segunda-feira, 31 de julho de 2017

Rock and Roll

Quando Jurgen Klopp assinou contrato com o Liverpool, interrompendo o seu ano sabático, a cidade dos Beatles celebrou o feito como um regresso às origens - tácticas e emocionais - e a imprensa local, sempre desejosa de tecer comparações com a sua herança musical declarou que tinha voltado o "Rock and Roll" a Anfield Road. Klopp tinha-se celebrizado com o seu modelo vertical, ofensivo e de pressão alta no Dortmund, o "Gegenpressing", e nos últimos dezoito meses logrou repetir o modelo de jogo em Inglaterra. Salvas as (imensas) diferenças que (ainda) existem entre Klopp e Conceição e entre os plantéis de Dortmund e Liverpool com o FC Porto, não é no entanto descabido olhar para esta pré-temporada a que falta apenas um jogo, e assumir que o Rock and Roll também voltou à Invicta.

O termo de comparação ajuda.
Quem sobreviveu a Nuno Espirito Santo está preparado para desfrutar e ver o lado positivo de tudo. O jogo pastelento, sem ideias, defensivo e primário de NES é felizmente passado mas isso não impede de que ver que o salto qualitativo para Conceição seja real. Olhando para a equipa, nestes últimos encontros, há uma evidente aura a anos noventa que não podemos ignorar. O jogo com dois avançados que se complementam a lembrar a verticalidade da dupla Domingos-Kostadinov ou, numa comparação simpática e distante, entre Jardel (Aboubakar) e Artur (Soares). Com a bola, o posicionamento da equipa convida a um jogo ofensivo pelas alas - com a abertura dos laterais e o jogo combinativo interior dos extremos e médios com a dupla de ataque - não muito distante do clássico 442 utilizado até à chegada de António Oliveira, com a equipa a jogar, efectivamente, muitas vezes num 4-1-3-2. E depois está a evidente garra e o dinamismo físico que recorda os melhores anos de Robson, de uma equipa sempre disposta a jogar simples e fácil mas com uma ideia vertical de jogo. Poucos passes, futebol menos rendilhado mas extremamente mais eficaz, com o esférico a ser conduzido em direcções concretas para gerar constante superioridade na zona de finalização. Rock and roll com chuteiras.



A realidade do futebol português, demonstrada na última década, pede um modelo assim.
O futebol mais pensado e pausado, de controlo do esférico e do espaço mas com poucos homens a aparecer na zona de definição que marcou os anos de Vitor Pereira e Lopetegui pode funcionar até melhor na Europa - onde a qualidade dos rivais é muito superior e há mil variações tácticas a ter em conta - mas no campeonato português, como Jesus, Villas-Boas, Jardim, Marco Silva e Vitória entenderam perfeitamente - por oposição a Paulo Fonseca, Nuno Espirito Santo e companhia - o que conta em 90% dos jogos não é a posse nem o controlo do jogo desde o dominio do espaço mas sim o sufoco ofensivo de forçar o erro ao contrário ocupando os espaços de finalização e tentanto chegar até lá com o menor tempo de posse possivel para aproveitar a desorganização contrária. Dois avançados sempre móveis na área, extremos que se incorporam, laterais que esticam o campo e interiores com remate, foram marcas das equipas do Benfica e de Villas-Boas e mostraram funcionar perfeitamente para um enquadramento onde a imensa maioria dos rivais joga posicionando os seus homens atrás da linha do meio campo a esperar possíveis contra-ataques. Rendilhar o jogo pode ser desesperante e exige paciência e muito talento, sobretudo individual, para quebrar esses muros. Atacar sucessivamente, de diferentes formas e com muita gente é um modelo que sendo menos controlador, na posse, tem mais opções de levar ao erro do contrário e é um atalho mais rápido para o golo. Conceição, ao contrário de NES, sabe-o perfeitamente dos seus dias no Minho, onde as suas equipas sempre procuravam em momentos de ataque surpreender o rival pela acumulação de efectivos ofensivos mesmo que isso ás vezes também significasse que a equipa ficava partida nos momentos de perda. Com um plantel superior e uma força moral por detrás do escudo do Dragão, tem ficado claro que empurrar os rivais contra as cordas - a sua área - e dedicar-se a aplicar golpe atrás de golpe - remates de todos os enquadramentos, acumulação de jogadores em zonas de finalização - mais tarde ou mais cedo vai provocar um KO. Se Vitor Pereira ou Lopetegui jogavam para ganhar o combate aos pontos, se NES jogava para não perder o combate aos pontos, Conceição joga para o KO. Fazia falta esta lufada de ar fresco.

Há ainda muito trabalho táctico pela frente - um mês de trabalho colectivo não é nada - mas as ideias estão lá e nota-se, sobretudo, que os jogadores entenderam o plano A do treinador (falta por ver se existe e qual é o plano B e C) e que há uma clara sintonia do banco para o campo.
É normal que no início tudo seja amor. Os jogadores querem triunfar e estão, quase sempre, predispostos a abraçar novas ideias se isso significar vencer. Os laços são verdadeiramente testados ao primeiro tropeção, nos dias frios de Inverno ou quando mais tempo de banco signifique menos tempo de jogo para alguns. É aí que a liderança de Conceição será realmente testada mas até agora as impressões são claramente afirmativas. No discurso, na atitude no banco, no trabalho da equipa e na motivação dos jogadores.
A recuperação de Aboubakar - que complemente a Soares e Brahimi melhor do que André Silva, que sendo melhor jogador e avançado não tem a presença física do camaronês, que abre outras modalidades de jogo a ser exploradas - é um dos seus primeiros grandes méritos e não foi necessário afastar um Brahimi que é sempre determinante, durante uns meses, para mostrar quem manda. Conceição sabe que não há dinheiro para reforços (mas para as comissões de Vaná, seguramente sobra algo quando o que sobra realmente é o jogador, como Conceição tem deixado claro ao manter José Sá como número 2 de Casillas) e fez dos descartados Hernani, Marega, Aboubakar e Ricardo Pereira apostas seguras em distintos momentos. Não tem havido demasiado espaço para as afirmações da formação. Rafa sofre com o overbooking á esquerda de Alex e Layun (se há necessidade de vender, realmente, esta é a oportunidade de ouro para que um deles saía) e a Dalot passa-lhe o mesmo à direita onde Maxi deixou claro já que será importante para o balneário mas que em campo não oferece o mesmo que Ricardo. Conceição, melhor do que ninguém, uma vez que também foi lateral e extremo, sabe o que sacar do jogador e o futebolista tem demonstrado que é dificil encontrar um lateral ofensivo melhor que ele na ala direita em Portugal. A sua amplitude ofensiva tem-se revelado fundamental para o apoio a Corona e a possibilidade de o utilizar à frente do próprio Maxi revela bem a fartura de opções para as alas que Conceição vai procurar utilizar (Brahimi, Ricardo, Hernani, Corona e o próprio Layun, sem esquecer Otávio) ao largo da temporada.
No ataque a dupla Aboubakar-Soares é uma certeza já e ainda que seja dificil imaginar que Marega possa causar o mesmo impacto, estando em campo - e Rui Pedro continua a ter escassos minutos para provar o seu real valor - não seria de surpreender que não venha mesmo mais nenhum reforço, pelo menos até Janeiro. Se o ritmo goleador se mantiver - e com Conceição o positivo é que com tantos jogadores em zona de finalização vamos ver futebolistas pouco habituais na lista dos marcadores - pode até ser que não faça falta.

O que sim vai ser curioso ver é a conjugação dos nomes do miolo.
O modelo de pressão alta de Sérgio Conceição parte de um 4-1-3-2 em posse, onde os extremos fecham as laterais formando um losango na perda da bola, o que obriga um maior sacrificio de Corona e Brahimi. Em principio há poucas dúvidas que os vértices serão entregues a Danilo e Oliver. São os melhores jogadores para as respectivas posições. No caso do internacional luso nota-se que chega tarde e que precisa de recuperar o tom físico e beber das ideias do técnico mas tem valia suficiente para se fazer com um lugar que, curiosamente, teria assentado como uma luva no modelo de jogo de Ruben Neves, em que o pivot defensivo não é apenas um polvo mas tem a responsabilidade dupla de iniciar a criação da jogada - algo que Neves fazia melhor que Danilo - e também muitas vezes aparecer à entrada da área em posição de remate ou de último passe - algo que Neves também fazia melhor que Danilo. A ajuda constante dos laterais em posição de posse e a pressão uns metros mais acima do habitual com NES, com a linha de quatro da frente a exercer o primeiro bloco de pressão, liberta muito das funções do pivot defensivo o seu trabalho de estar em todas partes e isso tem-se feito notar. Talvez por isso SC tenha igualmente tentado colocar André André ou Herrera nessa posição mas a qualidade do passe de ambos faz-se notar demasiado tanto na saída da bola no início da jogada como no momento final da conclusão. Servem para correr e ocupar espaço, colaborar na pressão, mas Conceição pede mais ao "6" do que isso, ao contrário do modelo primário de NES. E no plantel, actualmente, ninguém pode oferecer essa função. No outro lado está Oliver, mais completo que Otávio em tudo, com essa pausa chave para permitir que as restantes peças do tabuleiro se mexam e com essa facilidade do primeiro toque que desbloqueia situações de um para um e gera superioridade. Será fundamental no modelo de Conceição, um autêntico Deco que muitas vezes seja liberto da pressão pela ajuda de um dos avançados para depois receber em recuperação a bola em melhor posição e aplicar a sua magia. Nenhum modelo de jogo favorece mais as suas características de uma forma pro-activa que este. Terá de o aproveitar.



Sem embandeirar em arco - afinal de contas, o FC Porto sabe que parte para mais um campeonato que não se joga só em campo e onde ser muito competente pode não ser suficiente - as melhorias são evidentes. Com menos Conceição tem feito mais do que os seus últimos predecessores e resta agora saber se esse mais será capaz de o fazer em jogos a doer e contra rivais de caracteristicas distintas. O processo de crescimento é acumulativo e a equipa, como um todo, terá de evoluir com as novas ideias do técnico mas no Dragão respira-se já outro ar. Esperam-se jogos mais verticais, mais espectaculares - talvez mais sofridos também em alguns momentos de organização defensiva onde Casillas e a frieza Marcano-Filipe serão chave, como tem sido hábito - e um FC Porto sobretudo mais pro-activo á procura de resolver cedo o marcador e de ampliar cedo o resultado a margens confortáveis de gestão de espaços para aplicar depois a sua velocidade com o decorrer do encontro. Salvas as distâncias - até porque não há Hulk, Falcao, Moutinho, James ou Belluschi - este é o modelo mais similar ao visto na época de AVB e todos sabemos como isso resultou. Na altura Pinto da Costa fez precisamente referência a que um treinador com esse talento tinha de ganhar sim ou sim de forma espectacular. Conceição tem a ideia de jogo e o modelo mas não tem o mesmo plantel. Será capaz de por o Dragão a dançar ao ritmo frenético das suas guitarras eléctricas?

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Vícios de raciocínio?


Sérgio Conceição teve uma boa ideia e está a aplicá-la com algum sucesso. Aboubakar e Soares parecem ser mesmo a melhor solução para o novo FCP em versão "e agora sem dinheiro".
O camaronês está a provar que nunca deveria ter saído na época passada e muito menos à custa da entrada de Depoitre. Aliás, poucos se recordarão mas até Adrian Lopez foi escolhido à frente de Aboubakar em 2016/17.
Já Soares voltou, também ele, aos golos nesta pré-temporada e a níveis exibicionais próximos daqueles de quando chegou ao nosso clube.
Destes "2" do novo "4-4-2", pouco há, portanto, a acrescentar.

O busílis da questão reside, de momento, nos "4" do meio.
De repente, e pelo menos a julgar pelos "11" iniciais contra Chivas e Guimarães, parece que Brahimi voltou, pela enésima vez, a não fazer parte dos planos de um treinador do FCP.
E aqui é que poderemos correr o risco habitual nesta altura de pré-época: a de tomar cada jogo amigável como algo de definitivo e esquecer tudo aquilo que ficou para trás no que ao histórico de cada jogador diz respeito.

E no passado de Brahimi, no FCP, lê-se o seguinte: 117 jogos, 29 golos e 24 assistências.
Nenhum médio/extremo, no actual plantel, se aproxima de tais números.
Brahimi consegue uma média de 0.25 golos e 0.2 assistências por jogo.

Corona é quem mais se aproxima, levando em conta ambos os registos: 0.18 por partida tanto em golos como assistências.
Otávio tem um registo significativamente menor em termos do número total de jogos com a camisola do FCP, por isso, juntando a este exercício os números do tempo que actuou pelo Vitória, chegamos a uns 0.14 e 0.25. Ou seja, até assiste ligeiramente mais que o argelino mas perde claramente em termos de golos.

Com funções em campo não tão semelhantes, temos ainda Óliver (0.13 e 0.11), André André (0.1 e 0.14) e Herrera (0.14 e 0.12).
Números bem abaixo de Brahimi, portanto, mas com a efectiva desculpa de não actuarem tão próximo da área adversária.

Obviamente que ainda estamos no início, logo nem todas as escolhas são ainda definitivas.
Apenas se alerta para que, independentemente da opinião conjuntural de cada um em relação a um dado jogador, os números são ainda o meio mais eficaz de tirar dúvidas.

Se a ideia é, como parecia há umas semanas, que o jogador fique mais uma época, então que se aposte a sério nele.
Pelo menos seria bom que, em Maio de 2018, não se volte a escrever o que muitos disseram em Maio passado: "Se Brahimi tivesse jogado nas primeiras partidas, talvez a Liga tivesse tido um desfecho diferente..."

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Portistas nas páginas de A BOLA

Nortada, Miguel Sousa Tavares (A BOLA, 18-07-2017)

«Os factos reportam-se a um jogo Beira-Mar - FC Porto, a quatro ou cinco jornadas do final de um campeonato que o FC Porto haveria de vencer tranquilamente com, salvo erro, uns 14 pontos de avanço sobre o segundo classificado – o Sporting. Ou seja, os 6 pontos retirados foram só para mostrar serviço. Recorde-se ainda que, nesses gloriosos dias, o FC Porto era treinado por José Mourinho, a sua superioridade interna era imensa e incontestável e estava a dias de se sagrar campeão europeu. Enquanto isso, o Benfica terminaria o campeonato a mais de 20 pontos de distância, em quarto lugar, atrás do Vitória de Guimarães.»
O que é feito de Carolina Salgado?
Miguel Sousa Tavares, A BOLA, 18-07-2017


O Miguel Sousa Tavares (MST) confunde algumas datas e factos (algo que, por vezes, acontece nas suas crónicas semanais publicadas na A BOLA), mas a mensagem essencial da crónica desta semana, além de pôr o dedo na ferida, é perfeitamente clara e correta.

As duas versões do livro de Carolina (jornal SOL, 08-09-2007)

Juiz acusa Carolina de mentir (O JOGO, 01-07-2008)

O célebre Beira-Mar x FC Porto, arbitrado por Augusto Duarte e que terminou empatado (0-0), foi disputado na época 2003/2004, jornada 31. Isto é, a quatro jornadas do fim desse campeonato e a cerca de um mês do FC Porto se sagrar campeão europeu em Gelsenkirchen, no dia 26 de Maio de 2004.
A equipa do FC Porto (treinada por José Mourinho) ganhou esse campeonato com 82 pontos. Mais 8 pontos que o SLB (2º classificado) e mais 9 pontos que o Sporting (3º classificado).

O campeonato que o FC Porto ganhou com 20 pontos de avanço (mais tarde reduzidos a 14) foi quatro anos depois, na época 2007/2008.
A equipa do FC Porto (orientada pelo prof Jesualdo Ferreira) terminou esse campeonato com 75 pontos e, após lhe terem sido retirados 6 pontos pelo CD da Liga (presidido pelo dr. Ricardo Costa), ficou com 69 pontos.
O Sporting terminou com 55 pontos. O V. Guimarães terminou com 53 pontos. E o SLB terminou esse campeonato em 4º lugar, com 52 pontos (a 23 pontos do FC Porto!).

Quanto à validade das escutas… Ao contrário do que afirma o MST, as escutas não foram ilegais, conforme foi explicado no último programa ‘Universo Porto’ (emitido no Porto Canal, na passada segunda-feira). As escutas não são é válidas para serem usadas no processo disciplinar da Liga/FPF que, “oportunamente”, foi (re)aberto pelo benfiquista de Canelas.

Percebe-se que este tipo de lapsos sejam aproveitados, por benfiquistas e sportinguistas, para descredibilizar o MST. O que me custa a aceitar é que também sejam aproveitados por portistas, para atacar e até insultar o MST, sempre que ele escreve uma crónica crítica do Presidente Pinto da Costa ou de decisões da Administração da SAD.

Ora, convém lembrar que, quando o Apito Dourado “explodiu”, enquanto o Presidente e o Clube/SAD se remeteram ao silêncio, o MST foi dos poucos, juntamente com alguns blogues (entre os quais tenho o orgulho de colocar o ‘Reflexão Portista’), a dar a cara e vir para a “frente de batalha” na praça pública.

É perfeitamente normal discordar das opiniões do MST e eu discordo com frequência, principalmente quando as opiniões são referentes a jogadores ou treinadores. Contudo, não me esqueço que o MST que critica o Presidente nas páginas de A BOLA é a mesma pessoa, o mesmo Portista que, nessas mesmas páginas, defendeu o FC Porto num dos períodos mais delicados da nossa história.

Por isso, e não só, obrigado Miguel.

domingo, 16 de julho de 2017

terça-feira, 11 de julho de 2017

Mesma trampa, cheiro diferente

Entre outros, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade, demitiu-se recentemente quando ficou claro que iria ser constituído arguido num caso de "crime de recebimento indevido de vantagem" - pessoalmente, nem sequer sabia que tal coisa era crime. Ora, no caso específico de Rocha Andrade, este é acusado do crime por ter viajado e assistido, com todas as despesas pagas, a dois jogos da seleção nacional de futebol, durante o último campeonato da Europa, a convite da Galp... empresa que mantém um diferendo com o Estado, por causa de uma dívida que a primeira se recusa a pagar ao segundo. E esse diferendo estava no domínio de competências do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Sendo certo que o seu comportamento é criticável, ninguém de bom senso acredita que Rocha Andrade se "vendesse" por uma viagem com despesas pagas (mas nunca se sabe). Mas o facto é que o Ministério Público considera, sem haver o famoso "nexo de causalidade" (porque nada está decidido em relação à tal dívida), que há indícios de crime.

Rocha Andrade, pouco talento na escolha de companhias
Pois bem, há uns certos elementos do Conselho de Disciplina da FPF, que receberam bilhetes para jogos de um certo clube... - estão a ver as semelhanças? A oferta dos bilhetes foi já confirmada por altos dirigentes desse clube, pelo que nem estamos a falar de meras suspeitas. Eu não sou de futurologias, nem adivinhações, mas diria que o Rocha Andrade e os outros secretários de Estado, estariam em muito melhor posição se tivessem antes ido ver uma "missa" à "Catedral". Na dúvida, deveriam ter conferenciado com o Centeno - nesse erro não cai ele - porque está bom de ver que para situações semelhantes, o Ministério Público terá seguramente decisões diferentes.

domingo, 9 de julho de 2017

Ruben, Oliver, Mendes e os interesses reais da SAD

Está definitivamente oficializada a venda de Ruben Neves ao Wolverampton Wanderers, um histórico do futebol inglês dos anos 50 e 60 - é por sua culpa, em parte, que existem competições europeias - mas que milita actualmente na Championship. Sim, o FC Porto vende o que de melhor tem produzido a clubes da segunda divisão inglesa por tuta e meia. Sim, o Wolves é a ponte do esquema Mendes no Reino Unido, mais um clube onde coloca jogadores como bem lhe apetece a modo de ponte para outros voos, sempre a troco de uma apetitosa comissão (ou duas, ou três). No espaço de semanas o FC Porto decidiu vender as suas maiores pérolas da formação por um valor total aproximado de 60 milhões de euros - com objectivos pelo meio. Friamente não são más cifras, na realidade ficam ambas aquém do potencial real de ambos os jogadores e do seu valor de mercado. Consequências da sanção imposta pela UEFA mas não só.

A ninguém parece estranho que os únicos negócios que o Porto seja capaz de operar estejam nas mãos de Jorge Mendes. O clube está a tentar livrar-se de algumas gorduras desnecessárias entre emprestados - muitos serão repescados porque não há dinheiro para mais, supostamente - e ao mesmo tempo cumprir com os prazos da UEFA. Sabendo que Casillas fica - com um salário muito inferior ao que ganhava mas, ainda assim, como o mais bem pago do plantel - e que há ainda excesso de laterais nas contas - Ricardo, Rafa e Fernando Fonseca juntam-se a Maxi, Layun e Telles quando deveria haver apenas quatro vagas livres - as vendas de André e de Ruben parecem anunciar que tanto Brahimi como Danilo vão ficar no plantel. Até 31 de Agosto no entanto livrem-se de pensar que são realidades concretas. A palavra de Pinto da Costa nunca valeu muito mas agora, que vale zero, nunca permitirá assumir nada por garantido até ao suspiro final do mercado e o FC Porto que já está mais debilitado do que no ano passado - onde não era uma grande equipa em traços gerais - pode ficar ainda mais fraco com o passo das semanas. Disso dependerá também muito Mendes. Afinal de contas nada se mexe no Dragão sem que o super-agente decida como tem sido claro.

O FC Porto entregou-se ao homem que tem alimentado o rival, insultando assim aqueles que tantos esforços estão a fazer para levantar o Polvo. E fê-lo de uma forma tão escandalosa que é capaz de tentar dar a volta aos factos para justificar o injustificável. E é aí onde entramos no circuito Ruben-Mendes-Oliver.
Oliver é um bom jogador, um jogador de classe, com talento e fino recorte que se exibiu bem nas duas épocas de azul e branco, melhor na primeira do que na segunda, é certo. Não é uma super-estrela e dentro da realidade espanhola há jogadores da sua idade muito superiores. É um falso dez, um falso oito, um jogador que se move bem e faz mover mas que nunca tem sido realmente um factor determinante. É um jogador cuja posição em campo podia ser ocupada por Otavio ou até mesmo por...Ruben Neves, noutro esquema de jogo mais vertical e assertivo - curiosamente o esquema que propõe Sérgio Conceição.
Oliver seria uma boa adição ao plantel, de forma definitiva, por uma quantia lógica. Nunca por 20 milhões de euros. Mas são 20 milhões de euros os que o FC Porto terá de pagar ao Atlético de Madrid em Janeiro de 2018. Não 19. Não 18. Não 19,5. Serão 20 milhões de euros, convertendo o jovem espanhol na compra mais cara de sempre do clube.


Nas contas do Financial Fair Play a operação Oliver não entra.
Jorge Mendes sabe fazer bem as coisas. No verão passado foi o intermediário do regresso do espanhol ao Dragão, operando, como sempre faz, em nome do Atlético de Madrid, clube da sua carteira habitual. O Atlético cedia o jogador, sim senhor, e colocava Diogo Jota de extra, mas em troca o FC Porto comprometia-se a comprar o jogador por 20 milhões de euros. Um valor superior ao seu valor de mercado e no entanto o Porto aceitou a proposta. Oliver e Jota foram utilizados por NES - que, como já todos vimos, esteve no Porto a valorizar activos e a valorizar-se a si e não a gritar "Somos Porto" - e tiveram um papel destaco na temporada, de mais a menos. Mas em nenhum caso a operação tinha qualquer lógica para um clube que, já então, sabia estar com a corda na garganta e com a UEFA nos calcanhares. Tanto que nesse mesmo defeso o próprio presidente disse que não havia avançado até haver Liga dos Campeões...o que nem sequer acabou por ser certo, como se viu com a farsa Depoitre (com outro amigo, D´Onofrio, ao barulho claro). Sabendo que não tinha 20 milhões para pagar pelo jogador o FC Porto fez na mesma operação e fê-lo porque essa era uma condição de Mendes e Pinto da Costa a Mendes já não diz que não, como não disse no caso Adrián, por muito que a posteriori goste de vir culpar os treinadores dos erros que ele consente como máximo gestor do clube. Se Mendes diz que se faz o negócio, faz-se o negócio por muito que prejudique o clube. Oliver nunca dará lucro ao clube e a sua operação apenas contribuiu para abrir ainda mais o buraco nas contas. Algo que o Porto sabia que ia passar e que, principalmente, Jorge Mendes sabia que ia passar..

Fazemos fast-forward para o seguinte defeso. Como esperado o Porto tem de vender mais do que nunca, agora principalmente pela sanção da UEFA - teria de vender de todos modos - e nem sequer contabilizou ainda os 20 milhões de gastos em Oliver (que o obrigará a vender, também, no defeso que vem, mas já lá vamos) e na mesa aparecem ofertas...sim, ofertas precisamente pelos jogadores de Mendes.
André Silva e Ruben Neves saem do Dragão - Mendes cobra comissão pelos três...jogadores, clube vendedor e clube comprador, esperem pelo relatório de contas - e o dinheiro do seu império continua a mexer-se mas havia realmente essa necessidade de vender dessa forma quando meses antes o clube parecia não ter problemas em pagar 20 milhões por um jogador da carteira Mendes - e há ainda o negócio Boly, outro que entra já na rotação de NES e Wolves, com um empréstimo com opção de compra para entrar no próximo exercicio financeiro - em lugar de procurar ficar com Ruben Neves no plantel?
O mesmo Ruben a quem Pinto da Costa pressagiou um futuro à João Pinto. A sua palavra, como sabemos, vale tanto como os seus dotes adivinatórios. Curiosamente o mesmo Ruben que foi afastado praticamente por Nuno Espirito Santo - que agora, pasmem-se, o reclama em vez de pedir um Herrera ou um André André, bem mais utilizados, bem mais baratos mas nenhum da carteira Mendes - e portanto passou um ano a desvalorizar-se para agorar surgir uma oferta baixa para o seu potencial real. Que teria sido do negócio de Ruben se este tivesse jogado mais vezes? Uma suspeita que não faria sentido salvo que quando quem o pede agora é quem não o quis antes a coisa começa a cheirar muito mal.

No próximo defeso - já lá chegamos - Boly provavelmente sairá para o mesmo clube a título definitivo numa operação que ajudará a maquilhar os números de Oliver, depois do empréstimo agora acordado. Outro jogador "pedido por NES", "gestionado por Mendes" e que não se valorizou porque o mesmo NES que agora o pede não o utilizou quase nunca.
Uma vez mais Mendes cobrará por todos e manterá a sua máquina activa e o Porto, desportivamente, ganhará pouco e estará nas mãos do super-agente para mover-se no mercado. Ainda assim terá de vender. De momento não há jogadores Mendes no plantel, salvo José Sá, mas até 31 de Agosto tudo é possível e não surpreenderá ninguém se voltemos a ver uma operação similar à de Oliver com futebolistas da sua carteira. Se ao largo do ano algum outro jogador da formação - Fonseca, Dalot, Rui Pedro - entretanto mudarem de agente, a sua saída em Junho torna-se óbvia e nem vale sequer a pena discutir a sua inviabilidade. Uma vez mais estamos a falar das máximas operações no mercado do clube nos últimos meses e todas com o mesmo agente, todas com a mesma filosofia. No final quem perde é sempre o clube. Algo que já deveria saber de experiências prévias sobretudo quando se destapou a rede do Polvo e como o super-agente em questão tem servido para salvar o pescoço de Luis Filipe Vieira. Ruben Neves não é mais que um novo Helder Costa (que por 14 milhões foi o recorde histórico anterior do Wolves) ou João Cancelo por quem o Valência pagou 15 milhões que na altura o Benfica gastou em outros jogadores da fábrica Mendes para seguir com a cadeia de montagem. O FC Porto não está a vender para apaziguar a UEFA - o negócio Ruben ultrapassou o deadline da UEFA, para os mais distraídos - mas sim para manter a máquina Mendes a funcionar. O clube decidiu que prescindir do seu mais jovem capitão, desvalorizado por um infiltrado do super-agente, é mais importante que bater com o pé na mesa e negar-se a negociar com essa personagem sinistra que tanto tem prejudicado o clube.

É em momentos assim, momentos como o da chegada de Oliver e a saída de Ruben que fica claro que quem dirige o FC Porto, hoje, o faz a pensar primeiro em si mesmo e nos seus interesses e só muito mais à frente nos interesses do Clube.  

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O gesto de Iker

Casillas será guarda-redes do FC Porto pelo menos por um ano mais.
Era algo que estava sobre a mesa desde que o guardião espanhol aterrou, há duas temporadas, na Invicta mas ainda que o resultado final seja o mesmo, as formas são bastante distintas e essas apenas honram um jogador que soube, desde cedo, entender a mística deste clube e que aceitou ser capitão na sombra ganhando a pulso o respeito e carinho dos adeptos.

Iker chegou em 2015 com um contrato muito particular. Durante dois anos o Real Madrid comparticipava em 70% do seu salário cujas cifras eram incomportáveis para a realidade do FC Porto que se fazia cargo do restante valor. Era a forma de facilitar a desvinculação do jogador do seu clube de sempre sem criar grandes problemas à instituição. Sob esse pressuposto o contrato incluía a possibilidade de ampliar-se um ano mais de forma automática, tanto por parte do atleta como do clube, tivesse esse disputado 70 jogos oficiais nos dois anos anteriores. O problema? Essa prolongação mantinha a mesma base salarial mas já sem a comparticipação dos merengues o que faria de Casillas o jogador mais bem pago, em exclusividade, da história do futebol português por uma enorme margem. Salários de estrela mundial num clube luso era algo inconcebível de aí que, nos corredores do Dragão, se olhasse para a estância de Iker como um processo de dois anos com uma saída, grátis, para um outro clube, possivelmente norte-americano, neste defeso. Mas Iker não quis avançar para a reforma dourada da MLS e apesar de ser verdade que sondou outros clubes europeus nestes meses, através do seu agente - clubes da Premier, da Serie A e até da liga espanhola - a sua vontade principal era a de ficar nas Antas. Restava saber em que moldes.

O agente de Iker fez saber ao FC Porto no início do ano que o jogador queria ficar ao que o clube respondeu que desejava o mesmo mas na situação actual, mais ainda do que o costume, o seu salário original era inviável e que portanto nunca seria o FC Porto a activar a cláusula de extensão de contrato. Caberia ao jogador mover as peças no tabuleiro das negociações. Podia tentar forçar a situação, activando unilateralmente a sua cláusula - algo que o FC Porto sabia que seria muito dificil que sucedesse - ou simplesmente sair, com um aperto de mãos, como muitos temiam. Casillas fez o mais dificil. Não só recusou clubes que lhe ofereciam mais do que estava a ganhar, já então, como aceitou ficar num novo projecto, depois de dois anos sem ganhar nada - ele que, como atleta, já ganhou absolutamente tudo o que há para ganhar - ganhando substancialmente menos. Continuará a ser o jogador mais bem pago do plantel e ainda que as cifras não transcendam para fora, esse valor dista muito do que iria cobrar originalmente. O vinculo é de um ano e esse sim parece ser o final da sua etapa, entre outras coisas porque o futuro profissional da sua mulher está igualmente em jogo e vai ser prioritário na escolha do futuro destino do atleta, mas será um ano muito especial. Por um lado porque Iker ganhará menos do que nunca ganhou e por outro porque é a sua forma de mandar uma mensagem para dentro e para fora. O espanhol não quer sair de mãos a abanar da sua etapa como Dragão.



Nos últimos meses o internacional espanhol tornou-se uma especie de capitão silencioso e sem braçadeira no balneário. Foi fundamental na integração de vários jogadores jovens - alguns deles falam de Iker como um autêntico pai desportivo - e trouxe esse ADN de competitividade, espirito ganhador e raça que bebeu em Madrid para um balneário sem referências da cultura Porto nos dias que correm. Á medida que o clube prefere vender as suas pérolas com a desculpa que há um problema financeiro com a UEFA - um problema que não lhes impediu de bater o seu próprio recorde de transferências com Oliver Torres, curiosamente num processo gerido pelo mesmo homem que agora gere as saídas dos seus jovens internacionais lusos - contar com o perfil e a grandeza de Iker Casillas vale muito mais do que possa parecer á primeira vista. O FC Porto ganha um ano para preparar a sua alternativa nas redes, Sérgio Conceição ganha um líder dentro e fora de campo e os adeptos mantêm uma referência de respeito e carinho para com o clube numa altura onde muitos daqueles que o deviam defender e acarinhar do mesmo modo fazem precisamente o contrário. 

O gesto de Iker choca com o gesto de muitos assalariados do FC Porto. É preciso vir alguém de fora para mostrar grandeza e sentido de pertença com uma grande instituição. No final do próximo ano será livre mas Casillas do FC Porto já não se livrará nunca. Será sempre um dos nossos.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

“Se não fosse o caso do túnel, teríamos sido campeões”

O caso do túnel na capa do jornal A BOLA de 06-07-2017

Numa entrevista ao jornal A BOLA, Jesualdo Ferreira falou sobre o tristemente célebre caso do Túnel da Luz, em que dois jogadores do FC Porto – Hulk e Sapunaru – foram alvo de suspensões nunca antes vistas no futebol português.

Em quatro anos [como treinador do FC Porto] só uma vez é que não cumpri um objetivo. Cumpri sete. (...) E estou convencido ainda hoje que se não fosse esse caso teríamos sido campeões [na época 2009/2010]. O FC Porto teria feito o penta e eu teria feito o tetra. Esse episódio do túnel foi decisivo. (…)
Não, não foi justa [a decisão]. A forma como os meus jogadores foram tratados, como o FC Porto foi tratado, a forma como as coisas aconteceram... Não foi verdade. E digo isto cara a cara, quer as pessoas gostem ou não gostem. Quem sentiu na pele fui eu, estive lá e vi. E também senti durante um ano como as coisas aconteceram.

A revolta do plantel e o Somos Porto (20-02-2010)

Não foi a primeira vez que Jesualdo Ferreira (um homem que foi treinador dos três “Grandes” do futebol português) falou da injustiça deste caso.
Em 12 de Fevereiro de 2010, Jesualdo Ferreira disse o seguinte:

O Hulk é um jogador revoltado. O estado de espírito dele é de revolta, porque não pode trabalhar e fazer aquilo que gosta. Nós, internamente, também estamos revoltados porque temos um profissional bem pago e que não está a ajudar a equipa como devia em função do contrato que tem. Acho que quando erramos temos de ser penalizados, mas temos de ser penalizados na justa medida do erro que cometemos, e temos de ser penalizados de forma a não voltar a errar. Agora, isto tudo não deixa de ser uma coisa incompreensível para as pessoas.


Em 24 de Março de 2010, o Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), instância de recurso, reduziu drasticamente o castigo que tinha sido aplicado a Hulk e a Sapunaru pela Comissão Disciplinar (CD) da Liga, à época presidida pelo célebre benfiquista de Canelas, o dr. Ricardo Costa.
Em vez de quatro e seis meses de suspensão, o CJ da FPF reduziu os castigos de Hulk e Sapunaru para três e quatro jogos respetivamente, indo de encontro ao enquadramento disciplinar, para estes dois casos, que foi defendido pelo FC Porto.

4 meses de suspensão
(O JOGO de 20-02-2010)
Se a suspensão decretada pelo dr. Ricardo Costa tivesse sido cumprida na totalidade, o FC Porto teria sido obrigado a disputar 23 jogos sem Hulk. Em função desta decisão do Conselho de Justiça da FPF, foram “só” 17 jogos oficiais sem o melhor jogador do campeonato português...

Recordar o caso ‘Túnel da Luz – Hulk’ é recordar o tempo em que Ricardo Alberto Santos Costa foi presidente da Comissão Disciplinar da Liga de Clubes (entre Outubro de 2006 e Julho de 2010).

É recordar a atuação do dr. Ricardo Costa neste caso, mas também nos casos ‘Apito Final’ ou ‘Diabo de Gaia’, entre outros menos mediáticos.

É recordar o impacto desportivo e financeiro que estes casos tiveram.

É recordar um tempo que não foi positivo, nas palavras de Fernando Gomes à Agência Lusa, após ter sido eleito para a presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

É, tal como referi em “Ando a falar da benfiquização do futebol português há anos”, sublinhar que o “polvo encarnado” não nasceu em 2013. O “polvo” começou a ser criado muito antes (Os tentáculos do SLB), tendo sido decisivo em vários momentos dos últimos 14 anos (*)

(*) Luís Filipe Vieira foi eleito presidente do SLB a 3 de Novembro de 2003.

sábado, 1 de julho de 2017

O caso Ruben Neves, o problema real para lá do Polvo

Nas últimas semanas, fruto do excelente trabalho realizado pelo Francisco J. Marques que não tem deixado ponto sem nó no Universo Porto de Bancada divulgando os emails que a Polícia Judiciária, via brigada Anti-Corrupção já tem em posse, tem-se vindo a por nomes e caras aos tentáculos do Polvo. É sem dúvida um trabalho histórico de investigação - que o Expresso também tem sabido desenvolver com independência surpreendente perante o resto do silêncio colectivo - e que destapa algo muito mais grave que qualquer outro caso de corrupção do futebol português. É também uma forma de entender como é que o Benfica venceu os últimos quatro títulos sendo que tanto o do #Colinho como o de este ano são, por demais, evidentes. Nos dois outros anos, por sucessivos tiros nos pés, de FC Porto e Sporting, é evidente que o Polvo estava activo mas foi menos necessário. Se a justiça desportiva existisse, no entanto, como em Itália, os últimos quatro campeonatos ficariam sem dono, entre outras penalizações que, pura e simplesmente, não vão suceder em Portugal.

Mas se o Polvo é real e está a ser exposto, o problema mais sério do FC Porto continua a chamar-se FC Porto.

Durante toda a história moderna do futebol português o Benfica sempre teve um ascendente sobre o sistema político, judicial, desportivo e arbitral. Não há nenhuma novidade. O que mudou em 1977 foi a capacidade do FC Porto encontrar formas de anular o efeito desse sistema - por um lado - e o de criar a sua própria estrutura de êxito que fosse capaz de traduzir a sua superioridade em campo em algo real. O Porto vencia não só porque era melhor...porque era e tinha de ser sempre muito melhor que o rival. E essa política de excelência teve nomes e rostos próprios, o mais antigo e evidente, o de Pinto da Costa. Ao criar esse Porto forte, estável e seguro de si mesmo o clube encontrou uma forma de defender-se do Polvo. Foi o desmantelamento dessa política de gestão interna que deixou em evidência o fácil que era, contra um Porto débil dentro, ao Polvo controlar o que queria e podia. E pode muito. Não é por casualidade que nos primeiros dez anos de Luis Filipe Vieira e do seu Polvo, o Benfica tivesse ganho dois miseros títulos. Havia um Porto forte a contrapor essa crescente influência. Um Porto que começou a acobardar-se com o Apito Dourado - onde fomos a vitima, não o culpado, note-se - e que se entregou numa política de useiros e vezeiros entregue a comissionistas, fundos de inversão, bancos de investimento e agentes preferenciais daqueles braços que ousavam sonhar em por as mãos no trono, fosse do bando anterista fosse do bando alexandrista. Essa guerra civil surda interna destruiu o que nos fez grande e continua a fazê-lo. É oportuno revelar todo o lixo do Polvo benfiquista mas isso não pode fazer esquecer que o Porto está a incumprir o Financial Fair Play apenas e só por culpa própria. Que os erros de casting de treinadores, com ou sem colinho e Polvo, são culpa própria. Que os erros de casting de formação de planteis, de ter uma lista de mais de quatro dezenas de emprestados, tudo isso é gestão interna e independente do Polvo.

O Porto agora tem de vender muito, comprar pouco, eliminar gorduras e começar praticamente do zero. É importante colocar toda a pressão no sistema antes do arranque de uma época em que já partimos com um pé atrás mas importante é também reerguer a estrutura interna e o que está a ser feito aponta na continuação de uma política penosa. Afinal de contas, Jorge Mendes, já ficou provado, é um dos maiores aliados do Polvo e tem sido instrumental nessa política de saneamento financeiro falso do Benfica, no alimento do Braga e Rio Ave, clubes da mesma esfera desse sistema podre, e também responsável por detrás de alguns dos nossos maiores flops financeiros. E no entanto, sabendo tudo isso e denunciando todas as terças a podridão do Polvo, o FC Porto continua a colocar-se nas suas mãos para resolver os seus problemas?
Há quantos anos, salvo casos excepcionalissimos, negoceia o FC Porto com alguém que não seja Mendes ou Doyen? Há quantos anos vendemos a clubes fora desse circuito, seja na Rússia, no Mónaco, na linha Atlético-Valencia-Bessiktas, nos clubes por onde anda Mourinho ou onde Mendes tem as portas escancaradas? O Porto não vende a Arsenal, Liverpool, Bayern, Dortmund, Inter porque demónios? Será porque são clubes que tentam trabalhar ao mínimo com o produto Mendes? Será porque são clubes onde Mendes não pode exercer de comissionista de jogador, de clube vendedor e comprador como acabou de fazer com o AC Milan e fará provavelmente com o Wolves e Ruben Neves?

Sim, o FC Porto está a ponto de vender o seu mais jovem capitão de sempre a um clube da segunda divisão inglesa por metade da sua cláusula de rescisão e o motivo é apenas um só: porque é onde Jorge Mendes quer que esteja o jogador.



O FC Porto já não actua há largos anos por vontade própria no mercado. Deu á Doyen um documento que lhes permitia negociar em seu nome - o caso Jackson com o Milan e depois Atlético - e desde há muito que tudo passa ou pelas mãos de Mendes ou por Luciano D´Onofrio. O mercado é enorme e move-se em milhões mas para o Porto encolheu-se a esses nomes. E claro, nessa circunstância a SAD vende a ideia - através de muitos dos seus acólitos - que a venda de André Silva é obrigatória e a Ruben Neves também o será, pelos números na mesa - culpa da situação financeira que eles próprios geraram e não assumiram ainda e que a UEFA controla - porque não há alternativa.
Mas alternativas há sempre.
Que explique o clube porque, curiosamente, só se movem no mercado - como passa com os Benfica, Atlético, Valencia, Monaco e afins - os jogadores do circuito Mendes, os que lhe vão gerar as comissões de verão? Porque os Layun (que recusou assinar com Mendes), Telles, Herrera, Maxi ou Corona estão fora do mercado quando a soma das suas respectivas vendas - sendo que para todos eles há opções já no plantel ou a muito menor custo salarial e de preço de venda - serviriam perfeitamente para segurar Ruben ou André? Porque é que Aboubakar não é vendido, será porque o clube prometeu dar 6 milhões de euros fixos ao seu anterior clube e só tem 37% do passe? Porque é que Brahimi vai ficando á medida que o clube foi hipotecando a sua percentagem ás mãos da Doyen? Porque é que os jogadores mexicanos do clube, que têm mercado, não se movem até ao dia em que passarem para a Gestifute? Porque é que o clube prefere manter dois salários incomportáveis no caso de Maxi e Iker Casillas para a realidade actual?

Vendo os milhões que se pagam em mercados como o inglês é anedótico pensar que o FC Porto não pode vender esses futebolistas negociando directamente clube a clube sem intermediários. Até o próprio Ruben, seguramente, seria mais facilmente vendido por essas cifras a um Liverpool ou Arsenal do que a um Wolves. O seu azar é que o único clube que Mendes controla em Inglaterra realmente é o de Wolverampton sendo que Mourinho está interessado noutro dos seus activos - Fabinho - para a mesma posição. Qualquer que veja o mercado a mover-se ano sim, ano também sabe identificar as tendências. Os jogadores de Mendes movem-se sempre nos mesmos clubes e sempre por um curto período de tempo que lhe permite cobrar as respectivas comissões. Os outros jogadores e os outros clubes negoceiam normalmente sem problemas. O Porto podia ser do segundo grupo não se tivesse colocado aos pés do "super-agente". O irónico é que se ajoelhou a quem está deliberadamente a ajudar o Polvo que tanto tenta combater. E para isso está disposto não só a vender por debaixo do seu valor real a dois grandes jogadores com enorme perspectiva de futuro. Está uma vez mais a destruir a possibilidade de criar um balneário á Porto, com jogadores da casa que sentem a camisola, para permitir que o homem que tem impedido o seu rival de ir á falência continue a enriquecer à custa dos portistas que preferem continuar a assobiar para o lado ainda que seja evidente de todos que a situação actual desportiva e financeira tem nomes, apelidos e salários a serem pagos por todos os accionistas do FC Porto.

No final de contas, por muito Polvo que saquem para fora, o grande problema continua a estar nas entranhas do clube. A "Sportinguização" da SAD do FC Porto com este processo de vender por tuta e meia a jogadores de formação com potencial de estrelas continentais ao mesmo tempo que enriquece os que o prejudicam é só mais um sintoma. Mas essa denúncia não interessa!