sexta-feira, 27 de abril de 2018

O jogo do ano

Depois da brilhante vitória na Luz, da inesperada eliminação em Alvalade e do triunfo sem paliativos frente ao Setúbal o plantel do FC Porto sabe que faltam 270 minutos para acabar a temporada. Não há mais. É ou vai ou racha nestes três jogos que separam a glória da desilusão. Desses três duelos há a obrigatoriedade de conseguir sete pontos de nove possíveis para não depender de tropeções alheios que podem ou não acontecer. Há um Sporting vs Benfica (e sobretudo, dependendo dos resultados de este fim-de-semana pode haver um derby de Lisboa que valha muitos milhões) mas todos aprendemos nestes anos que acreditar que os rivais vão cair num campeonato como este é mais sonho iluso que realidade. Por isso, vamos retirar esse cenário da equação e pensar em nós e como vamos viver estas três semanas. E tudo começa no Funchal onde vamos disputar o jogo mais importante do ano.

Desde que o calendário saiu ficou claro que as últimas três saídas iam ser muito complicadas.
Na Luz o golo de Herrera resolveu uma deslocação não só muito dificil como também determinante por culpa dos pontos perdidos no mês anterior. Mas o campeonato não acabou aí, faltou dois desafios tremendos fora de portas, Guimarães para fechar o ano e o Funchal para marcar um antes e um depois. Partindo do principio que o FC Porto está OBRIGADO a ganhar em casa ao Feirense - do mesmo modo que estava a fazê-lo com o Setúbal e conseguiu-o com um resultado volumoso onde houve mais golos que jogo - então temos de equacionar a possibilidade de que os restantes quatro pontos necessários para o título saiam de dois resultados positivos (vitória+empate) nessas duas saídas. Não há outra. Em Guimarães, com a pressão da última jornada, é importante que o FC Porto chegue com uma pequena margem de erro (o empate) porque nesse dia, se o campeonato estiver aberto, vai valer absolutamente tudo. E há que estar preparado para isso. Pode também dar-se o caso de uma dupla vitória nos próximos jogos e um triunfo do Sporting no derby façam de Guimarães uma festa mas, uma vez mais, convém pensar o pior para não apanhar sustos. Tudo isso transforma o Funchal no jogo do ano. E não podia ser num cenário mais problemático para o FC Porto.

Os Dragões não venceu nos Barreiros há seis temporadas.
A última vitória ocorreu em 2011/12, por 0-2, com Vitor Pereira ao leme e com dois golos de penalty de Hulk, um cenário altamente impensável a estas alturas do campeonato (ter dois penaltys a favor, por um lado, e anotar os dois, por outro).
Depois disso o Porto empatou três vezes a uma bola e perdeu duas por 1-0.
Não é normal, portanto, a história recente do FC Porto, vencer o Maritimo em casa do mesmo modo que, durante os anos noventa e dois mil a visita à ilha da Madeira sempre ficou marcada por pontos perdidos ou vitórias arrancadas a ferros. Que ninguém espere nada mais do que o cenário mais dificil possivel. O Maritimo já fez saber, através de um presidente que até se senta com honras no Dragão, que vão ter o apoio de 6 milhões de portugueses. Sabendo que Carlos Pereira não é bom em matemáticas o certo é que podem ser 6, 5, 4 ou 3 milhões de verdirubros este fim-de-semana mas que, seguramente, na sombra, os que estejam a actuar para que o campeonato dê outra volta, depois do golpe na mesa na Luz, não vão estar tranquilos. As denuncias recentes, tanto da hipotética compra do guarda-redes maritimista como do dinheiro devido pela transferência de Marega só devem provocar a mesma reacção que provocaram argumentos parecidos contra o Estoril: uma resposta de máxima superioridade desportiva em campo para que continuem a falar sozinhos.

O Porto que suba ao relvado do Funchal deve saber que a atitude tem de ser a mesma desses 45 minutos (apesar do desgaste fisico e mental acrescido dos últimos dois meses) porque não há margem de manobra para repetir outro Paços de Ferreira ou Moreira de Cónegos sem levar todos ao limite da sua resistência física e emocional. Exige-se a mesma atitude, a mesma garra e toda a carne no assador desde o primeiro minuto para não dar margem de manobra a erros próprios e alheios, voluntários ou não. Sobretudo porque uma vitória num campo onde o FC Porto tem este historial recente pode revelar-se absolutamente desmoralizador para um rival que está e vai tentar o tudo por tudo para não perder um campeonato de mentira que, só por milagre, ainda pode ter um final feliz. Passar nos Barreiros e voltar com os três pontos é título e meio, não só pela confiança que dá ao grupo mas como pode condicionar, e muito, o ambiente à volta do derby de Lisboa em que o Sporting, vencendo em Portimão, pode chegar em condições de assaltar o segundo lugar. Seria um jogo de vida ou morte sendo ambos conscientes de que uma vitória frente ao Feirense, no dia seguinte, fechava o título de modo (quase) matemático. E depois de tantos meses de luta e sufrimento não há melhor forma que encarar as últimas duas jornadas com esa merecida dose extra de paz. Todos os pontos contam mas há momentos de impacto emocional determinantes. Da mesma forma que o jogo no Estoril ou a vitória na Luz ajudam a definir a temporada 2017/18, o jogo no Funchal tem tudo para ser o jogo do ano. E esse jogo há que ganhá-lo à Porto. Como seja, onde seja, com quem quer que seja. Mas ganhá-lo!

domingo, 15 de abril de 2018

O minuto Herrera

Num ano de merecimentos emocionais, o golo tinha de ser dele. Num ano de mistica recuperada, o golo tinha mesmo de ser dele. Patinho feio desde que chegou, criticado muitas vezes (justamente em muitos momentos, injustamente noutros, por mim o primeiro, em ambos casos), Hector Herrera marcou o que pode ficar para a história do futebol em Portugal como o golo do título de 2018. Além da estética do golo, da importância do mesmo e do minuto em que foi conseguido, no disparo vitorioso de Herrera houve um resumo desta temporada do FC Porto. Patinhos feios, criticados justa e injustamente (por mim o primeiro, em ambos casos), os azuis e brancos deram um golpe na mesa que define bem a viragem de atitude deste projecto. Um projecto que conseguiu repetir a proeza de Vitor Pereira, com uma escassez de meios atrás, sem apoio da instituição, e que está agora mesmo a dez pontos de ser campeão nacional pela primeira vez em meia década.

O FC Porto foi um justo vencedor num jogo equilibrado onde cada equipa foi melhor numa parte mas em que se percebeu claramente que só uma estava disposta a tudo por ela.
A primeira parte do Porto foi fraca. Não foi, ao contrário da excursão de Lopetegui, uma rendição. Foi um reflexo das limitações do modelo, dos jogadores e da pressão do momento aliada á vontade do Benfica, a jogar em casa, de querer fechar as contas cedo. O jogo largo do Porto, apostado na velocidade de um recuperado Marega, falhou quase sempre porque não só o maliano não foi capaz de gerar superioridade como, quase sempre as segundas bolas acabavam nos pés dos encarnados que tinham assim o controlo do esférico e dos momentos do jogo. Não surpreende por isso que nos primeiros 45 minutos as oportunidades e os ritmos de jogo fossem deles. O Porto dedicou-se, sobretudo, a manter-se vivo, a competir, a dar a cara e a esperar melhores momentos. Notou-se algm nervosismo e desacerto mas nunca medo ou pânico perante um rival empurrado pelo estádio.
O segundo tempo foi outra conversa. Despidos os receios, temores e respeitos pelo cenário e pela tensão do momento, os jogadores do Porto foram jogador à Porto e cresceram centimetros. A equipa entrou a querer mais bola - algo que na primeira parte nunca sucedeu - e a marcar os ritmos do jogo, criando muito mais perigo e vulgarizando um Benfica que demonstrou, outra vez - pela enésima vez - que no terreno de jogo não tem argumentos para estar na posição onde outros, fora dele, o colocaram.
Se bem que houve oportunidades para cada lado, ficou claro que o grande perigo do Porto vinha dos seus próprios erros. Sérgio Oliveira continua a demonstrar que a situação o supera. Não só levou um primeiro amarelo a cortar um ataque por culpa de uma perda infantil num lance ofensivo, como depois se dedicou a perder bolas e a fazer faltas, alheado do ritmo à sua volta. Otávio e Soares também passaram pelo mesmo processo, Brahimi continuou a navegar demasiado só e nem Telles nem Ricardo estiveram acertados nas subidas. Ainda assim, o Porto dominava, criava perigo, sobrevoava o ritmo de pausas sucessivas imposto pelo árbitro e crescia, ainda que quase sempre sem criar aquele momento decisivo de perigo à baliza de Varela.

Foi então que as mexidas no banco denunciaram as ambições de cada treinador. Vitória recuou no terreno de jogo e com Oliver, Aboubakar e Corona o Porto deu novo passo em frente. Se o espanhol foi importante para libertar Herrera - sempre pendentes dos desacertos de Oliveira - já o mexicano voltou a decepcionar (é um dos piores jogadores na toma de decisão da história recente do clube) e Aboubakar, fiel à sua forma recente, esteve alheado do jogo desde o primeiro momento. O tempo passava, o Porto procurava oportunidades e só os problemas habituais do modelo - a falta de jogo interior, a insistência em procurar o cruzamento - parecia impedir a chegada do golo. Mas como ás vezes o futebol sim sabe ser justo, o esférico encontrou o seu caminho ao sitio certo. Não foi um golo merecido apenas pelo jogo de hoje mas, sobretudo, pelo jogo no Dragão - e a sua penosa arbitragem - e por todo o ano. Uma jogada interior provocou uma falta por assinalar - mais uma - sobre Brahimi e a bola sobrou para o capitão Herrera. Bem longe ainda da baliza de Varela, o mexicano endossou um remate espantoso que adormeceu no canto superior direito da baliza de uma forma autoritária e decisiva. Foi o golo de todos nós. O golo do homem a quem todos, em algum momento, não hesitamos em criticar e que neste modelo de Conceição se sente como peixe na água. Foi o minuto Herrera. Um minuto que, se tudo correr bem até Maio, nunca nenhum de nós vai esquecer.



Não há nada que celebrar ainda, por muito que a lágrima escorra pelo canto do olho pela importância do momento. São quatro finalissimas, quatro jogos de final de Champions e Mundial juntas que ficam por disputar. Sabendo bem quem é o Benfica e como funciona o futebol em Portugal a margem de erro é absolutamente nula. Não se pode repetir a desastrosa sequência de Paços-Belém nas saídas ao Funchal e Guimarães. As duas vitórias em casa são mais do que obrigatórias, frente a Setúbal e Feirense, sem dar nada por garantido, mas esses dois jogos fora têm todos os condimentos de ser determinantes. Graças ao triunfo que deu a liderança e o goal-average particular frente ao Benfica, o Porto pode ceder um empate mas nada mais. Melhor directamente apontar alto, aos doze pontos, e deixar as celebrações para a visita a Guimarães. Até lá aguentemos a respiração e respiremos fogo. De Dragão.

#NosVamosGanhar

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Guia de rota para a Luz



Vencer na Luz tornou-se praticamente uma obrigação. Um empate – como sucedeu em 2015 – dará sempre alguma esperança correndo o risco de prolongar a agonia desnecessariamente. Quem viu o jogo em Setúbal percebe perfeitamente o que nos espera. O Benfica vai somar todos os pontos que necessite, da forma que seja necessária e contra quem seja necessária. Os que pensam que Alvalade pode provocar uma hecatombe é não conhecer nem o Sporting, nem o estado actual quase esquizofrénico naquele balneário e a história recente de ambos duelos. A isso há ainda que somar que viajar ao Funchal e a Guimarães, duas deslocações altamente complicadas onde não vai haver jokers e ajudas extras. Isso faz do jogo da Luz o santo gral da temporada.

Ironicamente este FC Porto está muito mais formatado para vencer na Luz do que propriamente para triunfar nos campos em que tropeçou. O modelo de Conceição necessita de espaço e na Luz haverá bastante espaço. Se o jogo da primeira volta deu pistas (e eram tanto outro Porto, muito mais dinâmico, e outro Benfica, muito menos em forma) é que o Porto de Conceição sabe os pontos a explorar e sabe como lá chegar. O problema, no caso da Luz, não será tanto o modelo de jogo como noutros casos, mas sim de mentalidade e condição física.

O último mês deixou claro que houve um claro abaixamento fisico do plantel. Por um lado as lesões – um record de lesões musculares que há que explorar a fundo à posteriori com quem de direito – quebraram o ritmo competitivo de muitos jogadores que estavam em forma, sobretudo no caso de Soares e Aboubakar. Por outro a sobre-explotação de futebolistas como Brahimi acaba por ter consequências e contar com o melhor jogador do plantel num estado de forma em que está era previsivel desde há vários meses. Brahimi, historicamente, é um jogador que se apaga nos últimos meses do ano mas com este modelo de pressão alta e maior verticalidade o desgaste é superior e o resultado está à vista. Num plantel efectivamente curto houve pouca margem para fazer gestão mas não é menos certo que em muitos jogos resolvidos Brahimi foi um jogador raramente poupado cedo. Partindo ainda para mais do principio que Oliver não conta e Otávio além das lesões é um jogador de altos e baixos, é dificil imaginar que a criatividade venha de outro lado no terreno de jogo. E com Brahimi assim é de esperar, sobretudo, menos criação e mais verticalidade. E essa verticalidade podia ser até uma boa opção não fosse o caso de que o Porto tem provavelmente o avançado que mais oportunidades necessita para anotar (Aboubakar) e um jogador, Soares, que teve dois meses bons de competição em sete. Na ausência previsivel de Marega e o hábito de Conceição de procurar um Marega II, a verticalidade vai procurar explorar o plano de sempre com caras novas.

Ricardo é o candidato principal a extremo direito (a ausência de Corona e o facto de Hernani não ser um futebolista profissional, ajuda) com Maxi a ocupar a posição de lateral. O modelo já foi testado vezes suficientes para entender que é algo que o técnico não vê com mais olhos, procurando um jogo mais interior de Brahimi na associação com Oliveira e Herrera, deixando a Telles todo o corredor. O problema é que neste estado de forma actual, integrar a Herrera e Oliveira a responsabilidade absoluta do meio-campo é um convite ao desastre. Herrera, que tem sido fundamental em 2018, tem perdido influência no jogo porque o estado de forma, físico e animico,  actual de Oliveira o obriga constantemente a realizar correções em campo. Danilo fará mais falta do que nunca e face esse cenário, podia ponderar-se uma mudança de esquema, uma aposta no 4-3-3 com Reyes como pivot defensivo (ou Oliver a reforçar o miolo) que garantisse controlo e menos vertigem. Tendo em conta a mentalidade de Conceição, a dinâmica actual e a necessidade de ganhar sim ou sim é complicado antecipar que o técnico vai mudar agora. Morrer com as botas postas e o esquema preferencial na cabeça do treinador faz todo o sentido e no final será provavelmente o resultado a ditar a razão das escolhas de Conceição.

No entanto, talvez até mais que o físico, o trabalho fundamental desta semana do técnico com o plantel tem de ser a nível mental. Chegamos a um ponto onde ficou claro que o Porto, este Porto, tem um deficit de títulos e vitórias importantes nos últimos quatro anos e os nervos, a tremideira de cruzar a ponte, como diria o mestre Pedroto, faz-se sentir. É um balneário sem referências, com poucos ganhadores com títulos na sua carreira e nenhum deles com a camisola do clube. Do outro lado está uma equipa habituada a ganhar em piloto automático (como nós sabemos) mas em duelos directos isso habitualmente faz toda a diferença. No último mês, depois do golpe na mesa que foi a segunda parte contra o Estoril e a vitória contra o Sporting, aos jogadores (e ao treinador) entrou a vertigem, entrou o medo e entrou a insegurança, resultado da falta dessa cultura de vitória. Dessa cultura à Porto alimentada durante tantas décadas. Mais do que o 443, mais do que o estado fisico, Conceição terá de recordar todos os seus brilhantes triunfos como jogador e injectar essas memórias, esse à vontade e querer, nos jogadores para subirem ao relvado da Luz sem complexos, sem medos e com a atitude desafiante e determinante que separa os “candidatos a” dos “campeões”. Se esse trabalho não for feito será muito dificil que o resultado final seja positivo.

Depois da Luz, segundo o resultado, a época fica em suspenso. Portanto nem vale a pena pensar sequer nisso. Há três pontos para ganhar e só três pontos para ganhar. Três pontos a ganhar à Porto. Três pontos mentalizados à Porto. Três pontos. Não há mais. Não há menos. Que venha o apito inicial.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Sete meses ao lixo

Em Agosto ninguém imaginava que o FC Porto podia realmente lutar pelo título. Ninguém imaginava chegar invicto a Março. Chegar com a faca e o queijo na mão ás últimas sete jornadas. Em Belém, depois de uma noite de tempestade em Paços de Ferreira, sete meses de trabalho e ilusão foram deitados ao lixo. O FC Porto entrega de mão beijada a liderança do campeonato com seis pontos perdidos em três jogos, perdidos por culpa própria em multiplos sentidos. Sobretudo perdidos por Sérgio Conceição. O homem responsável por sete meses de sonho foi também o principal responsável por dois tropeções que podem vir a ser decisivos.

Todos sabem que o importante é liderar no último dia.
Não é por casualidade que o último FC Porto campeão nacional, quando já estava o Polvo montado, ainda que não tão bem oleado, chegou à liderança a 90 minutos e meio do final do campeonato. Liderar durante todo o ano um torneio viciado para depois entregar essa liderança por motu próprio no sprint final só aprofunda a decepção. É isso que o FC Porto tem feito. Por um lado era inevitável. Por um lado só há campeonato a estas alturas porque o Polvo o quis, como sempre se soube que ia passar. Houvesse algum tipo de vergonha ou justiça, conceitos alheios ao futebol português, o campeonato estaria decidido há semanas. Mas não há e todos sabem que não haverá. Por muito que se revele, por muito que se investigue nada passa. Nada sucede. Nada. Absolutamente nada. E por isso mesmo a luta segue e nesse contexto aparece o segundo elemento inevitável para esta perda da liderança: a falta de ideias de Sérgio Conceição.

Foi confrangedor ver o FC Porto em Paços. Foi igual de doloroso vê-lo em Belém. E não foi tão diferente de vê-lo em várias saídas. Quando não há espaços, quando o motor já está gripado depois de tantos jogos acumulados, vêm ao de cima as carências, tanto do corpo técnico como dos jogadores. O paradigma Conceição (como o de Jesus) assenta num inicio de época forte, um modelo muito fisico, vertical e reactivo que chega ao final do ano sem folêgo e plano B. Assim perdeu Jesus quatro títulos e assim vai perder Conceição o primeiro. Não existe, nem tem sequer havido sensação de existir, um plano B. Não há Marega, que permitia o modelo funcionar pelas suas caracteristicas, mas continua a procurar-se no plantel o que não existe, um Marega II, com um modelo similar mas sem as ferramentas certas. Entre isso e que os jogadores chave do modelo estão mortos fisicamente (Brahimi) ou estiveram/estão lesionados e sem ritmo (Alex Telles, Danilo, Soares/Aboubakar) e fica fácil entender que um treinador de nivel alto procuraria um plano alternativo que potenciasse o que tinha para potenciar e ao mesmo tempo procurasse surpreender os rivais que já sabem de memória como a sua equipa joga. Conceição não tem esse perfil.
Chegou a Belém com dois laterais direitos porque não havia Marega. Chegou a perder ao intervalo e com péssimas sensações e não alterou nada até dez minutos depois do inicio do segundo tempo e ainda assim as mudanças foram de peças, não de ideias. Bolas pelo ar, bolas paradas e pouco mais. Nada mais. Nem toque e pausa (Oliver), nem um defesa por um jogador de meio-campo para gerar mais espaço (Danilo por um desastre chamado Osorio). Nada. Pura e simplesmente esperar por uma inércia que há um mês que não existe porque não há forças nem rivais dispostos a ceder os espaços que fizeram o modelo funcionar.

No fundo o Porto que cai em Lisboa e que cai na Liga é exemplificado por Sérgio Oliveira.
Num jogo horrivel do médio, com uma absoluta lentidão de movimentos, imprecisões no passe e sem nenhum critério, Oliveira foi em Belém, como tem sido no último mês, o jogador que é na realidade. Ao entrar numa dinâmica ainda positiva, substituindo Danilo mas numa equipa ainda com todos os titulares, Oliveira cresceu com o grupo mas o certo é que foi o grupo perdeu força e peças e Oliveira vulgarizou-se a ponto de voltar a ser o jogador que é e sempre será. E como ele os casos podem ser repetidos em vários outros jogadores que potenciados por uma ideia colectiva parecem muito superiores que o que são individualmente.
Esse foi o mérito de Conceição durante sete meses, o de esconder vergonhas individuais numa grande dinâmica colectiva e o seu demérito é, precisamente, o ser incapaz de emendar e entender que o modelo está gasto, que algumas das peças estão gastas e que é necessário aplicar um plano B com mais critério, lógica, gestão de bola e de esforços para impor uma superioridade sobre os rivais que é real - porque este Porto não é um grande Porto mas não é inferior a nenhum outro clube na liga na realidade. O Porto com Conceição nunca deu esse passo afirmativo, sempre procurou ser reactivo e quando se lhe pediu ser autoritário desde o controlo, perdeu o norte e com ele perdeu tudo o resto.

A derrota mais do que merecida em Belém pelos erros individuais na defesa, na construção de jogo e na execução ofensiva expõem a realidade e deixa um sabor muito amargo. Vencer na Luz torna-se obrigatório mas ao mesmo tempo torna-se fundamental fazer a pontuação máxima nos restantes jogos. Algo que há um mês parecia possível pela dinâmica que existia e que agora, sinceramente, com a forma de trabalhar de Conceição e as limitações fisicas e mentais dos jogadores cada vez mais evidentes, parecia altamente improvável. Depois de uma pausa que parecia ajudar o FC Porto mais do que a nenhum outro clube, pela recuperação de peças importantes, foi possivel entender que Conceição não entendeu nada do que estava a passar no mês anterior. E isso é o pior sinal possível para o mês de competição que falta.

Por fim uma adenda fundamental.
Conceição e os seus fizeram os adeptos sonhar e caindo caimos com eles porque não podemos abandonar no desespero quem deu ilusão. Isso não se aplica no entanto a um dos principais responsáveis pela situação presente a dia de hoje: Jorge Nuno Pinto da Costa.
Um ano mais a direcção do clube faltou ao escudo, aos adeptos e aos profissionais.
Faltou forçando a intervenção da UEFA que manietou e muito a gestão do plantel.
Faltou calando, calando e calando num ano não só gravissimo a nivel de arbitragens, com o VAR ao barulho, como calando, calando e calando, quem de direito, na denuncia mais grave da história do futebol português.
Nunca o FC Porto precisou tanto de um Presidente vivo. Activo, vocal, feroz, preparado a matar e a morrer pelos seus, fazendo tremer os cimentos do futebol português depois de se fazer evidente o estado putrefacto em que se encontra. Nunca o FC Porto teve um Presidente tão mumificado. No final, sem ter tido um só percentil de responsabilidade na ilusão positiva criada, tem muita da responsabilidade neste cataclisma inesperado que se anuncie. O FC Porto é um clube centenário e com memória. E a memória destes anos é tão importante como a dos anteriores. E é uma memória marcada pela estupefação, pela decepção e pela forma como tudo o construido foi destruido pelos mesmos protagonistas. E com o mesmo resultado, uma nova hegemonia do Polvo frente ao Porto que se comporta como quando eramos "bons rapazes".