terça-feira, 20 de junho de 2017

Voando sobre um ninho de hipócritas

Após o FC Porto, através do seu Diretor de Comunicação, ter revelado publicamente um conjunto de e-mails comprometedores para o SLB, trocados entre um ex-árbitro de 1ª categoria (Adão Mendes) e um diretor da Benfica TV (Pedro Guerra), os benfiquistas ficaram atarantados, sem saber o que fazer ou dizer.

Em termos de reações, houve de tudo. Silêncios ensurdecedores, falhas de memória seletivas, reações envergonhadas, não-reações e até confissões implícitas (do tipo “vocês fizeram parecido”).

O jornal A BOLA, após ter saído do estado de choque inicial, decidiu entrevistar um ex-árbitro. Contudo, em vez de entrevistar Adão Mendes, o ex-árbitro implicado no tráfico de influências revelado nos e-mails (e que se remeteu ao silêncio), os senhores de A BOLA entenderam que era mais relevante ir ao baú da história e entrevistar um outro ex-árbitro – Carlos Calheiros.

Assim, a edição de A BOLA do dia 10 de junho (4 dias após a divulgação pública dos primeiros e-mails), trazia uma encomenda… perdão, uma entrevista (com destaque de 1ª página!) de Carlos Calheiros, um ex-árbitro e, atualmente, pintor nas horas vagas.

Carlos Calheiros nunca chegou a árbitro internacional e apenas apitou jogos do campeonato português durante seis épocas, mas ficou famoso por, alegadamente, o FC Porto ter pago uma viagem que fez ao Brasil, em Julho de 1995.

À época, devido à pressão da comunicação social lisboeta, o caso foi exaustivamente investigado mas, após os esclarecimentos prestados pelas três partes envolvidas – Carlos Calheiros, FC Porto e agência de viagem Cosmos – foi arquivado. Contudo, o ex-árbitro de Viana de Castelo nunca mais se livrou deste ferrete e, pouco tempo depois, abandonou totalmente a arbitragem. Já lá vão 22 anos.

Volvidos todos estes anos, perante factos altamente comprometedores do presente, há que tentar desviar as atenções com episódios do passado. Mas, já que o jornal A BOLA se lembrou de fazer esta “oportuna” viagem pelo passado do futebol português, então vamos um pouco mais atrás e recordar outras famosas viagens de avião, envolvendo árbitros de futebol e um clube de… Lisboa.

Recuemos, então, a Junho de 1978…

Após ter posto fim a um jejum de 19 anos, com a conquista do campeonato de 1977/78, o FC Porto também se apurou para a final da Taça de Portugal. O outro finalista era o Sporting e, claro, a final ia realizar-se no “muito neutral” estádio de Oeiras (há 40 anos atrás, uma deslocação a Lisboa não era, propriamente, pera doce…).

Naquele tempo, o “mau da fita” ainda não era Pinto da Costa, mas sim José Maria Pedroto que, sem medo, comentava: “É tempo de acabar com a centralização de todos os poderes na capital”.

A final foi um jogo muito quente, com uma arbitragem escandalosa e ficou marcada por um penalty polémico, favorável ao Sporting, que foi convertido por Menezes. Tendo o jogo terminado empatado (1-1), foi necessário disputar-se uma finalíssima, no dia 24 de Junho de 1978, arbitrada pelo senhor Mário Luís de Santarém.

Com uma arbitragem idêntica ao que era (é!) habitual nos jogos do FC Porto em Lisboa e que validou um golo irregular à equipa leonina, o FC Porto perdeu por 1-2, provocando a natural indignação dos seus jogadores, treinador e dirigentes. No final do jogo, Seninho, o autor do golo portista, diria o seguinte: “O árbitro entregou a Taça ao Sporting”.

Finalíssima da Taça de Portugal 1977/78 (fotos: Memória Azul)

Mas o mais escandaloso estava ainda para vir. Menos de 48 horas depois dessa finalíssima, o Sporting partiu para uma digressão à China.

Ora, qual não foi o espanto, quando se constatou, que integrados na comitiva sportinguista e vestidos com um fato à medida, igual ao dos restantes elementos, iam dois... árbitros!
Dois árbitros?
Sim, o senhor Porém Luís, de Leiria e, nada mais, nada menos, que Mário Luís, o árbitro da finalíssima, que a partir daí passou a ser conhecido como o “chinês”.

Caricatura de Francisco Zambujal publicada no jornal A BOLA
alusiva a um Sporting x Belenenses da época de 1981/82

Perante o escândalo, esta situação foi devidamente “esclarecida” pelos envolvidos – Sporting e árbitros – por forma a “lavar consciências” e evitar mal entendidos...

Os árbitros Mário Luis e Porém Luis
Jogadores, dirigentes de Sporting e os dois árbitros no estádio olímpico de Pequim

Talvez por isso, não houve inquéritos da FPF, nem investigações da PJ e muitos menos punições para o clube de Lisboa e para os árbitros envolvidos, os quais continuaram a “passear a sua classe” pelos relvados portugueses.

Bons tempos, em que convidar árbitros no ativo, para integrar comitivas de um clube ao estrangeiro, não era escandaloso, nem tinha consequências nefastas nas carreiras e reputação desses árbitros.

3 comentários:

João disse...

Fantástico é também o papel da "Bola" no Domingo passado a fazer a defesa quase oficial do Benfica ao artigo do Expresso do dia anterior que demonstra que o Benfica tem um inside man na Liga e que LFV dá instruções para "dar cabo da nota".

A Bola passa ao lado das evidências graves para gastar uma página inteira a dizer que os clubes podem pedir a revisão das notas dos árbitros...

JOSE LIMA disse...

Caro amigo
Só faltou dizer que na sequência do lavar de imagem a TVI24 das sopeiras entrevistou (?) o árbitro António Rola que é o instrutor de um curso de árbitros que funciona nas instalações do clube da treta e é o "aconselhador" aos atletas da forma como devem proceder aos bloqueios e outras formas ilegais de fazerem faltas sem serem penalizados.
Abraço

miguel.ca disse...

Admiro a pachorra de quem ainda se dá ao trabalho de se indignar com o benfiquismo latente e eterno do jornal "a bola".
Sempre foi assim, sempre há de ser.