segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Falta!

Na semana passada, após as primeiras cinco jornadas do campeonato, o Record publicou uma infografia com uma tabela das faltas cometidas e sofridas por cada uma das equipas.

Olhando para esta tabela, havia algumas curiosidades. Por exemplo, os “três grandes” estavam entre as equipas que cometiam mais faltas (15,8 a 16,6 faltas por jogo).

Mas mais interessante é analisar as faltas sofridas.
Só havia uma equipa com menos faltas sofridas que o FC Porto (o Vitória Setúbal).

Ora, sendo o FC Porto uma equipa de ataque e com elevadas percentagens de posse de bola, não é estranho que os árbitros assinalem tão poucas faltas a favor da equipa portista?

domingo, 29 de setembro de 2013

Museu Futebol Clube do Porto



Estas fotos foram por mim seleccionadas de entre as dezenas existentes no 'Fotos da Curva', onde pode ser visualizada uma extensa reportagem fotográfica da inauguração do Museu do Futebol Clube do Porto.

Outras galerias de fotos da inauguração do Museu do FC Porto:

Conforme foi divulgado, há partes do museu que ainda não estão concluídas e a abertura ao publico será apenas no dia 26 de Outubro.

Trajecto dentro do museu (fonte: infografia JN)

As noites europeias do Miguel

sábado, 28 de setembro de 2013

25 minutos à Porto

Jackson cercado por jogadores do V. Guimarães

Cerca de 25 minutos, foi quanto durou a equipa do FC Porto a um bom nível no jogo de ontem. Depois a intensidade portista foi baixando, os passes magistrais de Quintero foram escasseando e o Vitoria Guimarães, sem nunca ter dominado, passou a controlar o jogo nos moldes e ritmo que pretendia.

Quando a equipa saiu para o intervalo, os sinais de que algo não estava a correr bem já eram evidentes, mas Paulo Fonseca regressou do balneário com o mesmo onze.
Contra equipas muito fechadas (e o V. Guimarães estava a jogar muito recuado, apenas com o ponta-de-lança adiantado), não seria de experimentar uma dupla de avançados, colocando o possante Ghilas ao lado de Jackson?

Ao contrario do que seria de esperar, o FC Porto não entrou na 2ª parte com a mesma intensidade com que tinha entrado na 1ª parte. Estavam cansados?
E mesmo depois do golo (na sequência de um penalty caído do céu), não se viram melhorias. A equipa vimaranense, sem nada a perder, subiu no terreno e pressionou a equipa portista, que se revelou completamente incapaz de aproveitar os espaços que surgiram nas costas dos defesas que ontem jogaram de preto (estranhamente, quem jogou de branco foi o FC Porto...).

FC Porto x V. Guimarães, onze inicial

Oportunidades de golo do FC Porto na 2ª parte?
Com boa vontade, lembro-me de um remate cruzado de Josué, de fora da área.
Nem oportunidades, nem posse de bola a controlar o jogo longe da baliza do Helton. Na 2ª parte, não houve uma jogada com principio, meio e fim digna desse nome. Alias, eu sou capaz de arriscar em dizer que não houve uma jogada com mais de cinco passes seguidos.
Foi tudo muito fraco (as substituições pioraram o desempenho da equipa) e, nos últimos minutos, ainda tivemos de sofrer a pressão do V. Guimarães, que conquistou vários cantos e livres perto da área.

No computo geral, foi uma exibição sofrível, com uma 2ª parte fraquissima, mas ouvindo as declarações de Paulo Fonseca no final do jogo, o treinador do FC Porto parece estar satisfeito.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

De capuchinho vermelho a lobo mau

Caro leitor, há uma semana atrás você conhecia o senhor Nuno Cárcomo Lobo?

Como é que, de repente, este quase desconhecido (talvez 0,01% das pessoas que acompanham o fenómeno desportivo soubessem quem ele era) passou a estrela mediática tendo, em poucos dias, obtido um enorme espaço em jornais, bem como, um tempo de antena nas rádios e nas televisões de fazer inveja a políticos em campanha eleitoral?

Foi fácil, bastou a este “capuchinho vermelho” transformar-se num “lobo mau” e, depois de comportamentos provocatórios no camarote presidencial do estádio da Amoreira (que, inclusivamente, mereceram a crítica do seu antecessor no cargo), fazer-se de vítima e atacar violentamente (violência verbal, entenda-se) o presidente e outro dirigente do FC Porto.

Evidentemente, vivendo nós num país de gente amargurada, onde os sucessos dos dragões provocam uma enorme azia, quem escolhe o FC Porto como alvo é sempre bem visto. É uma estratégia por demais conhecida, que outros mais espertos que o Nuninho já seguiram no passado (Santana Lopes, Vale e Azevedo, Rui Rio, etc.) mas, apesar de gasta, continua a dar resultado.

Até aqui nada de novo na lisboalândia. Mas, sem que tenha ficado surpreendido, há duas coisas que não deixaram de me causar alguma impressão.

Conforme se pôde ler no Facebook de Nuno Cárcomo Lobo, em 21 de Fevereiro de 2011, após o final de um jogo entre leões e águias, o Sporting (equipa e clube) foi visado, e de que maneira, por este “capuchinho vermelho”:

Terminou o jogo-treino para o Estugarda… OH Jesus, podias ter levado os juniores a Alvalade ou então jogares com 8 jogadores. Bastava… Tenho mais respeito pelo Portimonense ou pela Naval do que pelo clube do Bairro de Alvalade!!! CARREGA BENFICA!!!

Agora... Calma e concentração, rapazes!!! Agora teremos pela frente equipas de futebol: Estugarda e Marítimo!!! De ballet como a de hoje já não apanharemos muitas mais!!! FORÇA CAMPEÃO!

Eu não sou sportinguista (cruzes, credo!) mas, tendo estas declarações sido profusamente divulgadas nos últimos dias (entretanto estes posts já foram apagados), gostava de saber o que é que os sócios do Sporting pensam disto.
Quanto a Bruno de Carvalho, que afirmou não admitir faltas de respeito institucionais de ninguém, já se percebeu que a coerência não é o seu forte e continua a agir como se o atual presidente da Associação de Futebol de Lisboa nada tivesse dito de ofensivo para o clube a que preside.
Aliás, prevejo que ainda iremos assistir a um “casamento” entre Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira, apadrinhado pelo homem que classifica o Sporting como o “clube do Bairro de Alvalade” …


Mas pior que este come e cala leonino é o comportamento de dois dos principais dirigentes do futebol português.
Tendo Nuno Lobo proferido (escrito) afirmações reveladoras de um racismo nojento, como é que os presidentes da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes aceitaram os convites e estiveram presentes no jantar do 103.º aniversário da Associação de Futebol de Lisboa, que se realizou na passada segunda-feira?


A partir de agora, quero ver com que cara é que Fernando Gomes (presidente da FPF) e Mário Figueiredo (presidente da Liga) irão criticar e combater declarações, ou manifestações racistas, que ocorram nos campos de futebol. É que, apesar das obrigações institucionais, a hipocrisia tem limites.

E depois, ainda há quem se admire que Adelino Caldeira e Pinto da Costa os deixe ficar de mão estendida…


«UEFA has reinforced its stand against racism and, together with the players' body FIFPro, is now actively supporting campaigns attempting to banish this evil from football and society.
European football's governing body has forged a close partnership with the Football Against Racism in Europe (FARE) network, which comprises groups and bodies working against intolerance and discrimination across the continent.»
Fonte: uefa.com

Nota: Os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Reavivando o espírito Calabote

De vez em quando os portistas são “presenteados” com arbitragens vergonhosas que fazem lembrar os tempos desse monstro da arbitragem que dá pelo nome de Inocêncio Calabote. A última dessas arbitragens escandalosas tinha ocorrido em Barcelos, em 28/01/2012, quando Bruno Paixão apitou o Gil Vicente x FC Porto naquela que foi a última derrota do FC Porto para jogos na Liga. O Gil venceu por 2-1 com a preciosa ajuda da paixão de Bruno.

Nesse jogo de Janeiro de 2012 houve a registar (i) que o livre para o primeiro golo do Gil nasceu de uma falta inexistente, (ii) que Defour foi atingido com violência no nariz dentro da grande área gilista e que não foi marcado penalty contra os da casa, (iii) que o centro para a área portista onde Otamendi deu mão na bola (e nesse caso foi marcado penalty!) foi feito por um jogador em claro fora-de-jogo, e (iv) que o avançado Kléber foi travado pelo guarda-redes do Gil dentro da área, o que seria mais um penalty e que não foi marcado. Foram 4 lances críticos com influência directa no resultado.

Ao longo dos últimos quinze anos têm aparecido árbitros que teimam em reavivar o espírito de Calabote, com arbitragens tendenciosas e com erros (muito) grosseiros. A lista é longa e das suas performances temos dado nota no Reflexão Portista:


Agora temos mais um artista para fazer parte do quadro de honra do SLB: Rui Silva

No Domingo passado, na deslocação à Amoreira para jogar com o Estoril, em jogo da 5ª jornada da Liga, o FC Porto voltou a ser alvo de uma arbitragem habilidosa e tendenciosa, desta vez por parte desse Rui Silva, um indivíduo que já foi suspenso pela FPF por 20 meses no âmbito do processo Apito Dourado.


Desde cedo que o árbitro condicionou o comportamento e a exibição dos jogadores do FC Porto marcando faltas sem qualquer critério. Sempre que um jogador estorilista sentia contacto do adversário atirava-se para a “piscina”. O FC Porto tem mais de 20 faltas enquanto o Estoril nem chegou à dezena. Espectáculo lamentável de uma equipa de quem dizem maravilhas e mais lamentável ainda de um árbitro que se quer, naturalmente, imparcial. Num jogo com um resultado final equilibrado acaba por ser muito estranho que uma das equipas tenha cometido o triplo das faltas. O cúmulo de uma noite para esquecer (ou para relembrar) foi o penalty assinalado contra o FC Porto por mão na bola de Otamendi, quando este se encontrava completamente fora da grande área! Surgia assim o primeiro golo fantasma.


Aos 30 e aos 60 minutos o árbitro mostrou cartões amarelos a Mangala e a Alex Sandro, por faltas normais na disputa de bola, sendo decisões manifestamente exageradas e que condicionaram a posterior actuação destes jogadores. Aos 80 minutos veio o corolário de uma actuação brilhante, com o golo do empate do Estoril a surgir de um jogador que estava em posição irregular. E estava feito o segundo golo fantasma que deu um empate ao Estoril e deixou Marco Silva radiante. De notar que o treinador do Estoril chamou, com todas as letras, “fdp” a Paulo Fonseca, tendo o treinador do FC Porto optado por “dar a outra face”.

Uma noite de sonho para os cânones benfiquistas de arbitragem. Rui Silva terá a partir de agora, e à semelhança de Bruno Paixão, uma carreira fulgurante. Não admiraria muito que chegue rapidamente a internacional.
   

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Bem prega frei Tomás

No regresso aos treinos, depois do empate frente ao Estoril, Paulo Fonseca deu uma longa palestra aos seus jogadores. Não há registo oficial do sermão proferido pelo treinador, mas dita a lógica que as questões abordadas foram:

  • Substituições, essa maçada
  • Josué: de titular indiscutível a dispensável
  • Como mais de dois passes consecutivos (e bem sucedidos) são um entrave às vitórias
  • Varela: Dieu et mon titularité
  • Como transformar a melhor defesa da Liga num quinteto de amadores
  • Otamendi: porque não há outro jogador para aquela posição
  • Os empates afinal são bons: a arte de não atacar quando o resultado está nivelado e faltam poucos minutos para o final do jogo
  • Ricardo: porque todo o treinador precisa de um jogador fetish
  • Ghilas: a dispensa no horizonte quando se é lançado em campo aos 90 minutos e mesmo assim não se marcam golos
  • Como eu pedi o jogador A, depois o jogador B e finalmente o jogador C, mas no final a SAD acabou por me oferecer 2 mexicanos

  • Bolas, quem fariam agora o Wenger ou o Jesus?

    Aguarda-se com expectativa o próximo jogo, para saber se os jogadores compreenderam a mensagem.

    terça-feira, 24 de setembro de 2013

    O recurso aos Fundos

    O Alcino T. tinha sido nomeado director com o pelouro financeiro do clube, em substituição do anterior responsável, Firmino Guedes, que justificara a demissão com a discórdia relativamente à política de compra dos equipamentos para o futebol. As más-línguas diziam que Firmino se preparava, afinal, para concorrer à presidência da Junta da Freguesia com o fito de um dia chegar à presidência da Autarquia. Dizia-se que era um homem ambicioso.


    O novo cargo não era assim tão novo para Alcino, que o conhecia bem porque em tempos estivera ligado à fundação da sociedade, tendo depois passado por várias funções de menor relevo em grupos recreativos locais. Mas, depois da ‘fuga’ (in) esperada de Firmino, o convite surgiu pela mão do Presidente, para o cargo que lá na terra era vulgarmente conhecido por Tesoureiro mas que, na cada vez mais comum terminologia anglo-saxónica, se designa por CFO – Chief Financial Officer. Alcino sentiu orgulho: o seu trabalho de sapa de vários anos fora finalmente reconhecido e recompensado e aceitou, sem pestanejar.

    A primeira coisa de que se apercebeu quando iniciou funções foi que a tesouraria apresentava défices crónicos, o custo médio da dívida estava a subir com a escalada dos spreads e que os bancos negavam consecutivamente pedidos de reunião para discussão de crédito. O mundo estava mudado desde o início deste novo século, há uma década, quando Alcino negociou habilmente com a Autarquia e com a Caixa Agrícola um empréstimo para a construção da nova bancada central coberta.


    O campeonato desse ano acabaria por se perder para o maior rival, o Águias de Bagaceira, e a Direcção estava empenhada em voltar às vitórias e ao estatuto de campeão logo na época seguinte pelo que iria apostar em reforços para a equipa, necessitando de liquidez para alguns investimentos de vulto. Dito e feito: nas épocas seguintes o clube voltou a vencer e a consolidar a posição de hegemonia no futebol local. Os melhores jogadores foram alvo de forte cobiça de clubes maiores e, para equilibrar as contas, o clube acabou por fazer bons negócios e encaixar umas massas. A maior de todas as transferências foi a do Gavião, um ponta-de-lança estrangeiro, temível para as defesas adversárias, e que molhava a sopa em quase todos os jogos. Foi para o Atlético de Moncorvo, que acordou pagar a cláusula de rescisão e ainda levar o Raúl, um meio campista jovem e com um futuro promissor.

    Já passava de meio do mês e Alcino T. esperava ainda vários recebimentos: uma tranche dos direitos de transmissão radiofónica da Rádio Universo, uma prestação do passe do Gavião e ainda uma pequena verba relativa ao passe do Gualdim. Chegou a tranche dos direitos radiofónicos e, de forma avisada, Alcino não utilizou o dinheiro de imediato porque estava à espera dos recebimentos do Atlético de Moncorvo e do Inter de Mirandela. Atrasaram uma semana. Alcino e a sua equipa contactaram o tesoureiro do Inter que lhes disse que tinha havido um problema com o banco mas que enviariam o cheque na semana seguinte. De seguida contactaram o Atlético de Moncorvo que inventou uma série de desculpas, deixando Alcino apreensivo e sem saber quando iriam pagar o que estava acordado contratualmente.

    A lista de pagamentos a fornecedores engrossava mas Alcino entendeu reter os pagamentos mais uma ou duas semanas e pagar primeiro os impostos e a segurança social, tendo ficado com pouco dinheiro em caixa. Passou mais uma semana. Chegou o fim do mês e era preciso pagar os ordenados. O Atlético vinha agora dizer que só poderia pagar no mês seguinte. O cerco começava a apertar. O que Alcino precisava era de uma conta caucionada que lhe permitisse uma utilização nesse momento com amortização no prazo de 30 dias. Resolveu então ligar para o Banco Comercial e para o Banco Industrial e expor o problema. O Dr. Fonseca e o Dr. Amaral, abnegados gestores de conta respectivos, que sempre se mostraram solícitos para trabalhar com o clube, mandaram Alcino ir pastar, mas de uma forma extremamente educada. Este percebeu, resignado, que a banca lhe fechou de repente a porta porque o futebol se trata de uma "indústria de risco elevado" e à qual a administração tinha decidido "reduzir a sua exposição".


    Surgiu em Alcino a inevitável pergunta: “e agora, onde é que vou buscar o dinheiro?”
    Emitir títulos de dívida (e.g empréstimo obrigacionista) é possível, mas a preparação dessa operação demora vários meses. Ligou ainda ao Ludgero, um operacional que subiu a pulso no clube e que já tinha uma boa rede de contactos entre empresários locais e representantes de jogadores. Alcino sabia que alguns deles tinham empresas de objecto social incerto às quais chamavam “Fundos” e que tinham, normalmente, bastante liquidez. Ludgero falou com algumas pessoas e apareceu uma hipótese, que tratou de comunicar a Alcino: vender a um “Fundo” 10% a 20% do passe de um dos melhores jogadores pelo custo de aquisição. “Que oportunistas!”, pensou para si. O clube tinha apostado nos jogadores, trabalhando a sua técnica e colocando-os a jogar, e agora vinham uns tipos dispostos a pagar por eles aquilo que eles tinham custado quando ainda estavam verdes.

    Face à proximidade do fim do mês havia claramente duas hipóteses à escolha do responsável pelo pelouro financeiro do clube:


    1. Aceitar o negócio, lançar um edital a comunicar aos sócios e ao mercado, pagar os ordenados no fim do mês e na semana seguinte continuar com a luta.
    2. Não aceitar o negócio, por ser abusivo e lesivo dos interesses da instituição e no fim do mês não pagar os ordenados ao pessoal. Na semana seguinte continuaria a luta, mas teria os atletas, dirigentes e demais colaboradores insatisfeitos, a ligarem-lhe de 5 em 5 minutos a perguntar o que se passa.


    Parecia que o dinheiro tinha desaparecido de circulação e que os devedores deixaram de ter capacidade para pagar as suas dívidas. Alcino aprendera da pior forma possível o que é o custo de oportunidade do capital.

    segunda-feira, 23 de setembro de 2013

    Os erros e os “roubos de igreja”

    No Estoril x FC Porto de ontem, após um lançamento em profundidade, Luís Leal correu atrás de uma bola que Otamendi tentou cortar.


    A intervenção de Otamendi foi suficiente para derrubar Luís Leal?
    O árbitro devia ter advertido o defesa-central do FC Porto com um cartão? De que cor?

    Lendo as opiniões dos três ex-árbitros que constituem o ‘Tribunal de O JOGO’, verifica-se que têm leituras substancialmente diferentes sobre este lance e, consequentemente, sobre qual devia ter sido a ação do árbitro Rui Silva.
    De facto, não é um lance de fácil análise e a única coisa que parece certa é que Otamendi não acertou nas pernas de Luís Leal (conforme se pode ver na imagem anterior).

    Perto do final deste mesmo Estoril x FC Porto, há um outro lance que também deixou dúvidas.
    O 2º golo do Estoril é ou não precedido de fora de jogo de Luís Leal?
    Neste caso, os especialistas em arbitragem de O JOGO são unânimes, mas eu, mesmo tendendo a concordar que este golo de Luís Leal foi irregular, considero que é um lance onde o erro é compreensível.

    Estoril x FC Porto, Tribunal de O JOGO

    Se nestes dois lances (por coincidência, ambos envolvendo o estorilista Luís Leal) considero que os eventuais erros do trio de arbitragem são admissíveis, o mesmo não se pode dizer do penalty assinalado contra o FC Porto.

    Como é possível que os árbitros tenham visto algo que nunca aconteceu? Isto é, como é possível alguém ver o Otamendi a cortar a bola com mão dentro da área, se o jogador do FC Porto está todo ele fora da área?


    Já li e ouvi alguns anti-portistas a compararem este penalty com o lance do James Rodriguez no Paços Ferreira x FC Porto da época passada, mas só por desonestidade, ou estupidez, se pode dizer que estes dois lances são idênticos.
    É verdade que o James sofreu o toque que o desequilibrou fora da área mas, devido à velocidade do lance, caiu bem dentro da área pacense, o que iludiu o árbitro do encontro (já agora, tal como Chalana, no Portugal x URSS de 1983).

    No caso do jogo de ontem, seria bom que o senhor Rui Silva pudesse explicar o que viu porque, sinceramente, não consigo encontrar uma justificação minimamente aceitável para o árbitro de Vila Real ter assinalado este penalty contra o FC Porto.
    Mais. Conforme se pode comprovar pela imagem anterior, o árbitro auxiliar que, na 1ª parte, acompanhou o ataque do Estoril, estava em posição perfeita para auxiliar o árbitro principal e, estando a olhar para o lance, é impossível não ter visto que Otamendi se encontrava fora da grande área.

    Já na semana passada, no FC Porto x Gil Vicente, tínhamos assistido a outro lance inexplicável, quando Varela foi abalroado (com contacto físico evidente!) por um defesa dos galos de Barcelos e o árbitro, em vez de assinalar penalty a favor do FC Porto, mostrou um cartão amarelo a Silvestre Varela por… simulação!

    É evidente que custa sempre a engolir quando os árbitros erram contra a nossa equipa, mas há erros que, vistos friamente, são compreensíveis e aceitáveis.
    Contudo, nas últimas duas jornadas, o FC Porto foi vitima de dois erros inexplicáveis cometidos pelos árbitros e, no caso do jogo da Amoreira, com indiscutível influência no resultado final.
    E, por isso, não os considero erros normais. Foram, citando o saudoso José Maria Pedroto, autênticos “roubos de igreja”.

    domingo, 22 de setembro de 2013

    O passador azul-e-branco

    Honestamente, algum portista que tenha visto os últimos jogos do FC Porto ficou surpreendido com a perda destes dois pontos na Amoreira?
    Penso que não.

    Hoje, frente a um Estoril que tinha jogado a meio da semana (nem sequer houve 72 horas de intervalo entre o final do Estoril x Sevilha e o início deste jogo), viu-se, novamente, a face B deste FC Porto. Foi mais uma exibição fraca, sem a chama do Dragão, com os jogadores da equipa canarinha a ganharem a maior parte das bolas divididas e a acelerarem em direcção à baliza do FC Porto como se o meio-campo portista fosse uma autoestrada.

    Hoje, houve tanta coisa má na exibição portista e havia tanto a dizer deste jogo, que é melhor esperar algum tempo para fazer uma análise mais fria, mas há um aspecto que tenho de referir já: o que se passa com a defesa do FC Porto e, particularmente, com o Otamendi? O que se passa com este defesa-central argentino que, tal como já tinha acontecido em Viena, voltou a ter intervenções de principiante e que só não enterraram mais a equipa porque não calhou.

    Mas, evidentemente, o problema não se cinge ao Otamendi. A defesa do FC Porto está um autêntico passador. Ou melhor, a equipa do FC Porto, a defender ou, como se diz agora, na transição defensiva, está um autêntico passador.
    É inacreditável a quantidade de ataques, cantos, livres, remates e oportunidades de golo que a equipa do FC Porto está a permitir a equipas como o Austria Viena ou este Estoril.
    Se contra adversários deste nível sofremos a bom sofrer, eu quero ver quando jogarmos em São Petersburgo ou Madrid. Se continuarmos a jogar desta maneira contra adversários melhores, ninguém duvide, o FC Porto será cilindrado.

    Uma das críticas que uma parte dos adeptos portistas fazia na época passada era o facto de, na opinião desses adeptos, a equipa ter muita posse de bola mas essa posse de bola ser inconsequente.
    Que saudades que eu tive hoje dessa "posse de bola inconsequente", em que os jogadores das equipas adversárias andavam a "cheirar a bola" e em que o FC Porto, após estar em vantagem no marcador, raramente se deixava surpreender.
    Hoje, o FC Porto esteve duas vezes em vantagem no marcador (1-0 e 2-1), mas eu nunca senti que o jogo estava ganho, bem pelo contrário.

    Paulo Fonseca tem muito para reflectir porque, se continuar por este caminho, não vai lá.

    SMS do Dia

    O Otamendi acabou de derrubar a minha vontade de ver o Porto.

    sábado, 21 de setembro de 2013

    Quem ovos vende e galinhas não tem…

    Quem ovos vende e galinhas não tem, de algum lado eles vêm
    (Provérbio português)


    Em complemento ao artigo que o José Rodrigues publicou ontem, pretendo olhar para este assunto – as contas da Sport Lisboa e Benfica, Futebol SAD – sob outro prisma.

    Comunicado da Benfica SAD, de 19-09-2013

    Vendo o quadro anterior (clicar para ampliar), verifica-se que a SAD encarnada terminou o ano fiscal de 2010/2011 com um prejuízo de 7,66 milhões de euros.

    Um ano depois (em Junho de 2012)...
    A SAD encarnada terminou o ano fiscal de 2011/2012 com um prejuízo de 11,69 milhões de euros.

    Dois anos depois (em Junho de 2013)...
    A SAD encarnada terminou o ano fiscal de 2012/2013 com um prejuízo de 10,39 milhões de euros.

    Nota: De salientar que a Benfica SAD terminou o exercício 2012/2013 com um resultado líquido negativo, apesar de, durante esse período, ter encaixado 51,5 milhões de euros em proveitos com transferências de jogadores (valor recorde para a sociedade desportiva do slb e que não deve ser fácil de repetir).

    Quanto ao Passivo, que no caso da Benfica SAD inclui os empréstimos para o pagamento do estádio da Luz, em apenas dois anos aumentou mais de 60 milhões de euros, passando de 379,6 milhões de euros em Junho de 2011, para 440,4 milhões de euros em Junho de 2013 (equivale a 300% dos Proveitos totais consolidados do exercício 2012/2013).

    Como é óbvio, não sou benfiquista e, por isso, não estou minimamente preocupado com a situação financeira da Benfica SAD (para mim, quanto pior melhor).
    A questão que coloco é outra.
    Perante esta situação financeira e tendo a Benfica SAD registado prejuízos nos últimos cinco exercícios (!), como é possível que no recente período de transferências, a Benfica SAD tenha investido cerca de 40 milhões de euros em 15 novas contratações para esta época, sem ter necessidade de fazer vendas significativas (segundo os números que vieram a público, encaixou menos de 15 milhões de euros em vendas e empréstimos)?

    Ora, atendendo a que a Benfica SAD não é uma empresa qualquer e disputa várias competições desportivas com outros clubes, seria importante, por uma questão de transparência e equidade, sabermos de onde vem o dinheiro para estes “luxos” na constituição da equipa de futebol.

    Conforme já aqui referi, depois do BCP ter deixado de conceder crédito aos clubes de futebol, o dinheiro que permite que uma SAD em situação de falência técnica continue a gastar mais do que aquilo que recebe e a reforçar a sua equipa de futebol vem, segundo o diretor do Jornal de Negócios (o benfiquista Pedro Santos Guerreiro), do Banco Espírito Santo.

    Dando como boa esta informação (até hoje não foi desmentida por qualquer das Partes envolvidas), o que eu pergunto é se faz sentido que Bancos em grandes dificuldades (no primeiro semestre de 2013 o BES teve perdas de 237,4 milhões de euros e o principal motivo para o agravamento dos prejuízos foram, precisamente, as imparidades com o crédito malparado), continuem a financiar uma sociedade anónima desportiva que, pelo quinto ano consecutivo, fecha o exercício com prejuízo?

    Nota: A última vez que a Benfica SAD obteve lucro foi em 2007/08, com 0,11 milhões de euros positivos. Desde aí, o prejuízo acumulado por esta sociedade é de 83,6 milhões de euros!


    Mais. Com que moral Bancos que têm vindo a registar elevadas imparidades, que fecharam a torneira às PME's portuguesas arrastando muitas delas para a falência (daí a necessidade de criar um Banco de Fomento para apoio à economia), continuam a emprestar dinheiro a uma empresa com esta situação financeira e que teve o trajeto acima descrito nos últimos cinco anos?
    Será que aos olhos dos Bancos, a Benfica SAD é uma empresa especial e que merece um tratamento diferenciado da generalidade das empresas portuguesas?

    Penso que é legítimo questionar se e quando a Benfica SAD irá pagar o que deve aos bancos ou, pelo contrário, se daqui a algum tempo o país irá assistir (e bater palmas) à reestruturação da dívida do clube do regime, o que significará o perdão de, pelo menos, parte da mesma.

    E é aqui que entram as entidades reguladoras. Depois do que se passou com o BPN, BPP, BCP e BANIF, as entidades reguladoras do sistema financeiro têm obrigações acrescidas, nomeadamente em termos da supervisão prudencial e comportamental das instituições de crédito o que, presumo, deve incluir a análise do grau de risco dos empréstimos bancários.
    Neste caso, o Banco de Portugal e a CMVM não têm nada a dizer?

    Será que depois do escândalo que foi o Estado aceitar ações (não cotadas) da Benfica SAD, como garantia de pagamento de dívidas fiscais, iremos assistir a um outro episódio de favorecimento descarado, envolvendo novamente o clube do regime e, desta vez, alguns Bancos nacionais e entidades reguladoras?

    sexta-feira, 20 de setembro de 2013

    A fuga para a frente lampiónica

    Foram agora publicados os resultados da slb SAD. Sendo eles a principal concorrência na corrida pelo título, tem sempre o seu interesse perceber como param as contas deles...

    Para já o R&C não foi publicado, só se sabem dados gerais. Mas vejo coisas interessantes:
    • - 3 anos consecutivos a perder dinheiro (10M agora em 12/13)
    • - o passivo já vai em 440M (mas isto inclui os empréstimos para pagar o estádio, ao contrário da nossa SAD). Ou melhor, ia a 1 de Julho, agora deve ser ainda mais alto com o investimento feito no Verão...
    • - sem estar explicitado, infiro pelos números publicados que andam a pagar perto de 20M/ano só em juros
    • - acima de tudo: verifico que se não tivessem vendido jogadores em 12/13, teriam feito um prejuízo de cerca de 60M, o que dá uma ideia do «buraco» estrutural de gestão. Basta pois dois anos seguidos maus em vendas para ficarem na situação de um SCP (para já ainda continuam bem melhor do que os colegas da 2a circular, mas para lá caminham)
    • - Eles até podem ter algumas receitas estruturais mais altas do que nós, mas apesar disso estão ainda mais dependentes do que nós para «equilibrar o barco» financeiramente
    Bem, a situação das contas deles pode ser má, mas ao menos têm tido títulos para mostrar. Ah, espera aí, não têm.... AHAHAHAHAHA

    OK, pronto... mas há que ter esperança, o lucro da slb TV vai tapar esse tal «buraco» corrente de 60M/ano. AHAHAHAHAHAHA

    Para terminar, já não me lembro quem disse a seguinte frase (terá sido o Jardel?), mas vem muito a propósito deste assunto:

    «Estávamos à beira do precipício, mas demos um passo em frente» Autor desconhecido

    quinta-feira, 19 de setembro de 2013

    O triunfo do futebol ridículo


    Não raras vezes o adepto implora ao mais básico desejo em vésperas de uma partida importante. A vitória. Paulo Fonseca estreava-se na Liga dos Campeões ao leme do experiente FC Porto. A julgar pela inquietante exibição, a imaturidade competitiva parecia generalizada e entre o tão pouco futebol que se viu no relvado do Prater, a única coisa que acabou por ficar de oferta aos portistas foi a sibilina vitória azul e branca, através do solitário golo do capitão Lucho Gonzalez.

    Felizmente para nós, enquanto a Europa do futebol se ia entretendo com o hattrick de Messi ou com a ensaboadela suíça a Mourinho perante o seu público, em Viena desenrolava-se o pior jogo da 1ª jornada da competição de clubes mais importante do Mundo. Um mau jogo, disputado por duas equipas inconsequentes, com jogadores fracos ou desinteressados, orientados por equipas técnicas medíocres. Se isto é o melhor futebol que a UEFA tem para oferecer. Vou ali e já venho…

    Ao FC Porto, como se não bastasse a pálida exibição do passado fim-de-semana com Gil Vicente, resolveu aprimorar o estilo e tornar-se ainda mais degradante. Os danos só não aconteceram porque este Áustria de Viena vai ser uma espécie de versão 2.0 do Dínamo de zagreb, para levar coça de criar bicho de todas as equipas que lhe vão calhar em sorte. A caça ao voto do Platini trouxe à tona estas tainhas que até o espaço que ocupam na rede incomoda.

    As declarações pouco efusivas dos jogadores na zona mista após a partida revelam algum decoro ou, quiçá, peso na consciência da qualidade de jogo. A quantidade de equívocos, erros, falhas e infantilidades foram tantas que todo o balneário sabe que uma exibição igual a esta na próxima jornada da Champions equivalerá a ZERO pontos. Paulo Fonseca acha que a sua equipa fez um jogo “pragmático” e “inteligente”. Temo que o engodo das vitórias lhe possa toldar o discernimento para as muitas debilidades que os seus comandados evidenciam.

    Entre um meio-campo incapaz de gerir o jogo, perdido entre a falta de pressão ao portador da bola e na pouca circulação e rotatividade dos seus jogadores, juntou-se a incapacidade de os extremos e laterais portistas em explorar as faixas, bem como trabalhar a ligação no momento de transposição da bola. Jackson dedicou-se ao egoísmo e Otamendi à parvalheira. Tudo isto polvilhado com um chorrilho de passes errados e más recepções, resultando na confrangedora exibição que se sabe.

    Valeu esta noite que a eficácia saiu generosa. Provavelmente na única jogada condigna a um jogo de futebol, levou Danilo a ganhar a linha de fundo servindo Lucho num oportuno passe atrasado para o golo que arrebataria os três pontos para o Dragão. E foi só, para gáudio e escrupuloso cumprimento do desejo do adepto. O “pragmatismo” assim obriga, diz o técnico. A jogar assim, Liga Europa cá vos espera, digo eu!

    terça-feira, 17 de setembro de 2013

    As Noites Europeias de azul Viena

    Viena.
    Sempre teremos Viena.

    Se o FC Porto nunca tivesse estado em Sevilha, Gelsenkirchen ou Dublin sempre teríamos Viena.
    Não há cidade mais simbólica na história das competições europeias. E, para nós, é ouro sobre azul. Vamos a Viena amanhã começar mais um ano de aventuras europeias. Não é a primeira vez. Mas sabe sempre de forma especial. Porque havia um FC Porto antes e outro depois de Viena.

    Não necessariamente pelo triunfo.
    Antes já tinham ganho a Taça dos Campeões Europeus clubes de menor perfil e prestigio que nós. O Nottingham Forrest, o Steaua Bucareste e até o Celtic Glasgow e o Feyenoord, são bons exemplos de que o torneio não era um exclusivo das grandes equipas das grandes ligas da Europa. No ano seguinte o troféu foi ganho pelo PSV, dois anos depois pelo Estrela Vermelha e seis pelo Olympique Marseille. Se a história do futebol europeu fosse lida desde esse prisma, éramos mais um entre alguns. Mas somos mais do que isso. Somos um caso singular e único. Porque repetimos esse triunfo. E eles não.
    Depois do Jamor o Celtic não ganhou um troféu europeu. O Feyenoord venceu duas Taças UEFA. O Nottingham Forest desapareceu do mapa do futebol inglês e há largos anos que vive na segunda divisão. O Steaua, alimentado pelo regime de Ceaucescu, desfez-se com o regime. Regressa este ano à Champions League depois de largos anos de ausência. O Marseille pagou o preço das ligações perigosas e o PSV não voltou a cheirar uma final. E o Estrela Vermelha acabou, de facto, com a própria Jugoslávia. Mas nós não. Nós crescemos. Nós ficamos mais fortes. Nós passamos a fazer parte dessa elite europeia.
    Não em dinheiro, não na qualidade do plantel ano após ano. Mas em prestigio.



    O FC Porto - graças ao trabalho de Pinto da Costa e de algumas das suas eleições mais acertadas para o banco - soube provar de novo o sabor do champanhe.
    Somos únicos nesse feito entre as pequenas nações da Europa. E é algo do qual nos devemos sentir orgulhosos. Sempre que apareça Viena no horizonte, saber que foi aí que a gesta começou. Sim, Pedroto estabeleceu as bases. Para mim é a personalidade mais importante da história do clube porque foi ele quem marcou o antes e o depois. Mas partiu cedo, muito cedo, sob o fantasma de Basileia e aquele golo do Boniek, os gritos do Zé Beto e o medo de que aquela final não seria repetida. Mas em Viena, com o "rei Artur", com o calcanhar do Madjer, o sprint do Futre, a taça nas mãos do "capitão" e as lágrimas do presidente, soubemos que a festa estava a começar. Era algo dentro de nós que fervilhava por essa paixão das noites europeias.

    O futebol europeu, continental claro, começou a desenhar-se em Viena.
    As tardes europeias do início do século XX, os anos de ouro da Taça Mitropa, tudo sucedeu nessa cidade mágica, no campo do parque do Prater. Para o futebol europeu e para nós. Historicamente, o FC Porto era um clube a que se lhe dava mal as provas europeias.
    Até meados dos anos setenta até o Vitória de Setúbal tinha um registo melhor que o nosso. Mas com Pedroto algo mudou. Para sempre. Hoje somos o melhor clube português na história das competições europeias. Somos uma das equipas com mais participações na Champions League. Nas quatro últimas vezes que disputamos a Taça UEFA/Europa League, vencemos duas. Ninguém tem estes números.
    Estivemos no calor asfixiante de Sevilla. Desfrutamos da nossa superioridade evidente em Gelsenkirchen e tinhamos a certeza que Dublin era uma formalidade. São três noites europeias que ninguém esquecerá. Mas Viena, a nossa Viena, até para quem não a viveu como deve ser, é especial.



    Amanhã, mais ou menos por esta hora, o mítico FK Austria - o tal das tardes europeias mágicas - vai ser o nosso rival em campo. Mas quando o escudo do dragão subir ao relvado, o Bayern, o Dinamo de Kiev, o Brondby, o Vitkovice e o Rabat também vão lá estar à nossa espera. Viena, o Prater, o Danúbio azul, a magia da história. O pontapé de saída para mais uma temporada europeia, difícil, exigente e que gera ilusão nos adeptos pelo local onde se disputa a final. Mas a cada jogo, a cada passe mal medido, a cada remate torto, a cada golo sofrido, convém não perder nunca a perspectiva. Podemos ir mais longe, devemos lutar por ir mais longe, queremos ir muito mais longe do que temos feito nos últimos anos. Mas o que o FC Porto conseguiu, isso, meus amigos, não conseguiu mais ninguém!

    Disclaimer

    O título do artigo não é inocente.
    Noites Europeias é o nome do livro que vai ser colocado à venda nos próximos dias, escrito por mim e pelo João Nuno Coelho, representante do FC Porto no programa do canal Q Sacanas sem Lei e coordenador do livro "Porto 25". É um livro que viaja às origens das competições europeias de clubes e se prolonga até à última temporada em mais de 100 anos de histórias, jogos, personalidades, sistemas de jogo e memórias. Inevitavelmente o FC Porto é um dos protagonistas dessa Europa periférica fora das grandes ligas. Não é por acaso o único clube - com a excepção honrosa do Ajax, noutro contexto - fora desse circulo de grandes fortunas que tem quatro troféus das provas da UEFA. Um feito único e histórico entre os muitos que relatamos.
    Oficialmente a apresentação do livro é na tarde do dia 29 de Setembro, no bar Casa do Livro na zona das Galerias de Paris com moderação do Luis Freitas-Lobo e de alguns convidados-surpresa ligados à história europeia do FC Porto. A todos os adeptos do clube, amantes das "noites europeias", aqui fica o meu convite pessoal e o desejo de uma boa leitura, se for o caso.

    “Bebés” do Sporting ao colo


    Na 2ª jornada, o Sporting beneficiou de dois penalties a seu favor e jogou cerca de 40 minutos em superioridade numérica.

    Na 3ª jornada, o golo dos leões foi precedido de fora-de-jogo.

    Na 4ª jornada, a equipa leonina inaugurou o marcador, num lance de bola parada, com o autor do golo (Montero) em claro fora-de-jogo (fez lembrar o “escandaloso” golo de Maicon no slb x FC Porto de há duas épocas atrás).

    Com um início de campeonato destes, em que os “bebés” do Sporting têm beneficiado de um certo colinho das arbitragens, é capaz de ser difícil manter o discurso calimérico dos coitadinhos, segundo o qual há uma espécie de conspiração dos árbitros para prejudicar o clube de Alvalade.

    P.S. Após ser eleito presidente, em 1982, Pinto da Costa manteve um hábito que tinha dos tempos em que foi chefe do departamento de futebol e, na maior parte dos jogos, continuou a sentar-se no banco de suplentes, ao lado do treinador.
    Esta situação serviu, como tantos outros pretextos ao longo dos últimos 30 anos, para Pinto da Costa ser alvo de uma campanha orquestrada por alguma comunicação social, segundo a qual o facto do presidente do FC Porto se sentar no banco de suplentes condicionava os árbitros.
    Eu nunca vi qualquer problema no facto do presidente de um clube se sentar no banco de suplentes mas, por uma questão de coerência, gostava de saber por onde andam, atualmente, os jornalistas e comentadores desportivos que tanto criticaram esta situação, quando o presidente em questão era… Pinto da Costa.

    segunda-feira, 16 de setembro de 2013

    A moralidade do FCP e a France2

    Quando os jornais e as televisões portuguesas publicam artigos e reportagens sobre o FC Porto, o adepto azul-e-branco raramente espera algo positivo. É uma marca que vem de há muitos anos. A Bola, o Record e até O Jogo têm sido veículos predilectos para muitos interesses que estão por detrás de alguns dos capítulos mais desagradáveis do nosso futebol. A juntar a isso a tendência centralista e especulativa de alguma imprensa mainstream - e a falta de uma resposta à altura da imprensa regional e local, PortoCanal incluído - permitiu criar esse ambiente. Ou seja, para o adepto do FCP, uma má imagem do clube destas fontes vale pouco. Mas e se essa má imagem vem de fora, pensará o mesmo?

    O canal francês France2 emitiu uma reportagem fabulosa sobre os podres do futebol mundial.
    Uma dessas reportagens de investigação ao nível de programas como o Panorama da BBC - responsável por desmontar a corrupção da FIFA e do COI, por exemplo - e que analiss em detalhe a partir de uma perspectiva local para o espaço global como o futebol é hoje um negócio gerido por figuras perversas e que actuam nas sombras enquanto os adeptos se distraem com os jogos, os títulos, as desilusões. O trabalho jornalístico é de primeiro nível e a reportagem está a ser citada na imprensa de todo o Mundo como mais um exemplo de jornalismo de alto nível. Lamentavelmente para o FC Porto. Depois da emissão desta reportagem a nossa imagem pública internacional está bastante mais afectada.



    Durante meia-hora o FC Porto é utilizado como exemplo para explicar como os fundos de investimento controlam hoje jogadores em todo o Mundo e, com eles, aumentam os seus interesses no desenrolar da temporada futebolística. O pretexto é o caso Mangala, internacional francês.
    Podiam ter escolhido vários clubes na Europa. O FC Porto não é, de longe, o único que trabalha com fundos. Mas tem-no feito com regularidade e com sucesso nas vendas (aumentando as receitas de rentabilidade dos mesmos fundos e alguma inveja alheia, convenhamos) e o facto de contar com um internacional francês e ser presença regular na Champions League (e no vocabulário habitual do adepto do futebol) torna-o um alvo perfeito.
    A reportagem analisa a forma como Mangala chegou ao FC Porto e o seu passe foi, meses depois, vendido a um fundo (33,3%, o mesmo valor de Defour que não entra nestas contas) o Doyen Group. Um fundo que ninguém sabe de quem é e que se dedica a tudo menos ao futebol. Os relvados servem, sobretudo, para a lavagem de dinheiro. Mais ainda, o programa destapa que o FC Porto deu - repito, DEU - 10% da receita de uma futura venda do francês a um grupo também desconhecido que, resulta, pertence a Luciano D´Onofrio, um empresário belga muito conhecido cá no burgo e tão exemplar que a própria FIFA - que não é propriamente flor que se cheire - o baniu de ser um agente oficial. Ora é fácil fazer as contas. Se Mangala sair por 30 milhões do FC Porto, 3 milhões são de Onofrio. Seja essa percentagem uma comissão que não podia ser paga legalmente (o que nos leva à pergunta, porque negoceia o FCP com agentes ilegais e sabendo-o não pode ser isso um eventual delito?), um favor antigo retribuído ou, pura e simplesmente, porque Luciano é um velho amigo de alguns membros da cúpula directiva do clube, o facto é que há 10% de um dos nossos melhores jogadores que não é nosso não porque tenha sido vendido mas sim dado. A um homem que, curiosamente, era o director-desportivo do Liege quando o mesmo jogador foi vendido. A palavra "suborno" poderia ser utilizada? Algum advogado seguramente não teria problemas em demonstra-lo!  Parece-me um dado suficientemente preocupante para alguém, de forma oficial, o venha a esclarecer.

    Claro que a reportagem não fica só aqui.
    Com imagens do Porto, do Dragão, do Olival, o FC Porto transmite também uma imagem de inflexibilidade que soa claramente a receio de que se descubram coisas que alguém não quer que sejam públicas. A meio de uma entrevista com o próprio jogador - que confessa que nem sequer sabia que 10% seus pertenciam a D´Onofrio e 33% à Doyen - a responsável de comunicação do clube proíbe-o de falar do seu próprio passe e contrato com o jornalista. Ante a sua estupefacção - a do jornalista, claro, porque o Mangala mostra-se obediente como não se esperaria outra coisa - a desculpa é que no FC Porto só os dirigentes falam de negócios. Algo entendível se o jornalista estivesse a pedir ao seu compatriota que comentasse a política de contratações do clube, o salário de um colega ou o valor de um negócio realizado no defeso. Mas a conversa com Mangala era sobre Mangala. E o jogador do FC Porto descobre que está proibido pelo clube para falar de si mesmo. Jogadores como gado podia dizer-se, jogadores como mercadoria como o próprio Mangala confessa. Nada mais.



    No decorrer do trabalho fica claro que o FC Porto não comete nenhuma ilegalidade.
    O próprio secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, confessa-o. Há demasiados buracos na legislação para poder castigar o clube ou o jogador. É a Doyen e, em maior medida, o próprio D´Onofrio, quem se movem em águas turvas neste negócio (como em tantos outros). Mas basta um pequeno ajuste legal e, de repente, negócios como este (e como tantos outros que fazemos) podem cair num buraco legal perigoso que homens como Platini (que também aparece em cena) poderiam aproveitar para aplicar uma jeitosa suspensão como a que já está a ser colocada em prática com clubes turcos ou em casos que envolvem o Financial Fair Play. Sem cometer nenhum crime legal parece-me evidente que, ao longo de trinta minutos, qualquer espectador deste documentário ficará com uma imagem do FC Porto como um clube que ultrapassa todos os códigos morais e éticos.

    Comercializar com fundos, em vez de clubes. Oferecer percentagens de jogadores grátis a empresários que estão banidos pela própria FIFA. Proibir os jogadores de falarem do seu próprio contrato e da sua situação contratual com a imprensa do seu país. Comprar jogadores por inteiro para vendê-los às fatias. Tudo atitudes da SAD que tenho criticado habitualmente aqui e que agora são reflectidas na imprensa internacional com a isenção que sabemos que nunca vamos encontrar em Portugal. O clube que por um lado impressiona pela qualidade das suas vendas - protagonista de duas séries especiais com a Marca - é agora também o clube que desilude pelos seus métodos de compra, venda e as suas amizades perigosas.

    Entendo que o FC Porto SAD deva realizar uma operação de charme na imprensa europeia porque reportagens como esta valem tanto para o público europeu como uma vitória contra o Paris Saint-Germain. Vender esta imagem, lá fora, onde se tomam as decisões importantes, é algo que devemos evitar. Que em Lisboa digam o que quiserem, isso já nem nos afecta (nem devia afectar). Que o digam em Paris ou, eventualmente, em Londres, Berlim ou Roma é outra história. Não somos o único clube do Mundo que se move em areias movediças, longe disso. Não somos nem os mais podres, nem os piores, nem os mais "mafiosos", nem os que manobramos amizades mais perigosas e muito menos os que temos o hábito de anunciar que vendemos jogadores que afinal continuam a ser nossos. Nem de longe nem de perto. Temos comunicados relativamente transparentes, temos o hábito de revelar que percentagens temos e a quem (e por quanto) vendemos o que não temos e isso é de louvar. Mas talvez não seja a transparência ou não o problema.

    Tal como defende a reportagem - e eu subscrevo - o problema não é legal. É moral. A partir de aí entra a percepção de cada adepto. Pode haver os que entendam que é normal que o FCP tenha esta atitude. Pode haver até os que achem que não só é normal como desejável. Entendo também que exista gente que não gosta mas se resigna. O clube é de todos e a imagem manchada de um clube mancha a todos os seus adeptos. E tudo pela nossa forma de fazer (muitos) negócios. Para mim, a moralidade da gestão do FC Porto em muitos negócios deixa muito que desejar. E não é essa a imagem que eu quero que o Mundo tenha do meu clube quando há tantas coisas boas que podemos reivindicar como a nossa verdadeira imagem de marca.


    PS: Para os que sabem francês, aqui podem ver o documentário completo. A parte afecta ao FC Porto arranca ao minuto 33 e prolonga-se até à hora e dois minutos de exibição.

    sábado, 14 de setembro de 2013

    Duas partes distintas

    Uma primeira parte globalmente positiva, com dois golos, algumas boas combinações atacantes, intensidade de jogo e concentração defensiva, o que fez com que o Gil Vicente não conseguisse criar uma única oportunidade de golo (nem me lembro dos galos de Barcelos terem feito remates à baliza de Helton).

    Mas o intervalo fez mal aos dragões e os segundos 45 minutos foram muito fracos, sendo dificil encontrar alguma coisa positiva do lado do FC Porto.

    É costume dizer-se que, contra equipas como o Gil Vicente, o mais dificil é marcar o primeiro. Pois bem, o FC Porto marcou o 1º golo aos 8 minutos e aos 27' já estava a ganhar por 2-0. A partir daí, instalados numa vantagem de 2 golos, quando se esperaria que os azuis-e-brancos aproveitassem um maior adiantamento dos gilistas para dar espectáculo e marcar mais golos (é assim que se conquistam adeptos e se enche o estádio), aconteceu precisamente o contrário. A equipa entrou em "gestão de esforço" e passou a "controlar o jogo", jogando de forma murrinhenta e, por vezes, até displicente. Os 36517 adeptos portistas que foram ao estádio, pagaram bilhete e mereciam 90 minutos de futebol, mas tiveram de se contentar com apenas 30-35 minutos...

    O Gil Vicente chegou ao final do jogo com 30 ataques, 5 cantos (o FC Porto só teve 2!) e 10 remates (o FC Porto fez 17) e, na 2ª parte, podia perfeitamente ter marcado e em mais do que uma ocasião.

    Lucho no banco foi uma surpresa, mas Quintero mostrou que ainda não tem estofo para jogar 90 minutos. Tem momentos de brilhantismo, mas ao seu jogo ainda falta intensidade e continuidade.

    Houve muitos jogadores abaixo do que podem e sabem (as chamadas de 11 jogadores às respectivas Seleções é algo que complica sempre a preparação do jogo seguinte...), mas chamou-me à atenção a quantidade de erros e passes falhados de um jogador que ficou por cá: Fernando. O que se passa com o trinco brasileiro? Não saiu e também não renovou. Será isso?

    De resto, parece que Paulo Fonseca ainda anda à procura dos melhores trios para o meio-campo (o único que parece ter o lugar assegurado é o Fernando) e para o ataque, onde Jackson continua a ser indiscutível e a disputar 90 minutos jogo após jogo (para que serve Ghilas?).

    P.S. O que dizer do cartão amarelo mostrado a Silvestre Varela, por suposta simulação, num lance em que é abalroado dentro da área do Gil Vicente por um defesa da equipa de Barcelos? Ai se tivesse sido ao contrário...

    PPA: a “perequação” (2)



    Os terrenos incluídos no Plano de Pormenor das Antas (PPA) eram detidos por catorze proprietários, mas a maior parte, cerca de ¾ da área abrangida, pertenciam a apenas três entidades: Futebol Clube do Porto (51%), Lameira-Imobiliária, que integra o grupo de empresas Jomar, (15%) e Câmara Municipal do Porto (8%).
    Sendo este o ponto de partida, é óbvio que sem o envolvimento destas três entidades e, particularmente, sem a anuência de quem tinha mais de metade dos terrenos – o Futebol Clube do Porto –, nunca a Câmara Municipal do Porto (CMP) poderia ter avançado com este ambicioso projeto de renovação urbana, o qual incidiu numa zona abandonada da cidade, que incluía espaços altamente degradados e onde se pode dizer que cidade a sério nem sequer existia (daí a comparação que alguns fizeram com a intervenção que, uns anos antes, tinha sido feita em Lisboa, nos terrenos da EXPO 98).

    O PPA foi baseado numa espécie de operação de loteamento, através do emparcelamento do solo urbano, de forma a reajustar a configuração e o aproveitamento dos terrenos existentes para a construção prevista no plano.
    Para tal, usou-se o princípio da “perequação compensatória”, prevista no Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro.

    A “perequação” consiste em calcular os metros quadrados (m2) de construção que caberiam ao conjunto dos terrenos, distribuindo-os depois pelos proprietários, a quem é depois atribuída capacidade construtiva em função dos terrenos com que participam. Ou seja, cada proprietário entra com os seus terrenos, recebendo uma parte da capacidade construtiva resultante do PPA na respetiva proporção (levando em conta o coeficiente de construção atribuído).

    Nota: No caso do PPA, e relativamente aos pequenos proprietários, a CMP optou pela aquisição ou permuta de terrenos e, por isso, não foi atribuída área de construção a alguns proprietários.

    Naturalmente, tal como acontece quando qualquer executivo camarário decide rasgar uma nova avenida ou renovar uma das ruas já existente no respectivo concelho, a CMP assumiu a responsabilidade da construção das infraestruturas (ruas, pavimentos, passeios, saneamento, etc.) que fizeram parte desta intervenção urbana.
    Contudo, no caso do PPA, foi decidido que os proprietários envolvidos teriam de contribuir para o custo dessas infraestruturas. Assim sendo, 25% da capacidade construtiva atribuída a cada proprietário em resultado da “perequação”, foi-lhes subtraída e entregue à CMP.

    No caso do FC Porto, cujos terrenos que possuía tinham sido adquiridos por diferentes direções do clube ao longo de décadas (e não, como aconteceu noutras latitudes mais a Sul, oferecidos pela respectiva câmara municipal…), a área com que entrou para a “perequação” foi de 161.749 m2 (mais tarde este valor haveria de ser revisto para 160.600 m2 [1] ). Desta área, o plano atribuiu a pouco mais de 5% (8.877 m2) um coeficiente de construção de 2.1, enquanto que aos restantes 152.872 m2 o coeficiente atribuído foi de apenas 1.05. Da aplicação destes coeficientes, resultou uma capacidade construtiva atribuída ao FC Porto de 179.157 m2.

    Recordo que, poucos anos antes, em 1998, o Alvará de Loteamento emitido pela Câmara Municipal do Porto, abrangendo vários terrenos nas imediações do Estádio do Bessa, atribuiu a esses terrenos uma capacidade construtiva de 83.078 m2, o que correspondeu a um índice de 1.7 m3/m2. [2]

    Para além do baixo coeficiente de construção atribuído à área que era detida pelo FC Porto (um coeficiente médio global de 1.1), a CMP, tal como fez em relação aos restantes proprietários abrangidos pelo PPA, retirou para si 25% à capacidade construtiva que tinha sido atribuída ao FC Porto, ou seja, 44.789 m2, sob o pretexto de comparticipação nos custos com as infraestruturas, ficando o clube com apenas 134.367 m2.

    Posteriormente, através de um protocolo estabelecido entre a CMP e o FC Porto, a autarquia comprometeu-se a ceder ao clube uma área bruta de construção de 106.250 m2 (facto que iria motivar uma grande polémica… um ano depois, após a eleição de Rui Rio e de que falarei num próximo artigo).

    Nota: Após os cortes feitos no PPA, e de acordo com a Cláusula 5.ª do Contrato-Programa estabelecido entre a Câmara Municipal do Porto e o Futebol Clube do Porto, datado de 4 de Fevereiro de 2003, a área bruta de construção cedida pela CMP ao FC Porto perfez um total de 90.245 m2 (e não os 106.250 m2 previstos inicialmente).

    Rui Rio, após ser eleito (antes e durante a campanha eleitoral nada disse), insurgiu-se contra este subsídio em espécie dado pela CMP ao FC Porto (falarei nisso num próximo artigo).
    Contudo, chamo à atenção que se a CMP tivesse atribuído aos terrenos com que o FC Porto entrou para o PPA (cerca de 161 mil metros quadrados) um coeficiente igual ao dos terrenos do Complexo Desportivo e Habitacional do Bessa (1.7), a capacidade construtiva resultante seria de cerca de 274 mil metros quadrados.
    Isto é, depois de todos os cortes, ajustes, subtrações e adições, o Futebol Clube do Porto ficou com menos aproximadamente 50 mil metros quadrados de capacidade construtiva (224 mil versus 274 mil metros quadrados) do que aqueles que teria se, simplesmente, aos seus terrenos tivesse sido atribuído o mesmo coeficiente médio que foi atribuído aos terrenos do Boavista Futebol Clube.

    (continua)

    [1] Contrato-Programa entre a Câmara Municipal do Porto e o Futebol Clube do Porto, de 4 de Fevereiro de 2003

    [2] Comunicado da Direção do Boavista Futebol Clube, de 14 de Fevereiro de 2002

    Nota: Se alguém detectar erros grosseiros nos números que constam deste artigo, agradeço a respectiva correção na caixa de comentários, juntamente com a indicação da fonte dessa correção.

    quinta-feira, 12 de setembro de 2013

    Que modelo de decisão para as contratações?

    "Durante a entrevista, Vítor Pereira comentou ainda as contratações de Izmaylov e Liedson no mercado de janeiro. «Foram os reforços possíveis.Apresentei soluções ao clube. Uma, duas, três quatro e o clube viu a sua disponibilidade. Não teve para a primeira, para a segunda, para a terceira...Não me vou imiscuir na capacidade financeira do FC Porto» no Rascord

    Antes de mais, aviso que isto não é um artigo sobre Vitor Pereira ou sobre a sua passagem pelo FCP. Para mim são águas passadas que não vale a pena andar a dissecar e remoer. No entanto estas declarações dele servem como mote para a discussão de um tema intemporal e generalizado, que é o papel do treinador e da Direção nas contratações no FCP.

    Penso que (praticamente) todos os portistas estarão de acordo que o treinador no FCP não deve ter carta branca nas contratações, seja ele quem fôr; da mesma forma penso que é consensual que deve haver tanto consenso quanto possível nessas decisões entre treinador e Direção. Onde as opiniões se divergem é se deve ser ele a ter a palavra principal no grosso do investimento (dentro de parâmetros estabelecidos pela Direção, notoriamente montante disponível para investir no plantel), ou se deve ter um papel secundário como parece ser o caso com praticamente todos os treinadores no FCP.

    Um exemplo clássico desse papel secundário do treinador no grosso do investimento é de facto o que se passou em Janeiro, em que se não se contratou «a 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª escolha» de VP certamente não terá sido por incapacidade financeira do FCP: primeiro porque não é credível que essas escolhas de VP fossem das que custam de 15M para cima (muito mais provavelmente um Ghilas ou algo do género), e em segundo lugar porque ao mesmo tempo que lhe era dito que não havia dinheiro para esses (claríssimos) buracos no plantel andava a SAD a gastar mais de 9M num jogador (Reyes) que só iria chegar 6 meses mais tarde e para uma posição em que o treinador estava bem servido.

    Mas este é apenas um exemplo do que parece ser uma regra geral (recuando um par de anos não me acredito que contratações como a de Danilo – que também só chegou 6 meses mais tarde - fossem vistas como prioritárias pelo treinador, tal como a de um Diego recuando ainda mais no tempo).

    Ora pessoalmente eu não acho desejável que o treinador tenha um papel secundário na maioria do investimento feito em passes. Acho bem que a Direção tome a iniciativa de forma algo especulativa (aposta de «futuro») numa ou noutra contratação, principalmente para a equipa B (mas não só), mas não chegando ao ponto de sobrar pouco dinheiro para as contratações vistas como prioritárias pelo treinador.

    Antes de mais, não acho desejável porque uma consequência disso é que a Direção acaba por sistematicamente contratar treinadores sem estatuto/CV, que por isso mesmo serão mais compreensivos para as imposições e sugestões da Direção, para não dizer «maleáveis». Na realidade não nos temos saído propriamente mal com esse tipo de treinadores, longe disso (nos últimos 15 anos acertamos em cheio em dois, e a maior parte dos restantes conseguiu ser campeão), mas acho que assim se excluem à partida algumas oportunidades interessantes - e que um treinador de maior calibre e experiência poderia teria feito melhor na Europa do que um Octavio, um L. Fernandez, um C. Adriaanse, um V. Pereira ou até mesmo um Jesualdo. Ou seja, do que a grande maioria dos treinadores que tivémos nos últimos 15 anos.

    Para além disso há a questão de se ficar com plantéis (e 11 titular) desequilibrados ou desajustados às ideias do treinador. De um Diego que não encaixava no jogo de C. Adriaanse ou um Postiga comprado por capricho da Direção (caro e quando já tínhamos avançados como McCarthy, Fabiano, Derlei, H Almeida e Jankauskas!), ao plantel do ano passado em que havia Danilo por 18M mas não havia um único avançado no banco digno desse nome, não faltam exemplos. Foi muito bonito começar a pensar numa eventual saída de Mangala com antecedência (contratação de Reyes em Janeiro), mas não estivémos longe disso ter sido à custa de perder o campeonato no curto prazo...

    E há, acima de tudo, uma questão de princípio: pedem-se responsabilidades ao treinador (e é ele que é despedido quando as coisas não correm bem), mas muitas vezes não se concentra o investimento nas posições (ou tipos de jogador) que ele considera mais carente, i.e. dando-lhe pouca autonomia no seu trabalho de planeamento (que não no trabalho do dia-a-dia - onde parece-me que a Direção não se imiscui, e ainda bem).

    No campo contrário, há quem argumente que não sendo certo que o treinador fique por muito tempo, a Direção na sua sabedoria saberá que jogadores fazem mais sentido a médio prazo. É um argumento legítimo, mas constato que não somos por ex o Barcelona, i.e. uma equipa com um plantel estável ao longo dos anos; pelo contrário, em média os jogadores aguentam-se tanto ou menos tempo no nosso plantel do que os treinadores (se são muito bons rapidamente são vendidos, se não são bons são dispensados - sobrando poucos pelo meio). Ora isto dilui imenso o peso desse argumento.

    Há ainda outro argumento a favor do status quo que é pouco falado, mas porque não falar abertamente: no modelo actual a Direção acaba por privilegiar as relações com empresários à vontade do treinador na formação do plantel. Isto pode ter ramificações negativas, mas pelo lado positivo pode levar a que relações fortes com certos empresários resulte em boas compras ou vendas que caso contrário poderiam ser comprometidas. É possível que assim seja – e só eles saberão mesmo - mas não vejo dados públicos que comprovem ser o caso (é raríssimo ver uma contratação abaixo do preço de mercado, por exemplo; ou um jogador admitir que foi o empresário que o fez mudar de ideias em ir para o FCP em vez de outro lado).

    Finalmente, há o argumento de que pura e simplesmente a Direção sabe avaliar (desportivamente) jogadores melhor do que o treinador, ou até mesmo as necessidades do treinador melhor do que ele próprio. Bem, parece-me acima de tudo um argumento perigoso, já que onde é que isso nos leva? Se a Direção não confia no treinador nisto, como é que pode confiar que convoque os melhores jogadores, escolha o melhor 11 titular ou até mesmo as substituições durante o jogo ou a táctica? Se isso for verdade se calhar mais valia abdicar de um treinador principal e passar a ter apenas treinadores-adjuntos para orientar os treinos...

    Concluindo, no balanço geral e com a ressalva de estar de «fora», parece-me que o treinador deveria ter mais autonomia dentro de certos (muito poucos) parâmetros, como: dinheiro disponível no total para contratações; valor máximo indicativo para passe e salário; não gastar imensos milhões em jogadores com fracas perspectivas de venda (i.e. velhos). À SAD cabe-lhe acima de tudo usar o seu vasto scouting e ligações com empresários para apresentar várias hipóteses ao treinador para as posições que ele considerar prioritárias e dentro dos tais parâmetros, com ele a ter a última palavra; e só depois destas lacunas estarem preenchidas tendo «engolido» o grosso do investimento, enveredar então por uma ou outra contratação especulativa de futuro (tipicamente de jovens e por valores modestos).