terça-feira, 31 de março de 2009

Em Alvalade, tudo bons rapazes


«(...) estava eu satisfeito por ver alguém, humildemente, dar a cara após um erro flagrante quando, de repente, Lucílio resolveu estragar tudo. Que não tenha visto o gesto de Paulo Bento - indiciando que estava a ser roubado - parece-me perfeitamente possível (sem o recurso à televisão só por sorte poderia ter observado a reacção do técnico leonino), mas que diga, sem pestanejar, que no relvado não se apercebeu da gravidade da atitude de Pedro Silva após a expulsão é... estranho. Ou pior que isso: é impossível de aceitar.
O lateral leonino, desesperado com a marcação do penálti e com a ordem de saída de campo, reagiu à peitada, o árbitro arregalou os olhos perante o gesto do brasileiro e, horas depois, tem a coragem de dizer, perante o País, que não se apercebeu? Posso acreditar em tudo o que Lucílio disse na televisão, desde o facto de ter sido iludido pelo movimento do corpo de Pedro Silva no lance da polémica, até à garantia de que nenhum dos auxiliares o avisou do erro mas, decididamente, não acredito que esteja a dizer a verdade em relação ao resto. E se está, convém deixar de arbitrar quanto antes, pois pelos vistos não revela as condições necessárias para observar o que se passa não a alguns metros de distância, mas a escassos centímetros
Luis Avelãs
in Record, 23/03/2009


O que terá levado Lucílio Baptista a não escrever no relatório do jogo que o lateral do Sporting lhe dera uma forte peitada após ter sido expulso?
Peso na consciência?
Medo das consequências?

Bem, se Lucílio tivesse escrito no seu relatório que Pedro Silva o tentara agredir, este seria abrangido pelo artigo 115.º do Regulamento Disciplinar da Liga de Clubes que, no 1.º ponto, define o seguinte: "São punidos nos termos das alíneas seguintes as agressões praticadas contra a equipa de arbitragem b) Agressão em outros casos: suspensão de 6 meses a 4 anos e multa de 2.500 a 12.500 euros".

"Fala-se que ele tentou agredir o árbitro mas, no meu entender, aquele gesto quando recebeu a ordem de expulsão foi para dizer que tinha tocado a bola com o peito. O Pedro Silva sentiu-se injustiçado e, se calhar, o comportamento que ele teve após o vermelho era 50 vezes pior na sua cabeça"
Ricardo Sá Pinto, 26/03/2009

Quem é que nunca cometeu um excesso no futebol ou noutra actividade?
João Vieira Pinto, 26/03/2009

É bonito ver a solidariedade relativamente ao lateral do Sporting, certamente um bom rapaz, mas lembram-se do caso da chuteira do Deco, envolvendo o (felizmente já retirado) Paulo Paraty? Lembram-se do que na altura foi dito e escrito pela imprensa lisboeta?

Eu vou recordar o que Miguel Sousa Tavares escreveu sobre o caso Deco, em 4 de Novembro de 2003:
«Qualquer pessoa de boa-fé viu que o Deco não tentou, de forma alguma, atingir o árbitro, com a sua bota lançada ao ar. Qualquer pessoa de boa-fé percebe também que a origem daquela confusão esteve no próprio árbitro, que não tendo interrompido logo o jogo para punir a falta que descalçou o Deco, tornou natural que este, num gesto instintivo, não desistisse da jogada e continuasse a jogar sem bota, aí justificando o cartão que o árbitro lhe mostrou. (...)
Vem tudo isto a propósito da histeria que se apoderou da imprensa lisboeta a propósito do episódio da bota voadora do Deco. Quem tivesse acabado de desembarcar em Portugal e visse as manchetes gritando que o Deco se arriscava a quatro anos de suspensão (ou seja, ao fim da sua carreira), ficaria a pensar o que teria ele feito – no mínimo, agredido o árbitro até o deixar estendido à beira do coma. Como se tem de partir do princípio que as pessoas não são completamente desprovidas de senso e ainda sabem olhar para umas imagens e ler um regulamento disciplinar, a única conclusão a tirar de tanta histeria entusiástica era a de que se preparava o terreno para uma manobra clara. Gritando aos quatro ventos que o Deco arriscava quatro anos de suspensão, preparava-se a opinião pública para um castigo terrível e exemplar. E assim, se saírem três ou quatro meses – o que seria um castigo, terrível e exemplar, sim, das verdadeiras funções do CD da Liga – poder se-á sempre dizer depois: «Muita sorte teve ele, que isto podia ir até aos quatro anos!». Manobras destas, já as conhecemos de gingeira

Evidentemente, a atitude do Pedro Silva é muito mais grave que a do Deco e tem ainda como agravante os gestos que fez e aquilo que disse. Contudo, desta vez parece que não se passou nada. Aliás, o próprio árbitro disse, em frente às câmaras de televisão, que não tinha escrito nada no relatório, porque na altura não se apercebeu da gravidade da atitude de Pedro Silva...

O problema é que o todo o país viu as imagens, nas quais se verifica que depois do choque que o obrigou a recuar, Lucílio arregalou os olhos a Pedro Silva com ar ameaçador.

Como é possível um árbitro internacional dizer uma mentira destas, com a maior cara de pau, e não ser imediatamente punido pela Comissão de Arbitragem da Liga?

Pelos vistos, não é só a apitar que o Senhor Lucílio Baptista (SLB) é parecido com Inocêncio Calabote. As semelhanças estendem-se à forma como ambos mentiram descaradamente.



"Castigo? Não vou por aí. Lucílio Baptista não tem condições para arbitrar em Portugal. Se o fizer num jogo do Sporting será uma verdadeira afronta. Penso que acabou a carreira após a final da Taça da Liga."
Soares Franco, 22/03/2009

P.S. Perante as atitudes que teve, os gestos que fez e aquilo que disse, Pedro Silva poderá jogar mais esta época? Tem a palavra Ricardo Costa...

Fotos: Record

segunda-feira, 30 de março de 2009

O "goodwill" de Jesualdo


«Depois do empate a zero no Dragão frente ao Sporting, e de escolher uma equipa com Pedro Emanuel a defesa-direito – o que não era o máximo da ambição –, as acções de Jesualdo Ferreira tiveram uma queda abrupta, tipo Millennium BCP. Ontem, depois de conseguir um importante apuramento para os quartos-de-final da Liga dos Campeões, afastando o Atlético de Madrid, as mesmas acções do treinador do FC Porto experimentaram uma subida interessante.

Pelo discurso dos últimos tempos, Jesualdo Ferreira tem sérias dúvidas sobre se o clube quer que ele continue para a próxima época. Os jornais já avançaram vários nomes de possíveis substitutos – Paulo Bento, Jorge Jesus – mas a verdade é que os méritos de Jesualdo Ferreira são vários. Independentemente de não ter conseguido vencer nenhum dos jogos com o Atlético de Madrid, foi claro nestes 180 minutos que a equipa portista tinha um trabalho táctico de base incomparavelmente melhor. O Atlético mudou de treinador recentemente, é certo, mas isso foi porque a equipa já não estava bem.

Nestes três anos, Jesualdo tornou-se melhor treinador, respondendo a exigências cada vez maiores e conseguindo resultados.
Tinha os meios para isso?
Claro. Mas soube pôr a render os talentos. Passar aos quartos-de-final foi também um prémio para ele.
Jesualdo não é aquilo a que se chama um treinador cujas equipas tenham grandes arroubos atacantes – não é. Mas quem o faz hoje – Mourinho? Capello? Rafa Benitez? Mesmo Alex Ferguson? Quem o fazia e faz era Del Neri e no Dragão durou quinze dias e zero jogos competitivos.

Não sei qual vai ser a decisão de Pinto da Costa no final da época, ou sequer se essa decisão já foi tomada, nem sei obviamente quais vão ser os resultados a partir daqui. Mas sei que não é fácil mudar para muito melhor. Sei que Jesualdo tem a vantagem da idade madura, que não procura arranjar problemas, procura resolvê-los, é honesto. Sei que nas suas mãos o FC Porto tem chegado a Março sempre com a equipa bem treinada, saudável, com boas possibilidades de ganhar coisas, sem problemas de maior fora do campo ainda que sempre com alguns dentro dele. Não fez tudo bem, mas fez bem a maioria das coisas. O balanço é positivo.

Discutir o "goodwill" das acções de um treinador de mais de 60 anos é um pouco espúrio. Jesualdo é o tipo de gestor que não aposta nunca em activos tóxicos, mesmo que isso signifique menos ganhos imediatos na comparação com outros. Jesualdo transmite mais segurança do que ilusões. Em tempos de crise, se calhar esse é um valor importante. Ou mesmo decisivo.»

Manuel Queiroz
in ‘De Trivela’, 12/03/2009

domingo, 29 de março de 2009

Regresso ao Passado

(Os Magriços)

Com excepção da carreira dos Magriços no mundial de 1966, sempre estivemos habituado às vitórias morais da nossa selecção... e continuamos. Aquele mundial que foi glorificado até à exaustão para servir a Pátria, não animou os jogadores e nem sequer aqueceu um pingo de esperança nos desanimados portugueses, pois nas competições internacionais que se seguiram tudo voltou ao normal. Nem as selecções formadas basicamente com os jogadores do SLB, no tempo em que dominava no campeonato e obtinha bons resultados na Taça dos Campeões, foram bem sucedidas nas campanhas para o europeu ou mundial.

A selecção nacional passou por sucessivas convulsões. Má organização, clubismo exacerbado e muito amadorismo. Não obstante tais vicissitudes, tirámos um 3º lugar no Campeonato Europeu, em França – apesar da mediocridade e das desavenças entre os três treinadores em exercício, Cabrita, Toni e Morais - e da grande divisão no seio da equipa entre jogadores do FCP e do SLB.

Pouco tempo depois, conseguimos uma presença no mundial, tirada a ferros (na Alemanha) para depois na fase final borrarmos a pintura, com uma série de acontecimentos que ficaram conhecidos pelo escândalo de Saltillo: uma desoladora imagem, que inscreveu dirigentes, equipa técnica e jogadores. Um comportamento execrável, um futebol medíocre, que se ficou por uma simpática vitória com a Inglaterra. O resto foi uma tristeza: não houve inocentes.

(A equipa que venceu o mundial da categoria em Riade)


Vieram, depois, os meninos de Carlos Queiroz e a geração de oiro que prometeu muito, com as vitórias nos mundiais sub-19. Porém, tirando esses êxitos e alguns lugares de honra que obtiveram no escalão sénior, não restaram muitos mais motivos para especial regozijo, bem pelo contrário: esse ciclo que deixou o amargo da desilusão por não termos concretizado o potencial anunciado que sempre se revelou ser muito superior às nossas forças, terminou no mundial na Coreia que foi mais ou menos um Saltillo revisitado.

Controvérsia à parte, a FPF rompeu com o passado, despediu António Oliveira e recrutou Scolari. Um novo ciclo e um novo paradigma. Criados os inimigos e feitos ao amigos o brasileiro fez história: foi populista, blindou o balneário, arregimentou parte da CS, e reinou que nem um déspota iluminado. Não saiu vitorioso, mas teve sucesso. Acabou no Chelsea, onde de resto já não mora. Portugal teve bastantes vitórias mas nenhum triunfo. Scolari triunfou, foi promovido e despromovido em muito pouco tempo e con$olidou o futuro.

A sua saída, que foi acompanhada por alguns dos mais notáveis jogadores daquele período, fazia prever dificuldades que a corrida para o Mundial da Alemanha tinha posto a descoberto, apesar de não nos termos batido com equipas de primeira linha.


Para o substituir um nome consensual: Carlos Queirós, um excelente organizador. Tomou conta da selecção num momento de viragem. Saíram Figo, Petit, Jorge Andrade, Pauleta e alguns outros jogadores deixaram de ser alternativa: Postiga, Nuno Gomes, Ricardo, Quim, Meira e Miguel.

Com o impedimento de Paulo Ferreira, passámos a não contar com jogadores suficientemente credíveis para ocupar as posições de: guarda-redes, defesa-esquerdo, trinco e ponta de lança. Aliada a essa fragilidade, um CR7 claramente em sub-rendimento explicam em grande parte esta terrível falência da nossa selecção, até ao momento.

Praticamente afastados, desde sábado passado, do mundial de África do Sul, resta a Carlos Queirós lançar os fundamentos de uma selecção competitiva, com um modelo de jogo, uma equipa base e um grupo de trabalho coerente.

Tenho muitas dúvidas que alguma vez tenhamos uma equipa capaz de ganhar um campeonato da Europa ou do Mundo. E mais tenho sobre o nosso seleccionador que me parece tão perdido quanto os nossos jogadores a caminho do golo.


Aquele ar de sofrimento, que a câmara indiscreta mostrou, é contagioso. A selecção está em crise, para não destoar do ambiente geral. Não há só ineficácia. A equipa não tem auto-estima suficiente e não se sente capaz de ganhar. Não há confiança e os suecos tiveram muito tempo de bola e nunca foram encostados às cordas. Agora nem a alegria das varandas engalanadas e dos cordões humanos apoteóticos, que anteciparam a vitória que mesmo tão perto não fomos capazes de agarrar, dá para disfarçar o nosso pessimismo. Porém nada de dramatismos: afinal, não se mudou tanto, apenas desta vez perdemos mais cedo.

O desastre da Ponte das Barcas 29/3/1809-29/3/2009


Este blogue é acerca do Futebol Clube do Porto e daquilo que o rodeia na esfera desportiva. Mas é feito por tripeiros, que têm honra em sê-lo e se interessam e sentem tudo aquilo que diz respeito à Invicta. A política, por mais que possa interessar-nos, a nós e à cidade, estará sempre ausente deste espaço, mas o mesmo não podemos dizer da história e da memória, quando ocasionalmente tal se justifique.

E poucas coisas extra-desporto terão tanta justificação em aqui merecerem uma menção como a triste efeméride que hoje se comemora no Porto. O desastre da Ponte das Barcas, que todos conhecemos dos manuais de história, e cuja invocação todos testemunhamos sempre que passamos nas “Alminhas”, na Ribeira, onde um círio permanentemente iluminado homenageia a memória das vítimas, foi a maior tragédia da história da cidade, e decerto uma das maiores da história de Portugal.

Naquele dia, fugindo ao exército francês sob o comando do Marechal Soult, a população do Porto precipitou-se para a ponte, a fim de procurar refúgio na outra margem. A ponte não aguentou e quatro mil pessoas foram tragadas pelas águas do Douro, o nosso bem amado rio, simultaneamente fonte de tanta alegria e de tanta desgraça.

Em vários locais do Norte de Portugal existem pequenos monumentos ou simples marcos com inscrições como “Não Passaram!” e “Daqui eles não Passaram!”, assinalando uma resistência vitoriosa ao invasor. Infelizmente, por aqui eles passaram.

No dia em que se cumpre o segundo centenário da tragédia o Porto mais uma vez recorda os seus filhos tragicamente desaparecidos naquele dia. O “Reflexão Portista” associa-se à homenagem e curva-se respeitosamente perante a sua memória.

Que descansem em Paz.



PS Como disse no início, este blogue é acerca do F.C. Porto. Pois bem: ao longo dos anos o nosso clube tem adquirido o salutar hábito de coleccionar escalpes de equipas francesas nas provas europeias, de que os casos mais recentes são o Lyon e o Marselha (este em duas ocasiões). Mas o facto de a aliança inglesa ter sido fundamental na expulsão dos franceses de Portugal não nos tem impedido de causar dissabores (alguns bem graves) a equipas inglesas. Uma delas foi o Manchester United (por duas vezes), e esperemos que brevemente possamos assistir à terceira!

sábado, 28 de março de 2009

Mais uma palhaçada bem ao estilo SLB

Ao “folhear” um jornal desportivo de hoje, e na expectativa de encontrar informação sobre o jogo da Selecção Nacional com a Suécia, dou com uma notícia no mínimo curiosa:

“2ª linha de Quique reprova no Bessa” in OJOGO

Então não é que o Benfica e a PT organizaram um jogo particular, “amigável”, no Estádio do Bessa, com o objectivo de angariar receitas (60 mil euros ao que dizem) para “ajudar” o Boavista ?!


“O presidente do Boavista, Álvaro Braga Júnior, destacou que, "quando desafiados pela PT, o Benfica e o seu presidente, Luís Filipe Vieira, anuíram de imediato à realização deste jogo", que o dirigente "axadrezado" espera ser "um momento de alegria e de estádio cheio".”
in Lusa, 2009/03/18

O que já não espanta ninguém é que onde existem farsas, encenações e mentiras esteja sempre envolvido o nome do SL Benfica. O mais irónico desta história é que o clube que, juntamente com os seus acólitos na Liga e na Comissão de Disciplina, tudo fez para colocar o Boavista na situação em que agora se encontra acabe no final por vir fazer o papel de “amigo” e disputar um jogo de beneficência. Mais uma encenação bem ao estilo do palhaço Luís Filipe Vieira.


Quando ao processo Apito Dourado foi acrescentada uma versão desportiva, com o objectivo de poder finalmente castigar desportivamente o FC Porto e assim prejudicá-lo ao máximo através de jogadas de secretaria e conseguir o que se revelava difícil dentro do campo, foi necessário arranjar mais um ou dois clubes para compor o ramalhete e assim dar um ar mais credível à coisa. Um desses clubes, como sabemos, foi a União de Leiria, que na altura já se encontrava quase despromovido matematicamente e cuja sanção em termos práticos seria inócua e o outro clube, como também sabemos, foi o Boavista. Numa altura em que já revelava grandes dificuldades financeiras depois da forte erosão provocada pela ruinosa gestão do clã Loureiro, o clube foi despromovido com base na coacção que terá feito a equipas de arbitragem. Quem supostamente coagiu foi Valentim Loureiro que aquela data já nada representava no seio do Boavista mas que a Comissão de Disciplina liderada pela narcísica Ricardina Costa ignorou de forma consciente e propositada para assim despromover o clube. E se foi bem ou mal despromovido à época ninguém quis saber: o importante era mesmo que se tinha feito “história no futebol português com uma decisão inédita” e castigado a origem de todos os males: o FC Porto e o seu Presidente.


Agora, e perante um derradeiro apelo dos boavisteiros para que se salve o clube, quem é que, apesar de ser o paladino da “verdade desportiva” (da sua, bem entendido) e de nos bastidores ter sido o grande manipulador do Apito Final e ter aplaudido o “castigo dos corruptos” vem auxiliar uma da vítimas? O SLB! É sem dúvida inspirador este altruísmo…

De referir também que, no que respeita aos “remendados” (literalmente), nem sequer sabem “morrer” com honra e dignidade. Que tristeza.

Pão e Circo

Por Hugo Mocc

Dizia a minha avó que não se pode ter tudo. Sol na eira e chuva no nabal, ter o bolo e comê-lo, etc. Ora cada vez mais o clube dos clubes europeus (ECA) onde o nosso Porto tão graciosamente se situa, anda, alegadamente, a preparar o caminho para uma Superliga Europeia que, num momento de recessão económica, parece ser para os clubes a panaceia ideal para a salvação de um futebol profissional altamente endividado e em vias de colapsar estrondosamente.

Tal como artistas de circo, os grandes clubes europeus lá vão fazendo os seus actos de malabarismo e/ou acrobacia financeira de modo a competir ao mais alto nível nessa montra que é a Champions League e, tal como na corrida ao ouro, ninguém se satisfaz com uma pepita aqui e outra além. Todos querem encontrar o filão. Todos querem os ovos de ouro, mas se puderem deitar a mão à galinha...

A proposta de um novo modelo de Superliga Europeia que veio a público via jornais italianos e franceses não é senão mais um passo tentado em direcção ao "Eldorado". Mais jogos entre os "Senhores da Europa", mais receitas televisivas, de bilheteira e patrocínios, a troco de mais do mesmo.

Ainda que veementemente desmentidos, os rumores que são agora públicos indiciam um fumo perto do qual haverá certamente fogo. A nova prova, ainda sob a tutela da UEFA, teria um contexto muitíssimo mais complexo de 3 séries com 20 a 24 clubes cada, com promoção e descida, e com lugares cativos para um certo número de clubes. Pondo de parte todas as questões de pormenor já debatidas um pouco por toda a Internet, interessa-me mais debater a causa e as potenciais consequências deste projecto, nomeadamente o seu impacto sobre o desporto simples que é o futebol.

Penso que a história do Rei Midas (o tal que transformava em ouro tudo em que tocava) se adequa ao problema. Na minha opinião, quanto mais o futebol se entrega à prospecção do lucro, mais vazio se torna e por consequência menos apelativo enquanto actividade de competição. A Superliga Europeia arrisca-se a ser um sucedâneo, não da NBA como pretende, mas sim de uma tournée dos Haarlem Globe Trotters. Pelo menos nos moldes em que o projecto parece estar a evoluir.

É verdade que, neste momento, na maioria dos campeonatos europeus existe um grande desnível entre as 4-6 equipas de topo e o resto que, como diz o povo, todos os anos lutam para não descer. Não seria então lógico agrupar os melhores numa prova em que todos competissem com outros clubes num patamar semelhante? Não queremos nós portistas medir as nossas capacidades contra outras equipas de top com mais frequência?

Por outro lado, o facto de que o Presidente da UEFA anda activamente a encorajar a fusão de alguns campeonatos (Balcãs, Bélgica e Holanda) não apontará para um caminho alternativo em direcção ao mesmo objectivo? Será que o agrupamento de ligas nacionais em ligas regionais poderá evitar uma secessão dos grandes clubes do organismo europeu para formar a sua própria prova?

Parece-me que no final, todos os caminhos irão dar ao mesmo. Dentro de 15-20 anos (se não forem menos) haverá uma prova rainha europeia com a "nata" dos clubes a competir semanalmente ou de 15 em 15 dias. Se será por grupos, eliminatórias ou num modelo de campeonato a duas mãos não sei, mas parece-me algo inevitável.

Mas o que é que isso implicará para o FC Porto, caso sejamos, como tudo indica, parte do grupo impulsionador destas mudanças? Penso que indicará mais receitas mas também acarretara maior desafectação entre o clube e os seus adeptos e principalmente sócios. Aliás, o passo dado quando se formou a SAD foi um passo, consciente ou inconscientemente nessa direcção.

E esse afastar entre adeptos e clube começará quando o clube deixar de jogar contra os seus rivais naturais para jogar contra clubes fortes mas de lugares longínquos. Quantos portistas poderão acompanhar a equipa pela Europa fora em deslocações bi-mensais do tipo amanhã em Istambul, para a semana no Dragão e para a outra S. Petersburgo? E com quem irão gozar, no emprego ou na escola, no dia seguinte? Parece-me que na busca do lucro maior os clubes se estão a esquecer que quem faz do futebol um espectáculo são os adeptos que se deslocam ao estádio para apoiar a sua equipa.

Neste momento de crise económica mundial, quando existe uma imensa oportunidade para repensar o desporto futebol, todos temos de reflectir se queremos Pão, Circo ou Pão e Circo. O que nos temos de lembrar é que o cobertor é curto e se taparmos a cabeça, os pés ficarão a descoberto. Não se pode ter tudo.


P.S.: Tal como há interesse que Rangers e Celtic deixem a SPL para integrar a Premier League, seduz-me a ideia de ver Porto, Benfica e Sporting e outros clubes portugueses integrar uma Liga Ibérica. Mas teria de aceitar a possibilidade de não voltar a ser campeão tão cedo. Será que estou para isso?

sexta-feira, 27 de março de 2009

Inclinar o relvado



Há árbitros que são especialistas em "inclinar o relvado", mas convém não exagerar...

Nota: Foto enviada por Miguel Marinheiro

Motricidade... Humana

Talvez fosse da recente desilusão de, uma vez mais, não ter conseguido o seu máximo objectivo.
Essa Liga dos Campeões maldita, que lhe foge, época após época, desde o ano da graça de 2004. Mas a verdade, é que vimos um Mourinho diferente nesta passada segunda-feira, em Portugal.
Aos poucos, começamos a ver traços mais (como dizer?) humanos no, até há bem pouco tempo, todo-poderoso "Special One".

Claro que, para nós portistas, é sempre motivo de algum conforto saber que, por muito que tente (tentava?) afastar-se de nós, a conquista de 2004 continua a ser o ponto mais alto da sua carreira. E também o período em que um produto-Mourinho foi mais Mourinho.
Não esperávamos era que ele tivesse que o reconhecer tão cedo, se bem que disfarçado num "foi a melhor equipa que treinei".

Bem longe do "Porto igual a Palermo" e do "tanto me faz que passe CSKA ou o FCP", chegou mesmo ao ponto de dar como possível a eliminação do gigante Manchester United às nossas mãos...

Afastando-nos da propaganda mediática, de adoração quase doentia, por parte da comunicação social portuguesa e de algum rancor que muitos de nós ainda lhe temos desde aquele apito final em Gelsenkirchen, onde poderemos afinal situar o verdadeiro Mourinho?


Que não fiquem quaisquer dúvidas: ele é mesmo reconhecido, um pouco por toda a Europa, como um dos 3/4 melhores treinadores actuais, a nível mundial.
Não existirá, por exemplo, qualquer adepto do um Milan ou de uma Juve que, secretamente, não sonhe ver um dia "Il Speciale" a orientar a sua equipa.
Da igual forma, qualquer "supporter" do Manchester United dificilmente encontrará um melhor nome para o "dia seguinte" àquele fatídico momento em que Ferguson abandone o futebol. O mesmo pensarão os "gunners" em relação a Wenger.
Por outro lado, poucos fãs do Chelsea terão dúvidas sobre qual o melhor técnico que tiveram nos últimos largos (50?) anos...


É um pouco como, por cá, todos os adeptos da segunda-circular quererem, no fundo, ter Pinto da Costa à frente dos seus destinos. Apesar de tal ser um pensamento absolutamente proibido, como se sabe.

Onde falha então Mourinho?
Num plano meramente desportivo todos sabemos a resposta: não terá novamente sossego até que um dia volte a conquistar a Champions, por mais campeonatos caseiros que conquiste. Seja em que clube for. É o (alto) preço a pagar por tão altas expectativas, sejam elas reais ou presumidas.
Mas há mais para além disso. Creio que Mourinho só ganharia se se limitasse a ser treinador de futebol. Sim, um grande treinador de futebol, que é aquilo que ele é. Não mais.
Quando se mete por outros caminhos, querendo ser mais do que "apenas" isso, perde-se em quezílias que, fazendo o balanço a estes anos todos, no fundo nada lhe acrescentou de positivo.

"Não sou exemplo para ninguém".
Sim, o precocemente aposentado árbitro Frisk certamente que concordará...
Porém, sejamos justos, no indiscutível esforço que, dia-após-dia, coloca no seu trabalho, de forma a tornar cada jogo de futebol em algo "menos imprevisível", tem que lhe ser reconhecido muito mérito.


O futebol-jogado, em Portugal como em Inglaterra, deu uns passos em frente desde que, um dia, lhe foi apresentado o Mourinho-treinador.
Nenhuma dúvida.

Fotos: Record

quinta-feira, 26 de março de 2009

Dragãozinhos esturricam Leixões

O FCP apresentou os miúdos reforçados com o Rabiola. O Leixões jogou quase com a sua equipa principal: não estiveram Laranjeiro, Bruno China e Diogo Valente. De resto, esteve presente a maioria que nos derrotou no Dragão, e o Braga que foi um espécie de carrasco nesse jogo de má memória, jogou toda a 2ª parte.

Entrámos muito bem no jogo, criámos algumas situações bastante perigosas e trocámos bem a bola. Os miúdos na frente movimentavam-se a preceito e Josué – o criativo do meio campo – apoiava e comandava as operações. O Leixões jogou com baixa intensidade e só nas bolas paradas criou perigo, por duas vezes. Mais poderoso física e atleticamente, não foi capaz de vergar a rapaziada do FCP que não se intimidava: pressionava, metia o pé, dominava, embora de forma menos marcante à medida que o tempo decorria.

Resultante desse melhor posicionamento e maior empenhamento, Rabiola fez o primeiro golo depois de um atraso estouvado de um homem do Leixões, que o nosso jovem avançado interceptou. Depois, foi "só" dominar a bola, passar o guarda-redes e, já um pouco descaído para a direita, atirar para o fundo da baliza de forma (aparentemente) fácil. Um golo à ponta de lança.

Fomos para o descanso com uma vantagem de um golo, merecida, porque fomos melhores. As nossas oportunidades saíram de jogadas bem desenhadas, enquanto o Leixões que também as teve foi sempre através do jogo aéreo e tirando partido do seu maior poder de choque.

A 2ª. parte foi bastante diferente. O Leixões fez entrar Braga e Rodrigo, adiantou as linhas e obrigou o FCP a jogar com tracção atrás. Perdemos a iniciativa que tínhamos tido na 1ª. parte e não nos deram tanto espaço para circular a bola. O Josué e o restante meio campo passou a ser mais de contenção e de bloqueio. O jogo do FCP era menos fluente e Rabiola ficou quase com todas as acções ofensivas a seu cargo. Trabalhou imenso, obrigou a defesa adversária a fazer muitas faltas, ganhou bolas para tabelar com os colegas e criar algum frisson na defesa de Leixões, que jogou demasiado na intimidação.


Num dos muito livres ganhos, Rabiola aproveitou a oportunidade para marcar o 2-0, de forma espectacular, aí a uns 25 metros da baliza. A bola torneou (quase a roçar) a larga barreira, como se a trajectória fosse desenhada a régua e esquadro, serviu-se do poste direito para entrar que nem um foguete na baliza, só parando para beijar as malhas daquele jeito que torna o lance ainda mais bonito.

Se até aí tínhamos atacado pouco e a bola estava mais nos homens do Leixões, a partir daí mais nos entrincheirámos no nosso meio campo, aproveitando todas as oportunidades para breves escapadelas junto da área adversária , e dessa forma gerir melhor o tempo. O Leixões acabou por marcar o seu golo de honra, na transformação dum livre, como não podia deixar de ser: bola cruzada, cansaço do nosso defesa central que falhou no tempo de salto e de corte (um nigeriano (?) longilíneo que é excelente no jogo aéreo) e defesa incompleta do nosso guarda redes que poderia ter feito bem melhor no lance.

Pouco depois acabou o jogo, com uma vitória justa do FCP, de duas caras: a que soube jogar e a que soube sofrer.

Notas positivas: Rabiola e o tal defesa central nigeriano (?) muito bem, secundados por Xula, Josué, mormente na 1ª. parte. Ruca, o guarda redes, esteve bem, excepto no lance do golo.

A entrada foi livre e o público encheu a bancada central do Estádio da Maia. O comando técnico da equipa esteve entregue ao treinador holandês, embora o Rui Barros estivesse no banco. No Leixões esteve o seu treinador principal, José Mota.

Talvez haja motivos que desconheço, mas não entendo porque jogadores como Nuno, Stepanov, Farías, Tarik, Madrid ou Tomás Costa não “puderam” jogar.

Finalmente, não conheço a maioria dos jogadores do FCP que jogaram e alguns nomes foram ditados por companheiros antigos nestas andanças e que revi ontem.
Gostei muito da atitude da equipa.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O mito dos 6 milhões


«O consultor Ricardo Luz, autor do relatório ‘As marcas do futebol português - ano 2008’, explicou ser difícil analisar qual o clube vencedor no campeonato das marcas, embora tenha realçado a supremacia nos resultados do FC Porto nos últimos anos.

Há períodos diferentes no futebol: O Sporting foi dominante em determinada altura, tal como o Benfica. O FC Porto tem dominado claramente nos últimos anos e, pelos resultados, é a marca mais credível, porque ganhou a maioria das competições a nível nacional, conseguindo também títulos internacionais. Mas olhamos para a história como um todo e os três grandes têm todos períodos de dominância”.

Entrevistado, o gestor frisou que uma grande empresa não se consegue manter se não tiver resultados e explicou que estes resultados devem ser potencializados sistematicamente.

O clube que não potenciar os resultados desportivos está a perder oportunidades para conseguir mais receitas que, depois, se repercutirá na qualidade da equipa. Tudo isto é um circuito cada vez mais ligado”, disse. (...)

Para Ricardo Luz, a “indústria está a crescer”, havendo, por isso, “muita gente na Ásia, por exemplo, que, hoje, é adepta de clubes na Europa. Com as novas tecnologias, rapidamente passam a consumidores, porque vão a Internet, compram as camisolas dos jogadores preferidos e conseguem ver os jogos. O mercado é global e há aqui uma oportunidade excelente para os clubes. Mas também uma ameaça, como tudo na vida, já que todos os clubes combatem no mercado”. (...)»

in Lusa / SOL, 18/02/2009

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«O FC Porto é o clube de futebol que mais adeptos conquista pela meritocracia, enquanto Sporting e Benfica garantem apoiantes pela área geográfica ou influência familiar, segundo Carlos Liz, autor do estudo ‘O Futebol, as marcas e os adeptos’.

Na conferência Sports Marketing 09, hoje organizada no Porto pelo Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), Liz defendeu que os "azuis-e-brancos" têm crescido de forma evidente no número de adeptos por causa da mentalidade vencedora instaurada.

"No nosso estudo, as pessoas mais velhas, para cima dos 40 e tal anos, são do Benfica e Sporting, mas quando se desce na idade, particularmente para as crianças, verifica-se um aumento de adeptos do FC Porto. Não há o critério de família ou região, mas da meritocracia. E o FC Porto tem sido mais ganhador, logo, os mais jovens, vão para o que consideram melhor", disse.

O director-geral da Área de Planeamento e Estudos de Mercado (APEME) concluiu que, há anos atrás, os adeptos escolhiam os clubes porque os pais assim o exigiam ou desejavam e afirmou também que, a criação de um novo modelo familiar também terá alterado as possibilidades de escolha.

"O FC Porto é escolhido pelo mérito. Por isso, os outros clubes (Benfica e Sporting) têm de fazer pela vida para continuarem a merecer a atenção dos adeptos. Estamos perante um novo modelo de escolha", explicou.

in O JOGO, 25/03/2009



Isto são mais duas machadadas no mito dos 6 milhões mas, claro, não têm qualquer credibilidade. Aliás, suspeito que estes dois estudos foram pagos pelo Pinto da Costa...

Meireles, um lider na penumbra


No balneário do Dragão todos o tratam por “lingrinhas” e, com efeito, a sua estrutura física franzina, esguia, pouco comum no protótipo desejado por todos os treinadores deste futebol moderno a fugir para o científico, já lhe valeu algumas desconfianças no inicio da sua carreira se teria capacidades em singrar nos grandes palcos da bola. Estereótipos que Raul Meireles tem-se encarregado de desmitificar ao longo da sua carreira.

Contratado ao Boavista no Verão de 2004, o médio portista não deslumbra ao primeiro olhar e, só após longas e apuradas maratonas de observação, é possível concluir com exactidão ate onde vai a dimensão do jogo deste Tripeiro de gema da colheita de 83. Não é imponente na vertente física, nem excêntrico a jogar, mas está quase sempre presente em todos os momentos do jogo da equipa azul e branca.

Na equipa e no jogo, Raul Meireles faz parte de uma categoria de jogadores que, silenciosamente, colocam a máquina do onze em movimento. Eles são como a «caixa negra» da equipa onde fica gravada a estratégia treinada durante a semana e os segredos da vitória ou da derrota no jogo.”
Luís Freitas Lobo, in Planeta do Futebol


Tem visão, sentido posicional, tempo de entrada aos lances, astúcia na utilização do corpo e técnica evoluída. Não é só o funcionário cumpridor que assume a segunda marcação, zela pela segurança da casa, trata dos equilíbrios e intercepta linhas de passe; é um quadro superior que desempenha várias funções por todo o campo, nem todas dependentes do guião definido. O passe curto é ofensivo; a condução é primorosa (dá, acompanha, vai buscar à frente…) e o perigo aumenta porque pega cada vez melhor na bola, parada ou em movimento – é um dos marcadores oficiais de cantos e livres laterais do FC Porto.
Rui Dias, in Record

Num período que tanto se fala do assédio dos “Tubarões” Europeus às grandes estrelas do plantel portista, existe uma tendência na generalidade da comunicação social, e adeptos tambem, em menosprezar a preponderância de jogadores como Meireles - que fazem da discrição no seu jogo a sua melhor arma -, para que essas grandes figuras possam ter um brilho ainda mais cintilante.


Não escondo uma simpatia especial por elementos que se entregam ao jogo e as necessidades de um grupo de corpo e alma em detrimento do capricho pessoal, talvez por ser uma imagem de marca do FCP ganhador dos últimos 25 anos. E, com Raul Meireles, estamos perante um desses casos.

Alem disso, o médio Português e portista, é já dos elementos com mais anos de casa no actual plantel. Com o final de carreira de P. Emanuel próximo, e com a saída de B. Alves eminente, à importancia que Meireles representa hoje em dia na equipa de Jesualdo, torna-se imperioso reforçar-lhe o papel no capitulo da liderança dentro do grupo de trabalho, não fosse ele o ultimo bastião da alma lusa e tripeira no plantel do FC Porto após o provavel adeus das duas figuras da nação azul acima citadas .

Fotos: Record, fcporto.pt

terça-feira, 24 de março de 2009

Artigo 1.04 revisto pela UEFA

«O Comité Executivo da UEFA aprovou esta terça-feira a alteração aos regulamentos da Liga dos Campeões. O artigo 1.4, que esteve na origem das dúvidas sobre a admissão do F.C. Porto na prova na época passada, foi revisto e tudo indica que a nova formulação deixa os «dragões» a salvo de castigo pelo seu envolvimento no processo Apito Dourado.
A UEFA ainda não divulgou a o texto dos novos regulamentos, mas as indicações vão no sentido de que o artigo que estabelece as condições de admissão não abrange a data dos processos em que o F.C. Porto está envolvido, 2003/04. O artigo deverá estipular, segundo fonte da UEFA citada pela Lusa, que um clube será suspenso por um ano das provas caso tenha estado envolvido na manipulação ou viciação de um jogo desde que os factos tenham ocorrido após 27 de Abril de 2007, altura da reformulação dos estatutos do organismo.
No Verão passado o F.C. Porto foi excluído em primeira instância da Liga dos Campeões pela Comissão Disciplinar da UEFA, mas essa decisão foi anulada pelo Comité de Apelo, considerando que os factos não estavam devidamente apurados e que o processo devia voltar a ser analisado, mais tarde, pela Comissão Disciplinar.»
in 'Portugal Diário', 24/03/2009



E agora?
O que dirão os delgados e cartaxanas deste Mundo?
E que coelho irão tirar da cartola os "supra-sumos" encarnados em direito desportivo - Cunha Leal, Sílvio Cervan, Fernando Seara, etc. – para nos entreter no próximo Verão?

Uma coisa é certa, os tipos da UEFA devem estar todos "comprados" pelo Pinto da Costa...

A sustentável leveza da credibilidade


O FCP é um clube centenário. Apesar dos êxitos do clube, a nossa história e cultura vão para além dos tempos de sucesso. Nem só de vitórias se constrói um clube. Na dor também e na solidariedade que cimentou a unidade que nos deu força para acreditar no futuro.

Clube menor, ou regional, que tremia mal passasse a ponte. Éramos “parolos”, ingénuos e incompetentes relativamente aos rivais directos. Ganhavam no campo. Dominavam no futebol de forma feudal.

A nossa história é, pois, uma história de resistência. É uma cultura de luta. É um clube feito a pulso. Mas, não foi o silêncio a nota mais marcante. Foi o grito de revolta, que teve a sua máxima expressão com a tomada do poder pelo duo José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa. E falaram, e denunciaram, e provocaram, e apontaram, e arriscaram, e aproveitaram, e negociaram, e intimidaram, e confraternizaram, e uniram, e fizeram inimigos, e ganharam. Passámos a ser temidos.

Trabalho, acção e energia. A resposta era pronta e sibilina. Não mudos e quedos. O silêncio é uma estratégia para atenuar as provocações e as tensões. Mas a luta, uma boa luta, não deve ser esgrimida no silêncio, mas menos ainda tendo como ruído de fundo, a gritaria a propósito da arbitragem.


Os tempos são outros – muita água passou debaixo da ponte – e nada mais é como dantes, a não ser a vontade de ganhar e de ter uma equipa altamente competitiva. A estratégia é de contenção. Por isso, continuo a pensar que o FCP não deve falar da arbitragem de modo avulso.

A Comunicação Social (CS) tem uma grande influência sobre a arbitragem, condiciona-a de forma objectiva e subjectiva, o que quer dizer que aproveita todos os acontecimentos directos e indirectos para fragilizar o FCP e avalizar todos os erros cometidos contra a nossa equipa.

Não vale a pena chover no molhado porque a CS - nomeadamente as TV's - formatam a verdade, segundo o seu critério jornalístico que sabemos não prima pela independência. E, por isso, cuidaram de manter programas em que misturam formadores de opinião das diversas cores clubísticas dominantes, para atenuar a conotação e "vender" um pouco mais. Os jornais seguiram modelo idêntico, e O JOGO levou esse modelo ao extremo, fazendo o acompanhamento dos três grandes por jornalistas totalmente identificados com esses clubes e da sua pena não sai a mais leve crítica para os da cor que, de facto, representam.

Considero que valerá a pena falar do sistema na arbitragem: da organização, do recrutamento, da formação, da profissionalização ou da padronização (que reconheço ser complicado) de certas decisões arbitrais face às leis do jogo. O FCP não se deve alhear do tema, mas deve interferir, preferencialmente, em sede própria. Seja sobre a arbitragem ou as arbitragens.

O FCP tem (seguramente) canais abertos para se fazer ouvir junto das instâncias do futebol, prioritariamente, ou através da Comunicação Social, mas nunca como rotina.

O que mais chateou no Cosme foi mesmo o amarelo ao Lisandro. É inacreditável que num campeonato que tem jogadores que batem em tudo o que mexe, principalmente nos sectores defensivos, no FCP os avançados já todos foram castigados com 5 amarelos, qualquer deles alvos, com a frequência, de defesas impiedosos que têm passeado incólumes essa dureza e violência (utilizada raramente de forma ocasional) durante muitos jogos, alguns deles no Dragão. O caso do Hulk é paradigmático: leva forte e feio, e quando usa o físico é punido com castigo e com amarelos.


Por outro lado, a arbitragem não nos deve desviar das culpas que nos cabem nos maus resultados, nas más exibições e na ineficácia. As arbitragens com o AMadrid, cá e lá, foram bastante mazinhas. Tão más, como habitualmente são cá.

JF tem falado pouco e bem sobre a arbitragem. O jogo com a Naval não foi excepção. Poderá ter passado despercebido, mas falou na arbitragem do Cosme e em eventuais decisões do árbitro com influência no resultado. Confio no JF: tem desempenhado muito bem esse papel que tem chamado a si. Com peso e medida. E quando assim é, as denúncias têm a sustentável leveza de credibilidade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Qual o clube preferido para adversário nos quartos de final?


O clube preferido dos nosso participantes para próximo adversário na Liga dos Campeões era o "Villareal" com 123 votos (50%).

Nesta mais participada votação até à data presente, em segundo lugar ficou o Bayern Munique (67 votos, ou 27%), seguido ao longe por Arsenal e Chelsea com 6% (16 e 15 votos respectivamente). Mais longe um pouco, ficaram Man. United com 12 votos (4%) e Barcelona 7 votos (2%).
Na última posição, possivelmente como adversário mais temido, ficou o Liverpool com 4 votos (1% das participações).

Serviços mínimos


Cedo se percebeu que o FC Porto ia procurar vencer o Estrela da Amadora recorrendo aos serviços mínimos. Mesmo com um onze de máxima força, a equipa jogou quase sempre devagar procurando, sem grandes correrias, ultrapassar um Estrela fechado, mas permeável e inofensivo para a baliza de Nuno.

Como tem sido habitual no Dragão esta época, o FC Porto dispôs de diversas ocasiões não aproveitadas logo no início da partida. No entanto, a equipa manteve-se calma e sem grandes precipitações. Os jogadores rapidamente se aperceberam que com tranquilidade (porque não!) seria possível garantir um bom resultado para a 2ª mão.

Foi deste modo que, numa jogada de perigo eminente, o FC Porto beneficiou de uma grande penalidade - para não fugir à regra do fim de semana - e passou a liderar o marcador. Quatro minutos mais tarde, Raul Meireles faz um belo remate para o 2-0. Ficou a sensação que os serviços mínimos estariam cumpridos e que o FC Porto ia manter o ritmo calmo depois do intervalo.

E devagarinho, e algumas vezes relaxada demais, a equipa controlou o jogo na segunda parte. Varela deu algum trabalho a Sapunaru , mas as suas jogadas individuais não tiveram consequência, à excepção de um remate muito perigoso perto do final da partida. O FC Porto manteve o seu jogo a trote e apenas as entradas Farias e Hulk aos 65 minutos, por vez de Lisandro e Rodriguez, deram mais poder atacante ao FC Porto. Ainda se desperdiçaram mais algumas jogadas, sendo a mais vistosa um bom centro de Mariano para Farias, de cabeça, permitir uma grande defesa a Nélson.

Individualmente, destaque para a dupla de centrais: Bruno Alves pela positiva, pois continua a desafiar as leis da física e esteve perto do golo em duas ocasiões e Stepanov, pela negativa, pois esteve trapalhão e desconcentrado. Fernando continua a exibir-se a alto nível no meio campo e Mariano alternou, como é habitual, entre o bom e o mau.

Foi uma noite - que deveria ter sido uma tarde - relaxada de futebol q.b. Se por um lado o FC Porto foi competente, por outro não teria desagradado aos 19 mil sócios presentes assistir a uma goleada, como a da última época frente a esta mesma equipa. Não terá sido a estocada final na eliminatória, mas o resultado permite crer que novo FCP q.b. na 2ª mão garante a presença em Oeiras.

Foto: Record

domingo, 22 de março de 2009

Lucílio presta singela homenagem a Calabote


Hoje, 22 de Março de 2009, completam-se 50 anos do célebre jogo Benfica-CUF arbitrado por Inocêncio Calabote, o árbitro que não conseguiu fazer do Benfica campeão apesar de ter feito todos os possíveis para que isso acontecesse. O outro obstáculo que acabou por se revelar intransponível foi o FC Porto que conseguiu vencer o seu jogo em Torres Vedras com três golos marcados que lhe permitiu sagrar-se Campeão Nacional 1958/1959 por desempate através de goal-average. Todo este episódio pode ser consultado aqui, no Reflexão Portista, devido ao excelente trabalho desenvolvido por José Correia.


O SLB (Sr. Lucílio Baptista) não ficou indiferente à comemoração dos 50 anos do episódio Calabote e, também ele, à sua maneira, quis participar na festa através de uma arbitragem tão ao seu jeito, na Final da Taça da Liga, marcando um penalty inexistente contra o Sporting que deu o empate ao Clube do Regime e lhe permitiu chegar à lotaria dos penalties para aí vencer o troféu. E assim se vê que passados 50 anos o SLB continua a vencer títulos com a ajuda dos árbitros. Foi uma bonita e singela homenagem de Lucílio ao seu grande inspirador na carreira na arbitragem, o lendário Inocêncio Calabote.



A análise do lance no Tribunal de OJOGO

“É bem assinalado o penalty que resulta no empate e provoca a expulsão de Pedro Silva?”

Jorge Coroado: “O penalty não teve razão de ser. O jogador utilizou o peito e não o braço. Equívoco grave com influência no resultado. Árbitro e árbitro-assistente deveriam ter-se entendido”.

Rosa Santos: “Não. A bola bate no peito do jogador do Sporting e é uma má decisão. Como tal, a expulsão também é errada, pelo que o Sporting foi duplamente penalizado”.

António Rola: “Pedro Silva jogou a bola com o peito, sem cometer qualquer infracção. Muito mal o assistente ao dar indicação para penalty, e mal o árbitro ao aceitá-la, pois cabia-lhe o último julgamento. Erro grave com influência no resultado”.


Já tive a oportunidade de denunciar aqui que esta competição não passa de uma enorme Farsa alimentada pelo “cola cartazes” Hermínio Loureiro e seus acólitos. Durante a competição muitos foram os exemplos de arbitragens miseráveis, tendenciosas, que alteraram a verdade desportiva ao longo da fase de grupos. Vimo-lo nos jogos Rio Ave x Sporting em que o clube lisboeta obteve o golo da vitória em claro fora-de-jogo e no Benfica x Belenenses em que o Bruno Paixão anulou um golo limpo ao Belenenses depois de já ter ignorado um penalty contra o Benfica. Este derby lisboeta foi um jogo escandaloso. Bruno Paixão (Lucílio não é caso único) continua a apitar jogos nas competições profissionais depois de anos e anos de péssimas e dolosas arbitragens. O FC Porto foi eliminado em Alvalade, depois de estar a vencer por 1-0, quando Carlos Xistra inventou 2 (dois!) penalties para o Sporting virar o resultado do jogo. Tenho muitas dúvidas que sem essa dádiva os sportinguistas, desorientados, conseguissem sequer empatar o jogo. E assim chegaram Sporting e Benfica à final.

O objectivo de Liga e Sponsor televisivo era claro: conseguir uma final entre os clubes da 2ª Circular para assim exultarem com “o verdadeiro clássico dos clássicos” como foi possível assistir à cansativa publicidade na comunicação social nos últimos dias. Com as arbitragens declaradamente tendenciosas a favor dos clubes de Lisboa, os estádios vazios, os erros na elaboração do regulamento e o resultado da Final gravemente influenciado pelo árbitro é caso para dizer com toda a certeza que esta competição foi uma Farsa. Só é pena que os patrocinadores, em particular a Carlsberg e a Unicer, não se tenham dado conta que não deviam ter financiado uma nova competição de uma instituição dirigida por miseráveis e incompetentes.


O Sporting acabou por pagar na Final o facto de ter sido conivente (e beneficiado) durante anos e anos com as arbitragens de Lucílio ‘Calabote’ Baptista, principalmente nos jogos em que defrontou o FC Porto. Talvez (ou provavelmente talvez não!) os calimeros consigam tirar daqui algumas lições do que não devem repetir no futuro. E talvez agora entendam que foram (e são) bastante prejudicados pelo Apito Encarnado, que continua a ser a mais efectiva e poderosa teia de interesses (transversal a Polícia, Ministério Público, Clubes, Árbitros e Comunicação Social) no futebol português.

O caso Calabote (X)

I. A trajectória da bola e as decisões da FPF
II. A pouco inocente nomeação de Calabote
III. Os estágios das selecções em... Lisboa
IV. Treinador-adjunto do SLB no banco do Torreense
V. Deus deu o campeonato à melhor equipa
VI. Um Gama avermelhado na baliza da CUF
VII. Treinador do FC Porto comprometido com o SLB
VIII. Jornalistas de ‘A Bola’ lamentam título ganho pelo FC Porto
IX. Atraso inicial, penalties e descontos

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X. As mentiras e irradiação de Calabote


«A Comissão Central de Árbitros decidiu pedir esclarecimentos ao árbitro sr. Inocêncio Calabote sobre certos passos do relatório do jogo Benfica-CUF (...). Naquele seu documento, o sr. Inocêncio teria declarado que o jogo principiou às 15h, terminado a primeira parte às 15:45h. No que respeita à segunda parte, concedeu dois minutos como compensação de tempo perdido, registando o fim do encontro às 16:42.»
Jornal de Notícias, 26/03/1959


«Finalmente o sr. Inocêncio Calabote respondeu ao questionário que a Comissão Central de Árbitros lhe enviou, solicitando esclarecimentos sobre a cronometragem do jogo Benfica-CUF, no qual o referido indivíduo interveio como juiz da partida.
O sr. Calabote limitou-se a dar uma resposta ultra-sintéctica, afirmando que no seu relógio eram precisamente 15 horas quando deu o início ao jogo. Isto é, confirmou as declarações que redigiu no boletim.»
Norte Desportivo, 09/04/1959


Quer no boletim oficial do jogo, quer na resposta ao questionário que a Comissão Central de Árbitros lhe enviou, Calabote afirmou: “O jogo principiou às 15h e a 1ª parte terminou às 15:45. A 2ª parte começou às 15:55 e terminou às 16:42 (dei 2 minutos de compensação)”.

Ora, facilmente se provou que o Inocêncio estava a mentir descaradamente. Havia testemunhas? Sim, milhares de pessoas que no campo das Covas (nome do campo do Torreense) tinham ficado cerca de 15 minutos à espera que terminasse o Benfica x CUF e centenas de milhares de pessoas, que acompanharam o relato dos dois jogos feito pela Emissora Nacional.

Sabendo que seria facilmente desmascarado, o que levou Calabote a mentir de forma tão flagrante no boletim oficial do jogo e, posteriormente, a insistir nessa mentira?
Quem é que Calabote procurou proteger, com o harakiri ético-desportivo que cometeu?

Uma das primeiras pessoas a desmascarar Inocêncio Calabote foi precisamente um dos seus fiscais de linha, o qual, no âmbito do processo disciplinar que foi instaurado, diria o seguinte:

«Faltariam aproximadamente dois minutos para as quinze horas quando entrou a equipa do Benfica. Havia numerosos fotógrafos dentro do campo para fotografar a equipa. Isto deu lugar a uma certa demora, tendo o árbitro procurado que os fotógrafos abandonassem o campo. Isto fez com que o jogo principiasse uns três minutos, aproximadamente, depois das quinze horas.»
Manuel Fortunato, fiscal de linha de Inocêncio Calabote

Em 12 de Outubro de 1959, o ‘Mundo Desportivo’ refere: «O árbitro Inocêncio Calabote, da Comissão Distrital de Évora, foi irradiado após conclusão do respectivo processo disciplinar».

Três dias depois (15/10/1959), em entrevista publicada no ‘Norte Desportivo’, o Dr. Coelho da Fonseca, Presidente da Comissão Central de Árbitros (CCA), afirma:
é (...) um caso de ordem moral. Inocêncio Calabote fez uma coisa em campo, aliás controlada por toda a gente, e escreveu, precisamente, o contrário no boletim de jogo. Isto somado a uns tantos casos já passados com o referido árbitro levou-nos à decisão tomada.”

Saliento a referência a “tantos casos já passados com o referido árbitro”.

Em 7 de Novembro de 1959, ‘A Bola’ publicou uma outra entrevista do Dr. Coelho da Fonseca, em que este diz o seguinte:
Como é do conhecimento público, esse jogo [Benfica-CUF] principiou cerca de dez minutos depois da hora marcada e teve um prolongamento de cinco ou seis minutos. Tanto o atraso como o prolongamento não constituem, em si mesmos, ínfima matéria de culpa. O erro do sr. Calabote consistiu em pretender convencer-nos, contra as evidências dos factos, de que principiara o encontro às 15h precisas e de que o prolongara por dois minutos apenas. É aqui, nesta atitude escudada e incompreensível, que o antigo árbitro eborense deixa de merecer a confiança do público e da CCA”.


Em 1991, 32 anos depois de ter sido irradiado, Calabote ainda não mostrava arrependimento pelos seus actos como árbitro, nem pelas mentiras despudoradas que disse e escreveu.
Numa entrevista que deu sobre o caso, o "inocente" Calabote afirmou:
«Na manhã seguinte, em Évora, preenchi o relatório do jogo, que mandei para a Comissão. Tinha assinalado três penaltis e expulsado três jogadores da CUF. Creio que não houve mais nada de especial a registar. (...)
Em 1958/59, a presidência da Comissão Central de Árbitros, por força da rotatividade do cargo ou de qualquer coisa no género, foi parar às mãos do Belenenses, então um dos quatro grandes, na pessoa do Dr. Coelho da Fonseca.
O presidente anterior veio a Évora avisar-me um belo dia: 'Você ponha-se a pau, que a Comissão que entrou vem com intenções de o irradiar', disse-me ele, o Gameiro Pereira. Queriam vingar-se.

Logo de seguida, depois do tal Benfica-CUF, alegando má-fé minha no preenchimento do relatório do jogo – que teria começado não sei quantos minutos depois da hora, que teria tido um intervalo maior que o devido e um prolongamento excessivo também –, o Dr. Coelho da Fonseca abriu-me um inquérito e não descansou enquanto não conseguiu que me fosse aplicada a pena de irradiação da arbitragem.
Ao fim de 22 anos de bons e leais serviços, conseguiram pôr-me na rua alegando um pretenso erro meu de cronometragem. E se escrevi no relatório que prolonguei a partida durante quatro ou cinco minutos foi porque entendi que o devia ter feito e porque foi esse o tempo que o meu relógio realmente marcou. E qual é o relógio que conta?»

Enfim, para o Inocêncio tudo absolutamente normal... e, provavelmente, naquele tempo até era...
"22 anos de bons e leais serviços"?
Sobre isto não tenho a mais pequena dúvida.

Relativamente à "rotatividade do cargo ou de qualquer coisa no género", afirmação de Calabote referindo-se à presidência da Comissão Central de Árbitros, vale a pena perceber quem eram e como é que estas coisas eram feitas.

Filipe Gameiro Pereira (o dirigente da arbitragem amigo de Inocêncio Calabote que o foi avisar a Évora...) era um ex-árbitro, filiado na Associação de Futebol de Lisboa, entre 1931 e 1950.

Filipe Gameiro Pereira nas filmagens do filme 'O Leão da Estrela'

De 1950 a 1953 foi secretário-geral da Comissão Central de Árbitros por nomeação da Federação Portuguesa de Futebol e, de seguida, foi presidente da mesma Comissão durante cinco anos nomeado pelo... Governo (Ministério da Educação)!

No número 14 do Boletim ‘O Árbitro’, referente ao mês de Agosto de 1958, Filipe Gameiro Pereira escreveu um artigo no qual se despede do cargo de dirigente da Comissão Central de Árbitros, que exerceu durante oito anos.
Por curiosidade, nas Notícias Regionais do mesmo Boletim era destacada a palestra proferida pelo Tenente-Coronel Ribeiro dos Reis (lembram-se dele?) na Comissão Distrital de Árbitros de Lisboa. Eram todos amigos do peito…


No Boletim ‘O Árbitro’ Nº 15, referente ao mês de Setembro de 1958, é dado destaque à sucessão na presidência da Comissão Central de Árbitros, com a entrada de Coelho da Fonseca para o lugar de Filipe Gameiro Pereira.

José Coelho da Fonseca era um ex-Presidente do Belenenses (foi Presidente dos três órgãos do Clube, Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal) e, para além da presidência da Comissão Central de Árbitros, foi também Presidente da Associação de Futebol de Lisboa.

Percebem porque razão era quase impossível a um clube que não fosse da capital do Império ganhar o campeonato?

Inocêncio João Teixeira Calabote, árbitro da Comissão Distrital de Évora, foi considerado e premiado pela Comissão Central de Árbitros, «pelo Desporto e a Bem da Nação», como o melhor da época 1952/53.
Para premiar o "excelente" desempenho que tinha dentro de campo, Calabote foi indicado à FIFA como árbitro internacional em 1953/54 e 1956/57.

Numa entrevista concedida ao jornal A BOLA, em 26/03/1955, o presidente da Comissão Central de Árbitros da altura, o lisboeta Filipe Gameiro Pereira, referiu-se ao Inocêncio como «do melhor que tem passado pelo sector da arbitragem».

Enfim, foi com árbitros deste calibre, sempre devidamente premiados pelos dirigentes do BSB que rotativamente ocupavam os lugares na Comissão Central de Árbitros, que se escreveram quatro décadas da história do futebol português.


P.S. Hoje, 22 de Março de 2009, completam-se 50 anos desse tristemente célebre Benfica x CUF arbitrado por Inocêncio Calabote. Com a publicação deste artigo termino a viagem a um dos casos mais polémicos da história do futebol português (como lhe chamou o ‘Record’), o qual, conforme ficou evidente, é muito mais do que um mero caso de arbitragem.

Fontes:
[1] ‘CSI – Calabote Scene Investigation’, Pobo do Norte, Maio de 2008
[2] ‘Carta de Adriano Lima a Rui Moreira’, dragaodoente.blogspot.com, 2008
[3] Blog de Alberto Helder


Fotos: Record, Alberto Helder