sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O Chorão e o Happy

A propósito da lista de candidatos ao prémio de melhor treinador de 2014, cujo vencedor será anunciado na gala da Bola de Ouro da FIFA...

Ontem, Jorge Jesus (o “Chorão”) afirmou:

“Há treinadores que fizeram menos do que eu, a nível interno e no que diz respeito a finais.”

“Olhei para a lista e pensei: há aqui alguns que não estiveram em nenhuma final, muitos nem foram campeões nacionais. Se gostava de lá estar? Gostava.”


Hoje, José Mourinho (o “Happy One”) respondeu:

[sabe que está incluído na lista para a Bola de Ouro?] “Sei, mas não liguei. Mas posso dizer-lhe que tenho a certeza que não ganharei, até porque reconheço que não mereço ganhar a Bola de Ouro.”

[Quando tomou conhecimento das nomeações, Jorge Jesus disse que na lista há treinadores que não ganharam títulos…] “Pois, julgo que o regulamento proíbe que estejam treinadores que foram eliminados da Champions League na fase de grupos…”


Lindo!

Os 18 jogadores emprestados

O Maisfutebol publicou, ontem, um artigo – Três grandes: o que andam a fazer todos os emprestados – onde o jornalista Pedro Jorge da Cunha faz uma análise, quantitativa e qualitativa, ao desempenho (até agora) dos jogadores emprestados pelo FC Porto, SL Benfica e Sporting.

Partindo de informação existente nesse artigo, a que acrescentei outros dados, elaborei os dois quadros seguintes, referentes aos 18 jogadores emprestados pelo FC Porto.




A partir destes quadros, constatam-se algumas coisas interessantes:

– Média das Idades (em 31-10-2014) dos jogadores emprestados: 24,74 anos (esta média é superior a muitos dos onzes que Lopetegui tem apresentado esta época);

– Apenas 6 dos 18 jogadores emprestados têm nacionalidade portuguesa (ou seja, a FC Porto SAD contrata muitos jogadores estrangeiros, que depois empresta);

– Metade (9) dos jogadores emprestados foram-no a equipas estrangeiras (três a equipas turcas; três a equipas espanholas; e os restantes três a uma equipa russa, francesa e inglesa);

– Quatro dos jogadores emprestados foram-no a equipas da II Liga (faz sentido ter uma equipa B, que disputa a II Liga, e depois andar a emprestar jogadores a equipas que disputam esse mesmo campeonato?).

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Breves notas da AG do Clube

Ontem à noite realizou-se uma Assembleia Geral Ordinária do Futebol Clube do Porto.

Como seria de esperar e (infelizmente) se tornou habitual, esteve presente um número reduzido de Associados. E fiquei com a ideia, de que uma parte significativa dos (poucos) Associados que estiveram presentes estão, de algum modo, ligados à estrutura ou órgãos sociais do Clube (Conselho Superior, empresas do Grupo, Apoio/Secretariado, etc.).

Eu fui um pouco mais cedo, para poder dar uma vista de olhos aos Relatórios e Contas Individual e Consolidadas, mas o tempo disponível foi insuficiente para poder fazer uma análise com o rigor desejável.

Capa do Relatório e Contas 2013/2014

E isto leva-me a uma questão: Por que razão o Relatório e Contas do Clube não é disponibilizado (em formato PDF) no website oficial, uns dias antes da Assembleia Geral?

É algo que não tem custos, seria simples de fazer, permitiria aos Associados (que tivessem interesse) estarem melhor informados e, aqueles que se deslocassem à AG, poderiam (se assim o entendessem) interpelar a Direção do Clube de uma forma mais fundamentada.

Rendimentos Operacionais do Exercício (fonte: Relatório e Contas 2013/2014)

Gastos Operacionais do Exercício (fonte: Relatório e Contas 2013/2014)

Nota final: Gostaria de destacar e elogiar a forma aberta como o Dr. Miguel Bismarck conduziu a Assembleia Geral, permitindo a intervenção de todos os Associados que manifestaram interesse para tal, incluindo intervenções algo deslocadas do contexto, visto ser uma AG do Clube e não da SAD.



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Faltam menos de 24h para a AG do FCP

No dia 29 de Outubro de 2014, pelas 20:30 horas, vai realizar-se uma Assembleia Geral Ordinária do Futebol Clube do Porto (Atenção! É uma AG do Clube e não da SAD!).

Não sei se o Clube, através de algum dos vários meios de comunicação que tem à sua disposição – televisão (Porto Canal), E-mail, Website oficial, Facebook oficial, Twitter @FCPorto, etc. – já procedeu à respectiva divulgação, ou se o irá fazer apenas no próprio dia.

Eu tomei conhecimento através da versão em papel de um jornal (no caso, do jornal O JOGO).

Convocatória para a AG do Clube a realizar em 29-10-2014

Seria bom que pudessem estar presentes muitos Associados do Futebol Clube do Porto mas, com este tipo de “divulgação”, é pouco provável. E é pena.

As contas da SAD na Bluegosfera

Janeiro de 2008. Quando o ‘Reflexão Portista’ viu a luz do dia, houve (e ainda há) quem, por diversas razões, olhasse para este blogue de soslaio.

Ao longo destes anos, um dos aspectos em que o ‘Reflexão Portista’ se distinguiu da generalidade dos outros blogues portistas, foi na publicação, regular, de análises às contas, particularmente da FC Porto SAD.
No feedback recebido, ouvimos (lemos) de tudo.
Os comentários mais “simpáticos” acusavam o blogue de ser elitista; os menos simpáticos apelidavam os autores dos artigos de ignorantes e, pelo caminho, desafiavam esses autores a candidatarem-se às eleições do clube…

Outubro de 2014. Seis anos depois, a análise que os jornais, desportivos e generalistas, fazem às contas dos clubes/SAD’s, continua a ser tecnicamente (muito) pobre e, no essencial, continua a ser uma mera caixa de ressonância dos sound bytes que lhe são transmitidos em comunicados ou conferências de imprensa…

O JOGO, 22-10-2014

JN, 22-10-2014

… mas o panorama da bluegosfera mudou significativamente (para melhor).

O último Relatório e Contas da FC Porto SAD (correspondente ao Exercício 2013/2014), mereceu análises, mais ou menos profundas, em diversos blogues portistas.
Do que li, seleccionei alguns extractos de artigos publicados nos blogues ‘Mística do Dragão’, ‘BiBó Porto, carago!!’, ‘Mística Azul e Branca’ e ‘Tribunal do Dragão’ que, com a devida vénia, reproduzo a seguir.

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«Ao contrário do que Fernando Gomes diz sobre o Mundial ser responsável pelo avultado prejuízo, uma vez que fez atrasar alguns negócios, nomeadamente Mangala e Defour, as alienações dos passes destes dois atletas não chegariam para, sequer cobrir o prejuízo. Aliás, a alienação de Defour, calculo eu, nem sequer terá um efeito significativo nas contas e Mangala nunca na vida irá representar uma mais-valia igual aos 30,5 milhões de euros pelos quais o Porto vendeu a percentagem do passe que detinha, uma vez que o atleta ainda tinha valor nas contas do clube e Jorge Mendes se faz pagar bem;
(…)
O passivo aumentou cerca de 13 milhões, essencialmente à custa do aumento dos financiamentos;
(…)
Daqui é possível concluir que a situação financeira da SAD do Porto é deveras preocupante. Quantos anos poderemos aguentar este registo de gastar mais do que aquilo que temos, não sei. Mas era bom que os sócios e adeptos acordassem antes de levarem com uma bomba dessas em cima.»




«… usando a linguagem do “economês”, diria que assistimos a uma enorme destruição de valor. Para suprir este colapso nos capitais próprios já se conhece a solução encontrada: a passagem de 47% do Estádio do Dragão da esfera do Clube para a esfera da SAD que, de caminho, deu uma enorme ajuda para resolver o bicudo problema que o fair-play financeiro da UEFA veio criar ao não permitir que a média do somatório dos resultados dos três últimos anos não ultrapasse os 5M € de prejuízo.
(…)
Assim, depois de um resultado líquido consolidado negativo (prejuízo) de 35.734M € em 2012, e um igual resultado positivo (lucro) de 20.356M € em 2013, temos agora em 2014 este prejuízo de 40.701M €. Ou seja, a média destes 3 anos é de (-35,734 +20,356 -40,701) /3 = -18,693M €, isto é bem acima do tal máximo de 5M € permitido no regulamento da UEFA (mesmo considerando a possibilidade de abater os gastos com a formação e infra-estruturas), média considerada na avaliação da UEFA para este ano.
(…)
a) A cada ano que passa, cada vez mais se nota a extrema dependência da realização de mais-valias na transacção de passes de jogadores. Como este ano “apenas” se obteve nesta rubrica o montante de 23.907M €, o que representa uma diminuição de 52.538M € relativamente ao ano anterior, temos aqui a explicação para o descalabro das contas. Por isso falo em extrema dependência, porque uma coisa é depender 10% ou até 20% desta componente dos proveitos e que seria bem acomodada na estrutura dos proveitos, outra coisa totalmente diferente é quando se depende em 50%, ou mais, desta componente.
(…)
c) Os custos e perdas financeiras, fundamentalmente juros pagos dos empréstimos bancários e obrigacionistas, estabilizaram perto dos 13M €/ano (12.734M € contra 12.893M € no ano anterior). É bom que o ciclo ascensional que se vinha verificando tenha terminado, mesmo assim continua a ser um valor demasiado elevado e bem revelador do excessivo grau de endividamento. Para se ter uma ideia da relatividade destes números, basta dizer que estes encargos representam cerca de 15% dos proveitos totais quando, idealmente, não deviam ir muito além dos 5%.»




«Partindo do princípio que os nossos Custos correntes são quase sempre maiores do que os Proveitos, o que acontece? O Passivo sobe e os Capitais Próprios descem. Repare-se que neste último ano tivemos de Custos Operacionais 95,2M€ e de Proveitos Operacionais apenas 72,6M€. O máximo que se tem conseguido é manter o equilíbrio. Faltará depois, como é óbvio, esperar que apareça o milagre das mais-valias nas transações com jogadores, uma das formas de reduzir o Passivo, coisa que cada vez está mais difícil de atingir. Basta reparar nas Sociedades Desportivas que estão em falência técnica (por ex. os 2 circos da Segunda Circular) e aquelas que ainda continuam dependuradas no que resta dos apoios da Banca (por ex. Boavista).»



Tribunal do Dragão, 22-10-2014

«O FC Porto pagou em Junho 2,615 milhões de euros por 85% do passe de Kayembe à Danubio Finanzierungsleistungen und Marketing GMBH (tentem pronunciar isto sem se engasgarem). Kayembe estava emprestado ao FC Porto, ao que tudo indica. O FC Porto decidiu em Junho comprar 85% do passe, com encargos de 61.587€, e aí sim Kayembe assinou por 5 épocas.
(…)
Kayembe já não pode ser apenas um jogador na equipa B. Foi caro. Tem que ser uma aposta com vista ao futuro. Foi contratado em Junho. Pedido de Lopetegui ou intervenção da SAD, pouco interessa. Foi um activo caro, caro demais que ficar limitado a uma equipa B. Kayembe vai ter que evoluir no sentido de ter oportunidades na equipa A. Só o custo de Kayembe pagava uma época inteira do Feirense ou do Freamunde. Diria mais: em Janeiro devia ser emprestado para jogar já na primeira liga.»

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Todos vibramos com as vitórias e conquistas do FC Porto, mas cada vez há mais adeptos portistas com consciência, de que o enorme sucesso desportivo alcançado nas últimas décadas será insustentável se, fora dos relvados, o desequilíbrio estrutural das contas da SAD não for rapidamente corrigido.
Até porque, "balões de oxigénio", como foi a recente operação de passagem de 47% do Estádio do Dragão do Clube para a SAD, não podem ser usados todos os anos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Os “vândalos” ficaram em casa

Título de notícia do jornal Record

Quando, no sábado de manhã, li o bombástico título desta notícia do jornal Record, fiquei preocupado.
Queres ver que (adeptos portistas?) destruíram, à bomba, o Estádio do Arouca e não vai haver jogo, pensei para com os meus botões de punho (que não tenho).

Contudo, lendo o corpo da notícia, percebi que o “vandalismo”, afinal, se resumia a umas mensagens de protesto pintadas numa parede do estádio.

«As paredes do Estádio Municipal de Arouca, palco do encontro desta noite, foram alvo de vandalismo por parte dos adeptos portistas, indignados com o preço dos bilhetes.
Segundo Record apurou, durante a noite de quinta-feira foram pintadas mensagens de reclamação pelo valor dos ingressos, que ascende até aos 30 euros para a zona reservada para os adeptos visitantes.
Entretanto, as paredes já foram pintadas e as mensagens foram removidas, apesar de ontem ainda serem visíveis alguns vestígios do ato, nomeadamente na zona do parque de estacionamento.»


Ou seja, em vez de um título do tipo “Adeptos portistas protestam contra o preço dos bilhetes”, o Record optou por um título muito mais sugestivo e muito mais de acordo com a sua linha editorial (e clientela!), a qual, como é sabido, privilegia o ódio anti Porto.

E, para além de umas paredes pintadas, o que é que a Direção do Arouca ganhou em ter colocado os bilhetes, para os adeptos do FC Porto, a um preço mínimo de 25 euros?

Isto…
Aspecto de uma das bancadas no Arouca x FC Porto


P.S. No Name Boys destroem café e põem-se em fuga. Disto não falam os jornais do Grupo Cofina…

Há penalties e penalties (e também expulsões)

A propósito dos eventuais lances de penalty no SC Braga x SL Benfica (repararam que todos esses lances, de polémica nas áreas, fazem parte dos resumos do jogo?), e de mais uma expulsão de um jogador da equipa adversária do SLB (ontem foi a vez do bracarense Danilo Silva), vale a pena recordar os branqueados e praticamente ignorados lances de possível penalty (não assinalados) e expulsões (não efetuadas), nas últimas três deslocações do FC Porto (para o campeonato).


17-09-2014: Vitória Guimarães x FC Porto (4ª Jornada)

31’: Penalty por assinalar a favor do FC Porto. Defendi puxou o braço a Brahimi e desequilibra-o.

31’: Cartão vermelho por mostrar a Defendi, por ter cometido falta numa jogada em que não havia mais qualquer jogador entre Brahimi e a baliza vimaranense.

63’: Penalty por assinalar a favor do FC Porto. Traoré obstruiu e impediu Quintero de prosseguir.



26-09-2014: Sporting x FC Porto (6ª Jornada)

11’: Cartão vermelho por mostrar a Slimani, por ter apertado o pescoço a Martins Indi.

89’: Penalty por assinalar a favor do FC Porto. Após um toque de calcanhar de Jackson, Maurício corta a bola com o braço direito.

Maurício corta a bola com o braço

89’: 2º cartão amarelo e consequente cartão vermelho por mostrar a Maurício (o 1º cartão amarelo viu-o aos 23’, após atingir o pé de apoio de Brahimi).



25-10-2014: Arouca x FC Porto (8ª Jornada)

3’: Penalty por assinalar a favor do FC Porto. Nuno Coelho atingiu Jackson no seu pé de apoio, rasteirando-o.


55’: Penalty por assinalar a favor do FC Porto. Tinoco empurrou Brahimi de forma ostensiva, derrubando-o.


83’: Cartão vermelho por mostrar a Iván Balliu, que, por trás, varreu autenticamente Brahimi, num lance em que poderia ter provocado uma lesão grave ao internacional argelino.



Resumo arbitral das três últimas deslocações do FC Porto (4ª, 6ª e 8ª jornadas do campeonato):
- 5 penalties por assinalar a favor do FC Porto;
- 4 cartões vermelhos para jogadores adversários, que ficaram nos bolsos dos árbitros.

É a designada “verdade desportiva” à moda dos jornalistas e comentadores da praça, não por acaso, quase todos adeptos dos clubes de Lisboa…

domingo, 26 de outubro de 2014

Carlos Eduardo, que nice!


«Carlos Eduardo, emprestado pelo FC Porto, fez cinco golos no Guingamp - Nice, jogo da liga francesa.
O Guingamp até começou bem, ao marcar por Claudio Beauvue, logo aos 8 minutos. Depois apareceu Carlos Eduardo. O primeiro golo foi de livre direto, aos 12 minutos. No segundo aproveitou um erro do adversário (26 minutos) e no terceiro encostou no poste mais distante, após jogada de Bauthéac (43).
O Nice ainda chegou ao 4-1 antes do intervalo, por Plea (45) e, na segunda parte, continuou o festival do médio brasileiro: aos 50 minutos, apontou o quarto golo na partida e aos 64 fez o quinto da conta pessoal, ao colocar o resultado em 6-1!»



Nos sete jogos que já disputou para a Ligue 1 (nas primeiras quarto jornadas não estava disponível), Carlos Eduardo marcou 6 dos 12 golos apontados pelo Nice nesses sete jogos. Notável!

Utilização de Carlos Eduardo na Ligue 1 2014/2015

Em França, jogando com regularidade, Carlos Eduardo começa a destacar-se (e de que maneira!).
Afinal, parece que os elogios que lhe fiz na época passada, não eram assim tão descabidos como alguns adeptos portistas disseram.

Aliás, não me admirava que, nesta altura, os principais clubes franceses - PSG, AS Monaco e Olympique Marselha - já andassem com o Carlos Eduardo debaixo de olho.

Ah, e segundo Claude Puel (treinador do Nice), que se tem fartado de elogiar este médio brasileiro de 25 anos, o contrato de empréstimo do Carlos Eduardo não inclui opção de compra no final da temporada.

Claude Puel (treinador do Nice), Carlos Eduardo e Jean-Pierre Rivere (presidente do Nice)

Se, em vez de o fazer regressar, a FC Porto SAD optar por vender o seu passe (interessados não devem faltar), deverá ser a primeira vez que a SAD fará um encaixe financeiro significativo com um jogador emprestado.


P.S. “É verdade que é raro marcar cinco golos num jogo, mas da parte dele não me surpreendeu. Ele [Carlos Eduardo] tem técnica, físico, tudo o que é necessário para jogar ao mais alto nível. Move-se bem entre as linhas, encara o jogo de forma correta. Pode marcar golos, certamente que o demonstrou neste jogo, mas também fazer passes decisivos. É um jogador completo
Claude Puel, treinador do Nice


sábado, 25 de outubro de 2014

Qualidade + Estabilidade = Goleada

Apenas uma mudança em relação ao FC Porto x Athletic Bilbao: Iván Marcano no lugar de Maicon.

Iván Marcano, que foi o menos bom jogador do FC Porto neste jogo e que, nos primeiros 20 minutos, teve duas falhas defensivas (numa delas o Arouca ia marcando, não fosse a boa estirada de Fabiano).

De resto, viram-se mais e melhores jogadas de entendimento envolvendo o "maestro" Quintero (a jogar no meio, nas costas do ponta-de-lança) e o trio de ataque - Brahimi, Tello e Jackson.

Quintero abriu o marcador ao minuto 24 e desbloqueou o jogo.
Brahimi, após uma grande jogada individual, fez a assistência para o 2º golo.
Tello marcou o canto para Casemiro fazer o 3º golo (de cabeça) e, após ligar o turbo, fez a assistência para o 4º golo.
E Jackson fez aquilo que sabe fazer melhor: marcou dois golos.

Jackson e mais dois golos em Arouca

Mas, para além dos "três mosqueteiros" (que, tal como no romance de Alexandre Dumas, são quatro…), em Arouca viu-se também um melhor entendimento entre os laterais - Danilo e Alex Sandro - e os alas - Brahimi e Tello.

De resto, Quaresma deu seguimento ao seu bom momento, saltou do banco e fez duas "assistências". Na primeira, Quintero pôs a trave da baliza de Goicoechea a abanar (seria um golo de bandeira!) e na segunda Aboubakar fez a bola passar pelo meio das pernas de Goicoechea e "beijar" as redes da baliza do Arouca.

Num jogo em que os holofotes estão virados para jogadores de características ofensivas, é justo também destacar Casemiro (após os assobios que ouviu nos últimos jogos, foi muito bom ter marcado hoje) e Fabiano (debaixo dos postes é um guarda-redes de top).

Aliás, sem a capacidade de luta de Casemiro e alta rotação de Herrera, dificilmente se poderia ter um jogador como Quintero (que não defende) a titular no meio campo portista.

Casemiro a saltar mais alto no Arouca x FC Porto

Casemiro (mesmo carregado pelas costas) a cabecear para o 3º golo do FC Porto

Finalmente, queria agradecer ao senhor Carlos Xistra o facto de não ter assinalado qualquer penalty a favor do FC Porto, porque isso podia perturbar a equipa… Além disso, o FC Porto está bem encaminhado para bater o recorde de grandes penalidades por assinalar nos jogos fora (duas em Guimarães, duas em Alvalade, duas em Arouca…)

Penalty (não assinalado) por falta de Nuno Coelho sobre Jackson

As imagens são evidentes. É óbvio que houve duas situações, na área do Arouca, em que, de acordo com as leis do jogo, deveriam ter sido assinaladas duas grandes penalidades (por faltas claríssimas sobre Jackson e Brahimi) mas, tal como os árbitros que foram enviados para Guimarães e para Alvalade, este também vinha bem instruído…

Treinadores de bancada

Não é raro ouvir o seguinte, quando são feitas críticas ao treinador em conversas entre amigos ou - principalmente - na Internet, para calar essas críticas sem se dar ao trabalho de as contra-argumentar: 

«Falar como treinador de bancada é muito fácil, mas o [Fulano X] é que é treinador profissional». 

Ora vamos lá a ver...

Que esses treinadores sabem muito mais do que o adepto comum em metodologias de treino e tal, acho que não há qualquer dúvida.

Que sabem melhor qual jogador está em melhor ou pior forma, penso que há poucas dúvidas (os treinadores de bancada não vêem os treinos).

Que sabem mais de táctica, é bem provável mas já começa a ser discutível em alguns casos.

Que conhecem melhor do que todos nós todas as vertentes do contexto em que nos inserimos, já é ainda mais discutível (e em particular um treinador estrangeiro no que diz respeito à história do plantel herdado e acima de tudo em relação ao contexto do futebol português).

Que são melhores do q nós na análise aos jogadores e acima de tudo adversários, bem... isso já depende. Até porque às vezes podem ter os seus enviesamentos, ou podem até mesmo nao ter uma inteligência ou bom senso por aí além (pelo menos não mais do que alguns adeptos).

É que o futebol não é como outras profissões... 

Antes de mais é empírico, não é propriamente lá muito científico (não é como por ex um eng. civil a fazer os cálculos na construção de uma ponte). Não é «rocket science», como se sói dizer, nem pouco mais ou menos, em que quantos mais anos se estuda melhor o desempenho. A partir de um limite minimo (que não é tao alto como isso), mais estudo e prática não leva necessariamente a melhor desempenho.

Aliás, em boa parte por causa disso é que é tão polémico (não é difícil arranjar 5 treinadores diferentes com 5 ideias diferentes em como montar uma equipa com o mesmo plantel, mas já é muito difícil senão mesmo impossível arranjar 5 eng civis com 5 ideias diferentes sobre se uma ponte é estruturalmente segura ou não....)...

...e sendo empírico, não falta gente que por via do mediatismo da coisa segue o futebol de muito perto há 10, 20, 30, 40 ou mais anos e por isso mesmo até percebe bastante de futebol, mesmo não fazendo disso a sua vida profissional (o mesmo certamente não se pode dizer de outras «indústrias», como por ex engenharia ou advocracia). Portanto, não me custa nada acreditar que há por aí muito leigo que seja mais sagaz do que uns quantos treinadores profissionais (mesmo que certamente não seja a maioria dos leigos, nem pouco mais ou menos; e um dado leigo até pode ter razão num dado momento, mas não a ter noutro momento ou contexto).

Aliás, muitas vezes as preferências dos treinadores são tão (ou até mesmo mais) subjectivas do que as nossas, quando se fala por ex de tácticas ou preferência fundamentalista por um certo tipo de jogador.

Sendo assim o pseudo-argumento de que «o treinador é que sabe» comigo não cola minimamente, em geral. 
Dito isto, em defesa do treinador - seja ele quem fôr - acho que muito leigo por vezes se precipita, em particular em assuntos em que o treinador tem sem qualquer dúvida mais e melhores dados (quando por ex se pede a titularidade para um jogador X que praticamente nunca jogou - e portanto sem se saber o que é que ele mostra ou deixa de mostrar nos treinos). E mesmo em áreas em que a crítica é mais legítima, o mais normal é que o treinador esteja certo mais vezes do que os críticos, ainda que às vezes estes tenham razão.

NB: este artigo não foi escrito com Lopetegui e os seus críticos em mente, sendo intemporal e aplicável a qualquer treinador e os seus defensores ou críticos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Condicionar com cartões

O JOGO
No final do AS Monaco x SL Benfica, Jorge Jesus quis juntar-se ao choradinho sportinguista em relação às arbitragens (ai se o ridículo matasse…), procurando, dessa forma, justificar o empate da sua equipa no Principado.

O árbitro condicionou muito a equipa do Benfica nos primeiros 20 minutos, com dois cartões amarelos. Faz muita confusão que Portugal esteja à frente da Itália e da França no ranking. Já ontem, na Alemanha [Schalke 04 x Sporting], foi igual, fizeram o mesmo ao Sporting. Isto é político. Nota-se nos primeiros 20 minutos que o árbitro penaliza as equipas portuguesas, para depois poderem jogar com essa situação

Mesmo para os padrões do “mestre da táctica”, estas afirmações são tão ridículas (e falsas!), que nem sei o que dizer.

Para começar, os três cartões amarelos mostrados pelo árbitro polaco a jogadores do SL Benfica – Eliseu (8’), Lisandro López (26’), Salvio (36’) – foram todos bem mostrados.

Em segundo lugar, o cartão vermelho direto mostrado a Lisandro López (75’) é indiscutível mas, mesmo que o árbitro fosse condescendente e punisse a entrada às pernas do Moutinho apenas com cartão amarelo, seria o 2º cartão amarelo e as consequências práticas eram as mesmas.

Sendo estes os FACTOS, onde é que aqui houve “política”?

Agora, Jorge Jesus sabe bem do que fala, quando refere que a mostragem de cartões amarelos condiciona (muito) determinadas equipas.

Amarelos cirúrgicos (época 2011/2012)
143 minutos (época 2012/2013)

E, se olharmos para este início de época no campeonato português, o que vemos?

Boavista x SL Benfica (2ª Jornada)
Bobô (Boavista) – Cartão amarelo aos 56’; 2º cartão amarelo (e consequente expulsão) aos 86’.

SL Benfica x Moreirense (5ª Jornada)
Marcelo Oliveira (Moreirense) – Cartão amarelo aos 37’; 2º cartão amarelo (e consequente expulsão) aos 57’.

Estoril x SL Benfica (6ª Jornada)
Matías Cabrera (Estoril) – Cartão amarelo aos 40’; 2º cartão amarelo (e consequente expulsão) aos 66’.


E quanto a jogadores do SL Benfica?

De facto, não é normal os árbitros portugueses “condicionarem” os jogadores do SLB com cartões amarelos…
E muito menos com cartões vermelhos!

Claro que quem está habituado a “arbitragens simpáticas”, estranha (e muito!) quando, por essa Europa fora, encontra árbitros que não são subservientes e que não estão condicionados por histórias de “apitos”, ou por avaliações de observadores escolhidos a dedo.

Em vez de andar a inventar desculpas, ainda por cima com argumentos falsos, era muito mais honesto Jorge Jesus assumir, de uma vez por todas, que prefere disputar a fase a eliminar da Liga Europa, do que os Oitavos-final da Liga dos Campeões.


Até porque, se há coisa que os últimos anos demonstraram, é que o Benfica de Jorge Jesus, apesar dos muitos milhões investidos por Luís Filipe Vieira, sente-se mais confortável em confrontos com equipas de “classe média”, do que a tentar disputar eliminatórias com as grandes equipas europeias.

O Vitaliy russo e o Duarte lisboeta

Ao minuto 90’+2 do recente Schalke 04 x Sporting, numa altura em que o jogo estava empatado (3-3), o árbitro assinalou um penalty inexistente a favor da equipa alemã, por pretensa mão do defesa sportinguista Jonathan Silva (a bola bateu-lhe na cara).

O Schalke ganhou o jogo por 4-3 e, como seria de esperar, entre os calimeros caiu o Carmo e a Trindade, a começar pelo treinador que diz que não fala de arbitragens, mas que, pelos vistos, protesta (e de que maneira!) com os árbitros, mesmo que seja preciso comunicar por gestos…

Marco Silva e os árbitros russos, no final do Schalke 04 x Sporting

Como seria de esperar, sempre que o prejudicado é um dos clubes da 2ª circular, não foi só o universo sportinguista a decretar o “luto desportivo”. A comunicação social lisboeta não ficou atrás e, qual Auto de Fé, “crucificou” a equipa de arbitragem russa na praça pública.

A BOLA, 22-10-2014

Entretanto, com o clima de contestação a crescer hora a hora, soube-se ontem (através do Schalke 04) que os leões terão solicitado à UEFA a repetição do jogo ou, em alternativa, o pagamento do prémio referente ao empate (500 mil euros).

Tudo isto faz-me sorrir, até porque lembro-me, perfeitamente, de um erro de arbitragem muito parecido, que também ocorreu nos instantes finais de um jogo disputado na Amadora, em 26 de Setembro de 2007, para a 3ª Eliminatória da Taça da Liga 2007/2008.

Quando esse Estrela Amadora x SL Benfica entrou no período de descontos, a equipa encarnada, na altura treinada por José António Camacho, estava a perder por 0-1 e na iminência de ser eliminada.

Contudo, tal como em Gelsenkirchen na passada terça-feira, ao minuto 90’+2, o árbitro, um tal de Duarte Gomes (conhecem?), assinalou um penalty fantasma a favor da sua equipa do coração, por pretensa mão de Maurício, num lance em que o defesa da equipa da Amadora cortou a bola com… a cabeça.

Evidentemente, quer o treinador, quer os jogadores do SL Benfica não se importaram com esse clamoroso erro da equipa de arbitragem e, chamado à conversão do penalty, o norte-americano Freddy Adu não se fez rogado, marcou o golo que deu o empate (1-1) e levou a decisão da eliminatória para a marcação de grandes penalidades (tendo o Benfica eliminado o Estrela, por 5-4 nas gp).

No dia seguinte (27-09-2007), o árbitro Duarte Gomes, em declarações ao site da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, veio a público fazer o mea culpa, pelo penalty assinalado a favor do SL Benfica, em tempo de descontos, e que permitiu aos encarnados seguir em frente na Taça da Liga:

“Perante as evidências que resultam do visionamento das imagens televisivas reconheço que houve um claro erro de arbitragem”

“Pelo momento do jogo em que aconteceu e pelas características da competição, [a decisão] teve consequências que fazem com que pese ainda mais sobre a equipa de arbitragem”

“… é tempo de todos os intervenientes do jogo perceberem que os árbitros não são seres infalíveis e estão em campo durante 90 minutos a tomar dezenas de decisões em fracções de segundo”


Sabem o que é que aconteceu ao árbitro Duarte Gomes?
Nada!
Ninguém, desde jornalistas a dirigentes da arbitragem, passando por jogadores e treinadores o “crucificou” publicamente (até houve quem o elogiasse, por ter tido a coragem de assumir o erro da equipa de arbitragem).
E, após este caso, o senhor Duarte Gomes continuou tranquilamente a roub…, perdão, a arbitrar como muito bem sabe nos relvados portugueses e, claro, manteve o estatuto de árbitro internacional e as respectivas mordomias.



Por isso, tenho um recado para todos, principalmente jornalistas, que estão indignados com estes árbitros russos: deixem de ser hipócritas!


P.S. Li, algures, um idiota a explicar o penalty mal assinalado na Alemanha, como sendo consequência da interferência da máfia russa. Seguindo o mesmo raciocínio, em Portugal, os roub..., perdão, os erros clamorosos de arbitragem serão consequência da máfia do Seixal?

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A história que se repete


Estádio José de Alvalade, 7 Maio 1995, Campeonato Nacional da Primeira Divisão

SCP: Costinha; Paulo Torres, Budimir Vujačić, Nélson, Oceano; Carlos Xavier, Krasimir Balakov, Luís Figo (futuro melhor jogador do Mundo); Andrzej Juskowiak, Ivaylo Yordanov, Emmanuel Amuneke

Suplentes: Zoran Lemajić, António Pacheco, Dani, Filipe Ramos, Chiquinho Conde

Treinador: ex-seleccionador nacional das camadas jovens, com grande sucesso, vulgo Carlos Queiroz

FCP: Vítor Baía, João Pinto (em final de carreira), Aloísio, Carlos Secretário, Jorge Costa (imberbe), Rui Jorge (imberbe); Vasili Kulkov, Rui Barros, Emerson, Paulinho Santos (imberbe); Domingos

Suplentes: Cândido, Ljubinko Drulović, Russell Latapy, Folha, Sergei Yuran

Treinador: Bobby Robson


No jogo que decidia o campeão da época 1994/95, Sporting e FC Porto defrontaram-se no Estádio José de Alvalade. Pese embora seguisse no segundo lugar da tabela, atrás dos azuis-e-brancos, o Sporting era o favorito à vitória no jogo: jogava no seu estádio, e contava com um plantel mais rico, onde pontificavam Figo e Balakov, entre outros. Do outro lado, o FC Porto, com muito menos recursos - uns meses antes dera-se o famoso caso da penhora do Estádio das Antas - e um plantel mais limitado, contando até com jogadores emprestados, propunha-se a não "deixar voar o pássaro" que tinha na mão. Como ingrediente extra, havia o facto de Bobby Robson, despedido do comando técnico do Sporting no decorrer da época anterior, orientar agora a equipa rival.

Apesar de claro underdog e de todas as adversidades que enfrentava, o Porto "fez das tripas coração", e venceu mesmo os riquinhos do Sporting - 0-1, golo de Domingos, de grande penalidade - que nem do árbitro se puderam queixar. Podíamos não ter individualidades de igual valia, mas tínhamos espírito e uma equipa de verdade (e mais jogadores portugueses no 11 inicial!).

Há (quase) 20 anos foi assim, uma noite inesquecível, mágica, marcante. Foi um daqueles jogos (e campeonatos) "contra tudo e contra todos", em que até com a morte de um jogador, Rui Filipe, sofremos. O Porto já goleou e venceu campeonatos com distâncias de 10 e mais pontos, mas poucos ou nenhuns se comparam a aquilo que nos foi dado a sentir no final daquele jogo.

Nunca tinha pensado o que teria sido estar do outro lado, viver uma derrota descoroçoante, no próprio estádio, contra uma equipa que a esmagadora maioria dos adeptos considerava inferior.

Salvo as devidas diferenças no que respeita à prova, e a alguns dos intervenientes - só para citar alguns casos: o Marco Silva não é certamente o Bobby Robson (embora pareça também ser capaz de fazer ovos sem omeletes), e o Rui Patrício não é o Vítor Baía, nem pouco mais ou menos - no último sábado, fiquei a conhecer essa sensação. É para mim impossível não traçar um paralelo entre os dois jogos, não inverter as posições, e muito menos não ver em Lopetegui um hipotético clone do Queiroz - um indivíduo pode ser o maior do Mundo no futebol jovem, e não dar uma para a caixa no futebol "a sério". Perder com o Sporting, em casa, não é uma coisa do outro mundo, só que não me parece que esta tenha sido apenas uma derrota mas porventura um sinal de que (se) não aprendemos com os erros (dos outros*), estamos condenados a repeti-los.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

As contas da SAD - 2013/14


Já sairam as contas da SAD para o ano fiscal 2013/14. Podem encontrar o R&C consolidado aqui.


Primeiras impressões, muito por alto...

Os resultados são obviamente preocupantes, e não me refiro só ao prejuízo de 41M€ em si. Se excluirmos o que encaixamos em mais-valias de jogadores (que não só é muito variável como tanto pode cair dentro de um ano fiscal ou do seguinte, conforme uma grande venda é feita antes ou depois de 1 de Julho), teríamos feito um prejuízo de 64M€, ao nível do recorde negativo de 65M€ (na época 11/12).

O mesmo indicador andou durante muitos anos pelos -30M€ ou perto disso até há 3 anos atrás. Ou seja, nos últimos 3 anos subiu para o dobro, temos andado muitíssimo mais dependentes de mais-valias para equilibrar o barco do que nos anos anteriores - e isto já depois de termos visto as principais receitas «operacionais» subirem bastante nestes últimos anos (nomeadamente receitas de TV e receitas da UEFA - que tem vindo a pagar prémios cada vez mais altos pela mesma performance, como por ex o prémio de presença na fase de grupos).

Ora ainda por cima torna-se cada vez mais difícil fazer grandes mais-valias, já que:

1) temos gasto mais em passes, o que leva em média a mais-valias mais baixas (vamos aliás ver no próximo R&C trimestral quanto foram as mais-valias na venda do Mangala...muito menos do que muita gente espera, nem 1/3 vai cobrir do «buraco»)

2) Temos tido em média menos % dos passes do que no passado

3) Com o Financial Fair Play, torna-se mais difícil arranjar várias grandes vendas já que muitos dos potenciais compradores têm que apertar o cinto (já se começou a notar isso no último defeso)

Ora isto já é bater no ceguinho, mas temos mesmo que arrepiar caminho. Infelizmente no R&C não vejo qualquer sinal de poupanças, e houve mesmo alguns custos que aumentaram. As únicas poupanças de monta (num montante de cerca de 6M€) que lá aparecem são... não ter pago aos jogadores e treinador os bónus de performance por ganhar o campeonato e passar a fase de grupos da LC (curiosamente, já os administradores até ganharam mais do que na época anterior). Poupanças dessas dispensamos nós, muito obrigado...

PS - outros artigos se seguirão sobre este tema, mais aprofundados

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Clique emocional

Golo de Quaresma no FC Porto x Athletic

Aos 45’, em cima do intervalo, o “patinho feio” de grande parte dos adeptos portistas (Héctor Herrera), após uma jogada de excelente entendimento com o “maestro” (Juan Quintero), colocou o FC Porto em vantagem no marcador (1-0).

Durante o intervalo, Ernesto Valverde foi ao banco buscar dois “trunfos” que tinha guardado – Etxebarria e Muniain – e, no início da 2ª parte, viu-se uma equipa basca diferente, para melhor, e um FC Porto pior.

Aos 58’, na sequência de mais um passe lateral no meio-campo portista, interceptado por um jogador adversário (desta vez, o autor do “erro individual”, que esteve na origem de um golo da equipa adversária, foi Herrera), o Athletic chegou à igualdade (1-1).

Se a equipa portista já não denotava muita segurança, a partir daí tremeu bastante e, com a “ajuda” dos assobios vindos das bancadas, a bola parecia que queimava nas chuteiras dos jogadores que envergavam a camisola azul-e-branca.

Lopetegui foi rápido a reagir e, cinco minutos depois, reequilibrou a equipa com uma substituição eficaz, mas que desagradou a muitos adeptos: tirou Quintero (excelente com a bola nos pés, mas é menos um quando é preciso defender e correr atrás da bola) e meteu o “puto” Rúben Neves.

Mas o momento do jogo, que funcionou como um clique emocional (no relvado e nas bancadas), foi ao minuto 70.

Quaresma? Saiu com muita energia do banco e fez um golo importante para a equipa e para ele
Julen Lopetegui

Cinco minutos após ter entrado em campo, debaixo de uma “chuva de aplausos”, Quaresma, cheio de confiança (e com a preciosa colaboração de Gorka Iraizoz…), marcou o golo que deu a vitória (2-1) à equipa de Lopetegui.

Para mim, houve dois momentos fundamentais no jogo de hoje:
- o momento da Razão: a entrada de Rúben Neves.
- o momento da Emoção: a entrada de Quaresma.

Duas substituições (com a entrada de dois jogadores portugueses) que correram bem, muito bem. Mérito de Lopetegui, que soube ler o jogo e identificar o que, naquela altura, a equipa precisava.

O que passa aos Leões de Bilbao?

Quis a ironia do destino que o FC Porto fosse jogar hoje no Dragão - no dia em que José Maria Pedroto celebraria o seu aniversário - com aquele que foi o seu primeiro rival das "Noites Europeias". O Bilbao que participou naquela edição da Taça dos Campeões Europeus chegou via o segundo lugar obtido na liga espanhola. Como o campeão europeu e espanhol era o mesmo - o Real Madrid - a UEFA abriu uma vaga ao conjunto basco que eliminou o FC Porto antes de cair frente ao Manchester United dos Busby Babes numa das primeiras grandes batalhas europeias da história a duas mãos. Naquela época havia um critério geográfico para colocar frente a frente os rivais na primeira pré-eliminatória e não havia muita volta a dar. O FC Porto caiu de pé contra uma equipa que era claramente superior. Muitos passou desde esse momento. O Bilbao dessa altura era um "Grande" por direito próprio em Espanha e até aos anos cinquenta tinha mais titulos que Real ou Atlético de Madrid. Mas as provas europeias nunca foram o seu forte - apenas duas finais, perdidas, frente à Juventus e Atlético de Madrid, sempre na UEFA/Europa League. Ao contrário de nós como todos sabemos, hoje "Grandes" sim, mas da Europa.



No entanto havia quem pensasse que este projecto desportivo do Bilbao tinha tudo para dar uma boa imagem na Champions deste ano. O técnico Ernesto Valverde aproveitou o trabalho desenvolvido por Marcelo Bielsa e removeu a componente do conflito emocional habitual no treinador argentino. O ano passado montou uma equipa extremamente sólida na defesa e eficaz no ataque. Mesmo sem Javi Martinez e Fernando Llorente - peças chave do plano bielseano - conquistou o quarto lugar com autoridade. Nunca ameaçou realmente o trio da frente (era impossível) mas manteve sempre debaixo de olho a Villareal, Valencia e Sevilla. Dessa equipa para este ano houve apenas uma mudança substancial, a saida de Ander Herrera para o Manchester United. Pela cláusula. O Bilbao não é um clube vendedor e quem quer que queira um jogador seu sabe o que tem de fazer. Ou espera pelo fim do contrato ou bate a cláusula. Vantagens de quem vive da filosofia exclusivista de jogadores de ascendência basca (inicialmente eram apenas vizcainos mas isso foi mudando com os anos) e não precisa de ir ao mercado contratar jogadores salvo aqueles que já tem debaixo de olho desde os anos da formação. Mantendo treinador e o grosso do plantel muitas eram as expectativas para este ano. A forma exemplar como a equipa basca eliminou o Napoli - nunca pêra doce - com uma exibição personalizada no San Paolo e uma noite europeia das antigas no novo San Mamés - deixavam claro que as percepções iniciais pareciam confirmar-se. Eu disse na altura do sorteio que o Bilbao era o grande candidato a ganhar o grupo e que entre nós e o Shaktar se discutiria a segunda vaga. Hoje é dificil dizer o mesmo até porque à fraquissima performance europeia (empate com o Shaktar, derrota com o BATE) alia-se uma péssima participação na liga espanhola.

Em termos tácticos nada mudou do Bilbao do ano passado para este.
Em lugar de Herrera o meio-campo que Valverde coloca sobre o terreno de jogo não varia demasiado da variante que já utilizava no ano passado. A Iturraspe - um belissimo futebolista - unem-se Oscar de Marcos, Markel Susaeta e Iker Munian na linha de ataque. O seu acompanhante no meio-campo pode variar entre o "Pirlo basco", Beñat, ou uma abordagem mais fisica que oferece Mikel Rico. O primeiro além de pensar muito bem o jogo é um maestro das bolas paradas mas a capacidade fisica do segundo convida a pensar que pode ser mais útil a Valverde logo à noite. No ataque o golo é coisa de dois, o temivel Ander Aduritz e o oportunista Ibai Gomez, dois jogadores que precisam de pouco espaço e tempo para marcar. Não é estranho que ocasionalmente joguem os dois numa especie de 4-4-2, em jogos em casa, mas esse é um cenário dificil quando a coisa está tão apertada e o encontro é longe de San Mamés.
É uma equipa vertical, que sabe controlar bem os ritmos de jogo e domina à perfeição as rápidas transições entre um defesa que é uma pedra como stoper e um maestro na condução do esférico como Laporte, e a frente de ataque. No entanto esta temporada revelou também uma equipa que é bastante frágil a defender e que lhe custa criar oportunidades de golo. Apesar de todo o potencial ofensivo com que conta - o mesmo da época passada - torna-se cada vez mais complicado ao Bilbao criar verdadeiro perigo na área contrária. O meio-campo tem perdido mais bolas do habitual, deixando espaços atrás que qualquer equipa rápida e organizada saberá aproveitar. E Gorka Iraizoz, um guarda-redes de luas que no ano passado salvou a equipa em muitos jogos, não tem estado no seu melhor.



O que se passa afinal aos Leones de Bilbao?
Há quem aponte este péssimo arranque de época a um esforço muito grande para ter toda a equipa a 100% em Agosto, para a prévia, que depois se está a fazer pagar neste mês e meio. Fisicamente os jogadores não são os mesmos e esse cenário em Espanha não é novo. Já aconteceu com a Real Sociedade, o Villareal, o Celta de Vigo ou o Bétis. Equipas que surpreendem ao classificarem-se no quarto lugar da liga, apostam tudo por entrar na fase de grupos de Champions mas depois são incapazes de viver com a exigência de estar fisica e mentalmente a 100% nas duas competições. A Celta e Villareal esse desnorte custou inclusive a despromoção e a Real Sociedade que tanto prometia no ano passado terminou a época longe de repetir façanha. O Bilbao actualmente está na mesma linha. É dos últimos na liga espanhola - também é certo que já jogou contra Barcelona e Real Madrid - com uma vitória e apenas cinco golos marcados em oito jogos. O treinador Ernesto Valverde já foi claro em indicar que a máxima prioridade do clube é a liga (o Bilbao é um dos três clubes em Espanha que nunca foi despromovido) e depois deste noite, salvo um resultado surpreendente no Dragão, selô-à mais ainda. De favoritos a seguir em frente agora há quem não tenha muitas duvidas que serão últimos de grupo. E em Bilbao pouco se importam. A situação vivida na liga parece de tal forma dramática - na última década o Bilbao já esteve um par de vezes perto do abismo - que ninguém criticará a Valverde por abrandar o ritmo na competição que todos queriam jogar. Esperem hoje um Bilbao aguerrido sim, de orgulho ferido, mas com a cabeça e o corpo noutro lado. Depois da derrota contra o Sporting os bascos são, provavelmente, os leões perfeitos para caçar!

Seleccionador Lopetegui

A principal critica que teci á escolha de Julen Lopetegui como treinador do FC Porto deveu-se á sua crónica falta de experiência. Imediatamente ao resgate do "Lopes" muitos vieram lembrar que nem Mourinho nem Villas-Boas (nem sequer Artur Jorge se quiserem) tinham demasiado experiência. É uma falácia (os três trabalharam directamente durante anos com os melhores treinadores da sua época) e mais ainda se temos em conta que a experiência de Lopetegui - salvo uma desastrosa passagem pelo Rayo Vallecano na 2º Divisão B (ou seja, ao nível do Coimbrões) e do Real Madrid Castilla - se centrava exclusivamente no mundo das selecções. 

É verdade que há grandes treinadores que funcionaram tanto ao leme de clubes como de combinados nacionais. Casos como os de Rinus Michels, Alf Ramsey, Otto Glória, Sven-Goren Eriksson, Valery Lobanovsky, del Bosque ou Telé Santana são bons exemplos. Mas o facto é que, na maioria dos casos, um treinador de clubes raramente se transforma num grande seleccionador e vice-versa. O desporto é o mesmo mas os mundos são totalmente diferentes. Fabio Capello e Arrigo Sacchi venceram tudo o que havia para vencer com os seus clubes mas foram vulgarizados internacionalmente como seleccionadores. O mesmo sucedeu com Alex Ferguson, Artur Jorge ou Don Revie. Inversamente o cenário também se repete. Desde que assumiu em 2001 a selecção do Brasil que o Scolari treinador de clubes se transformou numa farsa. Klinsmann foi incapaz de repetir o modelo que aplicou á Alemanha no Bayern. Para não falar nos Vogts, Camacho, van Basten e companhia. No caso do futebol de formação o exemplo mais gritante foi o de Carlos Queiroz, ganhador indiscutível com os putos da selecção das Quinas e um desastre completo ao leme do Sporting e do Real Madrid. Não quer necessariamente dizer que um treinador é melhor ou pior. Simplesmente que os mundos onde vivem são de tal forma diferentes que é difícil conseguir adaptar-se a uma nova realidade. Isso é o que está a passar com Julen Lopetegui.



Quando questionamos as dificuldades que tem tido Lopetegui em impor a sua visão esquece-mo-nos de que essa visão vem de um homem que está habituado a conceitos radicalmente diferentes. Como seleccionador espanhol, Lopetegui tinha muitas vantagens que o actual posto não oferece. Podia escolher os melhores, variar constantemente as suas escolhas e escolher para cada jogo (eliminatória, fase grupos, amigável, jogo importante ou não) os futebolistas que achava certos. Não tinha forçosamente de construir um onze base porque o facto da maioria dos jogos se disputarem com intervalos de meses deixava demasiadas variantes na mesa para assegurar que o seu onze tipo estaria totalmente disponível de Fevereiro para Junho. Era também um trabalho que não exigia demasiado treino físico e táctico. Os jogadores já vinham fisicamente preparados dos seus clubes (muitos, aliás, baixavam a carga física nessa quinzena) e a nível táctico traziam também a lição estudada do trabalho quotidiano. Lopetegui podia inclusive dar-se ao luxo de escolher aqueles que já falavam o seu idioma em vez de trabalhar ele jogadores que estivessem habituados a outro estilo de jogo durante a época. Paralelamente, Lopetegui, como qualquer seleccionador, não era um gestor de egos de balneário. Convocava quem queria e como queria (muitas vezes uma eleição pactada com os clubes e o seleccionador principal) e não tinha de prometer nada a ninguém nem gerir expectativas frustradas. A sua estação era de passagem, não o destino final.

Essa experiência acumulada foi-lhe extremamente útil para exercer o cargo de seleccionador mas nada disso vale no trabalho diário de um plantel que aspira a tudo, que está rodeado de egos, de jogadores que querem sempre mais protagonismo e onde as aulas tácticas e a preparação física são a base sob a qual se constrói tudo. Lopetegui carece de conhecimentos tácticos suficientes para por em jogo aquilo que ele quer ver que a sua equipa jogue. Antes não necessitava de dominar esses conceitos a um nível de expert porque muitos dos seus jogadores vinham de ter aulas diárias com os Guardiola, Simeone, Mourinhos, Benitez, Pellegrinis e companhia. Eles faziam o trabalho táctico por ele. Também não necessitava possuir os importantes conhecimentos de preparação física que definem o sucesso ou fracasso de muitas temporadas. A Queiroz isso passou-lhe nas suas duas etapas em Alvalade e Madrid. Os jogadores, fisicamente, deram o berro cedo demais porque na pré-temporada o treinador portou-se como seleccionador e não fez o que lhe competia que era preparar os picos de forma durante uma larga e dura época. 

Estes problemas levam-nos á situação actual. 
A incapacidade de repetir um onze não é necessariamente má. O problema é o motivo porque se produz. Lopetegui não escolhe um onze base - fundamental num projecto desportivo que quer começar e que vem de um ano com o mesmo problema - com os respectivos ajustes que seriam necessários porque não lhe foi necessário fazê-lo. Ele mesmo não se esconde e diz que escolhe os melhores para cada jogo - como faz um seleccionador - esquecendo-se de que ás vezes não devem estar em campo forçosamente os melhores mas os mais aptos, os mais preparados e os mais entrosados. A ausência de um triângulo estável entre a dupla de centrais e a posição 6 - que nenhum outro treinador no Mundo está preparado para abdicar - é um problema grave e parte desse principio errado que o treinador do FCP teima em insistir quando se defende, dizendo que os problemas individuais escondem um grande trabalho colectivo. Não é certo. O FC Porto perdeu com o Sporting por culpa própria - sem dúvida - mas também porque nunca foi uma equipa e porque o tridente do meio-campo dos de Alvalade engoliu o nosso meio-campo. A diferença? Entre a rotatividade e o desnorte táctico estava em frente um conjunto de jogadores que têm estado a somar quase todos os minutos da época, incluindo internacionais. 

Lopetegui tem na rotatividade o espelho do seu perfil como treinador. Um homem que está diariamente em contacto com o mais diversificado plantel que o FC Porto tem em muitos anos - piores figuras individuais do que quando havia um Moutinho, James, Hulk, Falcao, Lucho, Lisandro ou o primeiro Quaresma mas muito mais opções - continua a distribuir minutos entre os jogadores por uma questão de desnorte absoluto táctico e também para ganhar o balneário. Se todos jogam algo, nenhum se queixa, deve pensar. Isso vale nas selecções mas não nos clubes onde é importante que o treinador tenha a coragem de dizer que há onze que jogam sempre que estiverem bem, que há um grupo de jogadores que é a primeira opção e um terceiro lote que está no plantel para ocupar vagas e que quando chegar a sua hora deve demonstrar o que vale. Isso não tem sucedido. A equipa já trocou de todas as posições possíveis e raramente se viram três jogos seguidos com os mesmos protagonistas em acção. Oliver é uma gema de futuro, Brahimi um jogador fabuloso e Jackson um avançado para nos lembrar-mos durante muitos anos mas quantos jogos consecutivos fizeram no trio de ataque?



Creio que há qualidade suficiente no plantel para conseguir os principais objectivos do ano - ganhar o Campeonato e garantir o apuramento na fase de grupos da Champions League - mas contra um Benfica que mantém um treinador estável como nós nunca fomos capazes de lograr é preciso acabar com as experiências de seleccionador e começar a montar uma equipa com os seus conceitos tácticos bem definidos, os seus níveis físicos devidamente preparados e o seu espírito de união claramente tipificado. Todos serão importantes, de isso não há dúvida, mas Lopetegui tem de deixar querer agradar a gregos e troianos, de ser seleccionador e dar um passo em frente dizendo, este é o meu onze, este é o meu modelo e é com estes que vamos até ao fim. Sob o risco de, com tanta rotação, acabarmos a temporada todos zonzos e sem saber afinal se o Andrés Fernandez é avançado e o Adrián é defesa!