sexta-feira, 25 de março de 2016

Cruyff, o treinador, e o FC Porto

Tendo sido dos melhores jogadores de sempre, a verdade é que é Cruyff, o treinador, quem a geração mais nova bem recorda.

Foram quatro as vezes que equipas orientadas por Cruyff defrontaram o FCP ao mais alto nível.

Tudo começou em 1985/86, quando Cruyff cumpria a sua primeira temporada como técnico e logo ao serviço do seu Ajax. Estávamos em Setembro, quando se realizou a primeira-mão no estádio das Antas. Artur Jorge deixava um pedido no dia do jogo: "Logo à noite, nem um assobio."
Como curiosidade, foi também a primeira vez que as crianças tiveram que, obrigatoriamente, apresentar bilhete para assistir a uma partida. Não admira, portanto, o título escolhido pelo "JN" no dia seguinte: "Um jogo para adultos". O FCP venceu por 2-0. Um excelente resultado para um jogo bem difícil. Laureta e Celso fizeram os golos em cada uma das partes. No Ajax de então já brilhavam nomes como Rijkaard, Van Basten e Ronald Koeman, embora este último jogasse apenas o encontro da segunda-mão: um nulo que colocou o FCP na eliminatória seguinte, aquela célebre pelos três golos de Juary ao Barcelona. Teve azar, Cruyff, ao defrontar, logo na sua estreia europeia, tão forte adversário. Mas a qualidade já estava lá: venceria dois títulos holandeses consecutivos e ainda a Taça das Taças na época seguinte.

E foi graças a este último triunfo que o Ajax de Cruyff voltou a estar no nosso caminho. A vitória do FCP em Viena, garantiu que ambos se encontrassem para a disputa da Supertaça Europeia em 87/88.
A velha raposa Ivic levou a melhor sobre Cruyff na primeira partida em Amesterdão. Gomes a jogar a médio e a rapidez do novato Rui Barros, colocaram os dragões bem posicionados para a segunda-mão. Foi 1-0 mas podiam ter sido mais. Bergkamp era, na época, a nova estrela do Ajax.
Já poucos se recordarão, mas Cruyff já não esteve no banco, em Janeiro de 1988, quando o FCP levantou o caneco (vitória por 1-0. golo de Sousa). Uma zanga com Ton Harmsen, director do clube holandês, originou a saída do treinador a escassos dias da viagem a Portugal.

Cruyff só se ficaria a rir em 1994, já ao comando do seu "dream-team" do Barcelona.
Uma inovação, sem sentido, da UEFA, originou uma inédita meia-final a uma única mão (!). Numa noite para esquecer do nosso clube, os catalães, jogando em casa, venceram com facilidade por 3-0, num jogo que ficaria para sempre recordado como a noite em que Robson inventou Aloísio a lateral.

Pelo meio, houve ainda um particular no torneio de Amesterdão, no Verão de 1987. Terminou empatado a uma bola, mas a ironia está no mercador do nosso golo. Rui Barros já facturava contra o vencedor da Taça das Taças, dois meses antes de deixar o "mago" Cruyff e companhia a chorar na partida a sério.

3 comentários:

ega disse...

...nesse jogo do Aloísio a defesa esquerdo em Barcelona, saiu-lhe na "rifa" Stoichkov que, nos jornais, o provocou dizendo que "...gostava de jogar contra pretos...", tendo Aloísio respondido que "...não ligo a estúpidos..."

Lápis Azul e Branco disse...

Estive em Camp Nou nesse jogo e a única memória que retenho é a da imponência do estádio. Quanto a nós, tenho a impressão que nem chegamos a jogar...

Daniel Gonçalves disse...

Robson teve de "inventar" um lateral esquerdo porque o Rui Jorge não pôde jogar, e o Paulinho Santos - que jogou diversas vezes a defesa, fosse direito ou esquerdo - teve de ir para o meio-campo onde nos faltavam jogadores. Foi uma exigência da situação e do contexto, e não um capricho pessoal, que levou Robson a colocar Aloíso na lateral esquerda, se não fosse ele era o Jorge Costa ou o Fernando Couto, mas a decisão mais acertada era o brasileiro, mais rotinado no lado esquerdo embora como central.

Recordo bem os jogos da antiga Taça dos Campeões contra o Ajax de 1985/86, fomos "dominados" quer nas Antas quer em Amesterdão, com apenas cerca de 30% - se tanto - de posse de bola para o nosso lado, mas a verdade é conseguimos aquilo que os holandeses não conseguiram com tanto domínio: marcar golos.

Sem desvalorizar o excelente texto do Luís Carvalho penso também que Cruyff - enquanto treinador - não foi campeão holandês duas vezes consecutivas pelo Ajax, apenas em 1985, por isso venceu a Taça das Taças em 87, portanto não esteve presente na Taça dos Campeões Europeus.