terça-feira, 30 de setembro de 2014

1 ponto e 0.5M vindos do banco


Faz algum sentido ter um ponta-de-lança do calibre de Jackson Martinez e, num jogo fora contra o Shakhtar Donetsk, colocar a titular um jogador sem rotinas (Aboubakar) e deixar o goleador colombiano no banco de suplentes até ao minuto 65?

"O Jackson não estava a 100 por cento, tinha alguns problemazitos", disse Lopetegui no final do jogo.

Pois…, talvez…, mas eu ouvi as declarações de Jackson na flash interview e ele não fez referência a uma qualquer limitação física como explicação/justificação para ter ficado no banco.

Seja como for, feliz do treinador que deixa o Quaresma em Portugal, deixa Quintero, Adrián López e Jackson Martinez (!) no banco de suplentes e consegue, nos últimos minutos, empatar um jogo que estava (quase) perdido, muito à custa das transformações operadas na equipa pelos três jogadores que saltaram do banco.

Em condições normais, um penalty falhado (quantos penalties foram falhados por jogadores do FC Porto nos últimos 2-3 anos?) e dois golos oferecidos, devido a erros individuais (de Óliver e Maicon) em zonas proibidas, seriam sinónimo de derrota, mas a esta equipa o que lhe falta em rotinas sobra-lhe em crença.

Claro que jogando na Ucrânia e tendo chegado ao minuto 89 a perder por 2-0, o empate acaba por ser um bom resultado. Contudo, vendo e revendo (mentalmente) a totalidade dos 90 minutos e olhando para as estatísticas do jogo…

Estatísticas do Shakhtar x FC Porto (fonte: UEFA)

… fica um travo amargo na boca, porque o FC Porto demonstrou que podia, perfeitamente, ter ganho e conquistado mais 3 pontos (e 1 milhão de euros).

Senhor Lopetegui, acabe lá com essa treta da rotatividade em jogos do Campeonato e da Liga dos Campeões, estabilize primeiro a equipa e crie rotinas entre tantos jogadores novos (e bons!) que, lá mais para a frente, não vão faltar oportunidades para rodar e dar minutos a todos os jogadores, daquele que é o melhor plantel portista dos últimos anos.


P.S.1 No jogo de hoje, o Herrera fez 65 passes e teve uma percentagem de acerto de… 92% (ao nível de Óliver Torres, que acertou 67 dos 73 passes que efetuou). Nada mau para um jogador que é "péssimo" a passar a bola…

P.S.2 Tello fez a assistência para o 2º golo do Jackson mas, no resto do jogo, vi muita trapalhice, egoísmo (tal como em Alvalade) e alguma falta de critério no último terço do campo. Sinceramente, de um jogador do nível de Cristian Tello, formado em La Masia, esperava mais.

P.S.3 Conforme disse aqui, "… esta equipa bielorrussa é bem melhor do que aquilo que aparentou hoje e estou convencido que o vai provar nos restantes 5 jogos desta fase de grupos". Hoje ganhou ao Athletic Bilbao (2-1) e, nesta altura, ocupa o 2º lugar do grupo.

A fatwa

O blog Tactical Porto, criado recentemente, foi já extinto porque, ao que parece, ofendia a doutrina com a suas análises puramente objectivas de aspectos tácticos da equipa do Porto - uma blasfémia!

Pela minha parte, faço votos para que o Tactical Porto volte ao activo. Os blogues sobre o Porto, seja sobre qual for a vertente pela qual o analisem são sempre bem-vindos. Espero que o autor reconsidere.

Para quem quiser saber mais detalhes: http://misticadodragao.blogspot.ie/2014/09/o-saul-e-do-quer-alho.html

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

“O FC Porto nunca poderá ter um dono”

Revista 'Tripeiro' (Setembro 2011)
O FC Porto tem o nome da cidade e o escudo da cidade no emblema, portanto seria impossível e absolutamente impensável esquecermos o Porto e a nossa região pelo facto de hoje sermos conhecidos em todo o mundo e sermos dos clubes com mais vitórias internacionais em toda a Europa. Tenho muita honra em que o FC Porto seja um clube mundial, mas nunca esqueço nem as nossas origens nem aqueles que à nossa volta vivem o dia-a-dia do clube.”


Os investidores só entrarão no FC Porto se for essa a nossa vontade. O clube tem neste momento 40% das acções e é difícil a quem quer que seja conseguir 51%. Portanto, só com um entendimento é que isso é possível. Além do mais, os estatutos da SAD conferem ao clube o direito de escolher o presidente. Naturalmente, qualquer presidente do FC Porto que venha a presidir à SAD acautelará certamente os interesses do clube. Outra coisa é fazer parcerias, e temos de caminhar nesse sentido. Acho que o FC Porto nunca poderá ter um dono. O FC Porto tem de ser dos sócios. Os sócios é que têm de ser os donos.”


Estas afirmações foram feitas por Jorge Nuno Pinto da Costa, no dia 9 de Agosto de 2011, durante um almoço com Rui Moreira (na altura, presidente da Associação Comercial do Porto) e com o jornalista Luís Costa, e fazem parte de uma extensa entrevista publicada na revista ‘O Tripeiro’ de Setembro de 2011.

Naturalmente, estou 100% de acordo com estas afirmações de Pinto da Costa, nomeadamente de que o Futebol Clube do Porto nunca poderá ter um dono.

Mas não chega afirmá-lo e manifestar essa vontade. É preciso criar condições objectivas para isso. É preciso criar condições para evitar que, no futuro, devido a fragilidades financeiras, os sócios do Futebol Clube do Porto sejam compelidos a aceitar que a SAD do FC Porto vá parar às mãos de um qualquer Peter Lim.

Ora, para que a SAD do Futebol Clube do Porto seja dos sócios, confirme Pinto da Costa diz que deve ser, é preciso que o CLUBE continue a mandar na SAD. E, para isso, tem de ter a maioria do Capital e dos Direitos de Voto na FC Porto SAD.

Mas, como é que um Futebol CLUBE do Porto enfraquecido, sem património (50% do Estádio do Dragão vai ser transferido para a SAD) e com poucas receitas poderá, no futuro, manter a maioria do Capital e dos Direitos de Voto na FC Porto SAD?

Esta é uma questão de fundo, para os Associados do Futebol Clube do Porto refletirem, e que está por trás das assembleias gerais da SAD e do Clube agendadas para a próxima quinta-feira.

O capital social da FC Porto SAD



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A Futebol Clube do Porto – Futebol, S.A.D. (daqui em diante designada por FC Porto SAD), é uma sociedade aberta, que foi constituída em 30 de julho de 1997, com o capital social de 200.000.000$00 (997.595,79 euros).

A FC Porto SAD teve como accionistas fundadores:
• Futebol Clube do Porto: 80.000 acções (40%);
• Investiantas – Investimentos Desportivos, Lda: 99.997 acções (49.9985%);
• Câmara Municipal do Porto: 20.000 acções (10%).

Nessa altura, o Futebol CLUBE do Porto detinha, direta e indiretamente, 90% do capital da SAD.

Nota importante: O Futebol Clube do Porto já teve uma SGPS, a sociedade InvestiAntas, SGPS, SA, constituída em 30/07/1997. A finalidade desta sociedade é (era) a gestão das participações sociais detidas maioritariamente pelo CLUBE.

Em outubro de 1997, a FC Porto SAD aumentou o seu capital social de 200.000.000$00 para 5.000.000.000$00, mediante a emissão de 4.800.000 ações das quais 1.820.000 ações de categoria A e as restantes 2.980.000 ações de categoria B.

Em resultado deste aumento de capital, a distribuição do capital da FC Porto SAD passou a ser a seguinte:
- Futebol Clube do Porto: 40%
- Investiantas SGPS: 12%
- Câmara Municipal do Porto: 1%
- Sócios do Futebol Clube do Porto (10099 accionistas): 39%
- Público em geral (3552 accionistas): 8%

Nota: Após este aumento de capital, o Futebol CLUBE do Porto passou a deter, direta e indiretamente, 52% do capital da SAD.

Por escritura pública, realizada em 14 de junho de 2000, foi efetuada a redenominação do capital social da FC Porto SAD de 5.000.000.000$00 para 25 milhões de euros, passando o referido capital a estar representado por 5.000.000 ações de valor nominal de 5 euros cada. Em consequência desta redenominação foi efetuado um aumento de capital por incorporação de reservas no montante de 12.050.000$00.

Durante o segundo semestre de 2001, a FC Porto SAD voltou a aumentar o seu capital, desta vez para 75 milhões de Euros, mediante a emissão de 10.000.000 de novas ações, ordinárias, escriturais e nominativas, com o valor nominal de €5 cada.
40% das novas acções foram reservadas para o Futebol CLUBE do Porto e as restantes destinadas a uma oferta pública de subscrição.

Aumento de capital de 2001 (fonte: EXPRESSO)
Dos 20 milhões de euros que o Futebol CLUBE do Porto teve que desembolsar, para acompanhar o aumento de capital da SAD, cerca de 970 mil contos (4.850.000 euros) foram assegurados pelo reembolso de suprimentos.

Em resultado desta operação, cujo êxito estava assegurado à partida, fruto de acordos efetuados com o consórcio Grupo Amorim/ECOP (a quem o Futebol CLUBE do Porto vendeu os direitos de construção que possuía no âmbito do PPA) e com a Sportinveste (holding do grupo Olivedesportos), o capital social da FC Porto SAD ficou representado por 15 milhões de acções ordinárias, nominativas, de valor nominal de 5 euros cada, das quais 6 milhões de acções de categoria A e as restantes 9 milhões de acções de categoria B.

Tal como estabelecido no artigo 6.º dos estatutos da FC Porto SAD, “as ações de categoria A só integram tal categoria enquanto na titularidade da agremiação desportiva Futebol Clube do Porto, ou de sociedade gestora de participações sociais em que esse Clube detenha a maioria do capital social, convertendo-se automaticamente em ações de categoria B no caso de alienação a terceiros a qualquer título”.

A categoria A de ações confere ao seu titular – o Futebol Clube do Porto – os seguintes direitos especiais:

• Direito de veto das deliberações da assembleia geral que tenham por objeto a fusão, cisão, transformação ou dissolução da sociedade e alteração dos seus estatutos, o aumento e a redução do capital social e a mudança da localização da sede (artigo 7.º, nº 2 dos estatutos);

• Direito a designar, pelo menos, um dos membros do Conselho de Administração, o qual disporá de direito de veto das deliberações de tal órgão que tenham por objeto idêntico ao do nº 2 do artigo 7.º dos Estatutos (artigo 11.º, nº 3 dos estatutos).

Como é sabido, a FC Porto SAD é uma sociedade desportiva, que se rege pelo regime jurídico especial estabelecido no Decreto-Lei 67/97, de 3 de Abril, de acordo com as alterações que lhe foram introduzidas pela Lei nº 107/97, de 16 de Setembro.

Contudo, a Lei foi alterada recentemente (em 2013) e, de acordo com o Decreto-Lei nº 10/2013, de 25 de janeiro, os Clubes deixam de ter, nos termos da lei, direito de veto sobre a alteração dos estatutos das “suas” SAD’s e sobre os respectivos aumentos ou reduções do capital social.

No Prospeto da Oferta Pública de Subscrição de obrigações representativas do Empréstimo Obrigacionista “FC PORTO SAD 2014-2017”, pode ser lido o seguinte:

«O desenvolvimento da atividade principal da FC Porto SAD pressupõe a existência e manutenção da relação privilegiada com o FC Porto, consubstanciada em contratos e protocolos que asseguram ao Emitente, designadamente, a utilização das instalações desportivas e da marca FC Porto, no que respeita à sua utilização pela equipa de futebol profissional e nos espetáculos desportivos. (…) com a entrada em vigor do Decreto-Lei nº 10/2013, de 25 de janeiro, e nos termos do respetivo artigo 23.º, o limite mínimo da participação direta do FC Porto no capital social da FC Porto SAD passe de 15% para 10%. Adicionalmente, o FC Porto deixará de ter, nos termos da lei, direito de veto sobre a alteração dos estatutos da FC Porto SAD e o aumento ou redução do capital social da mesma, passando no entanto a ter direito de veto sobre qualquer alteração ao emblema ou ao equipamento das equipas de futebol profissional


Todos estes factos demonstram o seguinte:

i) Desde a constituição da FC Porto SAD até agora, a percentagem (direta e indireta) do Futebol CLUBE do Porto no Capital e Direitos de Voto da SAD, manteve-se ou diminuiu ao longo do tempo;

ii) Seguramente por sugestão dos agentes desportivos, a lei foi alterada, de modo a que o limite mínimo que os Clubes tinham de ter nas "suas" SAD's (de que foram fundadores), diminuiu de 15% para 10%;

iii) O poder que a Lei dava aos Clubes, foi drasticamente reduzido com o Decreto-Lei nº 10/2013.


Por tudo isto, se os sócios dos clubes deixarem (a maior parte parece encolher os ombros), é fácil de ver o que irá acontecer a médio prazo. A tendência é clara...


Fontes:
Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD
Jornal O JOGO
Jornal Diário Económico

domingo, 28 de setembro de 2014

" Enquanto estiver aqui, ninguém vai comprar o FC Porto!"

Quem viu a entrevista de Jorge Nuno Pinto da Costa ao Porto Canal ficou - além das saudades de ouvir outro PdC, guerreiro e implacável como aquele que todos aprendemos a admirar a pés juntos pela defesa dos interesses do Clube sobre todas as coisas - a saber que houve tentativas de compra do FC Porto.

O Presidente mencionou dois exemplos, um magnate russo e Peter Lim, o parceiro de negócios de Jorge Mendes que acabou por adquirir o Valência. Segundo Pinto da Costa, as duas ofertas foram rejeitadas porque "Enquanto estiver aqui, ninguém vai comprar o FC Porto". 

Parece-me uma frase bonita, de capa de jornal. No entanto, além de ser mentira, deixa muitas dúvidas sobre o que será o FC Porto quando ele não "estiver aqui". As contas são simples de fazer. 
Ao contrário do SL Benfica e do Sporting CP, o FC Porto não criou uma SGPS que fosse detentora de pelo menos 11% do capital de acções da SAD a juntar aos 40% do clube (o máximo permitido por lei) que garanta sempre a maioria absoluta em qualquer toma de decisões. Benfica e Sporting fizeram-no e assim garantiram que o clube só poderá ser vendido se os seus sócios assim o quiserem, com a alienação de acções da SGPS a outra entidade. Mas no FC Porto o clube limitou-se a ficar com 40%. Pinto da Costa tem pouco mais de 2%. Os restantes pertencem, sobretudo aos irmãos Oliveira - cada qual com a sua dose - e á construtora espanhola Sacyr Vallermoso. São eles - juntos - os maiores accionistas da FC Porto SAD. Se os três se juntassem (ou, eventualmente, se alguém adquirisse as acções dos três), o FC Porto clube ficaria em minoria na tomada de decisão caso se revelasse incapaz de adquirir os 3% de Pinto da Costa e os o8% restantes de sócios minoritários. 



Ora, se um accionista angolano, russo, de Singapura ou de Alcabideche quiser comprar o clube, o "enquanto eu aqui estiver" de Pinto da Costa vale zero. Pode, não duvido, valer-se da sua amizade e influência com os Oliveira para garantir que isso não suceda. Acredito piamente que assim é. O que nos leva a outro problema, um que Pinto da Costa, por muito grande que seja, jamais será capaz de resolver porque, para nosso mal, não é imortal. Quando ele não estiver, quando essa influência que possa ter sobre os Oliveiras desaparecer, que segurança tem o FC Porto clube de que a FC Porto SAD - que controla, já sabemos, toda a parcela económica e desportiva ligada ao futebol bem como 50% do estádio, caso a próxima AG rectificar a ideia do próprio Pinto da Costa - não cai em mãos de fora, sem que os sócios tenham uma palavra a dizer.

Pinto da Costa foi a melhor coisa que podia ter passado ao FC Porto. A melhor, sobretudo, porque soube sobreviver ao legado de Pedroto e fazê-lo ainda mais grande. Durante décadas deu tudo pelo Clube. Aproveito a sua entrevista e deixo-lhe um desafio, não só como sócio 25331 mas, sobretudo, como portista: tome as medidas necessárias para garantir que a FC Porto SAD nunca deixará de pertencer ao FC Porto e aos seus sócios, esteja ele ou não aqui. 

Na conjuntura actual, mais do que não vender um jogador importante, do que ganhar uma terceira Champions League ou de ultrapassar o SL Benfica em total de titulos, era o maior (e último grande) serviço que podia fazer ao Clube. Garantir que a sua herança continuará viva para lá do seu mandato, do seu tempo de vida, através do Clube que ajudou a fazer parte da elite do futebol europeu e nas mãos de quem sempre o apoiou!   

A SAD no pós Pinto da Costa

Ontem à noite, na extensa entrevista que deu ao Porto Canal, Pinto da Costa ignorou (e bem) as sucessivas provocações do Bruninho e, ao longo de mais de uma hora, falou de diversos temas.

Na minha opinião, o que Pinto da Costa disse de mais importante, para o presente e futuro do Futebol Clube do Porto, foi o seguinte:

O FC Porto já teve cá um indivíduo russo que queria comprar o clube. Nós já há muito que tínhamos visto isso, há muito que discutíamos e dos primeiros problemas que discuti com o Dr. Fernando Gomes foi falar deste perigo, com as movimentações que havia. O Valência, de Espanha, foi vendido a um sujeito [Peter Lim] que também nos foi apresentado como possível comprador do FC Porto através do Jorge Mendes. Tomámos acções e medidas que pretendem salvaguardar que o FC Porto seja sempre dos sócios ou dos adeptos”.


Se, como Pinto da Costa disse, quer Peter Lim, quer um milionário russo já fizeram abordagens para tentar comprar a FC Porto SAD, então, se os Associados do Futebol Clube do Porto não querem que isso aconteça, o CLUBE deve ter uma maioria confortável no capital da SAD e ter condições – financeiras e/ou patrimoniais – para, no futuro, manter o domínio da sociedade que foi criada para gerir o futebol.

Mas, como é que o CLUBE pode ter uma maioria confortável no capital da FC Porto SAD, se a lei só permite um máximo de 40%?

Esta é uma das mentiras mais vezes repetidas, inclusive por pessoas que tinham a obrigação de estar bem informadas e de informar corretamente os sócios e adeptos.

Diretamente e através de uma SGPS, um clube pode ter muito mais do que 40% da sua SAD. No limite, pode até ter 100%.

Veja-se, por exemplo, qual é a distribuição do Capital e Direitos de Voto nas SAD's do Sporting e do Benfica:

Participações Qualificadas da Sporting SAD (em 10-09-2014)

Participações Qualificadas da Benfica SAD (em 31-12-2013)

Na entrevista de ontem, Pinto da Costa afirmou que “enquanto estiver no FC Porto, ninguém vai comprar o clube. Pode vir quem vier. Por mais dinheiro que tenha, não compra o clube”.

O CLUBE não está, nem nunca estará à venda, mas a FC Porto SAD é uma empresa, uma sociedade aberta e, atualmente, já é detida, maioritariamente – 60% do seu capital – por terceiros.

É sabido que a esmagadora maioria dos Associados do Futebol Clube do Porto apoia e confia na palavra de Pinto da Costa.
Mas, infelizmente, Pinto da Costa não é eterno e a garantia, pessoal, que deu aos sócios, naturalmente esgota-se no dia em que deixar de ser o presidente do CLUBE e da SAD.

Assim sendo, o que acontecerá à FC Porto SAD no pós Pinto da Costa, se a sociedade voltar a atravessar dificuldades financeiras e, simultaneamente, o CLUBE estiver fragilizado e nem sequer tiver património para acorrer a uma qualquer emergência?

É por tudo isto que os Associados do Futebol Clube do Porto têm de pensar e ponderar muito bem o que vão fazer na Assembleia Geral Extraordinária agendada para o próximo dia 2 de Outubro.
Podem ficar em casa, podem deixar as decisões acerca do futuro do Futebol Clube do Porto nas mãos de outros, não podem é dizer que não sabiam.

A escolha “criteriosa” dos lances polémicos

Conforme referi no artigo anterior, a meio da 1ª parte do Sporting x FC Porto, Adrien Silva teve uma entrada perigosa sobre Danilo, atingindo-o com os pitões na zona superior do peito do pé, mas o senhor Olegário limitou-se a mandar o jogador do Sporting ter calma...
Não sei o que disseram os comentadores da SportTv, mas a comunicação social do regime não fez disto um caso e branqueou completamente este lance (que eu visse, não voltou a passar em qualquer resumo).

Comparando com a expulsão de Maicon no FC Porto x Boavista, eu diria que são dois lances em que os jogadores revelam imprudência, ao entrarem de sola e atingirem os adversários (na minha opinião, o lance de Maicon é mais espalhafatoso mas menos grave, do que o protagonizado por Adrien).

A propósito, vale a pena reler o que os dois ex-árbitros lisboetas do ‘Tribunal de O JOGO’ – Jorge Coroado e Pedro Henriques – disseram acerca do lance que provocou a expulsão de Maicon.

Tribunal de O JOGO, FC Porto x Boavista

E o que pensam os mesmos Jorge Coroado e Pedro Henriques acerca do lance em que Adrien atingiu Danilo?

Pois, não sabemos, porque quem escolheu os lances polémicos do Sporting x FC Porto, para submeter a análise do ‘Tribunal de O JOGO’, entendeu deixar de fora este lance passível de cartão (amarelo? vermelho?) para o médio do Sporting.

Aliás, voltando ao FC Porto x Boavista, ao minuto 33 (oito minutos após Maicon ter sido expulso), um jogador do Boavista teve uma entrada muito perigosa sobre Tello que, tal como a de Adrien, também não mereceu a mostragem de qualquer cartão pelo árbitro de serviço nesse jogo (o senhor Jorge Ferreira de Braga).



E qual foi a opinião do ‘Tribunal de O JOGO’ acerca desse lance?
Não sabemos, porque… não foi selecionado para análise!

Sim, eu sei que nem todos os lances podem ser analisados, mas como acredito pouco em coincidências...

Mas, ainda mais difícil de perceber (ou talvez não), é o critério usado pelos realizadores da SportTv em relação ao número de repetições dos lances polémicos.

Por aquilo que me apercebo, se o lance for um erro grave de arbitragem a favor do FC Porto (algo cada vez mais raro e que, esta época, ainda não ocorreu em qualquer dos seis jogos já disputados), o lance é repetido aí umas 10 vezes, incluindo durante o intervalo (se tiver ocorrido na 1ª parte).

Contudo, se o lance for um erro de arbitragem contra o FC Porto, então, no máximo, será repetido uma ou duas vezes, com os comentadores de serviço em silêncio ou a escolherem as palavras com pinças, para não empolar a coisa.

É por estas e por outras que eu não me calo porque, para mim, a defesa do Futebol Clube do Porto está sempre à frente de outros interesses.

sábado, 27 de setembro de 2014

Maicon, Slimani e a falta de coragem

As imagens do lance entre Slimani e Martins Indi…



… mostram (comprovam!) que Slimani, fora de si, agarra o defesa do FC Porto pelo pescoço e projeta-o violentamente para trás.

Mas, segundo os “especialistas” do jornal O JOGO…

Tribunal de O JOGO, Sporting x FC Porto

… o avançado do Sporting limitou-se a empurrar o jogador adversário, o que configura um “comportamento antidesportivo”.

Não sabia que, em termos disciplinares, apertar o pescoço a um jogador adversário era um mero “comportamento antidesportivo”. Estamos sempre a apreender…

Quanto aos jornalistas da televisão que transmitiu o jogo – a SportTv – e aos comentadores das outras televisões do regime centralista em vigor, não faço ideia do que disseram (vi o jogo num conhecido café do Porto, felizmente sem som).

Mas vi, porque as imagens televisivas mostraram-no, que Olegário chegou a ter o cartão vermelho na mão, mas optou por um amarelo suave…

Faltou coragem para expulsar um jogador do Sporting, aos 10 minutos, em pleno Estádio de Alvalade?

Pois faltou (tal como faltou coragem para assinalar penalty, por mão de Mauricio, ao minuto 89) mas, na semana passada, no FC Porto x Boavista, ao árbitro de serviço não faltou coragem para expulsar o Maicon em pleno Estádio do Dragão e deixar o FC Porto a jogar com menos um, a partir do minuto 25.

E é, também, com lances como estes, que se vai escrevendo a história deste campeonato e, claro, se salvaguarda a tão propalada “verdade desportiva”…

P.S. A meio da 1ª parte, Adrien teve uma entrada perigosa sobre Danilo, atingindo-o com os pitões na zona de ligação entre o pé e a perna. Olegário nem amarelo mostrou e limitou-se a aconselhar calma ao médio do Sporting. Aliás, este lance foi tão “inofensivo”, que nem sequer fez parte da lista de lances analisados pelo 'Tribunal de O JOGO'. E é assim que se vai branqueando os “critérios de arbitragem”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Uma equipa de anjinhos...


... a começar no treinador. Julen Lopetegui voltou a mexer no 'onze'. Colocou Marcano no lugar do castigado Maicon, e jogou com Casemiro, Herrera e Rúben Neves no meio campo com a ajuda do "falso" extremo Brahimi. Na frente jogaram os desinspirados Jackson e Quaresma.

A rotação a que Lopetegui tem sujeitado a equipa não funciona. É um facto. Nesta altura seria preferível tentar estabilizar um 'onze' tipo e daqui por uns meses ir introduzindo um a um os novos elementos. Espera-se que o treinador entenda isto e que coloque os melhores em campo no próximo jogo para o campeonato. Convém, também, que lhe expliquem as idiossincrasias do futebol português: os adversários e os árbitros, principalmente. A mensagem que passou à própria equipa e ao adversário no último jogo no Dragão foram completamente erradas. Se o primeiro objectivo é o campeonato então é nesta competição que não devem haver poupanças de jogadores, seja qual for o adversário.

Quanto ao jogo, a equipa entrou muito insegura e reagiu mal a uma entrada pressionante do Sporting. Logo no segundo minuto da partida Rúben Neves falha um passe a meio campo e os de Alvalade agradeceram. Nani foi por ali fora, a bola sobrou na direita para Carrillo que fez o centro para Johnatan de cabeça fazer o golo. O jogo a começar e já estávamos a perder...

Depois de vários jogos em que Rúben Neves demonstrou que ainda não tem nervo para ser titular da equipa do FC Porto, Lopetegui resolveu mais uma vez dar-lhe a titularidade. A exibição do jovem jogador foi sofrível e acabou por ser substituído ao intervalo por Óliver. Em suma: uma substituição queimada.

Por outro lado também não se entende como o desinspirado Quaresma é colocado a titular num jogo destes. Tem pouca mobilidade, não consegue criar desequilíbrios e de vez em quando perde a cabeça como no lance em que dá uma sarrafada no Nani e leva um cartão amarelo. Ao intervalo foi substituído por Tello, possivelmente para não ser expulso na 2ª parte. Outra substituição queimada.

As duas substituições e o intervalo tiveram um efeito positivo no FC Porto. A equipa entrou a trocar melhor a bola - ainda que muito longe da baliza adversária - e criou desequilíbrios no meio campo, sendo que para isso Óliver deu um grande contributo.

Tivemos três lances de golo iminente na 2ª parte: Jackson isola-se e face a Patrício atira à figura; depois aos 82' Herrera remata em arco para grande defesa de Patrício e já no final do jogo, Tello faz uma boa jogada na direita e, com Brahimi e Jackson sozinhos, resolve atirar ao lado. Inacreditável! O Sporting por seu lado atirou uma bola à barra, por Capel, e ganhou um número infindável de livres e pontapés de canto. E outros tantos mergulhos do temível avançado Slimani para a piscina.

Benquerença, em Alvalade, foi mais uma vez habilidoso e "geriu" muito bem as incidências da partida. Na primeira parte ficou por mostrar cartão vermelho a Slimani, que agrediu Indi, e foram perdoados cartões amarelos a Adrien e a William. Além disso contei pelo menos 5 faltas contra o Sporting que Olegário "mandou seguir". Na segunda parte, aos 88', há um toque de calcanhar de Jackson, a passe de Óliver, com a bola a ser cortada com a mão por Maurício dentro da área sportinguista. Penalty que ficou por marcar. Mais um, em Alvalade. Um dia ainda havemos de ter um penalty em Alvalade...

O controlo da arbitragem está, desde há um par de anos, em Lisboa. É sabido no meio futebolístico. Neste campeonato o FC Porto foi prejudicado em todos os jogos. A administração da SAD continuará a assobiar para o lado? Até quando?
 

Ordem de Trabalhos da AG do Clube

No passado dia 10 de Setembro, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD, convocou os Accionistas desta Sociedade para reunir em Assembleia Geral Extraordinária, a realizar no dia 2 de Outubro de 2014, pelas 15:00 horas.

14 dias depois, no dia 24 de Setembro, o Presidente em exercício da Mesa da Assembleia Geral do Futebol Clube do Porto, convocou os Associados do Clube para reunir em Assembleia Geral Extraordinária, a realizar também no dia 2 de Outubro de 2014, pelas 20:30 horas.

Convocatória da AG extraordinária do FC Porto (publicada no jornal O JOGO)

Atendendo a dúvidas que surgiram entre muitos Associados do Futebol Clube do Porto, relativas à Ordem de Trabalhos desta Assembleia Geral Extraordinária, tomei a iniciativa de enviar o seguinte e-mail para o endereço electrónico principal do Futebol Clube do Porto (fcporto@fcporto.pt).

Se e quando receber a resposta dos Serviços do Futebol Clube do Porto, divulgarei a mesma, para servir de informação a todos os Associados que estejam interessados.

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Exmos Senhores,

No próximo dia 2 de Outubro de 2014, pelas 15:00 horas, vai realizar-se uma Assembleia Geral Extraordinária da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, em cuja Ordem de Trabalhos estão previstos seis pontos.

Nos pontos 3 e 4 da referida Ordem de Trabalhos, estão previstas deliberações que envolvem, diretamente, o Futebol Clube do Porto ("aquisição ao Futebol Clube do Porto", "subscrição pelo Futebol Clube do Porto"):

«3. Condicionada à aprovação do ponto anterior e dos seguintes, deliberar sobre a aquisição, pela Sociedade ao Futebol Clube do Porto, de acções representativas de até 50% do capital social da sociedade EuroAntas – Promoção e Gestão de Empreendimentos Imobiliários, S.A.;

4. Condicionada à aprovação dos pontos anteriores, excepto o ponto 1, e dos seguintes, deliberar sobre o aumento de capital social da Sociedade no montante total de €37.500.000, a realizar por entradas em dinheiro através da subscrição particular pelo Futebol Clube do Porto de 7.500.000 acções preferenciais sem voto, escriturais e nominativas, a emitir pela Sociedade nos termos do artigo 8.º, n.º 4 dos seus estatutos, com a consequente alteração do artigo 5.º dos estatutos;»


Entretanto, a Direção do Futebol Clube do Porto convocou os Associados para uma outra Assembleia Geral Extraordinária, também no dia 2 de Outubro, mas com início previsto para as 20:30 horas.

Na Ordem de Trabalhos desta Assembleia Geral Extraordinária do Clube, estão previstos dois pontos:

«1 - Discutir e deliberar, de harmonia com o disposto no artigo 116, nº 29, ponto 2, dos Estatutos, sobre o reforço da participação do Futebol Clube do Porto, no capital social da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, mediante a aquisição de novas acções;

2 - Condicionada à aprovação do ponto anterior, deliberar mandatar a Direção do Futebol Clube do Porto para praticar todos os actos e subscrever todos os documentos e instrumentos que se mostrem necessários ao bom cumprimento e execução da deliberação tomada ao abrigo do mesmo ponto um desta Ordem de Trabalhos.»

Verificando que desta Ordem de Trabalhos não consta, pelo menos de forma explicita, qualquer ponto onde esteja previsto discutir e deliberar sobre a venda, por parte do Futebol Clube do Porto à Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, de acções representativas de até 50% do capital social da sociedade EuroAntas – Promoção e Gestão de Empreendimentos Imobiliários, S.A., solicito o favor de me informarem como, nesta Assembleia Geral Extraordinária, poderão os Associados do Futebol Clube do Porto expressar uma posição a favor ou contra esta possibilidade.


Grato pela atenção dispensada.

Com os melhores cumprimentos,
José Correia

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Estádio do Bessa penhorado e em hasta pública

Para os associados do Futebol Clube do Porto, que pensam ser indiferente o Estádio do Dragão ser propriedade do CLUBE ou da SAD, recomendo a leitura das seguintes notícias (extractos), relacionadas com o Estádio do Bessa.

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«O Estádio Bessa foi penhorado pela Direcção-Geral de Contribuições e Impostos (DGCI) e está à venda desde as 00:00 pelo valor mínimo de 28,317 milhões de euros, informa a DGCI no seu site. Os interessados em comprar o local sede do Boavista Futebol Clube terão de entregar proposta até ao 20 de Novembro de 2008 (pelas 11h30).
(…)
Entretanto, a Agência Lusa divulgou mais pormenores sobre o tema. Assim, o recinto axadrezado é designado como fracção A e tem o valor de licitação acima referido, mas há mais fracções à venda. As fracções I, J e K correspondem a edifícios de um, dois e quatro pisos, com valores mínimos de 205.172,89 euros, 599.352,34 euros e 325.846,59 euros, respectivamente.»
in Maisfutebol, 08-08-2008

Vista aérea do Estádio do Bessa e envolvente

«Os sócios do Boavista mandataram a direcção para tentar a impugnação judicial da hasta pública do Estádio do Bessa, que está marcada para 20 de Novembro. A decisão foi tomada em Assembleia Geral, pela clara maioria dos cerca de 500 associados presentes. Houve quatro votos contra e 21 abstenções.
Esta AG extraordinária foi pedida pelo presidente do Conselho Fiscal, com base no argumento de que o estádio é do clube e não da SAD, o que será motivo para justificar a anulação da hasta pública.
Segundo explicou Pinto Pais, está em causa o facto de a SAD, então presidida por João Loureiro, ter dado como garantia o Estádio do Bessa quando recorreu, em 2005, a um Plano Extrajudicial de Conciliação para o pagamento de dívidas fiscais. De acordo com o responsável do Conselho Fiscal, essa garantia, não tendo sido validada pelos sócios em Assembleia Geral, foi ilegítima e violou os estatutos do clube. “O estádio era um bem do Boavista clube mas quem estava a ser executado era a Boavista SAD”, resumiu Pinto Pais, citado pela Lusa.
(…)
Tavares Rijo, actual presidente do clube, foi um dos membros da direcção de João Loureiro que aprovou a decisão de entregar o Bessa como garantia. Presente na AG, o dirigente foi alvo de alguma contestação. “Em mim, em nada me pesa consciência”, disse Tavares Rijo, igualmente citado pela Lusa, explicando depois que votou ao lado de João Loureiro com base num “documento de sete páginas, apoiado em duas actas da Assembleia Geral”, as quais, admite, hoje lhe suscitam “muitas dúvidas”.
in Maisfutebol, 13-11-2008

João Loureiro e um conhecido sócio do Boavista

«O Boavista anunciou hoje que foi anulado o despacho que ordenava a penhora do estádio do Bessa e desmarcada a venda judicial do recinto em hasta pública, agendada para quinta-feira.
(…)
A decisão de entregar o Estádio do Bessa como garantia pelas dívidas ao Fisco foi aprovada numa reunião efectuada a 12 de Setembro de 2005 por João Loureiro, na altura presidente, e mais cinco membros da sua direcção. (…)
Em causa estão dívidas superiores a cinco milhões de euros, a maior parte delas ao Fisco e uma parcela à Segurança Social.
(…)
A realização da assembleia extraordinária de 12 de Novembro foi pedida pelo presidente do Conselho Fiscal (CF), Pinto Pais, com o argumento de que o estádio é do clube e não da SAD, havendo por isso motivo suficiente para anular a hasta pública. Pinto Pais explicou, na altura, que, em 2005, a SAD, então presidida por João Loureiro, recorreu a um PEC com vista a pagar dívidas fiscais, tendo dado como garantia o Estádio do Bessa. O objectivo era permitir que a equipa de futebol profissional continuasse a competir. O dirigente disse que essa garantia não podia ser dada, sendo por isso ilegítima, porque não foi validada pelos sócios em AG, violando assim os estatutos do clube.
O estádio era um bem do Boavista clube mas quem estava a ser executado era a Boavista SAD”, resumiu Pinto Pais.»
in Record, 19-11-2008

Planta do Estádio do Bessa

«O Estádio do Bessa foi hipotecado ilegalmente. A decisão é do Tribunal Cível do Porto que, assim, deixa as Finanças e a Segurança Social sem garantias para uma dívida superior a oito milhões de euros.
O juiz não tem dúvidas: a Direção e a Assembleia Geral do clube não tinham competências para entregar o complexo desportivo como garantia à Fazenda Pública para travar 12 processos (10 processos e mais dois apensos) de execução fiscal que perfazem mais de 8,51 milhões de euros.
A hipoteca voluntária, feita pelo então presidente e pelo presidente-adjunto da Direção do clube, João Loureiro e Tavares Rijo, violou a lei. Oito anos depois, o registo do cartório, realizado a 16 de setembro de 2005, a favor da Direção-Geral dos Impostos é considerado nulo.
(…)
A situação é ainda mais grave. É que, além de não ter competências para determinar a hipoteca voluntária a favor do Estado, o clube deu o seu património como garantia de uma dívida da SAD do Boavista, que o tribunal vê como uma entidade externa à associação desportiva. O estádio e as demais instalações do complexo do Bessa são do clube e não da SAD. Não podem ser utilizados para garantir débitos alheios
in JN, 13-10-2013

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Este caso, que envolveu um dos clubes históricos do futebol português, é ilustrativo do que poderia ter acontecido se o Estádio do Bessa pertencesse à SAD em vez de ser propriedade do Boavista Futebol Clube.

Transferir a propriedade do Estádio do Dragão do CLUBE para a SAD (50% agora, o resto sabe-se lá quando) é abrir a porta a, no futuro, com esta ou com outra Direção, podermos ser confrontados com uma situação semelhante.

Os associados do Futebol Clube do Porto querem correr esse risco e “passar um cheque em branco” aos futuros dirigentes (que não sabemos quem serão) do Clube e da SAD?

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O Clube, a SAD e o Estádio (III)



Ao longo dos anos/décadas seguintes à sua inauguração, o Estádio das Antas foi sendo objecto de sucessivas melhorias.

Ainda em 1952, apenas quatro meses após a inauguração do estádio, foi inaugurada a pista de atletismo.

Em 1960, o Estádio das Antas foi dotado de uma pista de ciclismo, que mais tarde seria extinta.

A iluminação artificial do Estádio das Antas, que custou 3740 contos, só começou a funcionar cerca de 10 anos após a inauguração do estádio, a 1 de Setembro de 1962. O jogo que assinalou essa data histórica foi contra o Athletic Bilbau, tendo os azuis e brancos vencido a equipa basca por 2-1.

A 30 de Abril de 1976 foi inaugurado o fecho da “Maratona”, obra orçada em cerca de 45 mil contos. Esta obra abrangeu a construção da Bancada, de modo a fechar o anel inferior, a construção da Arquibancada e das respectivas rampas de acesso. Nos novos espaços existentes por baixo da Arquibancada, passaram a funcionar os serviços administrativos do clube, bem como, a sala museu.
Em simultâneo com o fecho da “Maratona”, foram também edificados novos camarotes do lado oposto, na designada bancada dos cativos.

A última grande obra de melhoramento do Estádio das Antas consistiu na extinção da pista de atletismo e no rebaixamento do relvado, de forma a aumentar a capacidade do estádio. Esta obra foi inaugurada a 17 de Dezembro de 1986 e, mais uma vez, o clube convidado foi o SL Benfica (outros tempos).

Mas, nas Antas, o Futebol Clube do Porto não se “limitou” a construir um grandioso estádio de futebol. À volta do Estádio das Antas, nasceu um complexo desportivo, uma autêntica “cidade desportiva”, que movimentava centenas/milhares de pessoas, e que era composta por diversas infraestruturas.

A 25 de Agosto de 1954, foram iniciadas as obras para o campo de treinos, o qual só foi inaugurado a 3 de Agosto de 1958. Para além de servir para os treinos da equipa principal, muitos sócios do Futebol Clube do Porto ainda se lembrarão de ver neste campo os jogos das camadas jovens.

Campo de treinos e respectiva bancada, 1958

A 18 de Agosto de 1968 foram inauguradas as Piscinas, as quais, mais tarde, haveriam de ter uma cobertura provisória (a partir de Fevereiro de 1969) e uma cobertura definitiva, inaugurada a 21 de Março de 1971.

Piscinas das Antas

A 21 de Março de 1970 foi inaugurado o Pavilhão de Treinos (posteriormente rebaptizado Pavilhão Afonso Pinto Magalhães). Era um pavilhão espaçoso, sem bancadas (lugares para público), o que permitia que várias equipas, de diferentes modalidades, treinassem em simultâneo.

Piscinas, Pavilhões e Arquibancada

A 28 de Maio de 1972, incluído nas comemorações do 20º aniversário da inauguração do Estádio das Antas, procedeu-se ao lançamento da 1ª pedra do novo Pavilhão Gimnodesportivo do Futebol Clube do Porto (posteriormente rebaptizado Pavilhão Américo de Sá), o qual haveria de ser inaugurado em 14 de Julho de 1973.

Pavilhão Américo de Sá

Para além das piscinas e pavilhões, cuja construção foi fundamental para suportar o desenvolvimento das modalidades amadoras e de alta competição, o CLUBE, ao longo de sucessivas Direcções (particularmente nas Direcções presididas por Afonso Pinto Magalhães e Américo de Sá), foi negociando e adquirindo terrenos, que possibilitaram (já no mandato de Pinto da Costa) a construção de mais três campos de treinos e a expansão da “cidade desportiva” das Antas em direção a Nascente.

Terrenos das Antas em 1976 (na presidência de Américo de Sá)

Quando, no início do século XXI, os associados foram chamados a pronunciar-se sobre o envolvimento do CLUBE no Plano de Pormenor das Antas (PPA), concordaram em abdicar de tudo isto – Estádio, Pavilhões, Piscinas, Campos de Treinos, terrenos – em troca da obtenção dos meios para a construção do novo estádio do Futebol Clube do Porto.

Vista aérea da "cidade desportiva" das Antas

Importa salientar este aspecto. Os associados do Futebol Clube do Porto aprovaram a destruição da “Cidade desportiva” das Antas (erguida durante décadas, ao longo de sucessivas Direções) e a inclusão da totalidade dos seus terrenos no projecto de renovação urbana da zona das Antas (o FC Porto detinha 51% da área abrangida pelo PPA), tendo em vista, como contrapartida, o CLUBE ficar detentor de um novo estádio.

Implementação do PPA nos antigos terrenos do FC Porto

Quando o project finance do novo Estádio foi apresentado, não me lembro de alguém ter dito que, passados 5, 10 ou 20 anos, o CLUBE poderia ter de alienar acções da EuroAntas e deixar de ser o único proprietário do Estádio do Dragão. E muito menos que isso poderia acontecer devido a problemas financeiros de outras entidades (no caso, da SAD criada para gerir o futebol).




(continua)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Clube, a SAD e o Estádio (II)



«Considerando que:
(a) Se mostra oportuna a aquisição, pela Sociedade ao Futebol Clube do Porto, de acções representativas de até 50% do capital social da sociedade EuroAntas – Promoção e Gestão de Empreendimentos Imobiliários, S.A., sociedade cujo principal activo é o Estádio do Dragão
Fonte: Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, em “Propostas a apresentar em Assembleia Geral extraordinária [da SAD], a realizar em 2 de Outubro de 2014”


Numa altura em que a SAD considera oportuno que o Clube abdique (lhe venda) 50% do Estádio do Dragão (formalmente, irá vender 50% do capital social EuroAntas), vale a pena recordar o que foi o sonho, a dedicação e o esforço, de sucessivas gerações de portistas, para que o Futebol Clube do Porto tivesse um estádio seu.

Hoje em dia pode parecer estranho mas, durante quase meio século, desde a refundação em 1906, até à inauguração do Estádio das Antas em 1952, o Futebol Clube do Porto não teve um estádio próprio e teve de andar com a “casa às costas”.

O Campo da Rainha, situado na rua do mesmo nome, atual Rua de Antero de Quental, foi um dos primeiros locais utilizados pelo Futebol Clube do Porto para disputar os seus jogos Foi lá que, a 15 de Dezembro de 1908, se realizou o primeiro jogo internacional conhecido da história do Futebol Clube do Porto, contra o Fortuna Football Club de Vigo.

Campo da Rainha

A construção de uma fábrica nestes terrenos, que pertenciam à Companhia Hortícola Portuense, obrigou, em 1912, o clube a mudar os seus jogos para a Constituição.

O primeiro grande evento no Campo da Constituição foi um torneio internacional, disputado entre 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 1913, tendo contado com a presença do FC Porto, SL Benfica, Oporto Cricket Club e Real de Vigo.

Pela utilização do Campo da Constituição, o Futebol Clube do Porto tinha de pagar um aluguer (350 escudos por ano).

À medida que o Futebol Clube do Porto ganhava títulos e se foi afirmando como o clube Nº1 da cidade e um dos principais clubes nacionais, o número de adeptos foi crescendo e o Campo da Constituição revelava-se insuficiente para as necessidades. Assim sendo, entre a família portista foi germinando o sonho de construir um estádio que fosse seu.

Campo da Constituição

Em 14 de Setembro de 1933, realizou-se uma Assembleia Geral histórica do Futebol Clube do Porto, da qual viria a emergir uma Comissão Pró-Campo, com o objetivo de escolher um terreno que tivesse “capacidade para nele ser construído um verdadeiro Estádio que comporte, no futuro, 50 mil pessoas” e que nele se pudessem “construir amplas bancadas, campo relvado, uma ampla pista para atletismo, piscina, ginásio, etc.”.

Mas os tempos não eram fáceis. Sem ter um estádio próprio, e perante a impossibilidade de ampliação ou de realizar obras significativas no Campo da Constituição, a Direcção do Futebol Clube do Porto optou, durante vários anos, pelo aluguer de espaços pertencentes a outros clubes da cidade.

Uma das “soluções” encontradas foi o Campo do Ameal, para cuja utilização o Futebol Clube do Porto estabeleceu um acordo com o Sport Progresso.

Contudo, após desinteligências com o Sport Progresso, os principais jogos do Futebol Clube do Porto passaram a ser realizados no Estádio do Lima (por exemplo, foi lá que, em 1948, se jogou o célebre FC Porto x Arsenal) mas, para além de uma verba significativa pelo aluguer, a utilização do Estádio do Lima implicava ainda o pagamento ao proprietário – o Académico FC – de parte das receitas obtidas.

Estádio do Lima

Por tudo isto, o desígnio para que o Futebol Clube do Porto tivesse um estádio seu nunca foi abandonado. Assim, na procura de meios para dar seguimento à Assembleia Geral de 1933, em 1937 foram emitidas 15 mil obrigações de 30 escudos cada, com um juro anual de 5%.

Em 1942, o Futebol Clube do Porto adquiriu, por 240 contos (1 conto = 1000 escudos = 5 euros), um terreno de 65000 m2 na zona da Vilarinha, perto do local onde se situa agora o Parque da Cidade, destinados à construção do tão sonhado estádio.

Planta dos terrenos da Vilarinha

Contudo, algumas figuras de peso dentro do clube não viam com bons olhos a opção de construir a futura casa do Futebol Clube do Porto num local muito desviado do centro da cidade e, perante a forte polémica que se instalou, em 1946 a Comissão Pró-Campo demitiu-se.

Entretanto, com o final da II Guerra Mundial, os terrenos da Vilarinha sofreram uma grande valorização e a sua venda permitiu à Direção do Futebol Clube do Porto, presidida por Cesário Bonito, a aquisição de um outro terreno, com 48000 m2, integrado na Quinta de Salgueiros (zona das Antas), por 1440 contos.

O projecto do novo estádio foi concebido durante o ano de 1949, da responsabilidade do arquitecto Oldemiro Carneiro, estando a obra a cargo do engenheiro Miguel Resende.

Estudos do Estádio das Antas

Foi já com Miguel Pereira à frente dos destinos do clube que, a 16 de Janeiro de 1950, o Futebol Clube do Porto deu início às obras de aterragem e terraplanagem do futuro Estádio das Antas (o sócio número um, José Bacelar, pagou do seu bolso o primeiro dia de obras, no valor de 675 escudos).

Apesar do apoio de figuras proeminentes, como Afonso Pinto de Magalhães, o facto é que o dinheiro não abundava. Por isso, foram organizados vários Cortejos dos Materiais, em que a população (particularmente os portistas) contribuía com ofertas, que iam desde cal, pedra, cimento, areia, madeira, saibro, tijolos e paralelepípedos, a bens alimentares, como carne, vinho e pão.

O custo do estádio rondou os 7500 contos, conseguidos, em boa parte, à custa desses cortejos e também de vários sorteios e outras iniciativas.

A 28 de Maio de 1952, na presidência de Urgel Horta, o sonho concretizou-se.
A nova casa dos portistas, o majestoso Estádio das Antas, foi finalmente inaugurado, na presença de 50 mil pessoas (e muitas mais ficaram da parte de fora), as quais pagaram um bilhete de 20 escudos para terem esse privilégio.

Estádio das Antas, inauguração, vista aérea

Estádio das Antas, inauguração, relvado

62 anos depois, é bom que os sócios do Futebol Clube do Porto se recordem destes tempos e, em consciência, decidam, numa próxima Assembleia Geral (que, suponho, o Clube irá convocar), se concordam que o Futebol Clube do Porto aliene 50% do Estádio do Dragão a uma empresa (a FC Porto SAD) na qual o Clube é minoritário.


Fotos deste artigo: ‘Os Filhos do Dragão’

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(continua)