domingo, 31 de julho de 2016

Novo ano, mesmos vicios

O FC Porto está a poucos dias de começar a época de forma oficial. Os fantasmas do ano passado continuam todos bem presentes. Os vislumbres de um novo ciclo bem distantes. As responsabilidades pertencem aos mesmos. Os rivais mais directos na luta pelo título mexeram-se mais e melhor no mercado e sobretudo antes da buzina final, dando aos seus respectivos treinadores - que já têm o trabalho feito - uma importante vantagem. Nada impede o FC Porto de concretizar negócios antes do 31 de Agosto para colmatar as ainda muitas lacunas do plantel mas Nuno terá sempre a desvantagem de ter passado uma pré-época mais preocupado em descartar do que a construir.


Não se pode começar um projecto ganhador desta forma. Pode-se ganhar, sim, mas um projecto com pés e cabeça é muito mais difícil. Nuno Espirito Santo já devia saber o que o esperava mas passar três semanas a trabalhar numa espécie de Operação Triunfo Dragão em que todos os dias há candidatos á expulsão deixa muito pouco tempo para definir uma estrutura sólida, um onze base, um conjunto de ideias e mecanismos de jogo, enfim, tudo aquilo para que uma pré-época realmente serve. A finais de Julho Nuno entendeu que Quintero, Josué e Hernani não faziam parte dos seus planos. Decisões que não carecem de lógica mas que, conhecendo o passado dos jogadores, também não surpreendem. Porque estiveram então vinte dias em trabalhos? Porque Nuno sabe que vêm alternativas ou porque preferiu o que já lá tinha. Porque não os estudou a fundo antes de começar a pré-época ou porque o desiludiram nessas semanas de trabalho? Nunca o saberemos. O certo é que do FC Porto 2016/17 temos ouvido sobretudo noticias de empréstimos e empréstimos. Vendas? Escassas, muito escassas. Contratações? A conta gotas e sem impacto real no plantel.
Felipe já demonstrou que não é "o" defesa central que o FC Porto precisa. Pode ser um bom complemento para a "dupla" de centrais de Nuno mas precisa de uma referência ao lado. Que não é Marcano. Que nunca será Indi. Mas ambos ainda cá estão e Nuno tem de trabalhar com o refugo de erros passados sem poder ter tempo para preparar o futuro. Assim é complicado.



João Carlos Teixeira foi o exemplo de uma boa iniciativa de mercado, um jogador de grande potencial, castigado pelas lesões, mas com muito futebol nos pés. Um negócio com tudo para dar certo mas é ele a solução para assumir já a titularidade do posto criativo do meio-campo? É esse o plano de Nuno ou apenas uma alternativa momentânea, á espera do que passe (a 30 de Julho) no mercado nas próximas semanas. Otávio, André André, Ruben, Danilo são outros quatro jogadores para seis lugares e ainda há os casos Evandro, Herrera, todos sem solução aparente, com vendas prometidas que não se cumprem e overbooking de estilos que não permitem resolver problemas mais sérios. Rafa Silva está prometido há um ano na cabeça de muitos mas o Braga, que sempre se lucrou dos negócios do Porto muito ao contrário do que passa connosco, continua longe e não é propriamente o "messias" que vai resolver o desastre que é o jogo dos extremos do Porto onde Brahimi continua com a cabeça noutro lado mas o contrato depositado no Porto e Corona vai crescendo mas sem uma alternativa que lhe pressione a dar tudo sempre como jogadores do seu perfil exigem. Com Varela adaptado a lateral - Maxi, Telles, Layun e Varela são jogadores de um perfil similar competitivo mas há uma clara aposta em laterais ofensivos o que é um risco quando sabemos que a tal "dupla de centrais" não existe ainda a não ser no papel - e as jovens promessas da formação despachadas uma por uma para mais um ano de exílio desportivo, a quem compete fazer sombra ao jogo ofensivo pelas bandas quando a bola está quase a rolar? E claro, o busílis da questão continua na frente. André Silva terá de crescer a passos forçados, está visto, mas quer o Porto atacar o título com o jovem avançado e Aboubakar em solitário, confirmadas que estão as saídas esperadas e lógicas dos reforços de inverno que nada acrescentaram? Duas semanas para a bola rolar e os cromos, esses, são os mesmos. E porquê?

Em ano de torneio de selecções é normal que os principais negócios, os que fazem mover o dinheiro, se atrasem porque os próprios jogadores voltam mais tarde de férias e os clubes pensam a mais longo prazo. Mas a verdade é que salvo o negócio Pogba, praticamente fechado, quase todos os clubes já se mexeram no mercado e bem. Menos o Porto. Não saiu quem era previsto sair. Não entrou quem era necessário entrar. O clube está a ter problemas sérios em vender. Não surpreende. Há três factores chave.
O primeiro e mais evidente é a fraca qualidade do material. Vender um Aboubakar, um Herrera ou um Brahimi não é o mesmo que vender um Falcao, James ou Moutinho. Por outro lado o passado recente convida muitos clubes á reflexão. O Porto era uma referência mundial porque vendia caro mas quem vendia triunfava. Ultimamente isso não tem acontecido. O ano de Danilo foi para esquecer, o de Alex Sandro cinzento e o de Jackson sem classificação possível. Os clubes agora pensam duas vezes, não vão comprar "gato por lebre" e há quem comece mesmo, lá fora, a falar no Benfica como referência porque o Porto vende jogadores que "só funcionam no Porto". Isso é o pior que pode passar a um clube eminentemente vendedor. E claro, o terceiro ponto é o da necessidade. Todos os clubes europeus que vêm pescar ao Dragão sabem da nossa situação financeira e sabem que não estamos em condições de exigir muito. Vender é urgente e necessário e de aí nunca sai bom negócio. Corremos inclusive o risco de que não saía sequer negócio nenhum e que afinal os Herreras por quem pedimos X acabem por ficar porque como ele há vários no mercado e os potenciais compradores podem preferir mudar simplesmente de alvo. Não seria a primeira vez.
E claro, sem vender, como comprar?
Continuamos sem ouvir o mea culpa da péssima gestão financeira da SAD que levou a este precipício, seguramente á espera que um negócio marca Doyen ou o dinheiro que vá entrando nos próximos anos dos acordos televisivos salvem o dia mas se não existe cashflow e se não há saídas, como investimos em jogadores a sério? E que perfil tem o FC Porto no mercado quando é absolutamente incapaz de resgatar de Braga - de Braga - um jogador que ainda para mais é representado por aquele que é agora um parceiro preferencial de negociação. Respeito, o que se diz respeito, não somos capazes de impor.



Durante meses falou-se na necessidade de uma limpeza de balneário, na aposta de jovens da casa ou da liga portuguesa, de uma nova mentalidade e do inicio de um novo ciclo. Palavras que o vento levou depressa. A duas semanas e uns trocos de começar oficialmente a época - e com o acesso á Champions League em interrogação - este Porto não difere quase nada do anterior, nem em rostos, nem em dinâmicas. A culpa não é do novo treinador que trabalha com o mesmo material que já havia e que não pode fazer milagres como outros, no passado, também não podiam. Não basta só mudar de treinador quando os problemas são outros para inverter uma tendência. O Benfica vendeu (e venderá) quem tinha de vender mas soube manter jogadores chave e reforçar-se de forma tranquila e consciente. O Sporting, na sua desesperada aposta pelo título, tem seguido a mesma dinâmica. No Dragão mantém-se exactamente o mesmo silêncio, as mesmas dúvidas, as mesmas interrogações. Não se aprendeu absolutamente nada com o passado. Talvez esse seja o maior de todos os problemas.




domingo, 24 de julho de 2016

A 19 dias do primeiro jogo

24 de julho de 2016. O dia seguinte ao FC Porto ter ganho por 2-1 ao Vitesse. Uma vitória que não me deixou tranquilo, longe disso.

Tal como no consulado Peseiro, o modo como a equipa do FC Porto se (des)posiciona e (não) reage quando perde a bola, continua a ser assustador. Qualquer equipa (e este Vitesse é uma equipa vulgar) faz tremer a defesa do FC Porto, criando oportunidades flagrantes e marcando golos com a maior das facilidades.

Mas independentemente dos resultados (derrota e vitória), eu olho para as exibições destes dois jogos (contra o PSV e contra o Vitesse) e continuo a ver todos os defeitos que via na época passada. Ora, no final da época passada era mais ou menos consensual entre os portistas o seguinte:

1) Após quatro apostas falhadas – Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui, José Peseiro – o FC Porto precisava de mudar de paradigma e contratar um treinador principal com provas dadas (títulos ganhos).
Veio o Nuno Espirito Santo.

2) O FC Porto precisava de reformular a sua dupla de centrais, o que implicava contratar, pelo menos, um defesa-central de categoria, que fosse o novo “patrão” da defesa portista.
Veio o Felipe, um jogador cujo valor de mercado é inferior ao de… Maicon (e que no primeiro jogo mais a sério esteve diretamente envolvido nos dois primeiros golos da pesada derrota sofrida frente ao PSV).

3) O FC Porto precisava de um médio de top, na linha de um Deco, Lucho ou Moutinho, que jogasse e fizesse jogar os companheiros de equipa.
Veio o João Carlos Teixeira e regressaram Otávio e… Quintero (?).

4) O FC Porto precisava de um ponta-de-lança que marque muitos golos (daqueles que marcam mais de 30 golos por época), porque o André Silva é bom, promete, mas não chega.
Não veio ninguém (até agora) e ficou o Aboubakar, supostamente após ter recusado um contrato milionário na China.

Declarações de Nuno Espírito Santo após o PSV x FC Porto (fonte: O JOGO)

24 de julho de 2016. O FC Porto está a menos de três semanas do primeiro jogo oficial (deslocação a Vila do Conde, no dia 12 de agosto) e, até lá, ainda devem existir movimentações no plantel (entradas e saídas).
Contudo, após três anos de insucessos e uma época 2015/16 verdadeiramente horribilis, seria de esperar, da parte da administração da SAD, uma atuação bem diferente daquela a que temos assistido até agora.

Lamento dizê-lo mas, nesta altura, os sinais que emanam desta equipa são pouco animadores.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Teremos sempre Paris, 2016?

O verdadeiro dia do triunfo não foi o de 10 de Julho mas sim a manhã do dia 11.
Aconteceu quando o emigrante em França se apresentou ao trabalho, no dia seguinte, e pode finalmente saborear o facto de patrões e colegas o passarem a olhar de um modo diferente.
Era também isto com que sonhavam quando partiram. Pena que aqueles que o fizeram na década de 60, o grosso deles, andem já pelos 70 e muitos anos. Seriam eles quem mais desfrutaria daquela manhã em que Portugal se tornou mais igual aos restantes.


O futebol português já o merecia por aquilo que deu ao Mundo nos últimos 30 anos mas acabou por ganhar por linhas tortas.
Ainda bem que fomos nós quem melhor aproveitou este novo formato mas, há que dizê-lo, um Euro a 24 equipas é uma aberração "à la Platini" e está a matar o futebol.

Duas semanas para eliminar apenas 8 equipas. Países pequenos fizeram história? Sim, mas daqui a 4 anos o grito dos adeptos islandeses já não terá a mesma piada e mesmo ver os galeses a festejarem com os seus filhos, em pleno relvado, será um dejá vu. O que vai continuar serão os jogos que se arrastam penosamente.
Portugal esteve em pelo menos dois desses. Muita gente terá feito um esforço para não adormecer vendo as partidas contra a Croácia e Polónia.
Ganhar no prolongamento ou nos penalties não vale? Também vale, sim senhor, e nem sequer é coisa fácil. Agora, não podemos é esperar que o resto do mundo se recorde desta edição do Europeu como, por exemplo, daquele inesquecível da Holanda em 1988.
A nossa vitória ficará para a história num registo parecido ao da Dinamarca-em-férias de 1992. No nosso caso, seremos lembrados sempre que uma selecção de nome não somar vitórias: "Olha que Portugal só ganhou uma partida em sete, durante os 90 minutos, e ainda assim foi campeão", dirão.

Teremos sido o campeão mais pobre em termos de futebol jogado. Poderíamos trazer a Grécia em 2004 para esta discussão mas eles venceram o anfitrião por duas vezes e não apenas uma. E, para além disso, afastaram também a França. A França que era a de Zidane e Henry. E tudo isto dentro dos 90 minutos, não esquecer.

É tempo de saborear a vitória, sim, mas com a noção da realidade, num quadro mais geral.
Desta vez ganhamos nós mas, com um Euro a 24 e um Mundial que, já se fala, terá um dia 40 participantes, as hipóteses de assistirmos a partidas de boa qualidade cada vez serão menores.
Os grandes jogadores chegam praticamente rebentados a esta última fase de uma temporada demasiado longa e não conseguem dar tudo aquilo que querem e sabem.
Quantos jogos fez Maradona em 85/86? É comparar este número com os de 2015/16 de um Muller ou Ronaldo...
É um nivelar por baixo aquilo a que se está a assistir.

A caça ao voto de Platini e Blatter deixou-nos este legado que interessa mais aos "sponsors" que ao verdadeiro adepto do futebol.

Quando mais nada nos restar, quando tudo nos tirarem, ficaremos sempre com a memória do França 2016? Para os portugueses, sim. Já para o nosso amado Futebol...

segunda-feira, 4 de julho de 2016

A qualquer momento...

... a reacção do Hugo Cadete. Ainda vamos descobrir que o Renato Sanches fez toda a formação no Porto.

Estás a ver, Bruno? É assim que se faz.