Em primeiro lugar achei a boca de muito baixo nível, já que há muitos naturalizados que o são com toda a perfeita legitimidade do mundo. Em segundo lugar, penso que a FIFA não tem qualquer legitimidade para sobre-impôr um critério de naturalização às autoridades civis de qualquer país do mundo - nem a uma Alemanha, nem a um São Marino. Cada país decide por si quais são os critérios para se aceitar um cidadão como merecedor da nacionalidade.
No entanto, reconheço que há um risco de se generalizarem naturalizações à pressão de forma a reforçar a selecção nacional, desvirtuando em parte o conceito. É evidente que há naturalizações puramente oportunistas (para dar um exemplo, Dos Santos só se naturalizou tunisino 4 depois de lhe ser oferecida a oportunidade pelas autoridades do país, já que tinha esperanças de ser chamado à selecção brasileira - e isto depois de só ter vivido 2 anos e meio no país, quando provavelmente isso é negado a muitos anónimos que vivem na Tunísia imensos anos). Que fazer?
Defendo que para se agradar a gregos e troianos sem se cometerem injustiças se deve defender a formação no país em questão; ora pelas próprias regras da FIFA e da UEFA, os jogadores até aos 21 anos ainda estão em formação (tanto que a UEFA reserva uma quota para inscrições de jogadores "formados no país"). Agrada-me a definição da UEFA para "formação no país": pelo menos 3 anos inscritos na federação do país em causa até se atingir os 21 anos de idade.
Ora por esta ordem de ideias há um jogador que esteve ontem em campo que não deveria lá ter estado: Marcos Senna. Mas então e os "polacos" da Alemanha, dizem alguns? Pois bem, são casos bem diferentes.
Marcos Senna só vive em Espanha desde os 25 anos de idade (quando se transferiu do São Caetano para o Villareal), tendo obtido a nacionalidade aos 29. Lukas Podolski e Miroslaw Klose, filhos de pais polacos, são um caso bem diferente: vivem na Alemanha desde os 2 e 7 anos de idade, respectivamente. Aprenderam a jogar futebol na Alemanha, "respiram" futebol alemão pelos poros (para não falar da cultura e língua).
De resto eu abriria uma excepção a casos de consanguinidade: um jogador que nunca tenha vivido (e portanto jogado) no país mas que tenha obtido o passaporte antes dos 21 anos (por razões de sangue) poderia representar o país. A principal razão para defender esta excepção é simples: há países que dificilmente oferecem o passaporte a filhos de imigrantes, e não é justo que um jogador fique sem poder representar qualquer selecção (nem a do país adoptivo, nem a do país de origem dos pais).
Escusado é dizer que por este critério que defendo tanto Pepe como Deco poderiam jogar por Portugal, já que jogaram 3 épocas no país antes de completarem 22 anos de idade. No entanto, as naturalizações à pressão e interesseiras de jogadores chegados adultos a um país seriam, com este critério, totalmente eliminadas.
Bem, mas ainda bem para o novo campeão europeu que dá pelo nome de Senna que este critério não existe... Curiosamente, a tão criticada selecção francesa campeã do mundo não tinha um único jogador que violasse o critério de formação que proponho. E esta, hein?