domingo, 29 de julho de 2018

Conceição, Jesus e as previsões de José Eduardo Simões

José Eduardo Simões e Sérgio Conceição (foto: Record)

José Eduardo Simões (ex-presidente da Académica) conhece bem Sérgio Conceição…

«O acórdão do Conselho de Justiça (CJ) que mantém a suspensão de 50 dias a Sérgio Conceição, aplicada na sequência dos insultos dirigidos ao árbitro Bruno Paixão e a José Eduardo Simões durante o Sp. Braga-Académica de março de 2015, revela vários pormenores dos relatórios de árbitro, delegados e polícia que ajudam a perceber o que aconteceu.
Assim, nos "factos provados", é descrito que "aos 22 minutos da primeira parte (...), José Eduardo [Simões], dirigindo-se a Sérgio Conceição, disse 'ò filho da p..., vai trabalhar'". (…)
Já no túnel de acesso aos balneários, Conceição "agarrou José Eduardo Simões, chamou-lhe 'filho da p...' e disse-lhe 'paga o que deves'", pode ler-se ainda nos "factos provados" do acórdão.»


Hoje, no jornal O JOGO, José Eduardo Simões escreve o seguinte:

«Sérgio Conceição é um exemplo de capacidade de trabalho, de talento e de ambição. Sabe treinar qualquer equipa; é um óptimo treinador de jogo; sabe valorizar activos perdidos; e mostrou capacidade para apresentar resultados com meios algo escassos face aos da concorrência. Tem objetivos muito claros. Ele quer conquistar títulos europeus e não apenas nacionais. Pretende ter no currículo pelo menos o que Artur Jorge, Mourinho ou Villas-Boas alcançaram. E quer ter condições para poder alcançar rapidamente esses objectivos. Se as não tiver, sairá do Porto e de Portugal no final da época. Não sei por que razão, mas vejo escrito nas estrelas o regresso de Jesus no final desta temporada, mas o equipamento que virá usar não será vermelho nem verde


Não conhecia os dotes de Zandinga do ex-presidente da Académica.
Pois bem, fica aqui, para memória futura…

domingo, 22 de julho de 2018

Um adeus que tarda

Nota prévia: este texto foi escrito pouco depois da conquista do título; entretanto deu-se o caso de Alcochete e os nossos problemas até nem pareciam assim tão graves. O problema é que depois da poeira assentar, percebe-se que os problemas são inegáveis e não vão desaparecer com o tempo.

--------------------------------------------------

Após quatro longos anos de travessia do deserto, encontramos finalmente o messias que nos guiou de volta à "terra prometida". Aqui chegados, talvez esteja na hora de olhar para trás e pensar no quão fortuita foi essa descoberta, e acima de tudo, como poderemos evitar futuras travessias - uma pista: não adorar falsos deuses.


Para quem já não estiver relembrado, o Sérgio Conceição não foi a primeira escolha para a "dança de cadeiras" em que se transformou o banco do Porto - foram 5 treinadores em 5 anos - mas a 2ª ou 3ª escolha depois do Marco Silva, o inútil que achou não ser possível lutar pelo título com os jogadores que teria à disposição - rapaz, deves estar a sentir-te muito estúpido...! O Sérgio Conceição foi, portanto, um incrível golpe de sorte. O mesmo que avaliar a montra de electrodomésticos do Preço Certo em 10 euros... e mesmo assim acertar. Só que a sorte não dura sempre; e quando ela faltar, outros factores entram em jogo como a dedicação, o profissionalismo...

É por isso que, neste momento de grande alegria e euforia, se impunha que esta direcção, completamente esgotada e sem mais para oferecer, aproveitasse a porta que o Sérgio Conceição lhes entreabriu, e saísse de cena. Com eterna gratidão por tudo o que fez de bom... mas sem esquecer que há 5 anos deixaram sair um treinador campeão - e viu-se como eles são fáceis de encontrar; atolaram o Clube em dívidas a ponto ficar sob vigilância da UEFA, e de forma completamente passiva, deixaram que o tal "polvo" tomasse conta de tudo, comendo e calando. Só um elemento novo, alguém vindo de fora, poderia retirar o Porto do atoleiro; com quem já cá estava, nunca se poderia contar... porque foi quem já cá estava que levou o Porto a esse mesmo atoleiro.


A pergunta que se impõe é: o que é que esta direcção tem para oferecer? E a resposta é simples: nada. Nada do que esta direcção fez nos últimos 5 anos foi extraordinário, excelente ou sequer a um nível compatível com a experiência acumulada. Em desespero, contrataram o primeiro treinador que disse "sim". Contratações não houve porque não há dinheiro. É isto o melhor a que o Porto pode almejar? Eu não acredito. Nem aceito.

Haja consciência de que tudo tem um fim. O desta direcção já chegou (há algum tempo). Aproveite-se a oportunidade para sair (merecidamente) pela porta grande. E para virar a página. O próximo deserto está aí à porta. Se nada mudar, engole-nos.

--------------------------------------------------

Como é óbvio, a janela de oportunidade para o tal virar de página, esgotou-se, mas o pior é perceber que nada mudou. É neste momento mais provável perdermos o treinador, do que assistirmos a um esforço consciente para evitar erros recentes. Ainda há tempo para emendar a mão, mas fica claro que esta Direção não consciência do que fez mal, e como tal não tem qualquer interesse em mudar de rumo. O Porto não precisa de um presidente-adepto, mas seguramente também não precisa do presidente que tem actualmente.

domingo, 1 de julho de 2018

Enterro do futebol de posse

A chegada dos "pseudo intelectuais" ao futebol teve muitas coisas boas. Os métodos, a ciência e a inteligência permitiram trazer para o jogo algumas dimensões menos trabalhadas anteriormente.
Houve, no entanto, um ponto que os intelectuais trouxeram e que foi, a meu ver, muito negativo: a cultura (quase a religião) da posse.
Já sénior, tive um treinador que, com ironia, dizia: "O futebol é uma coisa muito simples. É pegar na bolinha e pô-la dentro da baliza".
Os intelectuais repararam que, na maior parte dos jogos, segundo as estatísticas, ganhava quem tinha mais tempo a bola, ou seja, quem tinha mais posse. Concluíram, então, que a possa originava e era causa da vitória.
Associaram a esta conclusão - absurda, como é evidente - uma recomendação aos jogadores: "Não larguem nunca a bola, mesmo que estejam em situação de risco e próximos da vossa baliza, pois se mantiverem a bola, não sofrem golos".
Este tipo de pensamento foi, como disse, muito negativo: vemos jogos que parecem "meiinhos" e equipas a sofrer golos ridículos, originados por perdas de bola em zonas proibidas (durante a minha formação, jogador que perdesse a bola em zona complicada, saía imediatamente do jogo).
Mas tudo continua, alegremente, a associar posse a vitória.
Ora, a posse não é causa da vitória. O que se passa é que, habitualmente, a melhor equipa tem mais posse; e a melhor equipa, habitualmente, ganha o jogo. Mas não ganha por ter mais posse, antes por ser mais eficaz nos diversos "momentos" do jogo (a defender, a disputar cada lance, a construir e, fundamentalmente, a finalizar).
O absurdo da posse fica mais exposto em provas onde a excelência está mais presente: em campeonatos da Europa e campeonatos do Mundo. Aí, manifestamente, não vai mais longe quem tem mais posse, desde logo porque equipas teoricamente inferiores, conseguindo concretizar nas poucas oportunidades que têm, alcançam o sucesso.
Fiz essa análise no campeonato da Europa de 2016, em que Portugal não teve um futebol de posse e foi feliz.
De resto, muito mais ligada à vitória está a distância percorrida pelos jogadores, por ser um indício de chegada mais rápida à bola e de sucesso na disputa de cada lance.
Neste campeonato do Mundo tivemos menos posse contra Marrocos (mas ganhámos nos duelos) e vencemos. Tivemos mais posse contra o Uruguai e perdemos.
O que fez o Uruguai? Fez o que dizia o meu treinador: pegou na bolinha e colocou-a dentro da baliza.
Também em Portugal, tivemos o exemplo do que sucedia com Lopetegui e do que sucedeu com Sérgio Conceição.
Tudo é importante: defender bem, construir bem e, especialmente, finalizar bem. A posse  pode ser um meio, mas nunca deve ser um fim.
Eu prefiro o futebol da luta, da disputa de cada lance, do correr mais do que o adversário, do risco nas jogadas de ataque e do limpar a zona defensiva (não arriscando aí). 
Espero estar a assistir ao enterro do futebol de posse, o futebol dos que aceitam e se resignam à frase "Jogámos como nunca, perdemos como sempre".
Que esse futebol descanse em paz.