terça-feira, 12 de julho de 2016

Teremos sempre Paris, 2016?

O verdadeiro dia do triunfo não foi o de 10 de Julho mas sim a manhã do dia 11.
Aconteceu quando o emigrante em França se apresentou ao trabalho, no dia seguinte, e pode finalmente saborear o facto de patrões e colegas o passarem a olhar de um modo diferente.
Era também isto com que sonhavam quando partiram. Pena que aqueles que o fizeram na década de 60, o grosso deles, andem já pelos 70 e muitos anos. Seriam eles quem mais desfrutaria daquela manhã em que Portugal se tornou mais igual aos restantes.


O futebol português já o merecia por aquilo que deu ao Mundo nos últimos 30 anos mas acabou por ganhar por linhas tortas.
Ainda bem que fomos nós quem melhor aproveitou este novo formato mas, há que dizê-lo, um Euro a 24 equipas é uma aberração "à la Platini" e está a matar o futebol.

Duas semanas para eliminar apenas 8 equipas. Países pequenos fizeram história? Sim, mas daqui a 4 anos o grito dos adeptos islandeses já não terá a mesma piada e mesmo ver os galeses a festejarem com os seus filhos, em pleno relvado, será um dejá vu. O que vai continuar serão os jogos que se arrastam penosamente.
Portugal esteve em pelo menos dois desses. Muita gente terá feito um esforço para não adormecer vendo as partidas contra a Croácia e Polónia.
Ganhar no prolongamento ou nos penalties não vale? Também vale, sim senhor, e nem sequer é coisa fácil. Agora, não podemos é esperar que o resto do mundo se recorde desta edição do Europeu como, por exemplo, daquele inesquecível da Holanda em 1988.
A nossa vitória ficará para a história num registo parecido ao da Dinamarca-em-férias de 1992. No nosso caso, seremos lembrados sempre que uma selecção de nome não somar vitórias: "Olha que Portugal só ganhou uma partida em sete, durante os 90 minutos, e ainda assim foi campeão", dirão.

Teremos sido o campeão mais pobre em termos de futebol jogado. Poderíamos trazer a Grécia em 2004 para esta discussão mas eles venceram o anfitrião por duas vezes e não apenas uma. E, para além disso, afastaram também a França. A França que era a de Zidane e Henry. E tudo isto dentro dos 90 minutos, não esquecer.

É tempo de saborear a vitória, sim, mas com a noção da realidade, num quadro mais geral.
Desta vez ganhamos nós mas, com um Euro a 24 e um Mundial que, já se fala, terá um dia 40 participantes, as hipóteses de assistirmos a partidas de boa qualidade cada vez serão menores.
Os grandes jogadores chegam praticamente rebentados a esta última fase de uma temporada demasiado longa e não conseguem dar tudo aquilo que querem e sabem.
Quantos jogos fez Maradona em 85/86? É comparar este número com os de 2015/16 de um Muller ou Ronaldo...
É um nivelar por baixo aquilo a que se está a assistir.

A caça ao voto de Platini e Blatter deixou-nos este legado que interessa mais aos "sponsors" que ao verdadeiro adepto do futebol.

Quando mais nada nos restar, quando tudo nos tirarem, ficaremos sempre com a memória do França 2016? Para os portugueses, sim. Já para o nosso amado Futebol...

5 comentários:

Unknown disse...

Não percebo o porquê de o euro a 24 ser negativo, os estreantes foram os que fizeram boas exibições e os que criaram o melhor ambiente, como é que isto pode ser negativo?
Os ditos grandes não estão lá na mesma?

Hugo Mota disse...

Não concordo que o problema do decréscimo da qualidade futebolística do Europeu esteja no facto do apuramento da primeira fase permitir a passagem aos melhores terceiros. Isso é uma não questão. A história dos europeus e mundiais diz-nos que essa fase é de encher chouriços. Mesmo que o Luís se esforce, não recordará nenhum jogo especial dessa fase, excepto alguns escândalos de pequenas equipas derrotarem gigantes (estou a lembrar do Camarões - Argentina do Itália 90) ou eventualmente jogos da nossa selecção, quer por bons (os 3-0 à Alemanha) ou maus (a vergonha do jogo com a Coreia do Sul) motivos.

Os jogos que ficaram para a história do futebol sempre ocorreram na fase a eliminar, desde o Inglaterra - Alemanha do México 70, o Brasil - Itália do Espanha 84, ou o recente Brasil - Alemanha do último mundial. Com mais ou menos rondas, nada se alterou nos jogos a eliminar deste Europeu para os do passado.

Na minha opinião, existem 2 grandes causas para o decréscimo de qualidade nos grandes eventos.

A primeira, e o Luís já a referiu, os calendários gigantescos das maiores equipas. Com tantos jogos nas pernas, não será de admirar que a maioria dos grandes craques chegue estourado a estes eventos. A comprovar, se exceptuarmos Bale e talvez Griezman, nenhuma estrela fez um campeonato particularmente memorável.
O outro ponto que penso ser importante, mas pouco abordado na generalidade, é o nivelamento mediano dos seleccionadores.
Contam-se pelos dedos de uma mão os treinadores consagrados e com provas dadas a dirigir selecções. Se antigamente, chegar ao comando da selecção era um caso de prestígio e a aspiração máxima de um treinador, nos tempos actuais a aspiração máxima passa por treinar um clube de topo das maiores ligas.

A prova é o próprio Fernando Santos. Nunca conseguiu convencer e vingar a nível clubístico, contudo tem feito percursos respeitáveis a nível de selecções, quer com a Grécia, como com Portugal. E para provar, basta ver que a Grécia não se conseguiu apurar para o Europeu mal ele saiu, e Portugal chegou onde chegou.
Duvido muito que tivéssemos ido tão longe se Guardiola orientasse a Espanha, Klop a Alemanha ou o próprio Wenger a França.

Quanto a esta conquista, não consigo compreender as críticas ao estilo pragmático da selecção. Quantos europeus e mundiais jogamos futebol bonito e atraente e viemos para casa de mãos a abanar? Quantos mundiais a Itália limpou a jogar igual e mais feio do que nós? Só que eles são tricampeões mundiais, e nós só agora chegámos lá. Não estou a ver os Italianos muito tristes por jogarem feio e ganharem. Aliás, a Itália deste europeu foi muito elogiada como equipa, e no entanto jogavam igualzinho a nós. Meio campo e defesa musculada na expectativa, saídas só pela certeza, e não raras vezes passes directos da defesa para o avançado sem passar pelo meio campo...

Deixemo-nos de complexos de inferioridade. Ganhamos porque fomos melhores. Não na beleza, mas como equipa.

Pedro disse...

Parece que sempre que uma França, Alemanha, Itália, Espanha, Holanda não dominam logo nos quartos de final o torneio é pobre.

O mesmo discurso de 2004, jogos fracos, exibições fracas, e eram menos equipas.

Ainda não percebi muito bem o que é jogar bem para muita gente. Para mim o Gales-Bélgica foi excelente, o Itália-Espanha uma lição de futebol etc etc. Mas o português é isto, mesmo no que é bom teima em dizer que não é. E depois a culpa é dos politicos... Não fomos fantásticos? Não. Cinicos talvez. E não é que fizemos o mesmo que o Real Madrid na final com o Atlético?

Há um certo snobismo no futebol. O snobismo de quem acha mal estar lá a Islândia em vez da Holanda. Eu prefiro gostar da democracia do futebol, em que os teoricamente mais fracos podem com táctica, garra e inteligência bater o pé aos mais fortes. A conversa da qualidade já cheira mal, parecem os velhos do restelo que dizem sempre que antigamente é que era. A Holanda de 1976 é que era... se jogasse contra a Alemanha de 2016 levava 6 ou 7 e levava o romantismo num formato de rennie.

O problema não é o formato, é como sempre, a aversão á mudança. A aversão de que as coisas vão mudar. E essa aversão provoca sempre uma repulsa inicial. Aconteceu com a taça dos campeões europeus, e hoje a champions é apenas... a champions. Destruiu o futebol não?....

Antonio disse...

a um colega italiano, que me dizia que o importante é ganhar, que é isso que fica para a história, pedi-lhe que me desse, assim sem pensar muito, três nomes da equipa italiana do famoso 5 de Julho de 82 e ele lá me deu os três nomes (Rossi, Zoff...e tardelli) e três do Brasil e, de tacada deu-me cinco: Sócrates, Zico Falcão, Cerezo e Junior.
Eu nunca fui nessa do "ganhar é que conta".

Vasquez da Gama disse...

Discordo totalmente com esta mesquinhice Portuguesa em não gostar das vitórias. Ganhámos e quem tem de se queixar são os outros não somos nós! Como Portista adorei ver o sentimento que os outros Portugueses sentiram ao ganharem e não terem recebido o reconhecimento dos outros.