quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O Respeito

Carlos Pereira é um dos dirigentes mais antigos e rasteiro do futebol português. 
Pertence àquela geração curtida no anti-portismo mais primário e nunca escondeu o desprezo e o desdém pelo clube sempre que teve a oportunidade. Tentou boicotar tudo e qualquer negócio que pudesse envolver jogadores entre o Porto e o Maritimo, desde os dias de Bruno a Pepe passando pelo caso recente do Djalma e do Kléber. Este tipo de dirigentes é comum no futebol português mas não o era no palco do Dragão onde habitualmente as persona non gratas eram tratadas como tal, por respeito ao clube. Na ressaca da derrota previsível com o Maritimo – uma equipa que ganhou um jogo porque foi a única que o levou a sério, ao contrario do discurso triunfalista de Lopetegui sobre a vontade de vencer um torneio que não serve para nada – o mais chocante não foram os assobios, a forma como Lopetegui praticamente queimou dois putos da equipa B. Foi ver Pinto da Costa em amena e simpática cavaqueira com o homem que cuspiu sempre que teve a oportunidade no Futebol Clube do Porto.



Todos sabemos a esta altura do campeonato que Carlos Pereira permanece no cargo de um clube que roça quase sempre lugares europeus graças ás suas boas conexões como o governo regional – que num caso único em Portugal sustentou durante anos a fio desportivamente os seus clubes, uma especie de doping financeiro pago por todos para manter essa sobrerepresentação da ilha na elite – e com os clubes de Lisboa, a quem sempre quis fazer favores. 
Todos sabem onde treinam o Benfica e o Sporting quando vão jogar à Madeira. E todos sabem que é no Seixal onde o Maritimo treina sempre que vem jogar a Lisboa ou Setúbal, com todas as comodidades de um bom amigo. Não é algo que escandalize neste país, não é algo que surpreenda como também não surpreende os laços familiares que Pereira teve com certo presidente da Liga.
Mas é algo que se sabe. E se qualquer um de nós o sabe, nos escritórios do Dragão estão fartos de o saber. Também sabem o hábito que tem Pereira de torpedar contratações do FC Porto – a mais recente, um interesse real em José Sá, internacional sub21, antes da formalização da aposta em Gudiño para o pos Casillas – e de usar as assembleias da Liga para manifestar a sua posição. Há poucos dirigentes em activo em Portugal que mereçam menos um lugar na tribuna do clube. E no entanto ali estava ele, como se fosse um velho amigo, ao mesmo tempo que todos pareciam alheados ao naufrágio (outro) da equipa. 
Nem o caso Danilo se salva nesta equação. Carlos Pereira queria Danilo no Sporting mas o seu problema (e o real motivo porque Danilo é hoje jogador do Porto) é que o passe do futebolista já pertencia ao Portimonense, graças à intervenção de Teodoro Fonseca, um nome com quem o Porto se dá muito bem e que mediou o negócio de Hulk. O Porto nunca teve de negociar absolutamente nada com Pereira e com o emblema madeirense para garantir os serviços do jogador.
Para quem quiser ler mais e refrescar a memória sobre este personagem e o seu ódio ao clube basta reler isto ou isto



O que faz então Pereira a ser tratado como um VIP no palco presidencial do Dragão. Não há necessidade de “teatro” como poderia existir se o clube estivesse à procura de liderar a centralização colectiva dos direitos televisivos e fosse necessário um gesto de "realpolitik" como já houve com Pimenta Machado ou Valentim Loureira, personagens de quem, apesar dos problemas, Pinto da Costa era amigo pessoal. Não há no plantel do Maritimo actual nenhum jogador que gere um interesse real e as relações dos insulares com o Benfica continuam de vento em popa. Realmente, o que houve ontem no palco do Dragão foi uma imensa falta de respeito ao clube, a quem nele trabalha e a quem o apoia, tratando com honras um individuo sem nível que se dedicou os últimos vinte anos a insultar o FC Porto e os portistas. Por gestos assim, que já passaram recentemente, nomeadamente no tratamento com a SIC (que com o infame programa Donos da Bola fez audiência pura e simplesmente baseando-se no insulto gratuito ao clube) e com jornais como A Bola ou Record (convidados para as galas do Dragão de Ouro como se nada fosse) – no mais inoportuno dos momentos, com o público virado para o banco com as navalhas afiadas na boca – esta é a pior mensagem possível a enviar aos sócios e simpatizantes do clube. Parece que vale realmente tudo e nem sequer aqueles que fizeram carreira praticamente à custa de tentar denegrir o maior clube português nos últimos quarenta anos de história recebem o tratamento que se merecem.

O FC Porto está acima de todos e isso é cada vez mais evidente. Em particular, o FC Porto está acima de todos os que se esquecem o que é o clube e que ignoram a sua história vá se lá a saber o porquê para dar a mão a quem nos a quer arrancar.  

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Uma equipa desfocada

Lopetegui pensativo durante o FC Porto x Marítimo (fonte: LUSA)

Pusemos em campo a equipa que achámos que teríamos que colocar nesta competição [Taça da Liga], onde temos a máxima ambição, mas que é destinada a futebolistas que jogam menos e aos que são alternativas da equipa B

Queríamos ter feito uma boa partida e que aqueles que não jogam tanto queriam ter mostrado que estão preparados, mas não aconteceu

[esta derrota terá impacto no jogo de Alvalade?] “São competições diferentes. A Liga é mais importante e [no sábado] estaremos mais focados

Estas foram algumas das declarações feitas por Julen Lopetegui no final do FC Porto x Marítimo de hoje.


A Taça da Liga é uma competição sem interesse?
É.

A equipa estava pouco focada neste jogo?
Se estava não devia estar. Os adeptos portistas, principalmente os milhares que se deslocaram ao estádio (31219 espectadores), mereciam que aqueles que hoje estiveram a representar o FC Porto – treinador e jogadores – estivessem focados e totalmente empenhados. Porque são profissionais, porque são pagos principescamente e, acima de tudo, porque têm sempre a obrigação de honrar a camisola do FC Porto.

Adeptos portistas descontentes (fonte: LUSA)

A Taça da Liga é uma competição destinada aos “futebolistas que jogam menos e aos que são alternativas da equipa B”?
De acordo.
Contudo, de certeza que não foi por causa dos jogadores da equipa B – Victor Garcia e André Silva – que a defesa foi um passador, que a equipa sofreu três golos (e poderiam ter sido 4 ou 5) e que o FC Porto foi novamente derrotado no Estádio do Dragão.

Onze inicial do FC Porto

Aliás, na linha do que ouvi Bernardino Barros (*) comentar na Rádio 5, eu quase me atreveria a dizer, que se hoje o FC Porto tivesse alinhado com o onze habitual da equipa B, teria jogado muito melhor e, provavelmente, não teria sido derrotado, em casa, por uma equipa “extraordinária”… do meio da tabela do campeonato português.

A Liga é a competição mais importante e, no sábado, treinador e jogadores vão estar mais focados?
Espero bem que sim e que o FC Porto saia de Alvalade com uma vitória, mas…


(*) Nos comentários que proferiu na Rádio 5, Bernardino Barros (a quem eu envio um abraço, pelo desassombro e coragem das suas declarações) fez questão de dizer que os assobios e lenços não eram para a equipa do FC Porto. Eram para Lopetegui.

P.S. O Maicon e o Marcano não são, nem nunca foram, defesas centrais de top, mas também não são tão maus como pareceram neste e em alguns dos últimos jogos.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Um negócio fabulástico

Capa do Record de 03-12-2015

400 milhões! Benfica fecha contrato histórico com a venda dos direitos de televisão à NOS até 2026
Capa do jornal Record de 03-12-2015

O maior negócio do futebol português: Benfica na NOS por €400 milhões

Encarnados recebem recorde de 400 milhões pelos jogos em casa

400 milhões de TV: Benfica celebra contrato milionário
Capa do jornal A Bola de 03-12-2015

“O maior negócio do futebol português”
“Histórico”
“Recorde”
“Contrato milionário”
“Um negócio sem precedentes em Portugal”
“águias passam a receber mais do que FC Porto e Sporting juntos”
“A marca Benfica é maior do que o país!”

O país ficou de boca aberta e isto foram algumas das coisas ditas e escritas acerca do excelente negócio (há que o reconhecer) feito entre o SL Benfica e a NOS.
Mas houve mais. Por exemplo, o jornalista António Tadeia (também comentador da RTP), escreveu o seguinte:

«O negócio do Benfica com a Nos, para a venda dos direitos televisivos dos jogos do campeão nacional àquela operadora, por valores que podem chegar aos 400 milhões de euros, veio abalar os panoramas audiovisual e futebolístico portugueses. (…) os 400 milhões que o Benfica pode vir a receber pelos dez anos de direitos televisivos dos seus jogos da Liga em casa representam uma grande vitória da estratégia montada pela direção de Luís Filipe Vieira na questão dos direitos de TV. O Benfica viu de facto mais longe que toda a gente, pois conseguiu valorizar os conteúdos relativamente àquilo que a Sport TV pagava. (…) É evidente que os direitos televisivos do Benfica valem muito mais do que os dos outros clubes (…)»
António Tadeia, 02-12-2015


Conforme se viu, leu e ouviu, apesar dos jogos dos encarnados (no Estádio da Luz) voltarem, já a partir da próxima época, a ser transmitidos pela Sport TV do “arqui-inimigo” Joaquim Oliveira, nem isso foi motivo para arrefecer o entusiasmo dos benfiquistas, jornalistas e comentadores acerca deste extraordinário contrato entre o SL Benfica e a NOS.

Miguel Almeida (NOS) e Luís Filipe Vieira a comemorar o acordo entre as duas Partes

E nem o facto de ser um "casamento" de 10 anos (épocas 2016/17 a 2025/26) foi visto como um problema, bem pelo contrário, como se percebe pela posição de Domingos Soares de Oliveira, administrador executivo da SAD do Benfica, o qual, embora assumindo haver risco em fazer um contrato a dez anos, afirmou o seguinte:
Se pensarmos um pouco como é que o mercado vai evoluir em termos da concorrência à volta de conteúdos, que é claramente uma das peças chave para conseguirmos ter alcançado o nosso valor, não tenho certezas, olhando bem o que é o mercado das operadoras de telecomunicações, tenho até algumas dúvidas que esta grande concorrência que existe hoje se possa manter em termos futuros. Portanto, havia que aproveitar o momento e foi isso que fizemos.

Ora, se o contrato entre o SL Benfica e a NOS foi excelente, algo verdadeiramente extraordinário, só possível pela dimensão do clube e potencial da marca Benfica, que dizer do acordo entre o Grupo FC Porto e a PT PORTUGAL SGPS SA, pelo valor global de EUR 457.500.000?

Capa de O JOGO de 27-12-2015

Eu acho que nem há adjetivos. Fabulástico foi aquilo que me ocorreu, quando soube da notícia.

E se houve quem ficasse de boca aberta com os 400 milhões de euros do contrato SLB – NOS, parece que há quem tenha ficado sem fala e a engolir em seco, com os 457,5 milhões do acordo FCP – PT.

Ainda não conhecemos, em detalhe, os pormenores deste acordo entre o Grupo FC Porto e a PT PORTUGAL SGPS SA, mas do que fui lendo (recomendo este artigo no ‘Tribunal do Dragão’) e ouvindo, só vejo aspetos positivos:

Resolução, imediata, da ausência de um patrocinador para a parte frontal das camisolas da Equipa Principal para as próximas sete épocas e meia (receita garantida até ao final da época 2022/2023). E mais, os valores referidos para esta componente do acordo – 5 milhões/época – representam um aumento de 35% em relação ao valor do contrato anterior (3.7 milhões/época).

Resolução da sustentabilidade do Porto Canal, pelo menos durante 12 épocas e meia (até 30 junho de 2028).
Os valores referidos para esta componente do acordo são, também, de 5 milhões/época, mas convém lembrar que os custos de operação do Porto Canal são muito inferiores aos da BTV.

Somando as verbas correspondentes ao…
… Direito de Transmissão do Porto Canal, pelo período de 12 épocas e meia (62,5 milhões de euros)…
… e ao Estatuto de Patrocinador Principal do FC Porto, com o direito de colocar publicidade na parte frontal das camisolas da Equipa Principal de Futebol do FC Porto, pelo período de sete épocas e meia (37,5 milhões de euros)…
… sobram 357,5 milhões de euros para os Direitos de Transmissão Televisiva + Direito de Exploração Comercial de Espaços Publicitários do Estádio do Dragão, por um período de 10 anos, com inicio em 1 de Julho de 2018.

Ou seja, com este acordo, a partir de 1 de Julho de 2018 e durante 10 épocas (2018/19 até 2027/28), as administrações da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, sejam elas quais forem, terão garantidos cerca de 35,7 milhões de euros por época (em média), o que é quase o dobro do contrato atual com a PPTV;
Mais 5 milhões/época correspondentes ao patrocínio da parte frontal das camisolas.

E, já agora, mais o desafogo resultante do project finance do Estádio do Dragão terminar em 2018.

Perante este cenário, não diria cor-de-rosa, mas azul e branco, se os próximos três exercícios (2015/16, 2016/17 e 2017/18) fecharem com contas equilibradas quem, a partir de 1 de Julho de 2018, tiver de gerir (financeiramente) a FC Porto SAD, terá menos dores de cabeça.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O que é um jogador da «formação»?

Fala-se amiúde em jogadores saídos da «Formação» ou «prata da casa». Mas a definição não é tão simples ou consensual como seria de esperar.

Para uns, por essa expressão estão a referir-se a jogadores que tenham passado pelos escalões jovens (i.e. no mínimo, pelos Juniores A). Outros têm uma definição mais generosa e incluem mesmo jogadores contratados já adultos - i.e. com 18 ou mais anos - para a equipa B. Outros ainda têm outros critérios (não necessariamente consistentes).

Pessoalmente vejo a coisa num sentido lato, num contínuo temporal - afinal de contas, mesmo jogadores com 30 anos (nem todos...) continuam a aprender e melhorar - mas reconheço que temos que estabelecer uma «linha» arbitrária para simplificar discussões.

Sendo assim, pessoalmente faço uma distinção entre «Formação» e «prata da casa», com um critério mais apertado para o segundo caso. Para um jogador fazer parte deste grupo, espero que tenha feito pelo menos um par de épocas nos escalões jovens do FCP, i.e. nos Juniores A.

Para ser considerado «formação», aí já uso o critério da UEFA que é a idade-limite de 21 anos (usada para quotas nas inscrições nas competições europeias, e também na % a pagar por direitos de formação aquando de transferências, o vulgo «mecanismo de solidariedade»). Parece-me fazer sentido porque se é verdade que muitos jogadores continuam a aprender bastante por alguns anos depois dos 21 anos, também é verdade que tipicamente essa curva de aprendizagem se torna muito menos inclinada a partir daí (enquanto entre os 18 e os 21 anos - i.e. nos primeiros anos de senior - tipicamente aprendem imenso e às vezes mais do que nos juniores).

Ora sendo assim considero que jogadores como Pepe ou James Rodriguez são em parte fruto da Formação do FCP, mas já não os considero «prata da casa». 

Da mesma forma não posso considerar jogadores como Vieirinha, Cândido Costa ou Rabiola «prata da casa», já que foram contratados para a equipa B adultos, com 18 anos (ou quase), ao contrário do que muitos afirmam. Aliás, nem eles nem sequer jogadores que chegaram ao FCP no último ano de Juniores A (como o Leonardo Ruiz, que joga na equipa B); é subjectivo mas a mim não me parece que uma única época nos escalões jovens seja suficiente para se poder falar em «prata da casa».

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Se fosse eu

Por José Maria Montenegro

Todos passamos por momentos em que pensamos «se fosse eu». Se fosse eu a marcar aquele penalti, se fosse eu o treinador, se fosse eu o presidente.
E nesses momentos em que estamos a divagar no «se fosse eu» normalmente estamos a divergir da solução escolhida por quem está de facto no lugar de decisão.
Eu – não nego – penso imensas vezes na versão «se fosse eu o presidente». Tenho mais momentos de «presidente» do que de «treinador».


As organizações não são todas iguais. Uma empresa é uma coisa, uma fundação de arte é outra, um clube é outra ainda.
Se eu fosse presidente do Porto tenho a certeza que imporia um nível diferente de compromisso com o clube. Defendo há muito tempo que quem está em lugares decisivos e de representação do clube tem de conhecer bem o clube. Não tem necessariamente de sentir o clube (um treinador ou um jogador, enquanto profissionais que são, não têm de ser aficionados do Porto). Mas têm que perceber o clube, conhecer a sua mentalidade, o seu modo natural de lidar com as venturas e desventuras da época. Coisas tão simples como perceber o que preocupa os adeptos, o que pretendem, como sentem as vitórias e as derrotas, como hierarquizam as competições, os adversários e os momentos, como se identificam com os jogadores. No fundo, perceber e conhecer bem de que cepa é feito o clube. Não precisa de ser logo no primeiro minuto, mas qualquer treinador do Porto tem que perceber em pouco tempo o que é o Porto. Se não perceber é porque não serve.


O meu maior problema com o Lopetegui é justamente este. Não percebe o Porto. Não nos percebe. Não percebe os nossos momentos, os nossos adversários. Não reconhece sequer quais os jogadores que são nossos.
Começou por não perceber que não podíamos perder com o Sporting para a taça, ainda no início da época passada (e por isso se pôs em poupanças e experiências). Não percebeu que tínhamos de ganhar na Luz e que é nesses jogos que jogamos a nossa identidade, que nos impomos e que afirmamos a força que intimida os nossos adversários e que nos levou ao sucesso. Não percebeu que falhar depois de os nossos adversários falharem está completamente fora de causa, e por isso não havia poupança nem gestão naquele malogrado jogo contra o Nacional depois da derrota do Benfica em Vila do Conde. Não percebeu que nunca jogamos para empatar nem entramos em campo à confiança, e por isso levamos um balde de água gelada contra o Dínamo de Kiev em casa. Não percebeu que o que nos fez grandes na Europa foi não ter medo e quebrar todas as lógicas em estádios improváveis, mesmo que para tal nos tenhamos de aproveitar de momentos menos bons dos nossos adversários. E por isso perdeu a oportunidade histórica de ganhar em Stamford Bridge. Não percebeu que queremos, gostamos e vibramos com o Rúben Neves a capitão. E por isso anda nesta rebaldaria de capitães diferentes a cada jogo, com o nosso Rúben a passar de capitão a nem sequer subcapitão (em favor de jogadores sem qualquer carisma). Não percebeu que é por esta identidade entre adeptos e certos jogadores que nós gostamos tanto do André André, que alia qualidade à entrega à Porto (ele sabe lá o que isso é). E por isso tanto não o convoca, como o põe no banco em pseudo gestão (que só serve para nos desesperar). Não percebeu que nós queríamos mesmo muito ver o André Silva na equipa principal. Já queremos há imenso tempo. E ontem, com 3-0, queríamos mais ainda. Como preferíamos que o Sérgio Oliveira tivesse mais oportunidades que o Bueno, por exemplo. Não temos nada contra o Bueno. Temos é a favor daqueles que, com um teclado à frente, diriam as mesmas coisas que eu estou aqui a dizer. Porque percebem o clube.

Não podemos ter um treinador que não nos percebe. Que não percebe o clube que representa. Que não percebe quando não podemos mesmo falhar. Que não percebe quando nos deve corresponder.
Eu, se fosse presidente, já tinha despachado há muito tempo o Lopetegui.


PS. No Domingo, quando do banco chamaram o Bueno em lugar do André Silva, eu assobiei. Arrependo-me do impulso. Já não assobiei quando entrou (porque aí tive o discernimento de perceber que seria profundamente injusto para o Bueno, contra quem não tenho nada). Aliás, já agora, acrescento. Quero crer que o Bueno percebeu que os assobios não eram para ele. É que se não percebeu, então está como o mister. Não nos percebe. Mas eu acho que ele percebeu.

Nota: o Reflexão Portista agradece ao José Maria Montenegro a publicação deste artigo.
   

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Curtas impressões natalícias

Trabalho de casa… de Lopetegui, nas bolas paradas ofensivas (1º golo na sequência de um canto; 2º golo na sequência de um livre). Um dos aspectos em que, esta época, a equipa está claramente melhor do que na época passada (claro que ajuda ter o Miguel Layún para marcar cantos e livres laterais).

Melhor… exibição dos dragões nos últimos 10 jogos, mas nada de euforias, ainda longe de deslumbrar.

Extraordinário… golo de Madjer… perdão, do “manco” do Herrera!

Errar… é humano, se for contra o FC Porto.

FC Porto x Académica (Tribunal de O JOGO)

Recado… do presidente do FC Porto para os adeptos do FC Porto. Querem ver o André Silva em ação? Vão ver os jogos ao Estádio de Pedroso…

Excelente… o contributo que o União da Madeira (viva os jogos na Madeira!) deu a este campeonato. Primeiro ao empatar com os encarnados e, cinco dias depois, ao derrotar uns leões “atrofiados”.

O Pai Natal do Sporting

Hilariante… ouvir o treinador e o presidente do clube dos vouchers a queixarem-se das arbitragens. Será que já estarão arrependidos de terem segurado o senhor Nomeações e de, no início desta época, terem mexido os cordelinhos para evitar o sorteio dos árbitros?

Bom… Natal para os portistas (a mim sabe-me sempre melhor comer o bacalhau na liderança do campeonato).

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Finalmente uma entrada "à Porto"

foto: Lusa / Maisfutebol

O FC Porto chega ao Natal de 2015 na liderança isolada da Liga, algo inédito no legado de Julen Lopetegui. O treinador espanhol passa a encarar um cenário de pressão invertida, olhando os adversários de cima para baixo. 

Danilo Pereira, Aboubakar e Herrera garantiram o triunfo frente a Académica, Rui Pedro marcou o golo de honra dos estudantes. 

Perante o desaire do Sporting na Madeira, frente ao União – equipa que foi goleada pelo FC Porto mas que respondeu com empatou com o Benfica e venceu o Sporting –, os dragões tiveram a oportunidade de repetir uma experiência não vivida desde 1 de dezembro de 2013. 

À 11ª jornada da Liga 2013/14, a formação então orientada por Paulo Fonseca perdeu em Coimbra perante esta Académica e disse adeus à liderança isolada da Liga. Helton, Maicon, Herrera e Varela são os resistentes desde essa altura, há cerca de dois anos. 

Com a sexta vitória consecutiva – e o 30º jogo sem perder na prova - o FC Porto ultrapassa o Sporting antes do clássico e termina 2015 no trono. 


Desta vez o FC Porto foi competente e não facilitou perante o deslize de um dos rivais. A entrada fulminante no jogo mostra que esta equipa pode ser campeã, se quiser. A pressão sufocante a toda a largura do terreno deixou a Académica ko, sem capacidade de "pôr os sócios contra a equipa", como tinha planeado o seu treinador.

Houve jogadores que se exibiram a grande nível. Danilo, Layun e Herrera foram os melhores, em minha opinião. Herrera marcou um golo de bandeira que irá figurar como um dos melhores deste campeonato. O mexicano tem vindo a subir de forma e a ganhar um merecido lugar no "onze" inicial.

O público do Dragão ainda não fez as pazes com Lopetegui e o "episódio André Silva" é prova disso.
Este jogo pode marcar uma diferença no desenrolar do campeonato, por isso espera-se agora que a equipa consiga dar sequência a esta excelente exibição. Penso que não será difícil entender que é desta forma que o FC Porto tem de entrar nos jogos em casa, ao contrário da grande maioria dos jogos em que tem "oferecido" 45 minutos ao adversário antes de o começar a pressionar.
   

domingo, 20 de dezembro de 2015

Os americanos fazem a diferença?

O JOGO
No final do Ovarense x FC Porto de ontem, jogo em que os dragões foram varridos (75-49) pelos vareiros, Moncho López afirmou:

Vamos falar internamente e tirar conclusões. Não estou nada satisfeito com o que vi. Temos de jogar melhor do que jogámos hoje. Há muito a rectificar. Há que reflectir.”

Penso que Moncho tem razões para estar apreensivo, por exemplo, acerca do rendimento do trio de americanos que escolheu para esta época.

Na Liga Portuguesa de Basquetebol (LPB), os americanos fazem a diferença?

Na Ovarense e noutros clubes da LPB, sim.
No FC Porto, nem por isso.

No jogo de ontem, por exemplo, um dos americanos da Ovarense – Joseph Harris –, que está em Portugal há menos de duas semanas, marcou mais pontos e, sozinho, teve tantos ressaltos (10) como os três americanos do FC Porto em conjunto.

Americanos da Ovarense versus Americanos do FC Porto

E não foi a primeira vez que, em jogos contra adversários mais fortes, o trio de americanos do FC Porto teve um sub-rendimento.
Basta recordar o recente e decisivo jogo no Dragão Caixa frente ao Fraport Skyliners (14 pontos, num total de 52:10s de utilização deste trio).

No meio da reflexão que disse iria fazer, talvez Moncho devesse ponderar a possibilidade de solicitar, à Direção do FC Porto, a substituição de um ou dois dos americanos que escolheu no início da época.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Esta época ainda podemos…

Helton e os adeptos em Santa Maria da Feira

Aboubakar voltou aos golos, de cabeça, na sequência de um lance de bola parada (canto). Três aspetos pouco habituais no mesmo lance. Foi bom.

André Silva foi convocado, esteve no banco de suplentes, mas não jogou um único minuto. Foi pena.

Em resumo, e naquilo que mais interessa, o FC Porto eliminou hoje o Feirense e está nos Quartos de final da Taça de Portugal (com o SLB e o Sporting já de fora).

A que se junta o facto de estar nos 1/16 avos da Liga Europa (competição que o FC Porto ganhou duas vezes nos últimos 13 anos – 2002/03 e 2010/11).

E, na longa “maratona” que é o campeonato, o FC Porto está em 2º lugar, a apenas 2 pontos (1 empate) da liderança.

Se a equipa saísse do estado de depressão em que se encontra e melhorasse significativamente (jogadores para isso não faltam), esta época ainda poderia ser de grande sucesso.

Eu queria muito acreditar nisso, mas...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A Sorte nos sorteios.

Os dados foram lançados, a Europa do futebol vai se confrontar, e em Fevereiro a febre volta.

Para os Portistas distraídos que não deram pela derrota caseira com o Dínamo Kiev, a possibilidade de passarmos para os quartos de final da Liga dos Campeões parece difícil com os alemães do Dortmund que nos calharam na rifa. Mas espera, esse FC Porto - Borussia Dortmund é um confronto da Liga Europa? Quem diria.

Quanto aquele clube lá de baixo, calhou-lhes o Zenit. Safaram-se do Real Madrid, Barcelona, Manchester City e Chelsea. De azar nos sorteios é que não podem queixar-se.

Quanto aos restantes confrontos: temos nada mais nada menos que um confronto entre dois campeões europeus: Juventus - Bayern Munique. Também temos um Arsenal - Barcelona e um PSG - Chelsea, qualquer um destes confrontos poderiam perfeitamente ser jogos das meias finais.




Mas voltemos aos sorteios dos maiores clubes Portugueses. Há, no universo Portista, a percepção que o nosso rival se safa bastante no totoloto dos sorteios da UEFA. Decidi dar uma olhadela pela história dos sorteios que envolvem ambos os clubes para tirar as minhas próprias ilações. Será que são beneficiados pela sorte ou isso é mais percepção nossa?

Isto é um exercício subjectivo que necessita de contexto competitivo. E decidi recuar para a época de 2005/06. Sem ser exaustivo decidi dar relevância às épocas onde é notório que um clube teve um sorteio bem mais favorável ou desfavorável em relação ao outro.

Logo a começar parece que tivemos sorte. Nesse ano calhou-nos Inter, Rangers e Artmedia e ficamos em último. Ao Benfica calharam-lhes o Man Utd, Villarreal e Lille. Passaram e defrontaram e eliminaram o campeão Europeu Liverpool caindos nos quartos contra o Barcelona.

Nos anos seguintes não houve grande comparação a fazer. Realço é que na época de 2008/09 o Porto defrontou e eliminou o At Madrid nos oitavos caindo aos pés do Man Utd nos quartos. Não se pode dizer que foram sorteios de sorte.

No ano seguinte estivemos em competições diferentes. Calhou-nos o Arsenal nos oitavos da LC quando, caso tivessemos um bocado de sorte poderia nos calhar a Fiorentina, o Bordeús ou o Sevilha.

Sinceramente, olhando para os sorteios de ambos os clubes torna-se aceitável argumentar que o Benfica é muitas vezes bafejado pela sorte. Esta ano nem se fala.

Uma coisa é que parece notório: a dita sorte do Benfica nota-se bastante pelo facto de raramente lhes calhar os adversários mais complicados (época de 2005-06 à parte). Comparar com o Porto que ou leva com um Arsenal ou Chelsea logo nos oitavos da Liga dos Campeões ou com um Manchester City ou Borussia de Dortmund muito cedo na Liga Europa

Uma última palavra para referir que o Sporting joga com o Bayer Leverkusen e o Braga com o Sion.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O nevoeiro da Choupana

Mensagem de adeptos portistas dirigida a Pinto da Costa

Do nevoeiro da Choupana não surgiu o “D. Sebastião” que a equipa do FC Porto precisa.

E, para além de mais uma exibição fraquinha (ao nível dos últimos jogos), desta vez o FC Porto regressa da Madeira com 3 pontos “manchados” por erros de arbitragem.

Eu sei que nenhum treinador reconhece (publicamente), erros de arbitragem a favor da equipa que orienta. Contudo, sendo Julen Lopetegui um treinador que falou (e fala) muitas vezes dos árbitros, ter-lhe-ia ficado bem reconhecer que, neste jogo, a equipa beneficiada por erros de arbitragem foi a sua. Se o tivesse feito, teria mais moral em queixar-se quando o FC Porto é directa ou indirectamente prejudicado (algo que, na época passada, aconteceu inúmeras vezes).

Competências


aqui escrevi a época passada que Lopetegui não era treinador para o FC Porto.

Nesse texto - na altura muito criticado, tendo havido até uns inteligentes que se arrogaram ser mais portistas do que eu - dizia que Lopetegui tem duas características que fazem com que jamais o contratasse: só pensa nele (e, portanto, põe sempre os seus objectivos individuais à frente dos do clube) e falha nos momentos decisivos.
Noutro texto, aqui, voltei à ideia.

Queria, no entanto, deixar bem claro que não considero Lopetegui um incompetente.
Pelo contrário, conhecendo ele as sua limitações, acho-o, até,  muitíssimo competente, pois conseguiu, até hoje, não ser despedido.

Lembro o jogo na Luz da época passada, que o Porto precisava indubitavelmente de ganhar.
Nesse jogo o treinador, ao invés de ousar, jogou na defensiva. E fe-lo, na minha perspectiva, por saber que não poderia perder: a vitória dava-lhe o título; a derrota a dispensa; o empate não servia para o titulo mas afastava a hipótese de dispensa.
Qual foi a sua decisão? Garantir que não perdia, pois isso garantia-lhe a continuidade.

No último jogo da Champions passou-se sensivelmente o mesmo. A vitória (muito difícil) garantia-lhe a continuação na Champions. O empate ou a derrota implicavam o rumo à Liga Europa. Mas uma derrota por muitos podia ditar o seu imediato afastamento do comando técnico do FC Porto.
Qual foi a opção de Lopetegui?  Garantir que a derrota, que praticamente assumiu desde o inicio, não fosse por muitos, por forma a poder continuar a ganhar o seu.

Amigos: o Lopetegui não mudou. Quem ontem o apoiava por que não o apoia agora?
Ele faz hoje o que sempre fez.

Não sou menos portista por ter percebido cedo que o homem não nos servia.
Mas, agora, quero que fique até ao fim. Não quero, de forma nenhuma, que vá embora com um saco de dinheiro e deixe para o sucessor o resultado do seu trabalho.
Para mim, fica cá até Junho e das duas uma: ou ganha o campeonato (ou a Liga Europa) e sai menos mal ou não ganha e sai pela porta pequena, sem nada de relevo ter ganho com plantéis melhores que os dos adversários.  
Ele que assuma.
E quem o defendeu que o assuma também, não procurando agora, com uma chicotada psicológica, passar um pano sobre o assunto.
Não nos adianta atirar-lhe agora as culpas. O incompetente não foi ele. Fomos nós, que o contratámos.
   

domingo, 13 de dezembro de 2015

Blindagem, já!


Chegou a ser ventilado que na véspera da deslocação do FC Porto à Luz, no final da época passada, num jogo que poderia decidir o campeonato, o treinador adversário, Jorge Jesus, terá tido acesso ao ‘onze’ que Lopetegui estava a trabalhar para essa partida. Desconheço a veracidade deste episódio.

No decorrer desta época, têm sido do domínio público algumas informações que se deviam manter privadas no estrito âmbito da equipa técnica e dos jogadores. Parece haver demasiada informação a circular pelos empresários de jogadores e outros elementos que vivem debaixo do chapéu da SAD. O FC Porto tem de voltar a blindar totalmente o seu balneário, independentemente do treinador que estiver a orientar a equipa. Para triunfar tem de voltar a ser aquele clube que já foi, uma fortaleza de onde nada sai, nada se sabe e que a todos surpreende.

Se o problema fosse apenas e só Lopetegui, seria muito fácil de resolver. Mas não é. É muito mais profundo que isso e os sócios já se aperceberam da sua verdadeira dimensão.

O presidente Pinto da Costa sempre teve um estilo de liderança autocrático. Até ao final de 2004 sempre exerceu a sua liderança e a sua presença, sendo a voz e a cara que representava o clube. Com o aparecimento dessa fraude jurídico-desportiva que deu pelo nome de Apito Dourado, a imagem do presidente ficou desgastada e a defesa pública dos constantes ataques ao clube foi sendo feita – e muito bem – pelo treinador Jesualdo Ferreira. A equipa jurídica que assessorou a SAD e o Presidente trabalhou na sombra e conseguiu desfazer a trama mas os aparecimentos públicos de Pinto da Costa nunca mais tiveram o mesmo impacto.

Sem alguém na forja que pudesse ir substituindo o Presidente para a defesa pública da boa imagem do clube, com um Antero Henrique mais preocupado com a sua afirmação pessoal na cúpula da SAD onde já se encontravam outros “pesos pesados” com superiores aspirações, e com a crescente influência de determinados empresários que traziam financiamento e jogadores de qualidade do mercado sul-americano, o clube ficou demasiado vulnerável e durante muitos anos sem uma figura que pudesse desempenhar o papel de Pinto da Costa: um líder com mão férrea que blindava totalmente as equipas técnicas e lhes dava a estabilidade e confiança que elas precisavam para se preocuparem apenas com o seu trabalho.

Neste momento o clube precisa de um Director desportivo forte e autoritário que consiga equilibrar o jogo de forças entre a equipa técnica e jogadores, o empresariado capitalista mas dependente, e a pressão exterior exercida pela comunicação social e pelos adeptos impacientes. De preferência um homem com a escola da casa.

Sem esta figura não há treinador que resista. Podemos ir fazendo experiências e transformar o clube num cemitério de treinadores como aconteceu nas décadas passadas com os clubes da 2ª circular, mas não conseguiremos voltar a ser aquele clube onde qualquer treinador conseguia ser campeão.
   

sábado, 12 de dezembro de 2015

Lopetegui, ficar ou não ficar?

Julen Lopetegui foi um erro. 
Não vale a pena recordar que isso foi dito aquando da sua nomeação. Foi um erro então. É um erro agora. A sua falta de experiência aliou-se, com o tempo, com a sua falta de estofo. Foi evidente na ausência de características que definem um treinador de nível. Lopetegui nunca conseguiu criar um estilo de jogo constante e coerente. A equipa exibiu-se a grande nível na Champions, no ano passado (e no jogo contra o débil Chelsea, no Dragão) mas na liga nunca convenceu ninguém. O plano A de Lopetegui era um rascunho e nunca passou disso. O plano B, o C e até o D de Stamford Bridge foram erros graves. Lopetegui não perdeu o título por ser incompetente no ano pasado. Num ano normal, sem #Colinho, o FC Porto teria sido campeão nacional. Mas isso seria apenas natural, inercia de um grande plantel onde o investimento foi mais relevante do que se quis assumir. Afinal, para um clube como o FC Porto dos últimos 30 anos o título já surgiu com equipas piores e treinadores medianos, graças à inteligencia e força de uma estrutura que já não existe. Mas nem graças a essa inercia Lopetegui driblou os escândalos arbitrais do ano passado, representado perfeitamente pela sua inoperância nas viagens à Madeira, no jogo em Belém e, sobretudo, no jogo na Luz onde o Porto que devia procurar a vitória contentou-se em lamber as feridas do desastre de Munique. O navio tremeu mas não afundou mas vamos em Dezembro de 2015 e o Sporting – com o mesmo e sobrevalorizado treinador rival e com um investimento inferior – continua à frente de um Porto igualmente titubeante e sem ideias. Faltam cinco meses para acabar a época. Que fazer com Lopetegui?

Para mim – para muitos portistas e para muitos elementos dentro do clube – a saída do treinador basco é inevitável. Que suceda entre Dezembro e Junho será, sobretudo, fruto das circunstancias. O projecto falhou. A culpa não é só de Lopetegui. Que fique claro. O problema é mais profundo e está uns andares acima na pirámide do clube. A mudança do treinador pode, na prática, nem sequer mudar nada quando o Porto continuar a enviar agentes contratados por fundos para negociar em seu nome, a adquirir jogadores sabendo que não os vais pagar utilizando o clube como montra de exibição para aranhar um lucro que não é suficiente para evitar sucessivos empréstimos bancários a instituições misteriosas e, irónicamente, associadas aos mesmos fundos. Num cenário onde o balneario é uma porta aberta a quem quiser entrar, onde não há elementos diferenciáas, referências de cordura, espirito de grupo e ambição, que pode outro treinador fazer? Quando a aposta na formação – lembram-se que vinha o treinador da excelente, porque era excelente, campeã europeia sub21 para lançar uma série de putos aos leões – continua a estar mais na prática que no papel porque o plantel se enche de segundas e terceiras escolhas para fazer negócio, que pode fazer o treinador?
Tudo isso é verdade, seja o homem da “cadeira de sonho” de todos nós Lopetegui, Vitor Pereira, Paulo Fonseca ou o senhor X. Mas Lopetegui contribuiu, e muito, para estar na situação emocional com adeptos e jogadores em que está. Se a conjuntura já não era favorável, o seu trabalho foi nefasto a distintos niveis e o seu futuro ficou assim comprometido por muitas juras de amor de Pinto da Costa a jornais espanhóis que ele possa ler.

Os problemas de Lopetegui são vários. 
A conexão com os jogadores é nula e isso que rodeou o balneario de futebolistas conhecidos numa das maiores sagas de importação da história do Porto de outro país ou cultura futebolistica desde os anos da escola de Samba do virar do século. Tacticamente já demonstrou ser um inepto a distintos niveis, de treino, de ideia de jogo e, sobretudo, de adaptar a equipa a todas as circunstancias, positivas e negativas. Se o Porto se coloca a ganhar, tudo bem. Se o Porto se apanha a perder, ai Jesus. Se o Porto está empatado, rezem por um milagre porque a luz nunca virá do banco. Em ano e meio, nunca veio. Lopetegui é responsável disso tudo mas também conseguiu destroçar o excelente capital de apoio conseguido nos primeiros meses quando foi o primeiro a insurgir-se contra o #Colinho – com o clube calado – pela sua constante falta de auto-critica que já roçou a ignorância. Há sempre culpados, sempre desculpas, sempre justificações. Só que nunca é nada com ele. O triunfo da possessão e o azar do golo inaugural do Chelsea parecem ser, na cabeça do treinador e no seu discurso, a justificação de um dos maiores desastres tácticos da história do clube. É apenas um de muitos exemplos. Um problema que não tem solução.



E portanto, que fazer?
1) Ficar com Lopetegui até Maio e começar já a trabalhar no futuro? 
2) Despedir Lopetegui agora para encontrar uma solução de futuro com impacto imediato? 
3) Repetir o cenário com Paulo Fonseca e pensar na transição com outro nome enquanto o futuro se desenha longe do terreno de jogo?

São três cenários que estão sobre a mesa agora mesmo na SAD e na cabeça de todos os portistas. Nada vai acontecer – salvo que Lopetegui bata com a porta de forma clara e inequívoca – até ao jogo de Alvalade. Sair com a liderança da casa do mais directo rival será um golpe de efeito importante. Qualquer outro resultado (até o empate) é abrir ainda mais uma ferida com adeptos e balneario difícil de curar. Lopetegui tem de ser implacável em liga até Janeiro e conseguir demonstrar que tem todos a remar na mesma direcção para que a necessidade de uma mudança brusca não se torne ainda mais evidente. Mas claro, quem toma conta do seu lugar?
O clube maneja agora mesmo uma lista de futuriveis com André Villas-Boas à cabeça. Mas AvB – que já anunciou que a partir de Junho quer voltar a Portugal – não vai ficar livre até o Zenit cair da Champions League, ou seja, provavelmente a fins de Março. Outro nome na mesa, Mircea Lucescu, não irá querer deixar o Shaktar a meio caminho. Mais fácil seria atrair Pedro Martins, treinador do Rio Ave e outro menino bonito de Pinto da Costa, para tomar controlo já da nau. O grupo mais associado a Mendes prefere claramente Nuno Espirito Santo, actualmente desempregado. 
Há três nomes falados que estão fora de qualquer equação. Marco Silva não pode nos próximos dois anos treinar em Portugal por uma cláusula assinada. Leonardo Jardim não quer voltar a Portugal e quando sair do Monaco será para a liga espanhola ou inglesa. Paulo Sousa quer triunfar em Itália e a voltar a Portugal a sua preferencia é, claramente, assinar pelo Benfica. Todos estes nomes – salvo talvez AvB – difícilmente entusiasmam os adeptos e apenas dois deles teriam condições para pegar agora na equipa. Vale realmente a pena entregar de novo o plantel a Luis Castro, depois da sua (falta) de provas aquando do fim da experiencia Fonseca? 
Só com um cenário insustentável, como foi esse, essa opção pode fazer qualquer sentido.

Com os principais candidatos a estarem livres em Junho, com Luis Castro como referencia pouco fiável, a permanência de Lopetegui até Maio tem toda a lógica. Mesmo entendendo que o basco não é um bom treinador – e muito menos um bom treinador para o clube -  o cenário actual não convida ainda ao drama. O titulo é perfeitamente alcançável e deve ser, cada vez mais, a prioridade. Há plantel com qualidade suficiente para ser campeão nacional e o Sporting é um rival que já demonstrou que vive no fio da navalha na maioria dos jogos. Algum dia terá de tropeçar na sua própria ausência de ideias. Lopetegui começou o projecto e deve terminá-lo mas não o pode fazer só. Urge que a SAD tome públicamente uma decisão e apoie o treinador numa mensagem para tranquilizar os adeptos e, sobretudo, os jogadores. Lopetegui tem de sentir esse apoio de quem o elegeu, o elogiou e deu tudo o que pedia, e os jogadores devem saber que por muito que se rebelem, o cenário não vai mudar. Salvando as distâncias, naturalmente, Pinto da Costa tem de emular a Berlusconi - para bem do clube - quando este baixou ao balneario do San Siro, nas primeiras – e contestadas semanas de Arrigo Sacchi – disse aos jogadores a mitica frase “o treinador é escolha mina, foi escolha mina e continuará a ser escolha minha e ficará aquí para lá do próximo ano…já vocês, não sei!”.

Não há um conto de fadas com final feliz. 
A minha sensação pessoal é que Lopetegui deve ficar por isso mesmo, assumindo (tanto ele como as pessoas responsáveis pela sua contratação) todas as consequências no final da temporada, sem que o clube deixe, paralelamente, de procurar um rumo de sustentabilidade futura com outro homem do leme.

O título de campeão não vai salvar a posição de Lopetegui no clube e com os adeptos mas pode permitir uma saída menos traumática e menos negativa para uma instituição que apostou muito nele. Lopetegui foi uma eleição pessoal de Pinto da Costa e o seu fracasso é também uma mancha no currículo do presidente que iria no seu segundo treinador consecutivo a sair antes do final do ano. Seguramente um cenário que quer evitar. Para isso tem de tomar uma posição, apostar todas as fichas (e reputação) na sua aposta pessoal e fazer todos os esforços para que o clube até Junho trabalhe na mesma direção mesmo sabendo que no próximo ano talvez a nostalgia do pasado injecte algo do optimismo perdido em relação ao homem que ocupe a “cadeira de sonho”. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Onde colocar a Europa League na lista de prioridades?

Que queremos de uma competição como a Europa League a partir de Fevereiro?
Esse é seguramente um dos grandes dilemas da Porto SAD agora mesmo. Ninguém pensava nesse cenário este ano. O sorteio da Champions League parecia perfeitamente acessível a uma equipa que tinha chegado aos Quartos-de-Final do ano anterior e, como disse bem Mourinho, depois da dupla ronda contra o Macabbi instalou-se no clube e nos adeptos a sensação de que “estava feito”. Não estava. Agora o futebol europeu hiberna mas a partir de Fevereiro é preciso tomar decisões. Em que ponto da equação devemos colocar a relevância de um torneio como a Europa League?

Parece claro que o grande objectivo do Porto permanece absolutamente inalterado.
A cada ano o clube orçamenta a temporada e traça como objectivo mínimo lutar pelo título e por um lugar nos oitavos da Champions. As Taças são torneios cada vez mais residuais nesta equação. O orçamento é planificado com base nesse raciocínio (terminar num lugar de acesso directo à Champions, preferencialmente com o título e a soma dos milhões da Champions via oitavos-de-final…depois, logo se vê). O plano para este ano – um ano de ajustes – ficou destroçado. Não só a equipa caiu antes do previsto como hipotecou superar o lucro do ano passado uma vez que o aumento dos prémios da UEFA significam na prática que alcançar agora os oitavos-de-final equivale a alcançar os quartos no modelo anterior. Repetir o (difícil) feito do ano passado seria aumentar ainda mais o bolo e tão necessitados estamos que imaginar um cenário distinto deve provocar ataques aos responsáveis de tesouraria.  Basta pensar que vários reforços foram concretizados precisamente a pensar na exigência máxima do universo Champions (e por isso a folha salarial subiu e subiu) e que agora o clube estará a pagar o dobro ou triplo do expectável a jogadores para alcançar objectivos bem mais acessíveis. 
Mas agora que o sonho de fazer mais uma pequena fortuna na Champions se esfumou, que podemos fazer com o cenário Europa League, uma competição que provoca um profundo desinteresse nos principais clubes da Europa e até em alguns emblemas de segunda fila das ligas principais. Razão? A quase total ausência de prémios monetários que justifiquem o desgaste de varias rondas em troca de nada. É isso que queremos priorizar?

Há outro cenário em equação. 
O FC Porto tem, em principio, um dos dois primeiros lugares ao seu alcance, os que dão o apuramento directo para a Liga dos Campeões 2016/17. A Europa League, desde o ano passado, permite aos campeões qualificarem-se directamente para a fase de grupos da Champions. É um plus de atracção para equipas como o Sevilla, Napoli, Fiorentina, Tottenham, Monaco, Liverpool ou Dortmund que possam ter mais concorrência interna. É uma justificação para colocarem todas as fichas no torneio se as coisas na liga correm mal. Para o Porto isso não parece ser sequer uma necessidade. Mas para muitos dos seus hipotéticos rivais será e isso significará medir-se com clubes com outras - genuínas - aspirações no torneio dispostos a tudo para ganhar. Vale a pena igualar esse esforço por nada?
Por fim está o suposto prestigio. O FC Porto venceu o torneio em duas ocasiões, em 2003 e 2011, e em ambas temporadas esse sucesso consagrou duas grandes equipas que pareciam destinadas a grandes coisas (a segunda ficou em modo coitus interruptus mas à época estava cotada perfeitamente entre as melhores do continente). O cenário deste ano parece-se, no entanto, muito mais com o do ano de estreia de Vítor Pereira. O Porto tem plantel para lutar pelo titulo na competição no papel mas a equipa não gera nos adeptos a sensação de que esse cenário actualmente é lógico e gastar energia para competir num torneio que não precisamos de ganhar para ter lucro económico ou desportivo e que a nível de prestigio é cada vez mais irrelevante a nível internacional – o nível tem decaído muito desde 2003 como o Sevilla, incapaz de competir na Champions League, bem demonstrou – parece ser bastante superfulo.



Está claro que o objectivo máximo e absoluto deve ser a partir de agora a aposta no campeonato. Ficou evidente no ano passado, a partir de certo momento, que Lopetegui preferiu sempre colocar as fichas na Champions do que na liga e o preço a pagar chegou precisamente na Luz quando uma equipa física e mentalmente destruída em Munique foi incapaz de dar um golpe de efeito no campeonato como sim logrou Vítor Pereira três anos antes, sem o desgaste da Europa em cima. Já não há desculpa para que este ano se duvide no rumo a seguir. O campeonato tem de ser a primeira, segunda e terceira prioridade absoluta e inequívoca e as taças nacionais um bom momento para testar alternativas, distribuir minutos e procurar chegar às últimas rondas (no caso da Taça de Portugal) ou de ignorar por completo (no caso da Taça da Liga) no plano de prioridades.
Se existia uma lógica financeira e de prestigio no raciocínio da SAD e do treinador em 2014/15 em partilhar o protagonismo da liga e Champions nos objectivos de grupo, o mesmo não se pode dizer agora nem faz sequer sentido que a direcção defina a Europa League como algo prioritário. 
A partir de Fevereiro o cenário pode ser muito diferente porque não sabemos como vai estar a tabela classificativa no fim do Inverno, depois da equipa ter passado já por Alvalade. Uma liderança – eventualmente folgada a mais de tres pontos de diferença – dão uma liberdade que uma luta apertada (ou um segundo lugar) não permitem.
A natureza do rival, a conhecer em sorteio na segunda-feira, também pode condicionar muita coisa. No ano de Vítor Pereira o Porto teve o azar de ser sorteado com um dos máximos candidatos ao troféu (ironicamente eliminados pelo Sporting na ronda seguinte) mas os homens de Paulo Fonseca tinham apenas de medir-se ao Eintracht Frankfurt quando foram sorteados os 16 avos de final o que permitia uma preparação totalmente diferente.

Faz portanto sentido colocar a Europa League no topo das prioridades do clube? Deve-se, em contrapartida, ignorar a competição sendo que o FC Porto nunca entra em campo para não ganhar mas sabendo que há jogos que devem ser tratados com mais ou menos exigência consoante o que o clube quer? É, para o Porto, a Europa League mais importante, agora mesmo, que uma Taça de Portugal e uma possível dobradinha, muito mais fácil de conquistar e talvez mais relevante a nivel emocional para adeptos que levam três anos sem levantar um troféu?

Pessoalmente acho que Lopetegui e a SAD devem esquecer por completo o futebol europeu até Fevereiro, dando ZERO importância agora mesmo à segunda competição da UEFA, gerindo os esforços absolutamente pensando a nível doméstico. Tendo em conta o rival e a conjuntura em Fevereiro, pode-se perfeitamente rever a ordem de prioridades mas não acredito que o clube deva desgastar-se em tentar ganhar um torneio que, actualmente, não parece ser minimamente relevante para os objectivos a médio prazo da instituição. O Porto pode ir tentando passar fase a fase, como o orgulho ao escudo exige, mas nem os adeptos nem a direcção deveriam colocar o peso das expectativas no plantel e staff técnico numa perspectiva europeia. O erro está feito e é irreversível e a Europa, a Europa a sério, só chegará mesmo para o ano. O importante agora é tratar de voltar com o escudo de campeão ao peito e acabar de vez com uma seca de títulos importantes de três anos num mano a mano com um rival que, ainda que gaste muito mais do que proclama, continua a estar perfeitamente à altura do investimento realizado.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Já foi?


"Maicon e a eliminação: «Já foi, bola para a frente»", in "Maisfutebol", 10/12/2015

Eis (mais) um péssimo exemplo de abordagem ao nosso momento actual, ainda para mais vindo de um "capitão".
"Já foi"? Não, Maicon. Ainda dói e muito. Pelo menos para nós, os adeptos. Somos aqueles que não recebem um tostão do FCP (pelo contrário, ainda pagamos) e dele só reclamamos emoções.

Pelo contrário, o tempo deve ser de profunda reflexão. A pouca qualidade do treinador é apenas uma das razões destas tristes figuras. Existem outras a que convém estar tão ou mais atento.

"Já foi e bola para a frente", é o mesmo que respondem os jogadores de clubes menores, que já não sabem bem o que mais dizer perante os repetidos fracassos. São parte daqueles que não ficam para a história.
A Maicon, que tem a felicidade de jogar num grande clube europeu, discursos destes deveriam estar proibidos.
Se não, o que resta? Perdermos em Alvalade, em Janeiro, e "bola para a frente"? Somos depois eliminados da Taça de Portugal e "bola para a frente"?

E, reparem, estamos a falar de alguém que tem uma ligação ao nosso clube muito mais duradoura que a maioria dos jogadores do actual plantel. Imaginem o pouco que doerá a outros...

"Já foi"? O pior é que, neste caminho errado que actualmente trilhamos, Maicon, virá já aí outra a seguir.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O enterro do basco

Quando uma equipa está a noventa minutos - por culpa própria - do jogo mais importante do ano, é normal que os adeptos sintam nervos. Estranhamente, entre muitos portistas, a sensação a pouco tempo do apito inicial no Bridge foi de tudo menos nervos. Resignação, estupefacção, raiva e desanimo. De nervos, nada. Julen Lopetegui logrou o impensável. Não só a incapacidade de colocar a sua equipa a demonstrar todos os seus argumentos nos dois duelos directos contra o rival real do grupo - o Dínamo Kiev - hipotecou um apuramento que, depois da grande vitória contra o Chelsea no Dragão parecia inevitável - como ficou claro que o espanhol, como treinador de elite, é um zero à esquerda.

Todos os treinadores sabem que o futebol é um universo complexo onde o papel da rotina é fundamental para o êxito. Treinam-se as mesmas jogadas vezes sem conta. Procuram-se os modelos tácticos perfeitos, ás vezes com, ás vezes sem plano B, e insistem-se neles durante o ano porque é na assimilação de rotinas e no trabalho de grupo que um plantel se transforma nesse microcosmos que é um Onze bem sucedido. O b-á-b-á do futebol é esse mas no dia em que se deu essa aula, Lopetegui devia ter ficado em casa porque não assimilou perfeitamente a lição. No FC Porto estamos já vacinados com as "invenções" quando se viaja a Inglaterra. O de hoje, em Londres, é apenas mais um capítulo repetido até à exaustão. Mas tem o "demérito" de deixar a nu a completa ignorância de um treinador na gestão dos seus recursos. O FCP tem de ganhar? Joga-se sem avançado. O FC Porto vai medir-se contra uma equipa que vive das transições largas? Coloca-se uma defesa de três afastada quilómetros entre si e com um espaço brutal com o meio-campo para Diego Costa mover-se à vontade. Aposta-se em dois criativos pelas alas, como Brahimi e Corona e depois lançam-se três médios que não conseguem aparecer para finalizar um só lance desde atrás. Não houve absolutamente nada que Lopetegui tivesse feito bem no desenho inicial e no decorrer do encontro e só um Chelsea frágil psicologicamente e a anos luz do seu real potencial podia medir-se a uma equipa assim e não sacar uma vantagem superior. Lopetegui pode agradecer a Mourinho que este não seja Guardiola que, no ano passado, depois de ter perdido o primeiro jogo, colocou o basco no sítio. Um sítio que a História não vai, seguramente, recordar.

O Porto jogou mal, o Chelsea não jogou muito melhor e pouco mais haveria a dizer por um jogo decidido por detalhes mas onde, desde o princípio, ficou evidente que havia uma equipa a sério e uma a brincar sobre o relvado. Sem profundidade e atitude, o FCP foi em Londres muito parecido ao que tinha sido na semana de Munique-Lisboa, uma equipa com mais medo a perder do que demonstrando vontade de ganhar. Uma equipa sem carácter e sem um plano de jogo concreto que tentou povoar as zonas do terreno longe da área porque, já se sabe, os golos no futebol são acessórios.
Perante essa invenção que foi o 3-5-2 com Layun e Maxi como extremos e um meio-campo sem um pingo de futebol na cabeça (e nos pés) no centro, o Chelsea sempre esteve cómodo. Marcou cedo depois de um excelente passe em profundidade à procura do oceano de relva entre Danilo e Marcano ter encontrado Diego Costa. O bronco avançado hispano-brasileiro fez do central espanhol o que quis - no fundo fez dele o que é, um central competente mas não fadado para grandes noites - e depois disparou para uma defesa de Casillas que, noutras circunstâncias podia ter sido providencial. Não foi. O Santo que acompanhou Iker em toda a sua carreira até 2012 desapareceu por completo como se viu em Kiev, no Dragão e agora em Londres. A bola bateu com estrondo em Marcano, voltou para trás e Maicon (que como Indi estava muito longe da área quando o lance começou) não chegou a tempo de evitar um golo claro e bem assinalado. Podia ter sido um golo de azar mas foi um golo de incompetência, tanto no esquema de três centrais que não se ajudaram como na forma como Marcano abordou o lance. Um lance perfeitamente exemplar das "lotepeguices" cada vez mais habituais.


Para a primeira parte o Chelsea tomou a iniciativa - ao Porto a vontade de empatar nunca se viu, realmente - e Oscar reclamou um penalty que podia ter sido bem assinalado com os laterais absolutamente expostos, sobretudo Maxi, ao jogo vertical dos ingleses. Das bolas paradas venenosas de William não saiu nada evidente e o Porto podia agradecer ter chegado ao intervalo a perder apenas por um. Isso sim, Lopetegui tinha motivos para estar orgulhoso, a equipa tinha acabado com mais posse de bola. Algo é algo.
Claro que o Chelsea ia marcar outro e foi de novo, ao principio de uma segunda parte - onde o discurso de Lopetegui deve ter sido o equivalente a uma homilia pascal tal foi a forma motivada e diferencial com que a equipa saiu - a anotar com um excelente disparo de um William sempre hábil a aproveitar os espaços provocados pelo mágico 3-5-2.
A saída de Imbula - que, seguramente, jogou por indicações superiores porque é precisar valorizar activos por quem o clube não pagou um tostão para outros lucrarem - e de Maxi eram evidentes e chegaram um golo tarde. O Chelsea podia ter goleado, a tal ponto que nos últimos vinte minutos mais parecia um jogo de treino com um Porto incapaz de criar sequer a sensação de perigo - como contra o Dínamo - deixando claro que os londrinos mereciam passar. Os ucranianos mereciam passar. Os Dragões, não!

No final fica claro que esta derrota era algo natural e expectável. Todos sabem que o Porto não foi eliminado em Londres. Nunca poderia sê-lo porque o rival não era o Chelsea nem na sua pior versão. A péssima gestão de Lopetegui contra um Dínamo de Kiev a roçar o vulgar marcou o destino da equipa. Lopetegui está no Porto para ganhar títulos, valorizar activos e a marca do clube. Títulos, até agora, nem vê-los e não se pode sequer dizer que esteve realmente perto de os conseguir. A valorização de activos foi um dos seus pontos positivos em 2015 mas nesta temporada tem-se assistido precisamente ao oposto, a progressiva desvalorização de jogadores cuja venda dependerá de uma mão amiga e de uma fantástica engenharia financeira. Já o nome do clube, é outra coisa e muito mais séria. Lopetegui é o treinador que apenas logrou uma reviravolta em ano e meio, que fez da Madeira uma via sacra, que não conseguiu ganhar a Jesus e que nos jogos fora na Europa é quase sempre vulgarizado pelo treinador rival. É, sobretudo, um homem que parece ter tantas ideias na cabeça que acaba por não aproveitar nenhuma. Não se decidiu ainda por um sistema táctico (estamos em Dezembro e o 4-3-3, 4-2-3-1, 4-4-2 e o 3-5-2 já andaram por aí) nem por um onze tipo e não fosse a voluntariedade de André André e a boa forma outonal de Aboubakar e talvez fosse já um cadáver desportivo ambulante.
Naturalmente o jogo partiu-se. O Porto tentou atacar com mais critério. Ter Brahimi, Rúben e uma referência na área ajuda, mas os espaços atrás continuavam a ser aproveitados pelo Chelsea para criar perigo. Um cenário onde Mourinho sempre se sente cómodo.


Esta eliminação supõe um importante rombo nas contas do clube que usa, regularmente, as verbas da Champions como garantias para pagar os empréstimos que utiliza para pagar os salários dos jogadores que não paga porque estão vendidos ao chegar. É também um rombo na imagem internacional do clube, tendo em particular conta que o rival era o Dínamo de Kiev e que o Benfica, com um Dínamo de Kiev no seu grupo (o Galatasaray) não teve o mesmo problema e apurou-se como inevitável segundo. É igualmente um rombo tremendo na moral dos adeptos a quem pouco lhes importará a Europa League e que coloca ainda mais pressão na corrida pelo campeonato onde, inevitavelmente, Lopetegui continua atrás de Jesus por inoperância própria. É um momento importantíssimo para o clube. Assumir o desastre na Europa (que era há quinze dias previsível), apostar todas as fichas no campeonato e começar a pensar num futuro sem Lopetegui, um treinador de segunda linha com um padrinho importante e um presidente que parece estar a perder totalmente o norte na eleição de treinadores. Entre Nuno, AVB e Marco Silva está a coisa e Julen já o sabe. Hoje cavou a sua própria sepultura. O Porto, esse, é grande demais para não sobreviver a um tropeção pontual. Para o ano há mais Champions e, esperamos, mais motivos para sorrir.

SMS do dia

Caso seja hoje eliminado da Champions League - um cenário mais provável do que improvável apesar do péssimo ano dos homens de José Mourinho - o que está claro é que essa eliminação é sempre consequência da incapacidade de somar apenas 1 ponto de 6 contra o rival directo, o Dínamo de Kiev.

Hoje o FC Porto joga contra o seu passado - nunca ganhou em Inglaterra - e mede-se com um gigante em todos os sentidos do futebol moderno. Um triunfo será digno de aplausos durante muito tempo mas não se pode exigir a vitória como ponto de partida (assumindo que o Dínamo, com quem temos de igualar o resultado, vai ganhar o seu jogo) porque o Chelsea nunca seria o nosso rival nessa luta. A possível e provável eliminação tem outros responsáveis, em outros duelos que não o de hoje à noite.

Dito tudo isso, o PSV e o Wolfsburgo não são maiores no futebol europeu que o FC Porto e lograram, entre eles, eliminar o todo poderoso Manchester United (que apesar de todas as dúvidas sobre o trabalho de Van Gaal está a dois pontos da liderança da Premier League e investiu fortunas nestes últimos anos pós-Ferguson) portanto, nada é impossível!