sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ser melhor

Os sócios do FCP passaram a pré-época entre a Liga, a FPF e o TAS. Aliás, admira-me, hoje, que a Cosmos não tenha organizado umas viagens à Suíça, para estarmos mais próximos dos duros embates que lá se passaram.

Recordo, muito vagamente, os estágios, os jogos, porque foram mornos e não trouxeram qualquer adrenalina acrescida aos confrontos na Suiça, pois o jogo principal continuava a jogar-se noutro campo, com os mais variados artistas, com lances de perder o fôlego. Ficamos exaustos, e nem após o último acórdão do TAS, acho que ganhámos: falta receber a "taça".

Em certa altura do processo do Apito Final, considerei que terminado o processo junto do TAS e com sentença transitada em julgado, teríamos que passar ao ataque. Tomar a iniciativa porque os ventos estavam de feição. Nada disso se passou, e sendo assim, só tenho que entender que esse jogo ainda não acabou e que ainda não foi dado xeque mate ao inimigo, que se esconde em vários rostos, instituições e lugares.

Talvez por isso, talvez porque a suspensão do nosso presidente e o seu silêncio terá sido extensivo – por moto próprio – a toda a SAD, continuamos calados e aparentemente pouco activos.


Mais uma vez, foi Jesualdo Ferreira que no lançamento do jogo de hoje, falou sobre arbitragem e deixou alguns avisos, bem metidos e melhor sustentados. Mais uma vez o nosso treinador esteve muito bem.

Estou em parte em desacordo com Miguel Sousa Tavares quando refere que "os assobios eram para Jesualdo Ferreira... ainda não digerimos mais uma derrota com o Sporting... uma vitória tão fácil desperdiçada na Luz... com o Fenerbahçe, o que o público sentiu foi que outra vitória perfeitamente ao alcance tinha passado a correr o risco de se esfumar..." ou como desperdiçámos 60 minutos para tentar ganhar ao Rio Ave, complementaria, eu.

Acho que isso é verdade, mas é a ponta do iceberg. Na alma, os problemas são sempre mais complexos. Com o FCP calado, com uma política de contratações duvidosa, com a saída de alguns personalidades da equipa, sem grande proximidade com a classe que nos dirige, resta-nos exigir que a honra seja reconquistada no terreno. É como os antigos torneios da Idade Média em que a verdade e a honra se demonstravam na força e na destreza do uso da espada.

Também sinto isso. Se falharmos no jogo, se os novos recrutas não corresponderem, o que nos resta para a defesa do nosso castelo, do nosso brio, da nossa força, da nossa razão, da superioridade da nossa organização, se não podermos provar que somos os melhores, no terreno em que se semeiam as vitórias?

E no campo a nossa superioridade anda periclitante: o treinador com dúvidas, as novas vedetas em rodagem, os golos escassos, a regularidade disfarçada do seu contrário, os defesas ora pecam a atacar ora a defender e no meio de tudo isso há uma enorme ansiedade dos adeptos, porque querem que não subsistam dúvidas: temos de ser os melhores, contra tudo e todos.


Ora, a verdade destas três últimas jornadas, mostra que o nosso cepticismo não é apenas uma mera questão de feitio a modos do velho do Restelo (ou do velho do Dragão se quiserem), e que a equipa está menos coesa e mais próxima de poder falhar. Ora, numa equipa em construção, podemos entender que ainda não se tivesse chegado ao telhado, mas que os alicerces ainda não estejam edificados é que parece estranho e menos fácil de entender.

Os sócios do FCP e os seus adeptos, apenas têm a equipa para responder às maldades que nos têm feito. Se a equipa falhar é uma espécie de “prova” para os que teimam em acusar-nos de batoteiros. Clamar com a Direcção não vale a pena. Clamar com os árbitros não se ouve. Clamar com a equipa e o técnico é a arma que nos resta. Mas, nada de abusar. Os jogadores (e os técnicos) são provavelmente os únicos aliados para a vingança a que temos direito. É uma guerra de soldados.


Os generais estão no seu repouso, à espera que a tempestade passe. Temos pressa, exigimos ser os melhores, apesar da política de "paninhos quentes" que os responsáveis, por tactismo, entenderam seguir nestes tempos conturbados.

Lutar muito e jogar bem é meio caminho para vencer. Estamos de olhos postos na equipa. Se somos duros é porque tudo depende dela e precisamos muito que seja competente. Ser melhor é a única alternativa que temos a jeito, para mostrar a verdade. Por favor não a desperdicem.

5 comentários:

José Correia disse...

«Os jogadores (e os técnicos) são provavelmente os únicos aliados para a vingança a que temos direito. É uma guerra de soldados»

Brilhante! É isso mesmo.

J Reis disse...

Caro Mário, exprimiu exactamente aquilo que me vai na alma, e na de muitos milhares de portistas como nós. Exige-se aos jogadores que este ano, tal como nos 3 anos que passaram, dêem tudo dentro do campo, o que têm e o que não têm. Só isso nos pode colocar acima dessa gentalha que desde há décadas explica a sua incompetência e inferioridade desportiva com as desculpas que todos estamos fartos de ouvir e que têm todo o eco na comunicação social orientada para 8 milhões de adeptos frustrados.

Mas continuo a achar que não é com assobios que se resolvem problemas que passam sobretudo, a meu ver, pela intranquilidade que os jogadores sentem. isso foi gritante no jogo com o Fehnerbaçe: de repente (quando sofre o golo) a equipa começou a jogar sobre brasas porque o que parecia a caminho (uma vitória fácil e robusta) deixou de ser. E claro que nestas circunstâncias, em que os jogadores se sentem inseguros e tem medo de falhar (mormente os que são novos na equipa e numa competição com a visibilidade da LC), os assobios só podiam vir piorar a situação. Não posso dizer que não compreenda que assobia, porque paga muito caro para ver um espectáculo em que se sente defraudado por quem ganha muito dinheiro e tinha obrigação de se aplicar mais a fundo. mas tanto quanto me conheço, serei incapaz de assobiar a minha equipa. Creio que no dia em que isso acontecesse ponderaria se voltaria a ir ao estádio.

Logo á noite lá estaremos, como sempre. Com mais ou menos sofrimento, a aplaudir mais ou a assobiar menos, mas lá estaremos. E não creio que vá ser nada fácil...
Um grande abraço

Nelson Carvalho disse...

Nada como uma crónica do Mário para nos renovar o espirito de Dragão e nos fazer ir logo ao estádio com esperanças redobradas.

Nuno Nunes disse...

Gostei muito deste artigo, especialmente da metáfora dos generais. É mesmo isto o que se está a passar actualmente no FC Porto. No fim tiraremos conclusões, sendo certo que não foi assim que Pinto da Costa e Pedroto tiraram o clube da penumbra.

The Turk disse...

O artigo está genial.

Esta semana o Arsenal jogou para a taça da liga inglesa com jogadores com uma média de idade inferior a 20 anos. Ganharam 6-0 a uma equipa da segunda divisão. Os golos foram marcados pelo mexicano Carlos Vela, o dinamarquês Nicklas Bendtner e o miúdo (16 anos) Jack Wilshere. A reacção da maioria das pessoas foi elogiar Wenger pela forma como uma equipa tão jovem foi capaz de banalizar o adversário. Porém nem todos pensaram assim. Michel Platini, o Hugo Chávez do futebol, lá criticou Wenger por contratar jogadores tão jovens. Provavelmente descontente por pouco tempo antes Wenger ter defendido a existência de um vídeo árbitro como no rugby, algo que é considerado um sacrilégio para Platini. Curioso, para quem é um auto proclamado grande defensor da verdade desportiva, talvez não se considerar-mos que o francês admitiu que no inicio da sua carreira desportiva lá fez uma ou duas simulações para enganar os árbitros.

Tudo isto a propósito de um artigo e do cartoon n'O Jogo de hoje. A associação de treinadores ingleses e a imprensa defenderam publicamente o treinador dos gunners.

Quando Platini, num dos seus inúmeros ataques de verborreia, criticou o facto do Porto ter sido admitido na champions, o único apoio que nós tivemos foi da Associação Europeia de Clubes. A nível nacional ninguém publicamente esteve do lado do nosso lado. Apesar de em Portugal ser muito mais evidente a caça às bruxas que foi o castigo do CD da liga, sendo que uma das duas acusações contra Pinto da Costa já ter sido arquivada (pela 2ª vez) nos tribunais a sério.

Aqui em Portugal continuamos sós, a ter de ganhar contra a equipa adversária, os árbitros, diabos que invadem o relvado impunemente. Tal como os gregos em 480AC, a nossa única esperança, contra tudo e contra todos, são os nossos soldados. Se fossemos adeptos de clubes da capital provavelmente estaríamos a recorrer a "choradinho ou pressão", para usar as palavras do nosso técnico. Mas não. Somos portistas. Acreditamos nos nossos jogadores. Estaremos lá para os ajudar.