sexta-feira, 31 de outubro de 2008

As remunerações obscenas dos administradores da SAD

As remunerações dos membros executivos do C.A. da SAD (Pinto da Costa, A. Caldeira, F. Gomes e R. Teles) ascenderam a 2,3 milhões € na época 2007/08, segundo o Relatório e Contas.

Isto traduz-se num aumento de 30% em relação à época anterior (1,75 milhões €), e corresponde a uma remuneração média por pessoa de cerca de 40mil €/mês.

O primeiro comentário que isto me suscita é o seguinte: numa época em que o rendimento desportivo foi em quase tudo idêntico ao anterior (vitória no campeonato, 1/8s de final na Liga dos Campeões) é à primeira vista difícil de compreender um aumento tão significativo.

A outra grande novidade (surpresa, mesmo, já que não foi anunciado antes dos factos) é que o esquema de remuneração mudou em relação ao passado, nomeadamente no que diz respeito aos bónus: anteriormente estes eram pura função do lucro do exercício; agora passaram a ser pura função do rendimento desportivo.

Sempre defendi que a remuneração do C.A. da SAD dependesse do rendimento desportivo, já que este é o principal objectivo do futebol do FCP. Logo acolho essa mudança de forma positiva.

No entanto penso que nem tanto ao mar, nem tanto à terra... o desempenho financeiro é também importante: não porque um dos principais objectivos da SAD seja distribuir dividendos, mas sim porque a competitividade desportiva a médio prazo (e às vezes até mesmo a curto prazo) depende certamente do desempenho financeiro, já que os jogadores não são pagos com amendoins. Como diz o ditado popular: “sem dinheiro não há palhaços”.

Mas se concordo em princípio a 100% com um esquema de bónus em função do desempenho desportivo, como dizem os ingleses: “the devil is in the details”...

A remuneração de base da SAD em 2007/08 foi de 1,6 milhões €, o que para simplificar dá uma média de cerca de 30,000€/mês por membro do C.A. (mas ressalve-se que Pinto da Costa ganha mais do que os outros, sendo presidente do C.A.). Este é o valor que eles recebem, “faça chuva ou faça sol” (i.e. mesmo que o FCP fique em 7º lugar no campeonato e/ou a SAD faça um prejuízo de largas dezenas de milhões €).

Para além disso o esquema de bónus é como se segue:

- 50% no caso do FCP terminar o campeonato em 2º ou 3º lugar
- 75% no caso do FCP ganhar o título
- 100% no caso do FCP ganhar a taça UEFA
- 120% no caso do FCP ganhar a Liga dos Campeões

Antes de mais, parece-me completamente absurdo - e um autêntico gozar com a cara do adepto anónimo que faz sacrifícios para acompanhar o seu FCP - que haja um bónus (e logo de 50%!) se ficarmos em 2º ou 3º lugar no campeonato. Compreende-se para um Braga, não se compreende de todo para um FCP. Perguntem a um adepto (ou um accionista) se consideram que nesse caso o trabalho feito foi bom... a resposta será provavelmente uma interjeição bem tripeira, que me escuso de transcrever.

Este valor de base parece-me extremamente exagerado, principalmente quando não estamos exactamente em risco de ver um Fortis Bank ou Lehmann Brothers vir-nos roubar um Adelino Caldeira ou um Reinaldo Teles oferecendo-lhes propostas milionárias...

Aliás, muitos bons gestores internacionais (quanto mais em Portugal...) em cargos de maior responsabilidade de um ponto de vista empresarial (em empresas multinacionais) ganham menos do que este valor de base dos gestores da SAD, mesmo após a contabilização de bónus por desempenho que recebem nas suas empresas.

Pessoalmente acho que um salário de base de 1/3 desse valor (uns 10mil €/mês), para além dos fringe benefits que os administradores detêm (como carros de alta cilindrada) seria um valor mais do que adequado, e não iriam certamente passar fome. Neste momento os administradores da SAD ganham muito mais do que um presidente dos EUA, um presidente da Comissão Europeia ou um presidente da ONU. Isto faz algum sentido?

Aliás, nem temos que temer que um tal salário os afastasse para cargos fora do FCP: isso é uma questão teórica que nem se coloca, já que sabemos que os administradores estão na SAD apenas por amor ao clube. E cá entre nós: que grande empresa é que vai querer contratar um Reinaldo Teles? [já agora, aproveito para lhe aqui deixar os mais sinceros votos de melhoras]

Considero pois que o grande problema neste esquema de remuneração está no elevado salário de base + bónus por 2º ou 3º lugar no campeonato. A partir daí a progressão (bónus em % do salário de base) em função das conquistas desportivas (vitória no campeonato e competições europeias) parece-me mais ou menos correcta, embora pudesse fazer sentido introduzir uma etapa intermediária na Liga dos Campeões (acesso aos 1/8s de final) e talvez ajustar um pouco a % exacta para os diferentes títulos.

Para além disso considero que o desempenho financeiro também devia ser tomado em conta (com um peso de, digamos, metade dos bónus por desempenho desportivo, já que este é sem dúvida mais importante). Ao não existir, podemos assistir a uma situação de injustiça em que um bom trabalho financeiro não é recompensado, ou inversamente em que uma eventual gestão ruinosa não seja punida (nesse caso o C.A. que se seguir que se desenrasque).

Considero finalmente que um eventual bónus por desempenho financeiro devia ser em função dos lucros acumulados ao longo do mandato de 3 anos (de forma a evitar distorções como tem acontecido nos anos anteriores: uma época com dezenas de milhões de prejuízo não foi punida, mas já uma época com lucro deu direito a 6% do mesmo para o C.A.).

Como sabemos, o lucro do exercício depende imenso do volume de mais-valias nas vendas de jogadores, algo que varia imenso de ano para ano (curiosamente e de forma muito sui generis, a SAD considera estas transacções com passes como algo “operacional”). Faria mais sentido olhar para o cômputo geral de 3 anos, em vez de uma única época.

Concluindo: acho muito bem que haja prémios de desempenho, e se o FCP ganhar a Liga dos Campeões os administradores merecem um chorudo bónus. No entanto os salários de base dos administradores neste momento (mesmo que não ganhem nada) é obsceno, e com o novo esquema de remunerações temos um autêntico gozar com a cara dos adeptos aos estabelecer-se um prémio em caso de 3º lugar no campeonato.
Será que os jogadores também recebem bónus se acabarmos o campeonato nesse lugar? Eu diria que nesse caso o mais provável é que hajam umas pedradas nos seus carros...

A "equipa em construção"

Algo que se tem dito com frequência nas últimas semanas é que esta é “uma equipa em construção”.

Bem, constato antes de mais que no segundo Verão à frente do FCP Mourinho fez 7 contratações; Jesualdo, no mesmo ponto temporal, fez 11. Ou seja, parece-me algo estranho que haja tantas contratações ao começar a 3ª época à frente da equipa, e não me parece que houvesse qualquer inevitabilidade nisso (dos jogadores mais utilizados na época passada saíram apenas 3, e há um ano atrás já tinha havido uma apregoada “limpeza de balneário”).

Para além disso: se é verdade que ainda é cedo para tirar conclusões sobre as contratações deste defeso, também não é menos verdade que seria de esperar que nesta altura já houvesse maior adaptação e sucesso das contratações das duas épocas anteriores. Ora isso não é minimamente o caso, e provavelmente é aí que está o maior problema da “equipa em construção”.

Repare-se que dos 17 jogadores contratados nos dois anos anteriores apenas Tarik, Fucile, Nuno e Fernando são hoje sucessos relativos (e muito relativos, diga-se de passagem; nenhum deles se impôs claramente e consistentemente como uma mais-valia desportiva).

Se formos a acrescentar a esta lista as 11 contratações deste defeso, qual é o ponto da situação dos últimos 3 anos?

Considero que:

- Zero foram um claro sucesso
- 2 foram “assim-assim” (J Paulo, Adriano)
- 8 foram / estão a ser um claro fracasso (Ezequias, Lino, Kaz, Mareque, Benitez, Renteria, Bolatti e Farias);
- 5 são dúvidas com tendência para o sucesso (Tarik, Fucile, Tommy, Fernando e Rolando)
- 4 são dúvidas com tendência para o fracasso (Stepanov, Mariano, Guarín, Hulk)
- 8 são dúvidas puras (Sapunaru, Pelé, George Lima, Edson, D Valente, C Rodriguez, Pedro Moreira, Scoppa)

É muita dúvida, e poucos indícios que sejam muito encorajadores. O problema é que as competições continuam e não esperam pela maturação dos jogadores...

Não haja dúvidas: a margem financeira da SAD é muito pequena e quase certamente no próximo Verão sairão por isso mesmo mais umas duas jóias da coroa (sem que haja grande margem para re-investimento; menos do que nos últimos anos); basta ler as entrelinhas do extracto publicado do último Relatório e Contas de 2007/08 para nos apercebermos disso.

Portanto das duas uma: ou umas quantas destas “dúvidas” se afirmam sem margem para dúvidas como “certezas” e / ou a formação começa a dar frutos a muito curto prazo, ou então vamos passar por um mau bocado.

PS – recordo que na avaliação de uma contratação tomo em conta o custo de aquisição: quanto mais alto, maior o nível de exigência. Esse factor pesou bastante na avaliação que faço a Farías, C Rodriguez, Hulk e Mariano; não fosse o custo elevado e ter-lhes-ia dado uma nota um pouco mais positiva.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A SAD vai apresentar no exercício de 2007/2008 um resultado...


"Positivo abaixo de 5 M€", foi a opinião de 40% (9 votos) dos participantes nesta sondagem.

Os restantes participantes consideraram que a SAD ia aprensentar um resultado "Negativo acima de 5 M€" (22%, 5 votos), "Positivo entre 5 e 10 M€" (18%, 4 votos), "Negativo abaixo de 5 M€" (13%, 3 votos) e "Positivo acima de 10 M€" (4%, apenas 1 voto).

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

10 anos de contratações

Faz cerca de 10 anos que a SAD para o futebol foi criada, e penso que será interessante fazer um ponto sobre o sucesso (muito, assim-assim ou pouco) no que diz respeito à política de contratações, até porque é um tema na ordem do dia.

Há quem se queixe de que a taxa de sucesso se deteriorou imenso recentemente e/ou que agora contratamos a granel, que "antes não era assim". Aliás, tanto se bate nesse ponto que por curiosidade decidi investigar isto de uma forma menos superficial: recolhi a lista de todas as contratações de jogadores seniores nos últimos 10 anos e atribuí a cada uma delas uma nota (“F” para fracasso, “S” para sucesso, “A” para assim-assim e “D” para dúvida).

Essa avaliação toma em conta o custo de aquisição, o rendimento desportivo e o encaixe numa eventual venda. Ou seja, o factor financeiro não é despiciendo quando se sabe que um clube como o FCP deve vender mais caro do que compra para ser competitivo.

Por exemplo, um Seitaridis é para mim um caso de sucesso (o rendimento desportivo foi razoável mas as mais-valias na venda imensas); Diego é um caso “assim-assim” por ter sido vendido muito ligeiramente abaixo do preço de custo e ter tido altos e baixos enquanto esteve no FCP; Paulo Assunção é um caso de sucesso, já que apesar de ter saído praticamente a custo zero foi um pilar incontestado da conquista do tricampeonato (e custou relativamente pouco).

Dividi a análise em 3 períodos: o pré-Mourinho (1999-2002), o período Mourinho (2002-2004) e o pós-Mourinho (2004-2008).

Por curiosidade, no triénio anterior a Mourinho fizémos em média 11 contratações de jogadores seniores em cada época; com Mourinho contratámos 9 jogadores por época; e nos últimos 5 anos contratámos outra vez 11 jogadores/época.

Pois muito bem, o que constato é que no triénio 1999-2002 a taxa de sucesso (subjectiva, claro) foi de 12%; nos dois anos seguintes foi de 55%; e nos últimos 5 anos foi de cerca de 30%.

Saliento que estas contas excluem todas aquelas contratações que estão em “dúvida” (que é por exemplo o caso da grande maioria das contratações desta época, mas inclui também alguns jogadores contratados há já algum tempo, como um Ibson, que ainda não se impôs no FCP). Excluem também todos os jogadores contratados para os escalões de Formação (juniores ou ex-equipa B).

Vejo portanto que em quantidade de contratações houve um pequeno decréscimo com Mourinho, mas já antes dele chegavam praticamente tantos jogadores às Antas todos os anos como no passado recente, algo que possivelmente surpreenderá os menos atentos.

Mas acima de tudo verifico que o sucesso durante o “principado” de Mourinho foi a clara excepção nos últimos 10 anos (e, diga-se de passagem, o homem não é infalível como às vezes se diz - 55% é bom mas não é fantástico, mesmo dando o desconto de ter chegado um ou outro jogador sem que tenha sido consultado, como foi o caso de Serginho).

Na realidade, estamos melhor nos últimos anos do que nos 3 anos anteriores à chegada de Mourinho. No entanto penso que 30% é claramente insuficiente, principalmente quando se gasta tanto em contratações como nunca antes se tinha visto – só este ano foram 28 milhões de €, e desde 2004 já se gastaram bem mais de 100 milhões de €.

Repito, mais de 100 milhões de €. Neste momento suspeito que haja quem leia isto e diga: ah, mas dos jogadores que chegaram desde 2004 houve quem fosse vendido por muito dinheiro: então e o Pepe? Então e o Anderson? Então e o Quaresma?

Meus amigos: dos jogadores que chegaram depois de Mourinho (excluindo por exemplo Bosingwa), as grandes vendas consistiram (até ao momento) em Pepe, Anderson, Quaresma. Ora entre estes encaixámos uma receita total de venda inferior a 60 milhões de € (excluindo naturalmente a % dos passes que não nos pertencia). Ou seja, muitíssimo menos do que se gastou em contratações neste período.

E não me parece que a curto prazo um Lucho ou Lisandro (duas certezas) sejam vendidos por muitas dezenas de milhões ao mesmo tempo que são substituídos por jogadores ao seu nível.

Espero pois sinceramente que de entre todos os que ainda considero como “dúvida” (e são muitos: 22) haja uma alta % de acerto de forma a sustentar ou subir a média (de modo a sustentar as finanças da SAD e acima de tudo a conquistar campeonatos).

Aliás, mais do que um desejo isso é uma absoluta necessidade: recordo que no triénio anterior a Mourinho perdemos 3 campeonatos consecutivos e fizémos um rombo financeiro tal que fomos obrigados a injectar dinheiro fresco via um aumento de capital (e duvido que neste momento haja quem esteja disposto a meter muito dinheiro no FCP). Das imensos contratações desse período só encaixamos dinheiro que se visse com Costinha e J. Andrade, mas desperdiçou-se imenso dinheiro (como por exemplo no emblemático Ibarra).

E na altura ainda tínhamos um número considerável de jogadores da casa que eram mais-valias desportivas, o que ajudou a atenuar o problema. Hoje e no plantel temos apenas Bruno Alves (e mais dois ou 3 ex-júniores que para já não são mais-valias desportivas).

Para complicar ainda mais, as receitas milionárias de 2004 deram-nos um imenso fôlego financeiro em relação aos rivais da 2ª circular; 4 anos mais tarde, esse fôlego praticamente desapareceu (aliás, neste defeso o SCP deu-se ao luxo de gastar 10 milhões em contratações sem vender um único jogador fulcral).

Já agora, e sobre o tal fôlego financeiro: no período Mourinho o FCP gastou pouco mais de 20 milhões em contratações e encaixou mais tarde em vendas, nesse mesmo grupo de jogadores (para não misturar alhos com bugalhos), 85 a 90 milhões €. Ou seja, um saldo positivo de 60 a 70 milhões, um valor suficiente por si só para financiar meia-dúzia de anos do défice crónico. Por aqui se mede o sucesso da política de contratações enquanto Mourinho cá esteve (já nem falo no sucesso desportivo, claro).

Mas regressando às contratações mais recentes: a questão das “dúvidas” é tão pertinente que regressarei amanhã com um artigo sobre a “equipa em construção”.

Um último ponto: no período Mourinho tivémos 9 contratações de sucesso, e 8 delas (com a excepção de C. Alberto) saíram directamente do campeonato português. Coincidências?

Não creio.

E não aceito que se diga que a qualidade dos jogadores em Portugal (portugueses ou estrangeiros) tenha decrescido tanto nos últimos 5 anos: o Derlei de Leiria era mais do que o Wesley do Leixões? O P Emanuel do Boavista era mais do que alguns dos centrais que por aí andam? O P Ferreira do Setúbal ou o Bosingwa do Boavista eram mais do que o J Pereira de Braga ou o Antunes do Paços? Etc etc.

Outro factor que certamente também não entra aqui é o custo relativo dos jogadores (apregoa-se que os sul-americanos são mais baratos, mas nada mais errado).

P Ferreira custou 2 milhões; Antunes (tendo uma idade parecida e um CV parecido) custou menos do que isso à Juventus 4 anos mais tarde. Rolando custou agora ao FCP 1 milhão de €. Linz foi vendido ao Braga por 1 milhão €, mas um Hulk aparentemente vale 11 milhões apesar de um CV muito ligeiro. Preciso de dar mais exemplos?

Para que possam comparar com as vossas avaliações pessoais, aqui fica a lista das contratações dos últimos 10 anos, incluindo a nota que lhes atribuí.

1999/2000: Alessandro (F), R Sousa (A), Argel (A), Rodolfo (F), Romeu (A), Hilário (F), Clayton (A), Duda (F), Cajú (F), Domingos (A)

2000/01: Alenitchev (S), André (F), Pena (A), J Andrade (S), Ovchinikov (F), P Espinha (F), Maric (F), Pavlin (F), Luis Claudio (F), Pizzi (F)

2001/02: Costinha (S), Sousa (F), Rafael (F), Paulo Santos (F), M Silva (A), Rubens Jr (A), Soderstrom (F), Ibarra (F), Kaviedes (F), Quintana (F), Esnaider (F)

2002/03: M Ferreira (F), Nuno (A), P Emanuel (S), N Valente (S), P Ferreira (S), Bruno (F), Maniche (S), Tiago (F), Jankauskas (S), Derlei (S)


2003/04: C Alberto (S), P Mendes (S), Maciel (A), S Conceição (A), Bosingwa (S), R Fernandes (F), McCarthy (S), Serginho (F)


2004/05: H Postiga (F), Pepe (S), L Bonfim (F), Ibson (D), P Assunção (S), Pitbull (F), Diego (A), Meireles (S), Seitaridis (S), Quaresma (S), Leandro (F), L Lima (F), Rossato (F), Fabiano (F), H Leal (F), Areias (F)


2005/06: Sonkaya (F), Cech (A), Sokota (F), Anderson (S), Jorginho (A), P Ribeiro (D), Alan (F), Lucho (S), Lisandro (S), Helton (S), B Moraes (D), Sokota (F), C Peixoto (F)


2006/07: Tarik (A), Ezequias (F), João Paulo (A), Diogo Valente (D), Fucile (D), Mareque (F), Adriano (A), e Renteria (F)


2007/08: Nuno (S), Fernando (D), George Lima (D), Lino (F), Edson (D), Bolatti (F), Farias (F), Stepanov (D), Kazmierczak (F)


2008/09: Mariano (D), Guarin (D), Sapu (D), Rolando (D), Benitez (F), Tommy (D), Cebola (D), Hulk (D), P Moreira (D), Pelé (D), Scoppa (D).

SMS do dia - XVI

As contas da SAD:

Relatório e Contas Consolidados 2007/2008
Relatório e Contas 2007/2008
Orçamento para a época 2008/2009

Actualização:

Relatório e Contas 2007/2008 do clube

Os ovos, as omoletes e o cozinheiro (III)


Dentro da lógica prospecção, contratação, valorização de activos e venda, chegados ao final da época 2007/08 a SAD portista viu-se, mais uma vez, na contingência de ter de vender algumas das suas “jóias”, de modo a gerar as mais-valias necessárias (e que estavam orçamentadas) para manter o barco à superfície.

O primeiro a partir foi Bosingwa. Perante uma proposta de 20,5 milhões do Chelsea, já nem sequer jogou a final da Taça de Portugal.


A segunda baixa foi Paulo Assunção, o qual, culminando da pior maneira um processo que se arrastou durante meses sem que tenha havido acordo para renovar o contrato, fez uso da Lei Webster e saiu para o Atletico de Madrid.

Deveria a administração da FCP SAD ter acedido às pretensões do jogador em ver o seu salário aumentado (diz-se que para valores idênticos aos mais bem pagos do plantel)?
Seria isso suficiente para ele ficar, ou foi apenas o pretexto usado pelo jogador para ir adiando um acordo que ele, realmente, não queria?
O que é certo é que ficamos a perder em termos financeiros (fala-se numa indemnização ridícula de 0,6 milhões de euros) e desportivos. Basta ver que nos primeiros meses desta época, Jesualdo Ferreira já experimentou quatro alternativas - Guarin, Bolatti, Raul Meireles, Fernando – sem que nenhum deles tenha convencido plenamente.

O terceiro rombo no barco foi Quaresma. O jogador já tinha manifestado a sua vontade em sair, mas Pinto da Costa afirmou que tal só sucederia se alguém pagasse a cláusula de rescisão – 40 milhões de euros. O processo transformou-se numa novela (algo a que não estávamos habituados no FC Porto) e no último dia do mercado de transferências o jogador saiu mesmo para o Inter, mas por 18,6 milhões de euros mais o passe de Pelé. Sabia-se que dificilmente alguém pagaria o valor da cláusula, mas sem dúvida que o valor da transferência ficou aquém das expectativas.


Com mais estas três saídas, verifica-se que no espaço de dois anos – Julho de 2006 a Julho de 2008 - o plantel ficou sem McCarthy, Diego, Hugo Almeida, Anderson, Pepe, Bosingwa, Paulo Assunção e Quaresma.

Para piorar a coisa, no mesmo período, dois ex-capitães - Jorge Costa e Vítor Baía -, elementos que, para além da sua categoria, eram portadores da mística portista e fundamentais na coesão do balneário, arrumaram as chuteiras.
O capitão actual é o argentino Lucho Gonzalez, que no defeso afirmou já ter dado muito ao FC Porto e que estava na hora de sair...

Com o projecto 611 a continuar sem produzir resultados visíveis, a SAD voltou a ir às compras. Se na época passada já tinham sido gastos cerca de 20 milhões de euros, desta vez foram investidos mais 30 milhões na contratação de nove jogadores: Sapunaru, Hulk, Guarin, Rodriguez, Mariano (compra do passe), Rolando, Benitez, Tomás Costa e Pelé.

Perante os factos atrás referidos, era previsível que a época 2008/09 não ia ser fácil para o treinador do FC Porto, qualquer que ele fosse. Se em 2006/07 e 2007/08 Jesualdo ainda conseguiu ir tapando os buracos com jogadores que já faziam parte do plantel, para esta época sabia-se que tal era impossível. Porquê? Essencialmente porque as contratações feitas nos dois anos anteriores (ver 1ª e 2ª parte deste artigo) tinham demonstrado não possuir a qualidade mínima indispensável.

Assim, no seu terceiro ano como treinador do FC Porto, Jesualdo foi obrigado a construir uma equipa nova, tendo que introduzir no onze titular, no mínimo, 4 ou 5 jogadores recém-chegados ao FC Porto.

Onze inicial do PAOK - FC Porto (jogo de preparação)

Quase quatro meses após o arranque da temporada, e depois de 11 jogos oficiais já disputados, é óbvio que as coisas não estão a correr bem.






A maior parte das exibições foram sofríveis, a equipa tem uma grande dificuldade em marcar golos (já ficou em branco em quatro jogos) e a defender revela uma fragilidade e imaturidade preocupantes. Aliás, falar em Equipa é uma força de expressão, porque o que se tem visto é um grupo de jogadores sem rotinas, sem mecanismos, sem articulação, sem uma lógica colectiva.

Como se isto não bastasse, empresários de algumas “vedetas” fazem declarações públicas totalmente inoportunas e dentro do campo transparece um clima de desunião entre os jogadores. Estará o balneário do FC Porto "balcanizado"?


O “cozinheiro” é co-responsável por a “omolete” ser tão insípida?
Naturalmente. Mas será só ele?

Porque razão é que o Lisandro perdeu eficácia e já viu 4 cartões amarelos em apenas 6 jogos do campeonato?
Porque razão é que o Fucile está sempre disponível para a selecção uruguaia e no FC Porto anda demasiadas vezes a recuperar de lesões (ainda não fez qualquer jogo na LC)?
Porque razão é que o Bruno Alves alterna um jogo bom com outro(s) em que parece alheado do que se está a passar à sua volta?
Porque razão é que o Lucho teve de fazer gestão de esforço e demonstra dentro do campo níveis físicos preocupantes?

E os novos jogadores, porque razão é que não rendem? Ainda estão em fase de adaptação? Pois, mas quando se investe 30 milhões de euros (um balúrdio para a realidade do futebol português), é de esperar que os jogadores cheguem e rendam rapidamente. Ora, a época começou no dia 3 de Julho, já lá vão quase quatro meses, e não é isso que está a acontecer, pois não?

Para aquilo que são as exigências do FC Porto, o plantel tem muitos jogadores de fraca qualidade?
Sim, é verdade. Mas então, na lista dos culpados por esta crise, em que posição aparecem os dirigentes e empresários responsáveis pelas contratações desta época, e da época passada, e de há dois anos?

(...) o grande problema da quebra exibicional do onze portista tem uma explicação simples: falta de qualidade de vários jogadores. Repare-se que fala-se aqui da qualidade de top, com a ‘marca’ FC Porto de nível internacional. É uma nova realidade para Jesualdo. Os novos ocupantes daqueles espaços estão muito longe, na acção sobre o jogo, da classe dos heróis perdidos. Subverter este cenário é utopia. O actual FC Porto é, em campo, um permanente desafio às suas limitações. Porque existem limitações para as competências de um treinador. Quais? Os limites das competências dos jogadores.”
Luís Freitas Lobo
in Expresso, 25/10/2008

E LFL escreveu isto antes do FC Porto – Leixões...
A realidade que não podemos escamotear é esta: nos últimos três anos, apesar dos mais de 50 milhões de euros gastos, a qualidade do plantel do FC Porto tem vindo a degradar-se de forma assustadora. Por isso, não contem comigo para fazer do Professor Jesualdo Ferreira o único bode expiatório de uma época que se perspectiva muito complicada.


Já agora, em vez de termos um plantel cheio de estrangeiros medianos (para não dizer fracos), não seria preferível, e seguramente mais barato, apostar em jogadores das nossas camadas jovens?
Porquê e para quê gastar tanto dinheiro em estrangeiros que raramente jogam e que passam mais tempo no banco e na bancada?


P.S. Para que não fiquem dúvidas.
O Professor Jesualdo Ferreira é o treinador dos meus sonhos?
Não, não é nem nunca foi.
Está ao nível de um Pedroto, Artur Jorge, Bobby Robson ou Mourinho?
Na minha opinião, não.
Tem defeitos?
Claro, entre os quais a dificuldade em motivar os jogadores ou em mexer no jogo a partir do banco.
Contudo, com todos os seus defeitos, foi capaz de formar/remodelar duas equipas que se sagraram campeãs nacionais, a última das quais com 20 pontos de avanço!
Em paralelo, atingiu por duas vezes os oitavos-de-final da LC e na época passada foi por muito pouco (desempate por penalties) que não chegamos aos quartos-de-final.
Eu sei que a memória é curta e selectiva, mas quanto mais não seja pelos êxitos que conseguiu nos últimos dois anos e por, durante muito tempo, ser a única pessoa que deu a cara em defesa do FC Porto, o Professor Jesualdo Ferreira merece consideração e mais algum respeito.
Não lhe peçam é para fazer milagres ou omoletes sem ovos.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A meio da fase de grupos, prevê que no final o FC Porto irá ficar em...


3º lugar! com 44 votos (47%). Foi esta a previsão dos leitores do Reflexão Portista.

A opção 4º lugar, com 24 votos (25%), foi a segunda mais votada. Nos lugares seguintes ficaram as opções 2º lugar e 1º lugar, com 20 votos (21%) e 5 votos (5%) respectivamente.
Apenas 26% dos participantes acreditam que o FC Porto vai passar à segunda fase da Liga dos Campeões.

Os ovos, as omoletes e o cozinheiro (II)

O FC Porto é uma boa montra, particularmente por ser um dos clientes mais assíduos da principal competição de clubes do Mundo – a Liga dos Campeões. Os jogadores sabem-no e os empresários também. Além disso, nos últimos anos tem exportado jogadores de grande qualidade para os campeonatos mais fortes da Europa onde, apesar da enorme exigência, esses jogadores têm chegado e “pegado de estaca” (cá em Portugal é que se continua a dizer que os jogadores precisam de um ano de adaptação...).
Daí não ser surpresa que, no final da época 2006/07, dois dos melhores jogadores do FC Porto - Anderson e Pepe - tenham saído para Manchester United e Real Madrid, em duas transferências por valores irrecusáveis (o total ascendeu aos 61,5 milhões de euros).

Relacionado também com a saída de jogadores, vale a pena chamar à atenção para o facto do plantel ter sofrido uma sangria de brasileiros. Assim, para além de Anderson e Pepe, foram dispensados mais seis - Ezequias, Bruno Moraes (por lesão), Ibson, Jorginho, Alan e Adriano (embora este ainda hoje se mantenha vinculado à FCP SAD).
Tratou-se de uma “limpeza de balneário” ou foi apenas coincidência?


Coincidência ou não a partir daí começou a haver uma aposta mais forte da SAD em sul-americanos de outras origens, principalmente da Argentina.

Apesar do FC Porto ser bi-campeão e do treinador se manter, foi feita uma remodelação profunda no plantel para a época 2007/08. A FCP SAD abriu os cordões à bolsa e investiu cerca de 20 milhões de euros nos seguintes empréstimos/contratações: Fernando, George (Leandro) Lima, Lino, Edgar, Edson, Luís Aguiar, Bolatti, Farias, Mariano Gonzalez, Stepanov e Kazmierczak.

Desafortunadamente, e pelo segundo ano consecutivo, as contratações revelaram-se um fiasco (será apenas um problema de sorte e azar ou é algo mais?).
Como nenhuma das 11 contratações mostrou ter valor para conquistar um lugar no onze titular (alguns nem sequer no plantel) Jesualdo teve de recompor a equipa recorrendo ao que já tinha. Assim, Pedro Emanuel, recuperado de uma lesão gravíssima (esteve um ano sem jogar), ocupou o lugar de Pepe; Tarik, depois de meio ano de empréstimo, aproveitou a oportunidade para se impor como extremo/ala direito e Lisandro passou de ala/extremo esquerdo para a posição que mais gosta – ponta-de-lança móvel.

A equipa-tipo 2007/08 foi a seguinte:
Helton, Bosingwa, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Fucile, Paulo Assunção, Raul Meireles, Lucho, Tarik, Quaresma e Lisandro.


Com cada vez menos “ovos” de qualidade à sua disposição – as saídas de McCarthy, Diego, Hugo Almeida, Anderson e Pepe não foram colmatadas por jogadores cuja qualidade fosse minimamente comparável -, o “cozinheiro” Jesualdo teve a felicidade de nenhum dos jogadores do núcleo duro se ter lesionado com gravidade, o que lhe permitiu manter os mesmos 10/11 jogadores na maior parte dos jogos.
Beneficiando de já ter um ano de trabalho e dos jogadores demonstrarem ter assimilado os métodos do treinador, a equipa evidenciou uma consistência superior à da época anterior e o tri-campeonato foi um passeio (os 20 pontos de avanço relativamente ao 2º classificado dizem quase tudo).


Na Liga dos Campeões o desempenho da equipa melhorou pelo segundo ano consecutivo. Primeiro, obtendo o 1º lugar na fase de grupos, à frente de dois clubes de países do top 5 – Liverpool e Marselha; depois, nos oitavos-de-final, a passagem aos quartos-de-final da LC esteve por um fio (à distância de um desempate por penalties).

05/03/2008, FC Porto – Schalke 04: Dando sequência a uma exibição fabulosa, Manuel Neuer defende o penalty decisivo no desempate por penalties

Também na Taça de Portugal, embora assumidamente não seja uma prioridade, houve um melhor desempenho, com o FC Porto a chegar à final do Jamor onde, para além do Sporting, enfrentou uma arbitragem vergonhosa de Olegário Benquerença, que contribuiu para que não ganhasse o troféu.

Apesar de ter à sua disposição um plantel qualitativamente curto, Jesualdo foi capaz de moldar em 2007/08 o melhor FC Porto desde Mourinho. A dupla Lucho-Lisandro funcionou em pleno, Bosingwa e Bruno Alves subiram mais uns degraus despertando a cobiça internacional e Quaresma, apesar de alguma inconstância, teve momentos de genialidade absolutamente decisivos.

Tango argentino, uma constante durante a época 2007/08



Como principal aspecto negativo, e apesar do marketing que envolve o projecto 611, a ausência de uma aposta consistente e continuada em jovens portugueses. O FC Porto tem nos seus quadros alguns dos melhores valores nacionais – Paulo Machado, Vieirinha, Bruno Gama, Hélder Barbosa, Castro, etc. – e, olhando para o plantel, custa a crer que, mesmo após rodarem em vários clubes, nenhum deles tenha valor para singrar no FC Porto.

Se no final da época 2006/07 a continuidade de Jesualdo foi pacifica, no final de 2007/08, perante os resultados alcançados, o consenso em torno do treinador era ainda mais alargado (claro que ninguém reúne a unanimidade, nem sequer Pedroto e Mourinho o conseguiram).

Mantendo-se o treinador, é lógico que para 2008/09 o objectivo fosse que a equipa continuasse a evoluir. Para tal, seria necessário que a sangria dos titulares fosse limitada e que as novas contratações viessem injectar no plantel a qualidade que este vinha perdendo.


(continua - A época 2008/09, a descaracterização do plantel)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SMS do dia - XV

Christian Rodriguez lalalala
Christian Rodriguez lalalala
Foderam-te o vidro
Foderam-te o carro
É disto que alguma malta gosta!

Os ovos, as omoletes e o cozinheiro (I)

Não se fazem omoletes sem ovos
Ditado popular

16/10/2005, Lenços brancos para Co Adriaanse:
18 dias após a derrota contra o Artmedia (2-3), nova derrota em casa contra o SLB (0-2)

Após o jogo com o Dínamo Kiev, o jornal O JOGO fez um inquérito em que perguntava a que se devia a derrota do FC Porto e as respostas foram:
- Falta de aplicação dos jogadores: 23%
- Opções de Jesualdo Ferreira: 49%
- Qualidade do adversário: 15%
- Apenas azar: 13%

Estou certo que se o inquérito fosse repetido hoje, depois de mais uma derrota caseira, a percentagem dos que culpam o treinador seria ainda maior.

Há uma crise no Dragão, é indisfarçável, os assobios e lenços brancos no final do FC Porto–Leixões não enganam. Nestas alturas, é normal que o treinador seja sempre um dos alvos mas, olhando para o FC Porto 2008/09, será Jesualdo o único e principal responsável?
Será Jesualdo um treinador assim tão incompetente, tão incapaz, tão medíocre?

Antes de ser feito o julgamento e condenação sumária de Jesualdo Ferreira, é bom lembrar que ele não chegou ao FC Porto na semana passada e, por isso, convém recuarmos um pouco mais e analisarmos o que tem sido a sua trajectória como treinador do FC Porto.

Recuemos então a Janeiro de 2006, era Co Adriaanse o treinador do FC Porto e, após uma derrota na Amadora, decidiu efectuar diversas alterações na equipa, a mais significativa das quais foi a mudança do sistema de jogo. Assim, na maior parte da 2ª volta, o FC Porto de Adriaanse alinhou em 3-4-3, com Adriano a ponta-de-lança, Jorginho nas costas do(s) avançado(s) (foi assim que jogou, e bem, no decisivo Sporting x FC Porto) e Paulo Assunção a recuar para 2º central quando a equipa defendia.

As alterações deram resultado e o FC Porto haveria de conquistar a dobradinha com o seguinte onze-base:
Helton, Bosingwa, Pepe, Pedro Emanuel, Paulo Assunção, Ibson/Raul Meireles, Lucho, Jorginho, Quaresma, Adriano e McCarthy/Lisandro


No início da época 2006/07, quando Jesualdo Ferreira foi contratado de emergência para suprir o abandono de Co Adriaanse, herdou do irascível treinador holandês um plantel que tinha ficado sem três internacionais - McCarthy, Diego e Hugo Almeida -, mas que mantinha o onze-base 2005/06 e ainda jogadores como Vítor Baía, Bruno Alves, Ricardo Costa, Marek Cech, Anderson, Alan e Postiga.

Estamos a falar de um núcleo duro de 18-19 jogadores que transitava da época anterior, perfeitamente adaptados ao clube e ao futebol português. Aliás, sobre este aspecto, convém destacar o facto dos brasileiros que eram mais utilizados (Helton, Pepe, Paulo Assunção, Jorginho e Adriano) terem todos passado por outros clubes do campeonato português antes de ingressarem no FC Porto e de dois deles - Pepe e Paulo Assunção - terem mesmo acabado por obter a nacionalidade portuguesa.

Relativamente às contratações para a época 2006/07, parte delas indicadas por Adriaanse, incluíram: Sonkaya, Tarik, Ezequias, João Paulo, Diogo Valente, Fucile, Mareque e Renteria.

Jesualdo foi fiel aos seus princípios, alterou o sistema para 4-3-3 e o onze-base passou a ser o seguinte:
Helton, Bosingwa, Pepe, Bruno Alves, Fucile/Cech, Paulo Assunção, Lucho, Anderson/Raul Meireles, Quaresma, Postiga/Adriano e Lisandro.

29/10/2006, FC Porto - SLB: Jogadores em festa após vitória (3-2) obtida no último minuto

Das oito contratações feitas em 2006/07, Fucile, apesar de ter sido contratado para ser uma alternativa a Bosingwa, foi o único utilizado com regularidade como... defesa-esquerdo (o que diz bem da qualidade de Mareque e Ezequias e, já agora, do pouco acerto na globalidade das contratações).

Inicialmente, Jesualdo apostou num meio-campo com Paulo Assunção, Lucho e Anderson. Contudo, a lesão provocada por Katsouranis no FC Porto – SLB da 1ª volta, afastou o craque brasileiro dos relvados durante cinco meses e obrigou Jesualdo a ter de reformular o meio-campo.

29/10/2006, FC Porto - SLB: Katsouranis espeta os pitões nas pernas de Anderson uns minutos antes de o "varrer" dos relvados durante 5 meses

A entrada de Raul Meireles libertou o Lucho para jogar mais adiantado mas, obviamente, não é de um dia para o outro que os jogadores adquirem novas rotinas, particularmente num sector decisivo para as transições ofensivas e defensivas.

Ao longo da época a equipa teve altos e baixos, mas o principal objectivo foi alcançado: sagrar-se bi-campeão.


Na Liga dos Campeões, depois do traumatizante desempenho da época anterior (derrota em casa com o Artmedia e último lugar do grupo), a equipa demonstrou maior equilíbrio e maturidade, tendo chegado aos oitavos-de-final onde foi eliminada pelo Chelsea (não fosse o peru do Helton e o impedimento do Anderson por lesão e talvez pudesse ter chegado mais longe).

06/03/2007, Chelsea - FC Porto:
Quaresma a comemorar o golo que colocou o FC Porto a vencer (1-0) em Stanford Bridge

Jesualdo herdou uma equipa campeã e, apesar das saídas de McCarthy, Diego e Hugo Almeida, o plantel mantinha bastantes “ovos” de boa qualidade e identificados com a realidade do FC Porto. Contudo, assumiu o controlo da nau portista sem ter feito a pré-temporada e não pôde influenciar/avalizar as saídas/entradas do início de época.
Resolveu de forma eficaz as crispações de balneário que existiam e soube contornar o facto de ter ficado sem Anderson entre Novembro e Março.
Em termos de resultados, que é o que interessa, ganhou o campeonato e na Liga dos Campeões houve uma clara evolução relativamente à época anterior.
Sem deslumbrar, a “omolete” produzida pelo “cozinheiro” Jesualdo foi de boa qualidade e, portanto, o balanço à sua primeira época como treinador do FC Porto foi positivo, justificando claramente a continuidade.


(continua - A época 2007/08, um plantel espremido até ao limite)

domingo, 26 de outubro de 2008

SMS do dia - XIV

Basquetebol
FC Porto 74 - Vagos 79
8º Lugar - 2V - 2D

Hóquei em Patins
FC Porto 6 - Juventude de Viana 1
1º Lugar - 3V - 1E

Reviver 2004/05


Se o encontro da noite passada era visto pela equipa do FC Porto como um meio de dissipar as muitas duvidas que se colocaram após o desaire frente ao Dínamo de Kiev, o conjunto azul e branco conseguiu esclarece-las de forma cabal. Basta colocar uma equipa arrumadinha diante deste Porto para o desfazer em cacos. Foi assim na Terça passada, voltou a ser ontem frente ao Leixões.

É um facto que a equipa Matosinhense foi feliz na forma como entrou em jogo – marcando no 1º remate efectuado à baliza – mas também é verdade que os homens de José Mota foram demonstrando que a vantagem adquirida cedo lhes assentou bem e nem tampouco foi fruto de mero acaso.

Quando o 0-2 chegou, já o Leixões havia desperdiçado um par de ocasiões de golo, assim como no 2º tempo, já com o encontro empatado, foram capazes de dar a volta por cima a uma conjuntura de jogo desfavorável.

Do FC Porto voltaram a sobressair o mar de equívocos em que esta equipa está mergulhada. Falta de ideias, um jogo pastelão, sem qualquer ritmo e dinâmica. Para compor o ramalhete Jesualdo Ferreira aparenta caminhar a passos largos para o desespero, pois só assim é possível explicar a luminosa ideia de adaptar 2 médios (Tomas Costa e Mariano) a defesas laterais.


Esta aparente desagregação do conjunto portista é um filme já visto em 2004/05, com desfecho trágico por demais conhecido.

Jogo a jogo, a equipa vem perdendo os princípios que a norteava, onde nem os mais experientes jogadores escapam a este vendaval. A solidariedade enquanto grupo dá sinais de quebra acentuada, pelo que “filmes” como o da noite passada poderão ser vistos numa das próximas sessões, num estádio perto de si.

Positivo: Leixões lidera o campeonato à sexta jornada apresentando um futebol atractivo, tendo pelo meio já batido o pé a Benfica e FC Porto.

Negativo: FC Porto (SAD-Treinador-jogadores), a arte de “destruir” uma equipa em 6 meses.

sábado, 25 de outubro de 2008

Pinto da Costa, 3 – Ministério Público, 0


Na passada terça-feira, o juiz de instrução do Tribunal de Gondomar, Pedro Miguel Vieira, decidiu que Pinto da Costa não deveria ir a julgamento por alegado crime de corrupção desportiva relacionada com o jogo Nacional-Benfica, disputado a 24 de Fevereiro de 2004 e investigado no âmbito do processo Apito Dourado.

Esta decisão não surpreendeu, visto que o próprio Ministério Público (MP), apesar de ter acusado Pinto da Costa, cobriu-se de ridículo e assumiu no debate instrutório deste caso que, afinal, os indícios contra Pinto da Costa eram insuficientes.

Se assim é, porque razão o MP avançou com uma acusação contra Pinto da Costa?
Para o cidadão comum é incompreensível. Aliás, este comportamento do MP só reforça e dá razão aqueles que pensam que, mais do que procurar a verdade e obter eventuais condenações em tribunal, o verdadeiro objectivo do ‘Apito Dourado’ é enxovalhar o presidente do FC Porto, é “queimá-lo na fogueira da comunicação social”.

Voltando ao juiz Pedro Miguel Vieira, vale a pena salientar que não se limitou a decidir pelo arquivamento do processo Nacional-Benfica. Referindo que ouviu todas as escutas, o juiz, no seu despacho e em declarações que fez aquando da leitura do mesmo, desancou o MP:

"É de difícil compreensão o juízo efectuado [...] no sentido de imputar os factos em apreço ao arguido Pinto da Costa"

"Para além das deduções efectuadas pela PJ, não foi detectada ligação do dirigente aos factos

"Não há no processo prova capaz para condenar Pinto da Costa em julgamento"

"A ligação [de Pinto da Costa] ao caso apenas acontece por força de presunções ou juízos de valor sem qualquer sustentação"

"Não existem indícios suficientes agora, nem existiam já no final da fase de inquérito"

"É ridícula a ideia de que um árbitro se possa deixar comprar em troca de um bilhete para um jogo [no caso o FC Porto-Manchester United da Liga dos Campeões, da época 2003/04]. O bilhete não pode ser visto como uma vantagem patrimonial"

Não é a primeira vez que um juiz critica fortemente uma acusação do Ministério Público contra Pinto da Costa. Em Julho passado, Artur Guimarães Ribeiro, juiz do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto, a quem coube analisar o caso FC Porto – E. Amadora, também arrasou vários pontos da acusação da equipa de Maria José Morgado, dizendo que "não têm qualquer suporte probatório".
Mais. Provou (através do cruzamento de escutas telefónicas) que Carolina Salgado mentiu – "é notório que a mesma [Carolina] presta, e tem prestado, falsas declarações em tribunal quanto ao objecto dos autos" – e que o Ministério Público devia-o ter percebido, se tivesse sido mais diligente e levasse em conta as reais motivações da testemunha.
O comportamento de Carolina é de tal maneira grave, que o juiz do TIC mandou extrair uma certidão, por falsas declarações, a qual enviou para o DIAP do MP do Porto. A testemunha-chave do MP, que serviu para a reabertura dos processos contra Pinto da Costa, incorre no crime de falsidade de testemunho agravado, o qual é punível com até seis anos e oito meses de cadeia. Irónico, não é?

Falta saber se as mentiras de Carolina foram unicamente motivadas por um sentimento de vingança, ou se alguém induziu (instruiu?) a ex-companheira de Pinto da Costa a mentir no seu testemunho. Era muito importante que este assunto fosse esclarecido, até porque correm boatos de que Carolina foi "treinada" por Leonor Pinhão e por um elemento da equipa de Maria José Morgado.
Não sei se isto é verdade, talvez não seja, mas será que o Ministério Público está interessado em investigar e em tirar tudo isto a limpo? Infelizmente, não me parece.

Ainda há recursos pendentes de ambos os lados mas, perante as decisões destes dois juízes, a que há que juntar a decisão do Tribunal da Relação do Porto de Setembro passado, que condenou o Estado português a indemnizar Pinto da Costa em 20 mil euros, devido a ter sido detido irregularmente no âmbito do processo Apito Dourado, é caso para dizer que, em termos de tribunais, o resultado, para já, é o seguinte:
Pinto da Costa, 3 – Ministério Público, 0

E nestas contas nem sequer estou a incluir o denominado 'caso Bexiga', em que Carolina Salgado declarou ter, a mando de Pinto da Costa, contratado pessoas para agredirem o ex-vereador da câmara de Gondomar Ricardo Bexiga (foi espancado por dois homens encapuçados, no dia 25 de Janeiro de 2005).

Desde o início se sabia que a versão contada por Carolina incluía falsidades facilmente comprováveis (por exemplo, a destruição das câmaras de filmar no parque da Alfândega do Porto que, pasme-se, nunca existiram) mas, apesar disso, o MP entendeu constituir arguidos a própria, Fernando Madureira e Pinto da Costa (a ânsia de o "caçar" era tanta...).
Após ter dado para fazer umas manchetes nos pasquins habituais e algumas peças nas televisões do regime, o caso morreu e foi a própria Equipa de Coordenação do Apito Dourado (ECPAD) que, em Fevereiro passado, decidiu arquivá-lo por o depoimento auto-incriminador de Carolina, não acompanhado de outras provas que o confirmem, ser “de tal maneira frágil que não deve sustentar uma acusação”.

O "jogo" ainda não acabou (o processo do Beira Mar – FC Porto vai para julgamento, estando, segundo o JN de 22/10/2008, em vias de ser remetido ao Tribunal de Gaia), mas nesta altura já cheira a goleada...

Nota: Os negritos são da minha responsabilidade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A Flecha Negra

A equipa base de 1955/56:
2º plano - Virgílio, Arcanjo, Monteiro da Costa, Cambalacho, Pedroto e Pinho
1º plano - Hernâni, Gastão, Jaburu, Teixeira e Perdigão


Jorge de Sousa Mattos, conhecido no futebol como Jaburu, chegou ao Porto com 22 anos, fortemente recomendado pelo seu treinador, Dorival Knippel (Yustrich) que dizia ter (Jaburu) "o futebol dentro dele, como Stradivarius tinha a música quando construiu os seus famosos violinos".

Pela minha parte, e a esta distância, já lá vão mais de 50 anos, o Jaburu era um jogador que gingava, sambava com a bola, gostava de trocar os olhos ao adversário, sabia fugir à colisão e adorava fazer umas perninhas ao defesa que o marcava. Não era um clássico, era um brasileiro com o futebol do novo mundo: cheio de gozo e de prazer. Como brasileiro de gema, adorava feijão, cheirava a caipirinha e estava sempre disponível para o bem-bom. Era voz corrente que frequentemente o Yustrich o ia buscar ao Tamariz (a mais antiga casa de diversão da cidade), o levava a casa e o obrigava a ir para a cama, para estar em condições mínimas para os treinos e os jogos que estavam na calha.

Jaburu era alto, algo desengonçado, desenvolvendo um ritmo muito rápido num curto espaço de tempo, o que lhe permitia fintar, enganar e passar facilmente os defesas contrários. Jogava bem com os pés e com a cabeça. Não era como Matateu, que era mais furão e jogava mais em força, um pouco aos repelões. Jaburu era um privilegiado: tinha dotes físicos e atléticos pouco comuns nos jogadores portugueses da época e rematava com grande violência, de meia distância. Recordo que Passos, defesa central do SCP, um jogador muito posicional e lento, só o travava jogando de forma súcia, que normalmente os árbitros não sancionavam com o devido rigor.

O jogo, nessa altura, era mais lento, mais duro (para não dizer violento), muito faltoso e com excessivas paragens. Não eram permitidas substituições e o crime de provocar lesões graves, compensava demasiadas vezes.

Yustrich ampara Miguel Arcanjo, Jaburu e Gastão seguem atrás

É muito difícil prever o comportamento de muitos jogadores famosos nessa altura, se jogassem com a intensidade que hoje é exigida. Tenho para mim que Jaburu seria enorme e, se devidamente enquadrado, um jogador fenomenal, que não chegou a ser por vícios que não conseguiu superar, apesar da mão pesada de Yustrich.

Em Outubro de 1958, em rota de colisão com Yustrich, Jaburu foi vendido a preço de ouro ao Celta de Vigo, por 950 mil pesetas, aparentemente, lesionado, porque o brasileiro não chegou a jogar um único minuto na equipa galega.

Jaburu ainda voltou a jogar em Portugal, no Leixões, em 1962 e 1963, mas era uma sombra do jogador que brilhara de azul e branco.

Regressou ao Brasil, foi engraxador à porta do Maracanã e morreu na miséria, na década de 80.

Jaburu foi um dos principais artífices do campeonato conquistado em 1955/56, depois de um largo jejum de 16 anos. Tínhamos uma equipa fantástica. Hernâni com Pedroto jogava por sinais, com Carlos Duarte de olhos fechados. Nessa época Jaburu fez 22 golos. Fizemos a dobradinha ao vencer o Torreense por 2-0, na final da Taça, com golos de Hernâni.

Estádio do Jamor, Final da Taça 1955/56

Um pouco à socapa, aproveito para relevar um jogador que muito admirei e que, um tanto injustamente, nem sempre entra nesse pequeno número de jogadores que da lei do esquecimento se libertaram. Refiro-me a Perdigão, um extremo de drible curto e sempre em progressão e com uma excepcional visão de jogo. Não era um jogador agressivo e geria bem o esforço. Não se esfarrapava, como na altura se dizia, mas era excepcional. Em miúdo, adorava vê-lo jogar.

Fernando Júlio Perdigão faleceu no dia 16/02/2007, em Aveiro, para onde regressou e fixou residência depois do 25 de Abril de 1974. Era um jogador fantástico: só uma vez foi internacional. Em função dessa maneira de estar anti-vedeta, nunca teve, a meu ver, o reconhecimento que mereceu, e ainda deveria merecer, pelo menos para os portistas.

Hernâni, Carlos Duarte (na foto ao lado) e Perdigão têm lugar muito particular no meu coração de portista. Com os dois primeiros pude ter uma muito breve e interessante conversa quando recebi a roseta de ouro.

De Perdigão, fez-se silêncio. Jaburu que jogava e rematava com os dois pés, cabeceava voando sobre os centrais, foi excepcional, mas tinha pouco tino e ao que consta era muito imaturo, quase uma criança. No eterno descanso, andará provavelmente bem acompanhado, a gingar ao ritmo do samba, a jogar bom futebol e a marcar muitos golos, tenho a certeza.


Nota: Este comentário foi suscitado por um artigo de António Tadeia, escrito n’ O Jogo em 27/03/2008.