso, podendo escolher jogadores com qualidade pelo mundo fora.

Para a valia da seleção nacional só interessa o valor dos, digamos, 20 melhores jogadores nacionais; ora apesar do elevado número de estrangeiros ainda há, apesar de tudo, pelo menos 200 jogadores ingleses inscritos na Premier League. 

Ou seja: quem sofre com o poderio financeiro dos clubes da Premier League são os jogadores ingleses que são fracos ou medíocres (que se vêem assim relegados em muitos casos para escalões inferiores), não os bons que terão sempre a sua oportunidade. Mais: para esses, treinando e jogando ao lado de (e contra) excelentes jogadores estrangeiros têm a oportunidade de evoluir mais do que em outros campeonatos em que os estrangeiros são em grande parte de 2a ou 3a categoria.

Para a qualidade da matéria prima nacional interessa acima de tudo o número de praticantes (não é por acaso que os países populosos e com muitos praticantes costumam açambarcar a maior parte dos lugares nas meias-finais de Euros e Mundiais, mesmo havendo raras excepções) e a qualidade da formação (seguidos da qualidade das equipas e campeonato onde os jogadores jogam, seja no próprio país seja no estrangeiro). Os jogadores promissores saídos da formação terão sempre a sua oportunidade de evoluir e se afirmar nos seniores (e ainda mais em Inglaterra do que por exemplo em Portugal, onde os dirigentes muitas vezes gostam de ir passear principalmente para o Brasil a pretexto de contratações).

Falando da nossa própria seleção, termino com uma questão para ilustrar o meu ponto: nos últimos 20 anos o número de estrangeiros no campeonato português é muitíssimo mais elevado do que anos 70 ou 80; será a nossa seleção mais fraca (comparando com a concorrência) no século XXI do que era nessas décadas? Não, bem pelo contrário.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ser ou não ser o melhor do Mundo


Cristiano Ronaldo, em declarações efetuadas na zona mista, após a eliminação da seleção portuguesa do EURO 2012:
Estamos frustrados porque podíamos chegar à final. Rendimento na seleção e no clube? Dou o melhor como sempre. Estou satisfeito pelo que fiz. Temos de estar orgulhosos, merecemos estar na final, mas os penalties são assim. (...) Estou confiante [na atribuição da Bola de Ouro de 2012] como nos outros anos. Mas, como vocês sabem, a eleição depende das outras pessoas.


Levando em conta que CR7 é um jogador extraordinário, indiscutivelmente um dos melhores do Mundo da atualidade, a fasquia de avaliação para ele é, naturalmente, mais elevada do que para avançados medíocres como Postiga ou Hugo Almeida. Ora, na minha opinião, Ronaldo esteve excelente no jogo com a Holanda, muito bem frente à República Checa, mas decepcionante nos desafios com a Alemanha, Espanha e, principalmente, Dinamarca.

Centrando as atenções na meia-final, o que se viu da exibição de Ronaldo?
Muito pouco. Sim, eu sei que não é fácil criar desequilíbrios e oportunidades frente a esta seleção espanhola, mas Cristiano dispôs de 6 ou 7 ocasiões (incluindo lances de bola parada) para alvejar a baliza defendida por Casillas e, embora não se possa dizer que tenham sido ocasiões flagrantes (como, por exemplo, as que desperdiçou frente à Dinamarca), em todas elas a sua execução foi deficiente. Basta atentar no facto de nenhum dos seus remates ter sequer sido enquadrado com o alvo.

Mais. Nos três livres frontais de que dispôs (um deles foi repetido uns metros mais à frente, devido à bola ter sido intercetada pelo braço de um jogador da barreira espanhola), nem sombra dos seus célebres e temidos tomahawks.


Falta saber o que vai acontecer na primeira parte da época 2012/13 (meses de Agosto a Dezembro de 2012) e, embora seja perfeitamente normal que, por aquilo que fez no Real Madrid até Maio passado, Ronaldo aspire a ser considerado o melhor jogador do Mundo em 2012, não me parece que o seu desempenho no EURO 2012 tenha servido para reforçar esta aspiração.

O gigante Moutinho



«O melhor jogador de Portugal? Sem dúvida, João dínamo Moutinho.»
Eugénio Queirós, Record, 27/06/2012


Do trio de médios da seleção das quinas, o único que durou até ao fim foi João Moutinho. Contudo, esgotados os 120 minutos, em que correu uma enormidade de quilómetros e encheu o campo com a sua visão tática, posicionamento e capacidade de trabalho em prol da equipa, quando o baixinho de Portugal partiu para a bola e marcou o penalty era um jogador fisicamente nas lonas.

Após a sua portentosa exibição perante a "armada invencível" (na retina fica o sprint que fez perto do fim do prolongamento, recuperando uma desvantagem de vários metros e impedindo que Pedro Rodrigues tivesse sentenciado o jogo antes dos penalties), o melhor jogador português do EURO 2012 não merecia que Iker Casillas tivesse adivinhado o lado e defendido o penalty.

Mas, conforme Pinto da Costa afirmou quando ele ainda envergava a camisola do SCP, Moutinho é um jogador à Porto e, segundo julgo saber, tem contrato com o FC Porto e uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros.

Eu vou repetir: tem contrato com o FC Porto e uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros (e nem menos um euro). É bom que toda a gente interiorize este facto, quer os "abutres", quer a Administração da FC Porto SAD.


«O melhor de Moutinho estava no entanto reservado para o jogo com a Espanha. A colocação foi espantosa, a forma como doseou o esforço, de jogador maduro. Os cortes a meio do campo, preciosos. E depois foi lá e falhou o penalty, o que, já sabemos, acontece aos melhores.
Se tivesse de hierarquizar os melhores de Portugal no Euro-2012, o top 5 ficaria assim:
1. João Moutinho
2. Pepe
3. Cristiano Ronaldo
4. Fábio Coentrão
5. Miguel Veloso»
Luís Sobral, Maisfutebol, 28/06/2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Uma meia final na boca do lobo

É verdade que viver como emigrante muda a perspectiva que se tem do país de origem. Sou mais portista e portuense que português, na alma, mas quando chegam momentos como este é normal que a costela lusitana me venha ao de cima e sinta na pele isso de ser um no meio de muitos milhões. Vivo em Madrid, na boca do lobo, e hoje vou ter bem aqui ao meu lado, à beira do Bernabeu, quase um milhão de pessoas na rua a gritar contra o meu país.

Vivo aqui há seis anos e sei perfeitamente a ideia que os espanhóis têm dos portugueses.
Enquanto nós somos os parolos que os tratam por "nuestros hermanos" e que sempre tentam falar esse "portunhol" sempre que lhes aparece um pela frente para agradar. Sempre que vou ao Porto, cheio de turistas espanhóis nos últimos anos, é lamentável ver essa atitude mas isso são outras histórias. Mas não se enganem, os espanhóis nem nos vêm como irmãos, nem jamais se preocupariam em aprender o significa sequer da palavra "saudade". Para eles somos ainda ciganos que vendem toalhas na fronteira, país de mulheres com mais pelo e bigode que os homens e com um intelecto diminuto, bom para trabalhar nas obras. Essa imagem cheia de estereótipos é real num país que quando quer dizer algo que não seja Espanha só sabe dizer "a península". Quando lhes digo, insultado, que na península há dois países mais (como é Andorra), a resposta é sempre a mesma: "sois demasiado pequenos para justificar que mudemos o termo".


Nunca fui mal tratado em Espanha por ser português, mas ninguém entende porque tenho mais do que dois apelidos, porque o primeiro apelido é o da mãe e não do pai, porque sei falar tantos idiomas quando eles mal o seu conseguem falar com correcção (há zonas piores e melhores, claro). Mas, sobretudo, porque a imagem do país tem mudado nos últimos anos graças ao futebol. Primeiro foi a popularidade tremenda de Paulo Futre em Madrid. Anos depois a "Geração de Ouro" de Luis Figo, Rui Costa, João Pinto (as fracas exibições de Baía e Fernando Couto no Barça e o negócio Secretário não deu lá muito boa imagem) e o papel do FC Porto nas provas europeias (apesar de que ainda hoje todos se queixam que o Deportivo foi roubado em 2004 por uma equipa muito inferior) mudou essa perspectiva. Mas é o fenómeno Ronaldo e Mourinho quem realmente abriu os olhos às pessoas e há muitos espanhóis que não vêm com mais olhos que Portugal vença este Europeu só por serem adeptos do Real Madrid irritados com uma selecção com tantos jogadores do rival Barça.

Mas apesar disso seguir a imprensa espanhola é um exercício de relaxamento mental obrigatório.
Não há um só jornalista - e se isto foi sempre assim, agora que realmente ganham é pior - que não diga que a diferença entre as duas equipas é abrumadora que nem devia haver jogo. Tirando o genuíno medo que muitos têm a Ronaldo, não há o mais mínimo conhecimento da selecção. Desvalorizam o imenso trabalho de Meireles e Moutinho, utilizando sempre a frase típica espanhola "aqui há melhor", não se preocupam com Nani ou Veloso e só se lembram de Pepe e Coentrão pelo que fazem com a camisola do Real Madrid, catalogando o primeiro de violento (1 só falta este Euro em 250 minutos) e o segundo de despistado (apesar do óptimo torneio que está a fazer). Ninguém acredita que a selecção portuguesa tenha a mais minima opção (verdade seja dita, eles dizem que ninguém a tem).



Este discurso não é novo. Nos Oitavos de Final do passado Mundial foi a mesma lenga-lenga e quando Portugal venceu a campeã do Mundo por 4-0 num amigável, a imprensa do país vizinho assobiou para o lado apesar dos avisos de Del Bosque, homem sério que já disse por várias vezes que respeita, e muito, a selecção portuguesa.

A verdade é que os espanhóis são um povo que sofre um pouco desse complexo de superioridade inexplicável, essa forma de afirmar-se minorando tudo o que o rodeia. Em todos os desportos - e a nível desportivo a verdade é que levam 20 anos de sonho - há sempre o nós contra todos, com jornalistas a vestirem a camisola e agitarem a bandeira em nome de individuo e clubes, sempre e quando possam vender essa ideia de Espanha vs o Mundo. Nesse panorama somos, uma vez mais, o parente pobre da Peninsula, o povo que está aí ao lado e que os impede de mandar em todo o território para lá dos Pirineus, o último obstáculo antes de mais um troféu internacional.

Dito isso, sinto que vamos à final. E nesse jogo podem ter a certeza que muitos "madridistas" (que não espanhóis) estarão a apoiar a sua legião de jogadores.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A Benfiquização da Selecção Nacional

É patético a forma como A Bola transfere o clima de desconfiança e a necessidade da culpa alheia do seu clube preferido para a "selecção de todos nós". Já há desculpas para a eventual derrota de Portugal contra a Espanha. Agora é o árbitro turco, claro, que tudo fará para afastar Portugal da final.

"Presidente do comité de árbitros da UEFA é espanhol e vice-presidente é turco e amigo do Barcelona e da UNICEF."



A Unicef!! UAU!!! E o pior é "Portugal indignado", como se todos os apoiantes da selecção partilhassem da mesma mesquinhice que é habitual na Travessa da Queimada.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Istvan Vad - o gajo que tramou Platini


Istvan Vad é a prova de que Platini estava errado (mais uma vez) obrigando-o a engolir um sapo (mais uma vez...).

Mais uma vez temos um caso num Europeu ou Mundial com uma bola que entra mas não conta (desta feita no Inglaterra – Ucrânia). Segundo Platini, a introdução de 2 árbitros-assistentes adicionais na linha de fundo seria a garantia de que não mais teríamos casos destes, mas apesar de estar a uns 5 metros da bola e com visibilidade perfeita... o senhor Vad não viu que a bola tinha entrado (e ao contrário de outros, acredito sinceramente que estivesse de boa fé). Ironicamente, dois dias antes Platini tinha afirmado a boca cheia que casos como o golo não sancionado a Lampard 2 anos antes no Mundial não voltaria a repetir-se.

Também - e apesar dos 2 árbitros-assistentes adicionais - tem havido alguns casos polémicos dentro da grande-área mal decididos (por ex agarrar de camisolas); ainda que, diga-se em abono da verdade, a arbitragem neste Euro tem sido em geral boa.

Nunca compreendi direito a aversão de Platini à introdução de tecnologia no que diz respeito à questão da «bola-que-entra-ou-talvez-não», o vulgo «olho de falcão» usado há tanto tempo no ténis (ainda que adaptado para as especificidades do futebol). Para mim é, para usar uma expressão anglófona, um «no brainer». Penso que isto foi a machadada final na resistência de Platini à medida (de assinalar que a FIFA já tinha decidido avançar nessa direção).

Mas para além disso penso que se poderiam justificar mais uma ou outra medida nova. O mundo evolve, as tecnologias também, e o futebol deve saber adaptar-se ainda que sem se descaracterizar. Aliás, o futebol já evoluiu imenso no último século: alguns dos leitores «menos jovens» ainda certamente se lembram dos tempos em que não podiam haver substituições ou em que não existiam cartões (nem amarelos, nem vermelhos, nem rosa às riscas verdes, o que levou por ex a confusão no Mundial de 66). Outros mais jovens lembram-se pelo menos dos tempos em que o GR podia agarrar a bola a passe de um colega.

Duas medidas que julgo merecer consideração:

1)      A possibilidade de revisão de imagens de TV pelo árbitro antes de tomar a decisão final (como no râguebi).

Esta medida deixa-me dúvidas, mas penso que poderia ser tomada desde que de forma bastanta circumscrita e limitada. Por exemplo: apenas no caso de penaltis ou limitando a possibilidade a apenas 2 vezes por jogo para cada equipa (a seu pedido). Nada invalida que os árbitros tomem decisões polémicas na mesma (e isto iria expor melhor os arbitros de má fé), mas estou certo que os erros mais flagrantes seriam em geral eliminados.

2)      Limitar o número de jogadores na barreira a partir de «x» faltas.

Esta medida é inspirada pelo básquete (lances-livres) e penso que iria combater um pouco o anti-jogo (em que equipas sem argumentos recorrem sistematicamente a faltas e faltinhas para quebrar o ritmo do adversário), tal como aumentar ligeiramente o número de golos por jogo. Porque não limitar o número de jogadores na barreira a (por ex) 3 a partir da (por ex) décima falta?

domingo, 24 de junho de 2012

Gosto do gajo

Concordo com tudo o que o gajo diz? Não.

Tem ideias absurdas? Tem.

É politicamente correcto? Não. E ainda bem. E é por isso que gosto dele - apesar daquela Juventus e daquela França ainda estarem atravessadas na garganta.

- Ai que ele é o presidente da UEFA e não pode dizer aquilo.

O tanas é que não pode!


O problema não é quando eles dizem o que pensam.
O problema é quando dizem o que não pensam e depois nos bastidores fazem o que pensam.
De quem tenho "medo" é daqueles que se dizem muito neutrais. Quando leio um Jorge Coroado a criticar o Platini, abençoado seja o Platini.
O que me irrita são as frases feitas, as conferências de imprensa em que estão ali a debitar o mesmo paleio vezes e vezes sem conta.

Tá bom de ver que ontem a França só perdeu porque o homem quer a Espanha na final. Isto é claro como a água. 
(Como era claro como a água, que se fosse ao contrário a França só tinha ganho porque o presidente da UEFA é Francês.)

Ele gostava que a Holanda estivesse nos quartos de final. Mas não esteve.
Em termos teórico eu também gostava, preferia ter tido uma Holanda nos quartos que uma Grécia, uma R. Checa, ... mas o certo é que apesar de ele ser presidente da UEFA isso não aconteceu.
Como não passou nenhum dos organizadores - e a Ucrânia até teve aquela bola lá dentro. Interessante que agora ninguém fala do interesse, passe o pleonasmo, da UEFA em ter pelo menos um organizador nos quartos e nas meias.
O Francês gostava de uma final da liga dos campeões entre o Barça e o Real e nenhuma equipa lá chegou, a UEFA queria um organizador a passar as eliminatórias e nenhum passou.
Estão mesmo a perder qualidades. 

E esta é a realidade, o futebol é um jogo que qualquer interveniente pode ajudar a decidir, como o árbitro do Ucrânia-Inglaterra, como o treinador da Holanda, como o Varela, como o Ricardo da Grécia, como o Xabi (e até o Torres já ajudou a decidir), como o Jorginho já decidiu um Sporting-Porto, e até pode ser a própria sorte a decidi-lo. Mas não me venham com histórias, 89% são decididos pelos jogadores e 10% pelos treinadores.

O dia em que eu acreditar que o futebol não é assim, e como não sou masoquista, dedico-me ao Curling.  

sábado, 23 de junho de 2012

Uma Figura Incontornável


As palavras de Pinto da Costa que confirmam a renovação de contrato por parte de Helton, são um desfecho que pessoalmente considero inevitável face ao peso que o guarda-redes brasileiro detém no balneário do FC Porto. A forma como o jogador contornou alguns obstáculos alegadamente criados pelo seu anterior empresário Nélson Almeida (ao que parece o intermediário terá recusado uma proposta inicial da SAD azul e branca), comprovam que o seu interesse em continuar de dragão ao peito vai muito além do recheio da conta bancária.

Mesmo quando estava longe de reunir unanimidade, ou melhor dizendo, quando gerou alguma desconfiança em pleno reinado de Jesualdo Ferreira, sempre considerei Helton como atleta de topo na sua posição. Independentemente de reconhecer que nesse período assumiu uma postura aligeirada que o traiu em alguns jogos, o titular das redes portistas foi sempre completo entre os postes e fora deles, revelando uma elasticidade e rapidez nas intervenções bem acima da média.

Foi contudo, a entrega da braçadeira de capitão, no seguimento da assunção de Villas-Boas ao comando técnico da equipa, que elevou Helton ao patamar de excelência no clube, consciencializando-o dessa missão dentro e fora do campo. As suas exibições últimos dois anos - com particular destaque na época 2010/2011 - falam por si só, e a liderança do balneário surgiu de forma natural, mercê da postura calma e dialogante, bem como dos anos de casa que já traz às costas.

Se uma base indispensável para o caminho de sucesso que o nosso clube tem levado nos últimos trinta anos está assente nas várias figuras incontornáveis que têm passado pelo clube, Helton fez-se integrar nesse lote por mérito próprio. É uma referência do presente, e elas escasseiam no atual balneário, pelo que o último contrato de futebolista da sua vida só poderia ser com o FC Porto.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O baixinho de Portugal

Hoje, à margem da apresentação do livro Retratos do Dragão, de Veríssimo Dias, Pinto da Costa falou sobre a Seleção:
"Vi um grupo muito coeso que, também por força dos resultados, está extremamente unido. Parece-me injusto estar a realçar alguém, mas falou-me no Moutinho e, tomando os quatros jogos, a grande estrela da Seleção Nacional foi ele. (...) Repito o que disse na Polónia, não chegou nenhuma proposta pelo Moutinho. Não nos passa pela cabeça que ele saia [do FC Porto]"


Pois, não passa ao presidente, nem me passa a mim. E, vistas bem as coisas, felizmente que o Petr Cech defendeu aquele extraordinário remate de fora da área, porque já basta que o Moutinho ande a encher o campo (e os olhos aos olheiros), surgindo em todo o lado, a cortar bolas, a dobrar companheiros de equipa, a lançar contra-ataques, a fazer assistências e até ir à linha cruzar para o CR7 brilhar. Só nos faltava (a nós portistas) que ainda tivesse marcado um golaço daqueles...

Em certa medida (e em parte por causa das medidas), Moutinho faz-me lembrar Xavi, embora hoje, em entrevista à TVI em Opalenica, ele tenha dito que prefere o Iniesta.

Veremos até onde estas exibições o vão levar. Para já, é um dos três jogadores da seleção portuguesa (os outros dois são Pepe e Cristiano Ronaldo) que a UEFA escolheu para a votação do melhor onze do EURO 2012.

Alemanha x Grécia

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A vitória do Futebol




O resultado justo teria sido uma vitória da Seleção portuguesa por 3 ou 4 golos de diferença e os checos bem que o mereciam. Nem a Grécia do EURO 2004 apresentou um futebol tão negativo, tão de contenção como esta miserável equipa da República Checa. Contudo, durante longos minutos, os deuses do futebol (com a ajuda de Petr Cech) parecia que queriam punir a única equipa que hoje, no estádio nacional de Varsóvia, fez alguma coisa para tentar ganhar o jogo.

No final ganhou Portugal. Foi uma vitória do futebol!

P.S.1 O Rui Patrício tocou na bola?

P.S.2 Por "culpa" de Ronaldo (e, já agora, também de Moutinho), hoje terminou o sonho de Pedro Proença apitar uma das meias-finais ou a final deste Europeu.

A Cabra-Cega



Os mais recentes vaticínios de Michel Platini sobre as Seleções que irão disputar a final do Euro 2012 para além de terem sido, uma vez mais, um verdadeiro chuto na atmosfera, tiveram o condão de universalizar a ideia de que o dirigente máximo da UEFA é mesmo um desbocado. Aos adeptos do FC Porto essa característica do ex-internacional francês já é quase uma redundância desde as considerações que teceu ao nosso clube no processo que foi alvo na instância que dirige. Mas a uma personalidade tão cheia de frases feitas e ideias pré-concebidas, não seria difícil de prever o tropeçar nas próprias palavras até à desconsideração geral da nação futebolística - mesmo a mais inquinada (como é o caso da imprensa lisboeta).

Houve quem referisse por estes dias que a inteligência de Platini ostentadora de um perfume único nos relvados por onde passou, não se coaduna com o seu discurso de praça enquanto Presidente do organismo supremo do futebol europeu. Porém, há 30 atrás, um artista da bola tinha tempo e espaço para pensar dentro da quadra, e atualmente isso não acontece. Nem lá dentro, nem cá fora. Está visto que o homem ainda não se adaptou aos novos tempos.



De uma forma peculiar, o dirigente francês está ser vítima da própria estratégia que o levou ao topo da hierarquia da UEFA. Foi com uma boa dose de demagogia e um discurso populista junto das Federações mais pequenas (com promessas de entrada direta das equipas de países com rankings mais baixos na Liga dos Campeões, por exemplo) que juntou votos para chegar ao cargo que por hora ocupa. Um principio válido e útil para quem se quer erguer à ribalta rapidamente, mas perigoso quando se está no topo.

Se como atleta Platini terá sido uma figura aglutinadora de massas, como responsável desportivo tornou-se um repelente. Da boca do Presidente da UEFA não interessa ouvir apostas – que ele tanto odeia – sobre uma final, dissertar sermões e opiniões sobre jogadores, ou tecer considerações acerca de dossiês que não domina e para os quais está manifestamente mal preparado. Um dirigente com sentido de Estado abstêm-se gravilhar no acessório para se dedicar ao essencial, não ficando a fazer de Cabra-Cega perante um golo “fantasma” não validado num torneio em que é organizador e onde previamente já ditou o seu desfecho.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

PIGS continuam no Euro


Jogos dos quartos-de-final:
Portugal x República Checa
Itália x Inglaterra
Grécia x Alemanha
Espanha x França

E, embora não me pareça provável, até podemos ter umas meias-finais do EURO 2012 só com PIGS. No momento atual da "construção europeia", confesso que me dava um certo gozo.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Um buraco de 50 milhões

«Criado em 1993, o Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira (IDRAM) deixa como "herança" uma dívida superior a 50 milhões de euros. Tinha uma orçamento anual de 34 milhões, dos quais nove milhões são absorvidos por compromissos bancários em infra-estruturas, seis milhões para viagens, 11 milhões para subsídios aos clubes e quatro para pagar quase três centenas de funcionários dispersos por centenas de instalações desportivas.»


Pode olhar-se para este caso de várias maneiras e fazer-se diversos juízos, mas parece-me que uma das consequências inevitáveis é a diminuição da capacidade competitiva de clubes como o Marítimo e o Nacional. Ou seja, se o corte na parcela dos subsídios for significativo, nos próximos anos os clubes madeirenses irão engrossar a lista dos que lutam desesperadamente para não descer de divisão.

P.S. Razão tinha Alberto João Jardim, quando quis juntar numa única SAD o futebol do Marítimo, Nacional e União da Madeira.

O amigo Wolfgang

Ontem vi parte do Espanha x Croácia e à noite revi os lances mais relevantes do jogo, num resumo apresentado pela RTP.
O jogo foi muito tático, com os espanhóis a sentirem muitas dificuldades em chegar perto da baliza croata, e teve apenas um golo, marcado por Jesus Navas ao minuto 88.
Contudo, a história deste jogo poderia ter sido diferente. Um minuto antes do único golo do desafio, o árbitro alemão Wolfgang Stark não viu (ou não quis ver) um penalty claríssimo contra a Espanha quando, numa disputa de bola, Busquets quase que arrancou a camisola ao croata Corluka.
E ainda mais escandaloso foi outro penalty não assinalado contra nuestros hermanos, ao minuto 27, numa entrada duríssima de Sérgio Ramos sobre Mandzukic. Eu admito que o árbitro pudesse ter dúvidas acerca do local em que o defesa espanhol atingiu o avançado croata (dentro ou fora da área?) mas, num lance para penalty e cartão (seria um amarelo avermelhado), o amigo Wolfgang nem sequer falta marcou!

Eu sei que a Espanha é a atual campeã da Europa e do Mundo.
Eu sei que esta seleção espanhola é formada por um misto de jogadores de dois dos principais clubes mundiais (FC Barcelona e Real Madrid).
Eu sei que, no caso da Espanha revalidar o seu título europeu, alguns destes jogadores serão candidatos à Bola de ouro.
Eu sei que Angel María Villar Llona, presidente da Real Federación Española de Fútbol, é também terceiro vice-presidente da UEFA, bem como, presidente dos Comités de Arbitragem da UEFA e da FIFA.
Eu sei que há árbitros que gostam de agradar a quem manda.
Eu sei que Michel Platini previu uma final entre a Alemanha e a Espanha.
Eu sei tudo isto, mas convinha que houvesse um bocadinho de decência...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

12 anos após Campo Maior

«O lisboeta Pedro Proença repete pelo segundo ano consecutivo o 1.º lugar entre os árbitros da 1.ª categoria, na classificação referente à época 2011/12 que o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol irá revelar esta segunda-feira. (...)
Record também sabe que na classificação da época 2011/12, que será tornada publica pelo CA presidido por Vítor Pereira, o setubalense Bruno Paixão surge num dos lugares de despromoção à 2.ª categoria, facto que o fará perder as insígnias de árbitro internacional para a próxima temporada
in record.pt, 18 junho de 2012 | 08:57


Bruno Paixão (também conhecido como o Calabote dos tempos modernos) entrou para a história do futebol português na época 1999/2000 e daí para cá tem sido um festival, com o FC Porto a ser o seu “cliente” mais frequente.

Embora o campeonato da época 1999/2000 já não nos possa ser devolvido, será que 12 anos após o escândalo de Campo Maior, vai finalmente ser feita justiça? Ainda me custa a crer.

Act. Afinal, não se confirma a notícia que o Record online deu hoje de manhã (e que reproduzi em cima). Bruno Paixão não foi um dos três árbitros despromovidos à segunda categoria. Ficou em 14º, sensivelmente a meio da tabela. Bem me parecia ser inverosímil, que um árbitro com tão relevantes serviços ao clube do regime..., perdão, à causa da arbitragem, fosse despromovido.

Fotos: A Bola

Vocês sabem do que estou a falar...

«O ponto mais alto da minha carreira ainda está para chegar, tenho uma carreira muito curta. Houve um senhor que disse que era preciso dez anos e dez mil horas de treino. Ainda me falta trajeto e aprender muita coisa. (...) Depois dá a sensação que somos uma cambada de incompetentes. Temos de aprender, mas já não temos de aprender tudo. (...)
A promessa continua de pé, falarei de tudo quando acabar a nossa caminhada. Ela não acabou. Sei que alguns estavam desejosos que acabasse hoje. Foi assim com a Alemanha, foi assim com a Dinamarca, porque foram buscar tudo o que podia ser crítico em relação aos jogadores. Deixem-nos em paz, critiquem o treinador. Mas isto vai continuar. A grande maioria estará com uma felicidade imensa, outros estarão tristes. Mas já estarão outra vez a afiar as facas e a comprar cachecóis da República Checa para ver se nós saímos.»
Paulo Bento, 17/06/2012


Ouvindo/lendo este discurso azedo e cheio de recados nas entrelinhas, mas sem nomear os destinatários, por momentos pensei que o selecionador nacional era o Octávio Machado.
Não sei de que é que o Paulo Bento estava à espera, mas ele, que é dos selecionadores das últimas décadas que tem melhor imprensa, queixa-se de quê?
De não haver unanimidade em relação a algumas das suas escolhas?
Da FPF lhe ter dado um extraordinário voto de confiança e ter prolongado o contrato por mais dois anos, mesmo antes do EURO 2012 se iniciar?
Ó homem, relaxe e desfrute do momento.

domingo, 17 de junho de 2012

A vergonha de Gijon

«São vários os cenários em cima da mesa. Para Portugal o caminho mais simples será ganhar à Holanda e torcer por uma vitória da Alemanha sobre a Dinamarca (o empate entre estas duas equipas também serve). A selecção portuguesa também pode empatar com a Holanda, desde que a equipa de Joachim Löw se imponha aos dinamarqueses.
Porém, uma vitória da Dinamarca sobre a Alemanha, por 3-2 (ou 4-3, 5-4, etc), colocaria imediatamente as duas selecções na próxima fase, em detrimento da portuguesa. É que, neste cenário, Portugal seria eliminado, mesmo vencendo a Holanda.
As três equipas somariam seis pontos e seria necessário recorrer aos outros critérios de desempate definidos pela UEFA. Os pontos conquistados nos jogos entre as três equipas (seis) não desfariam o nó. A diferença de golos (zero) também não. Seria então necessário recorrer à alínea c) (golos marcados nos jogos entre as equipas empatadas), o que ditaria a eliminação de Portugal.»
in PUBLICO.pt


Embora já tenham ocorrido dois resultados de 3-2 (no Portugal x Dinamarca e no Inglaterra x Suécia), não acredito que este resultado se repita hoje e muito menos que os vikings sejam capazes de marcar três ou mais golos à Alemanha.

Contudo, sempre que há um resultado que serve os interesses de duas equipas em confronto em detrimento de uma terceira, lembro-me da vergonha de Gijon, um pseudo-desafio entre alemães e austríacos do Mundial 1982 e que até obrigou a FIFA, a partir desse Mundial, a mexer nos horários dos últimos jogos da fase de grupos.

(Mundial 1982 - o alemão Paul Breitner observa passivamente o austríaco Bruno Pezzey)

E, infelizmente, estes “arranjos” não acontecem só no futebol:

«O FC Porto venceu hoje o Genéve por 10-4, na sexta e última jornada do Grupo C, mas foi afastado da “final a 8” da Liga Europeia, passando os dois primeiros do grupo, Valdagno e Liceo da Corunha. Os portistas foram vítimas do triunfo por um golo dos espanhóis no reduto dos italianos, que era precisamente o único resultado que afastava os “dragões”, vítimas de desvantagem no confronto a três (-1, contra zero do italianos e +1 dos espanhóis).»
in SAPO Desporto, 14/04/2012


Esperemos que Portugal consiga "espremer" esta laranja, que neste EURO 2012 tem estado pouco mecânica e, já agora, que a Dinamarca derrote a Alemanha, mas apenas por 1-0 ou 2-1.

P.S. Se a Dinamarca vencer hoje por uns inesperados 3-2, 4-3, 5-4, ..., nem tudo se perde. Eu, por exemplo, ganho um jantar de borla oferecido por um companheiro do ‘Reflexão Portista’...

Benfica = violência em todas as modalidades


«O Sporting Clube de Portugal lamenta o comportamento dos elementos do Benfica durante o jogo deste sábado, referente ao playoff do Campeonato Nacional de Futsal.
A pressão dos elementos do Benfica sobre a equipa de arbitragem foi contínua durante o encontro. O nervosismo foi evidente, tendo sido, inclusivamente, partida a porta de um dos balneários do Pavilhão Paz e Amizade, em Loures. Houve agressões e ofensas por parte de elementos da equipa do Benfica a membros dos Órgãos Sociais do Sporting Clube de Portugal, a funcionários do Clube e a membros da Federação Portuguesa de Futebol, nomeadamente ao responsável máximo do futsal e ao coordenador técnico do Conselho de Arbitragem.»
comunicado publicado no site oficial do SCP


Nos últimos anos, todos ou quase todos os episódios de ofensas, agressividade e violência no desporto português têm um denominador comum: o slb
Foi no futebol sénior;
Foi no futebol júnior;
Foi no basquetebol;
Foi no hóquei em patins;
E foi ontem no futsal.

Só não digo que um dia isto vai acabar muito mal, porque esse dia já aconteceu, quando elementos de uma claque do slb agrediram barbaramente e puseram em estado de coma um hoquista do FC Porto (Filipe Santos) e, principalmente, quando um adepto do slb assassinou um adepto do SCP em pleno estádio municipal de Oeiras.

Infelizmente, falta coragem a quem direito - federações e governantes - para meter estes senhores na ordem.

P.S. E a propagação do ódio contra os adversários continua em todas as modalidades, conforme demonstrou o diretor do hóquei em patins encarnado no final do encontro com o Tigres de Almeirim...

sábado, 16 de junho de 2012

Votação popular

«Há dois anos houve muitas tentativas para que o ambiente à volta da seleção se tornasse num circo. Opus-me e depois paguei bem essa fatura. Um dos patrocinadores ligados a uma televisão pretendia que um dos 23 convocados fosse escolhido através de uma eleição nacional.»


Palavras de Carlos Queiroz sobre o que se passou em 2010. Mas, vistas bem as coisas, e sabendo que Nélson Oliveira este ano jogou tão pouco (e quando jogou nunca o fez de forma a merecer, nem de longe, os elogios que tem conseguido pela imprensa da capital), alguém duvida que para o SL Benfica ter o seu jogador na selecção, se essa votação nacional fosse agora, ele seria o jogador escolhido pelo "povo"?

O que lhe vale é que Paulo Bento, ao contrário de Queiroz, sabe a quem tem de obedecer para ser bem tratado na Federação e na imprensa e antecipou-se, tentando fazer dele a nova revelação do futebol português. Em dois jogos foi sempre a primeira opção e ninguém se surpreende que algum dia o meta de titular. É preciso vender meus amigos, é preciso vender e bem!


As cores das camisolas

A propósito do equipamento da seleção portuguesa, a infografia seguinte (fonte: record.pt) recorda as cores das camisolas da seleção nas anteriores fases finais dos Europeus.


Tentativa de corrupção, coação ou o quê?

Comunicado da Procuradora-Geral Distrital de Lisboa:

Ao abrigo da última parte da alínea b) do n.13 do artº 86 do CPP, e dado o impacto social do caso, informa-se que o arguido Paulo Pereira Cristóvão, após conclusão do 1º interrogatório judicial de hoje para aplicação de medidas de coacção, foi indiciado pelo cometimento dos seguintes crimes:
- denúncia caluniosa;
- devassa da vida privada através da informática;
- burla qualificada;
- peculato;
- branqueamento de capitais;

Foram decretadas pela Juiz de Instrução Criminal as seguintes medidas de coacção:
- proibição de exercer qualquer cargo no Sporting Clube de Portugal;
- proibição de entrada em qualquer instalação do mesmo clube desportivo;
- proibição de contactos com elementos do mesmo clube desportivo.

O inquérito prossegue, dirigido pelo Ministério Público na 9ª secção do DIAP de Lisboa.

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Segundo o que veio a público e nunca vi desmentido, um empregado de uma das empresas de um vice-presidente do SCP (no caso, do vice Paulo Pereira Cristóvão), deslocou-se ao Funchal uns dias antes do jogo SCP x Marítimo (para a Taça Portugal) e depositou 2000 euros na conta de um árbitro auxiliar que estava nomeado para esse jogo.

Aquilo que, à partida, poderia (deveria?) ter sido visto como uma tentativa de corrupção (imaginem que tinha sido o Reinaldo Teles...) ou, no mínimo, aliciamento e coação sobre o árbitro, algo que teria óbvias implicações desportivas para o SCP (por menos do que isto o Boavista desceu de divisão), foi transformado num problema pessoal do senhor Cristóvão, em que o clube de que ele era vice-presidente não tem nada a ver com o caso.
Mais. Em alguma comunicação social já se começa a assistir à construção de uma estória em que, inclusivamente, o sporting até surge como vítima do senhor Cristóvão!

Mas há uma pergunta simples, que parece ninguém quer responder: Porque razão foram depositados 2000 euros na conta de um árbitro e que tipo de contrapartidas (para o sporting) eram esperadas?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Luxuria, Varela e o Direito à Indignação


Ao contrário do que esperava Portugal venceu a Dinamarca, num jogo sofrido ao jeito do nosso fado. De qualquer forma, aumentou o espaço para a esperança. Quero tanto que Portugal se apure para a fase seguinte quanto se apure, qualquer que seja o resultado final, os desmandos e as mordomias de uma selecção que se apresentou como a mais gastadora neste Euro 2012. Não basta vir o Sr. Humberto Coelho dizer que a FPF é a única entidade financiadora da selecção, pois que saiba a FPF não deixou de receber do orçamento geral do Estado as verbas que anualmente lhe são atribuídas e que visam o investimento nas competições não profissionais, nomeadamente para a formação. Ainda que não o fosse, esse despesismo dos dirigentes deve ser contido, pois é ofensivo. O Sr. Humberto Coelho e outros mamões que por lá pululam deveriam ter vergonha, mas não têm. Não isento o Dr. Fernando Gomes, pelo contrário, acho que é o primeiro responsável por este desvario, feito de compromissos para agradar os clubes que dominam o panorama do futebol nacional e, nesse particular, o preço que lhe terá sido exigido para merecer o apoio dos clubes da capital. É tempo de alguém de direito puxar as orelhas a estes senhores. Fico à espera, Dr. Miguel Relvas.


Varela que foi quase cilindrado no jogo com a Alemanha por ter falhado um golo – em que fez quase tudo bem, mas o guarde redes e os defesas alemães ainda melhor – foi agora levado aos píncaros depois de ter marcado o golo da vitória num excelente remate com o pé direito, depois de ter falhado a primeira tentativa com o pé esquerdo. Faço ideia do que diriam, se não tivesse marcado o golo. Gostei desse golo por beneficiar Portugal e por premiar Varela, que também nem sempre “tratei” de forma equilibrada, quando as suas prestações ao serviço do FCP foram menos assertivas. Boa Varela!

Entretanto, enquanto o Euro domina as conversas, li que a claque do FCP iria ser impedida de entrar em Lisboa, aquando do SLB-FCP para o campeonato nacional de hóquei em patins. Já aconteceu uma vez e fico sem saber se foi ameaça, se ocorreu ou não, há dias. Indigna-me que não hajam indignados. Prevejo que serão os superiores interesses dos cidadãos e da sua segurança que virão à colação para justificar a ilicitude da polícia e do seu ministério. Não me contento com esta explicação. Quem souber que me conte o que se passou. Acho que temos matéria para uma boa luta. Gostaria de não desistir na denúncia deste abuso de poder. O FCP ficou mudo e quedo. A claque comeu e calou. Basta!

Ou então mude-se a bandeira



Nesta altura é coisa de somenos importância, mas espero que em breve esta nova direcção da FPF tenha as selecções equipadas "à Portugal" - se a bandeira tem verde e vermelho, o equipamento tem de ter verde e vermelho.

(E sim, estou a borrifar-me para os equipamentos da Itália e/ou da Holanda.)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O modelo da Nike

«O portista Varela deu a vitória à selecção portuguesa no confronto com a Dinamarca, da segunda jornada do grupo B do Euro 2012. Na Arena de Lviv, o extremo azul e branco entrou em campo aos 84 minutos, num momento em que o encontro estava empatado, e apontou o golo decisivo (3-2), aos 87, graças a um potente remate.
Os outros tentos lusos foram apontados por ex-portistas: Pepe, aos 24 minutos, e Hélder Postiga, aos 36. Com este resultado, Portugal soma três pontos e está na corrida pelo apuramento para os quartos-de-final. O próximo jogo, que encerra a fase de grupos, é frente à Holanda (domingo, 19h45), em Kharkiv, novamente na Ucrânia.
De referir ainda que, para além de Varela, estiveram mais dois atletas do FC Porto em campo. João Moutinho foi titular, enquanto Rolando substituiu Nani em cima do minuto 90, ajudando assim a “segurar” um triunfo precioso.»


É compreensível, e absolutamente normal, que o website oficial do FC Porto “puxe a brasa à sua sardinha”.
Mas, já imaginaram o que teriam sido as capas dos jornais de hoje, principalmente de A Bola, se algum dos três golos de ontem (por sinal três excelentes golos) tivesse sido apontado pelo “modelo da Nike” e único representante do slb nos 23 jogadores da seleção portuguesa?

Provavelmente, leríamos títulos como:
“Chelsea, Manchester United e Real Madrid em luta acesa por Nelson Oliveira”
“Abramovich perdeu a cabeça e está disposto a oferecer 101 milhões de euros pelo ponta-de-lança do Benfica”
“A Europa de olho no novo Eusébio”

Nota: Os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Será um problema de camisolas?


Para além das ausências do Ricardo Carvalho e, principalmente, do Bosingwa, é uma pena que não seja possível termos na seleção nacional o mesmo Cristiano Ronaldo que joga no Real Madrid.

Dragões ao minuto no campeonato 2011-12


(clicar na imagem para a ampliar)


Nota: Houve dois autogolos a somar aos 67 marcados por jogadores do FC Porto - Melgarejo (FC Porto x Paços Ferreira) e Ricardo (Paços Ferreira x FC Porto).

Cozinhem o polvo!


Após ter “previsto” a vitória dos germânicos no Alemanha x Portugal, o polvo Paulo, que vive nos aquários do Sealife Porto, voltou a “prever” a derrota da seleção portuguesa no jogo de hoje.

Não sei se o molusco terá sido influenciado pelo histórico recente dos confrontos entre portugueses e dinamarqueses mas, em vez das “previsões” do polvo, que tal umas receitas de polvo?

Foto: record.pt

terça-feira, 12 de junho de 2012

Será que o processo também "caíu pela escada"?

Passam hoje dois meses, mas é como se tivessem passado duas décadas: dirigente do SCP deposita por vias travessas, uma maquia na conta de um árbitro-assistente em vésperas de um jogo, consequências zero.

Será que o Cardinal se queixou porque os árbitros estão habituados a receber mais e melhor do SCP, e por isso achou que €2000 era pouco? Em todo o caso, é preciso ter muita coragem para recusar uma oferta do Paulo Pereira Cristovão, pois são precisamente daquelas que "não se pode recusar"...
De qualquer forma, parece-me que há aqui material mais que suficiente para um best-seller, na linha, sei lá!, do "Memorial do Convento" ou assim. Fica a sugestão. No mínimo, um telefilme da TVI protagonizado pelo Nicolau Breyner, que interpreta o presidente de um clube do Norte, que urde um esquema para destruir um inocente vice-presidente de um clube rival. Tão verossímil que em vez de uma obra de ficção, ainda fazem um documentário.

P.S.: Onde anda o Dr. Ricardo Costa, esse «Iron Man» da Justiça Desportiva, quando mais precisamos dele?

Rivalidades, ódios e negócio

«[O JOGO] é prejudicado em vendas por assumir uma posição de não-beligerância com os “grandes”, de não ferir susceptibilidades dos colossos, de manter uma relação de muita cordialidade com todos, porque “O Jogo” não é “o” negócio, mas parte de um negócio maior que tem sido o das transmissões televisivas, da publicidade estática»
Alfredo Barbosa, semanário Grande Porto, 08/06/2012


(clicar na imagem para a ampliar)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Joguem à bola!


Podemos olhar para o futebol de várias formas, uma delas são as vitórias. O que interessa é ganhar, ganhou-se e é-se o maior. Ponto final parágrafo.

Eu percebo que um Grego olhe para o Euro 2004 e pense assim.  

É que quando as nossas cores estão em causa, tendemos a pensar assim. Naquele dia em Feyenoord eu quis lá saber se o Porto de Ivic jogou com 4 centrais + 4 laterais - tudo muito fechadinho e o Kosta sozinho lá na frente. Passámos a eliminatória e isso é que interessou. Hoje não me orgulho daquele Porto.

O problema é que esta forma de jogar futebol, pode resultar num jogo, em meia dúzia, e às vezes até dar títulos, mas não pode ser isto o futebol. Ou melhor dizendo, não é este o futebol de que eu gosto. Um dia Pedroto disse: "Quem quiser Ópera que vá ao S.Carlos" e não deixa de ser verdade, mas quando eu vejo um jogo de futebol não quero ver / ouvir Ópera, quero ver Futebol. É bom ganhar, mas quero ver F-U-T-E-B-O-L. Pode ser?

Além disto não gosto de vitórias morais, irritam-me louvores em derrotas e acima de tudo irritam-me auto-louvores em derrotas. É certo que o futebol é um jogo - não é nenhuma ciência - e que por vezes a sorte e o azar decidem jogos. Há jogos que se perdem por azar, há jogos em que a atitude não chega, há jogos que se perdem e em que se deve aplaudir os nossos - os que perderam. Relembro o Porto - Panathinaikos na caminhada para Sevilha. Um gajo tem consciência que jogámos mal, mas sabe que aquilo não é a norma, sabe que a mentalidade é outra e por isso apoia, acredita. Mas é preciso que haja atitude e mentalidade.

Curiosamente (ou talvez não) após esse jogo de Feyenoord o Ivic foi embora e veio um Senhor que pensava assim:

Desenvolvemos bem o conceito de Killer Instinct. Tentámos manter um ascendente permanente. Procuramos estar sempre em boa posição durante todo o jogo. Não nos interessa iniciar o desafio com calma porque ainda está nos primeiros minutos e é preciso primeiro aguentar e assentar o jogo. É claro que isso é importante, mas não é suficiente para o FCPorto, já que pretendemos dar pelo menos a ideia de que vamos ganhar. É evidente que nem sempre resulta mas a intenção está lá e é só uma: ganhar. Então, se marcamos um golo está bem, é óptimo, mas vamos lá tentar outro. E se obtivermos outro, excelente, mas o jogo continua e vamos procurar ainda outro golo. Temos de continuar a atacar e atacar, para obtermos tantos golos quanto pudermos. 

E porque é que o público começou a regressar ao estádio? Porque gostam do que veêm. É um divertimento. Se se pretende ter o público de volta ao futebol é preciso entretê-lo, dar-lhe espectáculo. Porque é que se vai ver um filme? Porque é um bom filme. Se for mau as pessoas não vão. Com o futebol passa-se o mesmo. Se a equipa estiver a jogar mal, as pessoas não vão ver. Logo, o futebol é uma forma de espectáculo.

Desde então que isto faz parte da minha cartilha, quem tiver esta mentalidade tem o meu apoio até à exaustão e até celebro vitórias morais. 

O ideal do futebol bonito nem sempre ganha, mas o dia em que eu acreditar que não é o melhor caminho para se ganhar, de certeza que deixo de ver futebol. O dia em que eu preferir o Brasil do Penta de Scolari ao Brasil de 82 de Telê Santana, o dia em que eu preferir o Chelsea campeão europeu ou o Real campeão Espanhol, ao Barça de Guardiola que este ano só ganhou a taça de Espanha, internem-me sff. 

E quando a coisa não envolve a camisola azul e branca do Porto, quero é mesmo ver futebol. Como tal - está bom de ver - estou com pouca pachorra para os nacionalismos bacocos que por aí andam, e para os que acham que apoiar é só bater nas costas e passar o tempo a dizer: "és o maior". Que o provem em campo.

Às vezes apetece tanto cantar o "Joguem à bola! Palhaços! Joguem à bola!"

domingo, 10 de junho de 2012

SMS do Dia

Reconheço que o Barcelona até jogou sem o Messi, mas acho que a Itália fez um bom jogo!

Crise?! Qual crise?...


O governo espanhol decidiu, finalmente, solicitar a inevitável ajuda financeira (não quer chamar resgate a um "pequeno" empréstimo de 100 mil milhões de euros), que há muito era anunciada, mas que Mariano Rajoy jurava a pés juntos não ser necessária. E fê-lo quando? No mesmo fim-de-semana em que a seleção espanhola, atual campeã da Europa e do Mundo, iniciou a sua participação no EURO 2012. Coincidências...

Lá como cá, o mediatismo e as paixões que o futebol desperta dão um jeitaço a quem está no poder.

Pão e circo para entreter o povo, diziam os romanos há mais de dois mil anos. De facto, para alguns dos atuais políticos europeus, é uma pena que não haja campeonatos da Europa ou do Mundo todos os meses...

(Rajoy a celebrar o golo da Espanha frente à Itália)

As chagas das Quinas


Finalizar, a nossa cruz

A derrota de Portugal com a Alemanha deixou no ar um vislumbre de sentimentos diversos. A organização lusitana superou largamente a dislexia patenteada nos encontros de preparação. Mas fatalmente a Seleção voltou a vacilar nos momentos decisivos e contra um adversário poderoso. Porventura haverá mais esperança no seio da pátria numa exibição que não deslustrou. Mas os sintomas da doença continuam lá morar e provavelmente vão abafar Portugal bem antes que a sua esperança acabe.

A eventual falta de ousadia de Paulo Bento até ao minuto 72 pode muito bem ser explicada na tração mais dianteira do seu conjunto diante da Turquia. O sistema e os protagonistas eram os mesmos em ambas as contendas, mas a assunção do risco no controlo do jogo e no passe pôs em xeque o seu sucesso no último particular. Antevendo esse desacerto com os alemães o selecionador apostou numa construção sem riscos, com os seus jogadores a não se permitirem a exposições desnecessárias, limitando-se a fazer circular a bola por caminhos óbvios.

E a verdade é que a coisa decorreu quase sempre de forma organizada e planeada. Miguel Veloso não se perdeu nos seus habituais passes transviados e o grupo foi bastante solidário entre si. Claro que tamanha preocupação em deixar tudo tão aprumado desviou a atenção aos jogadores lusos em agarrar-se ao jogo de quando em vez, não apenas quando o prejuízo já lá morava. Isso, e a eterna nulidade na finalização da raia lusitana.

Paulo Bento não foi pouco ousado com uma Alemanha que se revelou ser um pequeno monstro. O selecionador legitimamente preocupou-se em disfarçar as diversas lacunas que Portugal ostenta. Do trinco, ao puro 10. Do ponta-de-lança ao lateral direito.

Algumas dessas chagas ficaram remetidas ao esquecimento durante os 90 minutos, mas seria impossível escamoteá-las todas de uma só assentada. Aqui não dita a regra do mercado global dos clubes. Cada Seleção tenta sobreviver com aquilo que a sua terra lhe dá. E nossa, para além de ter desperdiçado bom fruto em colheitas recentes, poucas vezes deu uma “máquina de golos” como a que resolveu o jogo da noite passada.

Para se ganhar uma competição como esta não basta muita ambição e cagança de todo um povo. Só com um conjunto homogéneo e equilibrado é possível reverter as adversidades com outras opções tão ou mais válidas. Portugal é uma equipa sem resposta a algumas necessidades, não por culpa de Paulo Bento, mas sim por inépcia do seu campo de recrutamento.

sábado, 9 de junho de 2012

Um 69 problemático


Com Miguel Veloso na posição 6 e Hugo Almeida ou Hélder Postiga na posição 9, não vai ser fácil à seleção portuguesa brilhar neste EURO 2012. Mas, por vezes ocorrem surpresas e até pode ser que o desempenho dos companheiros dê para compensar...

As “tribos” do futebol europeu

Ontem começou o EURO 2012 e hoje entra em campo a seleção das quinas. Parece-me uma boa altura para recordar alguns extratos de uma entrevista do engenheiro do Penta e atual selecionador da Grécia, feita numa esplanada de Atenas há cerca de um mês atrás.

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A entrada da Troika no país mudou a atitude das pessoas?

[Fernando Santos]: Na primeira fase as pessoas foram surpreendidas. De repente, as contas estavam mascaradas. Estou cá desde 2000 e, até 2006, a Grécia era um dos países com melhor crescimento e de repente dizem que foi tudo uma grande aldrabice. As pessoas pensaram: onde está o dinheiro? Foi a fase da indignação. Depois esperava-se que a Troika viesse pôr tudo em ordem, resolver o problema, mandar prender estes tipos todos e pôr aqui o dinheiro outra vez. Nada disso aconteceu, antes pelo contrário. Foi muito pior e passou-se então por uma fase muito conflituosa e nos últimos cinco meses entrámos numa fase de apatia geral. Antigamente, discutia-se continuar no euro ou sair. Agora parece que é igual. Faz lembrar o que se vivia em Portugal antes do 25 de Abril.

Pode descambar numa revolta social?

[Fernando Santos]: Alguma coisa vai ter de acontecer. Aqui nasceu a civilização e depois estiveram 500 anos dominados pelos turcos. O grego reage muito mal quando alguém o quer controlar. Por isso reagem muito mal aos alemães, sobretudo à senhora Merkel.

É só a Alemanha ou também a toda a Europa?

[Fernando Santos]: Em relação à Europa há uma desilusão. Face à Alemanha há uma crispação, para não dizer raiva. Em Fevereiro íamos fazer lá um jogo particular e a federação alemã não deixou. As pessoas na rua diziam-me: "quando jogares com os alemães, tens de os comer". Há muito ressentimento por causa da questão histórica. Não só pelas vidas que tiraram aos gregos [na II guerra mundial], aquilo que levaram do país, sobretudo da Acrópole para os museus deles, e depois o que tinham ficado de pagar [as compensações do pós-guerra] e não pagaram. Tudo isto está muito presente. E depois os casos mais recentes com os submarinos. Em Portugal foram só dois, aqui foram muito mais.

Isso vai-se sentir no Europeu de futebol?

[Fernando Santos]: Se a Grécia jogar com a Alemanha era bom sinal, porque significava que tinha passado a primeira fase do europeu. Para os gregos vai ser um jogo muito importante. Vai puxar ao sentimento.

No futebol também se sente a crise?

[Fernando Santos]: Pela paixão que se sente pelo país, sim. Aumentou a obsessão pela soberania. Os gregos preferem morrer do que abdicar de uma ilha que seja. Isso vê-se na relação com a Turquia, por isso é que o orçamento de defesa é o maior da Europa. Jogar pela seleção já é motivador, nesta fase basta dar aqui um cheirinho...

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Nota: A entrevista completa, feita pelo jornalista Luís Rego, foi publicada no Diário Económico (na edição de 4 de Maio) e pode ser lida aqui.


O futebol atual, que de desporto já tem muito pouco, está cada vez mais distante do espírito dos jogos olímpicos da antiga Grécia (interrompiam-se guerras para disputar os jogos!) e está a transformar-se num instrumento de “guerras” entre diferentes “tribos”.
Durante décadas, as principais “guerras” foram entre “tribos” da mesma cidade ou país, mas estas declarações de Fernando Santos que, acredito, traduzem o sentimento generalizado do povo grego, mostram que chegamos à era das “guerras” entre “tribos” de uma eurolândia esfrangalhada e a cair de podre.

Já agora, um árbitro grego estará em condições de arbitrar um jogo da seleção alemã?