Agora que, salvo algo de monstruoso que ninguém acredita que possa suceder, tudo ficou resolvido, vão ser sete longos meses (até ao início da próxima época) em que, jogos mesmo a sério, só iremos ter dois (ok, quatro se eliminarmos o Basileia e partindo do princípio que temos realmente equipa para discutir uns quartos-de-final de Liga dos Campeões).
Se quisermos ser bondosos, poderemos acrescentar uma eventual final da taça da Liga (a tal que ninguém gostava) a esta pequena lista de jogos minimamente interessantes até ao final de Agosto.
Muito argumentarão que, dada a nossa inacreditável vantagem de apenas um ponto em relação ao scp, os jogos continuarão todos a ser a sério até final. Bem, falar em lutas pelo segundo-lugar soa até ofensivo para um clube com o nosso palmarés nos últimos 30 anos. Por muito aborrecido que seja ter que jogar uma pré-eliminatória para aceder à "Champions", a grande verdade é que ficar em segundo ou terceiro não aquece nem arrefece ninguém.
Na verdade, podemos até evitar falar em "travessias do deserto" mas de uma seca monumental já ninguém nos livra. De repente, nos próximos fins-de-semana, as ligas estrangeiras tornar-se-ão ainda mais cativantes e até as outras modalidades terão um renovado interesse aos nossos olhos.
O mais penoso nisto tudo é que diferença futebolística está longe de estar reflectida nestes largos pontos que nos separam do nosso rival. Habitualmente, tamanho "buraco" traduz uma série de insuficiências de um dos lados, algo que está longe de ser verdade na presente época. Tirando os fanatismos habituais, este slb parece inferior às recentes versões passadas.
Por isso mesmo, não é tarefa fácil explicar estes últimos acontecimentos. Tendo a presente temporada como ponto inicial de análise, existirão obviamente vários erros próprios mas nenhum com tamanho suficiente para que alguém possa acreditar, com toda a convicção, que tudo poderia ter sido diferente.
Mas vamos lá a esses "pormenores" que, não tendo sido decisivos, foram erros que nos deverão servir de lição:
Ghilas é melhor que Adrián, ponto. O primeiro deveria ter ficado e o segundo não deveria ter sido adquirido em mais uma das nossas "confusas" contas com o Atlético Madrid.
Tozé, se é que a equipa B realmente serve para algo, teria também lugar neste plantel. Não existe esse abismo, como muitos acreditam, em relação a Óliver. No fundo, é tudo uma questão de apostas. O espanhol, mesmo vindo emprestado, é aposta assumida desde a primeira hora, já o português foi sempre olhado de lado. E é nesta falta de confiança que muitos se perdem.
Já a saída de Josué, embora num patamar mais debatível, deixou também dúvidas. E deixemos, por agora, a eterna questão-Kelvin para outras núpcias.
Mas, tendo assim o plantel sido escolhido, haveria melhor "11" que aquele habitualmente colocado em campo, excessivas rotações à parte?
Bem, se olharmos com cuidado para os quase 11 meses de titularidade de Fabiano, quantos pontos ou vitórias lhe devemos? Certo que, não havendo Hélton por largos meses, as alternativas eram praticamente nulas. Mas, e agora com o capitão de regresso e em grande forma? Que desculpa pode haver? Que motivação terá, daqui em diante, um jogador a quem for dada uma "oportunidade" na taça da Liga, sabendo ele que nem uma exibição de qualidade máxima lhe abrirá as portas da equipa principal?
Já quanto a Alex Sandro, há mais de ano e meio que joga metade daquilo que rendia quando alcançou a titularidade. Danilo, que até começou bem, parece de regresso ao seu habitual modo de "não te rales muito", que ele sempre acciona quando os resultados deixam de aparecer.
Mas, lá está, com Ricardo e José Ángel teríamos agora mais pontos? Nenhumas garantias de tal, se quisermos ser absolutamente honestos.
E quanto ao resto? Bem, Maicon continua a ser Maicon, como aquela oportunidade desperdiçada logo nos minutos iniciais no Funchal nos relembrou. O nosso adversário directo não falharia aquela oportunidade madrugadora para ficar logo em (decisiva) vantagem.
De resto, confirma-se que Casemiro e Tello são úteis mas nada do outro mundo, como a qualidade dos seus clubes de origem poderia fazer crer. Pelo menos, ainda estão num patamar inferior àquele onde se situam Jackson, Brahimi e até mesmo Quaresma. E é este patamar que se exige a quem quer ser titular de longa duração num clube como o nosso.
Por fim, e basta olhar para o seu rosto, Quintero passou de jovem alegre e cheio de potencial para alguém a quem as mordaças tácticas transformaram num jogador apavorado pelo receio de falhar. Bem escondido continua ele pelas extremidades do campo, e isto quando joga. Quem ficou a ganhar com esta sua "domesticação"? Pois, ninguém ao certo saberá responder.
Mas estaria o FCP a discutir, ombro-a-ombro, o primeiro lugar se o atrás descrito tivesse acontecido de outra forma? Provavelmente não, e é isto que mais assusta: do ponto em que se iniciou a presente temporada, não se vislumbra grandes alternativas para um futuro diferente. Isto porque, sem "fundos", os empréstimos vindos dos "grandes" europeus tenderão a aumentar ainda mais e, em termos de liderança, como se tem visto, é cada vez mais difícil arranjar melhor.
Poderemos, então, melhorar em quê, durante estes penosos meses que se avizinham? A nossa obsessão pela posse de bola, ao contrário do que se apregoa, soa a excessiva. Reparemos que o nosso rival abriu o marcador em dois lances de futebol directo nas suas duas últimas saídas (Penafiel e Marítimo). Já nós, nem no último segundo contra um Marítimo, com tudo praticamente perdido, o nosso guarda-redes foi autorizado a avançar para a área contrária, num lance de bola parada.
Na liga portuguesa, exagerar na posse e num futebol "rendilhado", especialmente fora de portas, pode ser contra-produtivo. É uma lição que levamos desta temporada. As nossas habituais e tão elogiadas estatísticas, ao invés de serem motivo para orgulho, podem muito bem ser a mais clara expressão do nosso falhanço. Isto porque as nossas oportunidades reais de golo são em número vergonhoso para tamanho "controlo" das partidas. E o inverso sucede com praticamente todos os adversários que encontramos pela frente: por menos oportunidades que tenham, conseguem sempre criar perigo.
Por último, o factor-sorte. Todos sabemos que esta se conquista e dará mesmo muito trabalho alcançá-la, mas temos que honestamente reconhecer que a sorte, em 2014/15, nada quer connosco. Não que, alguma vez, se a deva usar como principal desculpa.