O FC Porto vai ser campeão.
Depois de um dos mais inacreditáveis "roubos de Igreja" que a Invicta já viu a convição não podia ser mais forte. Pedroto estaria pouco surpreendido ao descobrir que mais de quatro décadas depois da sua mítica expressão ter dado à luz, tudo continua igual e a impunidade grassa sobre o futebol português. As pistas estavam lá, nos jogos do Benfica e, sobretudo, nos jogos do Porto. Um ano mais uma equipa sem ideias, sem futebol, sem talento e sem treinador, em condições normais, chegaria a Dezembro fora da corrida do título como lhe aconteceu dezenas de vezes (e aos vizinhos do lado) durante os anos noventa e dois mil. Mas estamos na era do Vieirismo, da amizade com os poderes do governo, da justiça e da polícia, dos relatórios secretos sobre os árbitros, dos sms com mensagens comprometedoras, da espionagem sobre o presidente da Federação e afins, a era dos Guerra, dos Marinho e da impunidade absoluta. E por isso mesmo, um ano mais, uma equipa vulgar, colocada no seu devido sítio na Europa, onde tudo isso vale zero, está a três três pontos da liderança e bem dentro da corrida. E vai continuar a estar, por muito mal que joguem. Porque é imperioso que estejam. Porque este Portugal, "pos-democrático", é mais salazarista e centralista que o Portugal contra o qual Pedroto lutou e denunciou. E essa realidade, por muito que se denuncie em prime-time, não se apaga com um sopro de vento. Será preciso outro terramoto para varrer a escumalha que nos meandros do futebol português adultera, ano atrás ano, a competição. Até lá estes "roubos de Igreja" vão continuar a ser frequentes e a sobranceria dos Vitória, jactando-se da sua própria incompetência, agradecendo aos VAR que ficam calados quando devem falar. Dos golos limpos anulados. Das mãos que são peito ou dos peito que são mãos. Dos empurrões, cuspidelas e socos aleivosos. A isso pode agradecer Vitória, que de futebol entende tanto como de matraquilhos, ter saído vivo de uma caldeira que estava preparada para cozer o Polvo mas que se encontrou com tentáculos que ainda são mais fortes do que podemos imaginar. Tentáculos que, ainda assim, serão insuficientes em Maio.
Porque o FC Porto vai ser campeão.
Contra os "roubos de Igreja" e também contra os "roubos de carteira". Ler entrevistas ou declarações inoportunas e oportunistas de Pinto da Costa tornou-se num dos melhores exercícios de stand-up comedy de Portugal. Há uns tempos queixou-se de que Lopetegui, o treinador que tanto elogiou na imprensa internacional e que lhe convenceu até a comprar Ferraris que hoje, vê-se, são Corsas noutras paragens, não era treinador para ganhar, ao contrário de Conceição. Também disse, algures no tempo, porque ao ouvir Pinto da Costa o tempo perde dimensão e lógica, como se fosse uma Matrix, que qualquer treinador seria campeão com os "Falcão, Hulks, James" e companhia, numa bicada seguramente aos Villas-Boas e Vitor Pereiras - os últimos treinadores campeões nacionais, é preciso lembrar - e que ser campeão com um plantel actual é que era. Pois era. Vitor Pereira saiu em 2013 do FC Porto. Há quase cinco épocas. Nesse espaço de tempo essa sumidade elegeu como treinadores nomes distintos, perfis distintos e com mentalidades distintas. Deu-lhes jogadores pedidos, deu-lhes jogadores que não queriam mas que tinham de ter e foi vendendo os anéis. Dos dedos, dos colares, da alma. Foi estripando o FC Porto, abrindo-o por dentro e sacando, gota atrás de gota, o sangue. O FC Porto, o mesmo clube que durante uma década foi considerado um exemplo de gestão, sobretudo como comprava muito barato, vendia muito caro e mantinha uma boa prestação desportiva, hoje está sob a alzada da UEFA. Não pode gastar nem um cêntimo sem avisar, não pode cometer nenhuma loucura, não pode investir sem somar, subtrair e contar com muitos dedos os números. Durante estes quatro anos e meio sem títulos o Porto vendeu tudo e não ficou com nada, salvo Brahimi, que ninguém parece querer, felizmente, e Herrera, que ninguém parece querer, infelizmente. Já vendeu jogadores com um ano de casa, da formação, sem sequer garantir o 100% da sua mais valia e já vendeu apostas falhadas e logradas. O que não conseguiu foi investir bem porque o supra-sumo das declarações inoportunas, seguramente com a cabeça e o corpo metido noutro lado, perdeu tudo aquilo que o ligava á sanidade da gestão futebolistica. E a carteira do FC Porto foi sendo "roubada", desde dentro, e o dinheiro ganho, as transferências milionárias, foram desaparecendo num buraco onde já cabe o Dragão e, daqui a nada, o azul e branco se for preciso. Ontem, num jogo decisivo, Sérgio Conceição, um homem que faz milagres mas a quem não se pode pedir sempre o impossível, realmente não podia deixar de olhar com inveja para os que o precederam. Os que tinham na área a jogadores como Derlei, McCarthy, Lisandro, Falcão, Hulk, Jackson ou André Silva e não Moussa Marega. Há uns tempos atrás escrevi que Marega era o exemplo desta equipa e nada pode ser mais certo. Todo o querer do mundo e toda a dificuldade do mundo incluídas num jogador que dá 200% mas que há coisas que não pode dar. A culpa nunca será sua. A culpa é de quem foi sangrando o clube a ponto de que tenha de lutar contra o maior rival de sempre, o Polvo, com Marega, com Otávio, com Aboubakar e com Herrera quando durante uma década teve jogadores de um nível muito superior, cujo dinheiro das vendas foi mal gasto, negócio atrás negócio, para não falar naquele que, misteriosamente, desapareceu e foi parar a outras mãos. Ontem o FC Porto mediu-se nu contra o Polvo. Despido por quem devia ter procurado dar-lhe o melhor traje de batalha e o despojou das armas. Conceição, os seus e os adeptos no Dragão foram à luta na mesma, porque esse é o nosso ADN, e lutou com os punhos e com a alma. E ganharão, ganharemos, esta batalha. Contra tudo e contra todos, inclusive contra aqueles que nos despiram e nos deixaram nus para, mais á frente, virem reclamar os despojos e o traje do imperador.
O FC Porto vai ser campeão.
Contra tudo e contra todos. Dentro e fora. Salvo o plantel - um exemplo de atitude mesmo quando o talento e a capacidade individual não dá para mais - e o treinador, o motor desta recuperação espiritual de uma ideia de Porto perdida desde a época das vacas gordas, contra tudo e contra todos. Contra os interesses da capital, os negócios ocultos da trama e os tentáculos nas esferas do poder. Contra as manobras rasteiras de Alexandre, contra a ressaca do "Anterismo", contra os interesses dos Teixeiras. Contra o vitimismo dos Vieira e dos Carvalho, contra a violência dos Fejsa e os braços de Luisão. Contra os fundos que andam a apropriar-se, pouco a pouco, do futuro do clube, os que hipotecaram o estádio e o negócio com a Altice e os que fizeram com que a UEFA tivesse direito para apresentar-se à porta a pedir contas. Contra o VAR calado do Polvo. Contra o silêncio oportunista de Pinto da Costa. Contra tudo e contra todos. Campeões.