quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Da alienação ao Panteão


Eusébio com a camisola do SLB
Eusébio da Silva Ferreira morreu no passado domingo.
Quem o pôde ver jogar ao vivo (ele deixou de jogar há cerca de 40 anos), ou viu vídeos / transmissões televisivas de jogos em que participou, diz que Eusébio era um jogador veloz, ágil, possante e de remate fácil, o que fez dele um goleador temível e o tornou conhecido como o Pantera Negra.

Vindo da filial do Sporting em Lourenço Marques (atual Maputo), Eusébio chegou a Lisboa no dia 15 de dezembro de 1960 para jogar no… SLB, onde esteve até 18 de junho de 1975.
Foi nas 15 épocas ao serviço das águias, que Eusébio atingiu a esmagadora maioria dos êxitos da sua carreira – 11 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal, 1 Taça dos Campeões Europeus (1961/62) e a presença em mais três finais da Taça dos Campeões Europeus (1962/63, 1964/65 e 1967/68). Foi ainda, por três vezes, o melhor marcador da Taça dos Campeões Europeus e sete vezes o melhor marcador do campeonato português, tendo em duas dessas ocasiões (1967/68 e 1972/73) ganho a Bota de Ouro (de melhor marcador dos campeonatos europeus).

Mas, se ao serviço do seu clube de sempre – o SLB – Eusébio conquistou inúmeros títulos e troféus individuais, sendo o maior goleador da história dos encarnados de Lisboa (638 golos em 614 partidas oficiais), o mesmo não pode ser dito da Seleção Nacional.

Eusébio estreou-se na Seleção Portuguesa de Futebol a 8 de outubro de 1961 e fez o seu 64º e último jogo a 19 de outubro de 1973, mas os sucessos alcançados com a camisola das quinas foram escassos e resumem-se ao 3º lugar no Campeonato do Mundo de 1966.

Evidentemente, um jogador sozinho não faz uma equipa, mas se há algo que ninguém pode dizer é que a geração dos anos 60 era fraca e que não havia matéria prima para fazer uma grande Seleção, bem pelo contrário. Aliás, dizê-lo seria um contrassenso, porque na década de 60 o Benfica (que era a base da Seleção) foi a cinco finais da Taça dos Campeões Europeus (ganhou duas) e o Sporting venceu uma Taça das Taças.

Haverá diferentes explicações (dependendo da visão e/ou agenda de cada um) para todos os insucessos da Seleção portuguesa em confronto com outras seleções, mas o que fica para a história é que nos 12 anos em que jogou pela “equipa de todos nós” Eusébio apenas foi a uma fase final de um Mundial, ou seja, falhou os Europeus de 1964, 1968, 1972 e os Mundiais de 1962 e 1970 (por exemplo, e em contraponto, Cristiano Ronaldo nunca falhou a presença numa grande competição internacional e já foi vice-campeão em 2004 e semifinalista em 2006 e 2012).

Independentemente das simpatias clubísticas, toda a gente reconhece que o Eusébio foi um extraordinário avançado e, tendo sido o primeiro grande futebolista africano a atingir o estrelato internacional, é também unanimemente considerado o melhor jogador português da sua geração (já é discutível se será o melhor de sempre).
Mas se Eusébio foi um enorme futebolista, o maior, o King, ou o que a comunicação social lhe quiser chamar, foi-o essencialmente com a camisola do SLB e não com a camisola da Seleção Portuguesa de Futebol. Esta é a realidade dos factos.

Dito isto, acho normais todas as homenagens que jogadores, treinadores, dirigentes e clubes adversários lhe fizeram.
E, por tudo aquilo que o Eusébio deu e ainda hoje representa para o seu clube de sempre, percebo perfeitamente as homenagens que o SLB lhe fez em vida, ou queira fazer agora, desde o anunciado recorde de um ano de luto, decretado por Luís Filipe Vieira, à intenção de transformar a zona da estátua numa espécie de mausoléu (mudar o nome do estádio é que não, porque o Eusébio pode ser um mito, mas Vieira não está disposto a abdicar dos milhões que conta encaixar com os naming rights...).

Contudo, não alinho na onda da histeria coletiva dos media da capital, à moda da Coreia do Norte, no absurdo de quererem fazer de Eusébio uma “referência” ou “herói nacional” e muito menos em descarados aproveitamentos político-desportivos.

Governo, Primeiro-Ministro e Presidente da República na missa de corpo presente

Presidente da República na missa de corpo presente

Eu, pessoalmente, defendo que Eusébio deve ir para o Panteão. Se há algum português que lá deve estar é ele
Teresa Leal Coelho, vice-presidente do PSD, 06-01-2014

[a transladação dos restos mortais de Eusébio para o Panteão Nacional] é uma exigência do povo português e não do Benfica
Luís Filipe Vieira, em entrevista à RTP no dia 06-01-2014

Exigência?! Pode ser uma exigência dos benfiquistas, dos amigos, de admiradores ou de políticos oportunistas, mas certamente que não é uma exigência do povo português.
Para que fique claro, por tudo aquilo que escrevi atrás, sou completamente contra a que sejam depositados no Panteão Nacional os restos mortais de um futebolista, por melhor que ele tenha sido, mas cujos feitos estejam (e no caso do Eusébio estão), no essencial, associados a um clube e não à Seleção Nacional ou ao país como um todo.

Aliás, a associação de Eusébio ao SLB foi sempre clara e inequívoca, mesmo após a sua morte. Por exemplo, não foi certamente por acaso que o corpo de Eusébio esteve em câmara ardente no estádio da Luz e não na sede da FPF.

Urna de Eusébio (foto: PÚBLICO / Nuno Ferreira Santos)

Como também não foi esquecido, pelos responsáveis benfiquistas, o desejo do próprio Eusébio em que a sua urna, coberta com a bandeira do SLB (e não com a bandeira de Portugal), desse uma volta de honra ao relvado do estádio do seu clube de sempre.

E, já agora, a foto seguinte, com um segurança contratado pelo SLB a retirar cachecois de outros clubes da zona da estátua do Eusébio, fala por si, sem precisar de legenda ou de comunicados de última hora com explicações mais ou menos esfarrapadas.


Quanto às comparações com a Amália Rodrigues, cuja transladação para o Panteão Nacional também me pareceu algo forçada, é bom dizer o seguinte: os sucessos da fadista não foram alcançados com a Amália a envergar a camisola de uma empresa, clube ou cidade e muito menos as alegrias que proporcionou implicaram a tristeza de uma parte dos portugueses.


P.S. Para que serve o Panteão Nacional? De acordo com a lei 28/2000, as honras do Panteão destinam-se a “perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.

Atualmente, o Panteão Nacional abriga cenotáfios (memoriais fúnebres) de grandes vultos da História de Portugal, como D. Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral e Afonso de Albuquerque, bem como, os restos mortais de alguns presidentes da República e escritores. As excepções a este perfil de personalidades são Humberto Delgado e Amália Rodrigues.

O próximo, tudo o indica, será o futebolista Eusébio da Silva Ferreira, porque há “um grande consenso nacional” e os partidos políticos (pelo menos o PS, PSD, CDS e BE) já vieram dizer que são a favor.

71 comentários:

José Rodrigues disse...

A partir do momento em q puseram lá a Amália já nem digo nada. Qualquer dia temos lá um toureiro...

Será q quando Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Oliveira, i.e. os medalhados de ouro nos J.O. também vao para lá quando morrerem (esses sim, que se distinguiram no desporto principalmente ao servico do país e não de um clube)? Nao sei porquê duvido muito...

Eu compreendo q Eusebio (ou Amalia, já agora) foram muito populares (e já agora duvido muito q Amália o fosse de forma universal, i.e. geograficamente e em diversas franjas etárias) mas na tal lei nao vejo em lado nenhum «popularidade» como criterio. E´ q se vamos por aí, qualquer dia temos lá a Nelly Furtado ou um gajo qualquer do Big Brother.

Se vamos falar em distinção na criação artística, os Madredeus por ex até mereciam até muito mais do que ela, na minha opinião. Mas para mim nem uma nem outros (nem Eusébio).

José Rodrigues disse...

Ja´ agora e falando de futebol, duvido muito por ex q um Platini ou Zidane vao para o Panteao nacional frances quando morrerem (e eles até se distinguiram principalmente ao nivel da seleccao).

De resto nao resisto a comentar o caso da Amalia, q para mim so´ demonstra como os partidos sao Lisboa-centricos. Nao tenho duvidas q para a maioria dos portugueses a Amalia diz muito, muito pouco. Dai´ a minha provocacao ao falar em toureiros...

José Correia disse...

Será q quando Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Oliveira, i.e. os medalhados de ouro nos J.O....

Pois...
Os casos do Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro são quase o oposto do Eusébio, isto é, os principais feitos e sucessos das suas carreiras foram com a camisola de Portugal e não com as camisolas dos seus clubes.

Por exemplo, no caso da Rosa Mota, nem sei se ganhou alguma coisa de significativo com a camisola do FC Foz.

José Correia disse...

Eu compreendo q Eusebio (ou Amalia, já agora) foram muito populares...

Sim, foram muito populares e "símbolos do país", particularmente no tempo do triste Portugal dos 3 F's (Fátima, Fado e Futebol).

José Correia disse...

na tal lei nao vejo em lado nenhum «popularidade» como criterio

Nem tu, nem eu.
Mas, seguindo esse critério, fico à espera que António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros por mais de 40 anos e vencedor, com 41% dos votos, do programa televisivo "Os Grandes Portugueses", seja rapidamente transladado para o Panteão.

É que a votação (os portugueses puderam votar através de telefone, via SMS ou pela Internet) abrangeu muitos milhares de pessoas e até foi auditada pela PricewaterhouseCoopers.

José Rodrigues disse...

Eu tenho uma proposta (q nunca iria a lado nenhum, mas pronto): defendo q devia haver uma moratoria de 50 anos (apos a morte do individuo) até estar «habilitado» a ser proposto para ser transladado para o Panteao Nacional.

Isto porque para mim o Panteao Nacional deve ser muito selectivo e reconhecer apenas individuos de distincao verdadeiramente excepcional ao longo da Historia do país, e a «quente» podemos ter decisões q recompensam a «moda» do momento, isto num país com 900 anos de História - por consequencia com forte risco de diluir o valor de estar no Panteao Nacional e inflacionar o numero de candidatos.

Penso q 50 anos (+- duas geracoes) já será o suficiente para estabelecer suficiente distanciamento e perspectiva historica para quem decide.

Ora se fosse o caso duvido muito q Amalia (q tera' tido uma importancia muito desproporcional para os politicos Lisboa-centricos da sua geracao e geracao seguinte) algum dia seria escolhida, e tenho muitas duvidas q Eusebio tambem o seria, para dar 2 exemplos. Mas se a minha proposta fosse aprovada e daqui a 50 anos (ou 40 e tal no caso da Amalia) com um distanciamento historico suficiente ainda houver um consenso q mereciam ir para la', ai' por mim tudo bem.

José Rodrigues disse...

Ja' agora. dou um exemplo oposto.

A meu ver quando Otelo Saraiva de Carvalho morrer, duvido q consiga haver consenso sobre a sua ida para o Panteao nacional. Isto porque nos ultimos 30 e tal anos ele criou muitos anti-corpos na Direita, e em politicos actualmente em funcoes, demasiado proximos da personagem.

Mas apesar de eu ate' nem gostar da personagem, acho q de forma distanciada e minimamente objectiva ele ate' merecia, pelo papel fundamental q teve no 25 de Abril (e ao fim de uma ditadura de quase 50 anos).

Isto apesar dele proprio até ter dito mais tarde que «se soubesse como o país iria ficar não teria feito o 25 de Abril».

Este é um exemplo em q a decisao a «quente» pode eventualmente levar a uma injustica (neste caso ao contrario). Mas parece-me mais grave os casos em q a decisao a quente é «sim» e de forma distanciada seria «nao».

Isto porque no caso de um «nao» a quente politicos futuros terao sempre a possibilidade de re-abrir a questao; já quando a decisão a quente é «sim», muito dificilmente haverá uma decisão no futuro de remover os restos mortais do Panteao mesmo q a decisao nesse futuro fosse um claro «nao».

José Rodrigues disse...

E porque não o Herman José, já agora (quando morrer, claro, antes disso é melhor não)?

.:GM:. disse...

Subscrevo o post a 100%.

José Rodrigues disse...

Só mais uma coisa: um problema fundamental (entre outros) com a tomada de decisao a quente é q é feita por pessoas q eram amigas do defunto - ou no mínimo por pressão de amigos do defunto - o q se traduz a meu ver num claro conflito de interesses (ou enviesamento, se preferirem).

Estas decisoes devem sobreviver à passagem do tempo. A questao é portanto a seguinte: será q daqui a uns meros 30 ou 40 anos (para nao dizer mais) os portugueses vao olhar para trás e concordar q Amália se distinguiu de forma excepcional em serviços prestados ao país? E quem diz Amália diz Eusébio ou outro qualquer.

DC disse...

Mas eu acho que há que separar bem Amália do Eusébio por uma razão: o fado é nosso, é português, é uma bandeira de Portugal.
Já o Eusébio é "só mais um". Se for Eusébio tem que ir o Mourinho e o Ronaldo que também ganharam muita coisa ao serviço de clubes e nada (para já) ao serviço da selecção. Se calhar até o Figo que também venceu a Champions, chegou à final do Euro, venceu a bola de ouro.

Enfim, indo Eusébio, pode ir muita mas mesmo muita gente do desporto.

José Rodrigues disse...

Amália nao inventou o fado (já agora, porque não Carlos Paredes?). Mais: o fado diz muito pouco ou nada à maioria dos portugueses, tal como por ex as touradas já nos dias de hoje, e estou certo q ainda menos daqui a uns meros 20 ou 30 anos (uma ninharia num pais com 900 anos), quando vejo a diferenca abissal de interesse entre geracoes ante- e pos-25 de Abril.

Se o fado é algo tipicamente portugues, outros estilos de musica tambem o sao (porque nao os Madredeus?). E já agora os pastéis de nata (famosos no mundo inteiro) ou a Francesinha, mas não me passa pela cabeça meter o inventor dos mesmos no Panteao nacional.

The Best Man... disse...

Palavra que não percebo sequer o fundamento desta discussão!
Sou anti hipocrisia, quer em vida, quer na morte...
Não me lixem...O verdadeiro Eusébio de "todos" os portugueses era este...

http://relvado.sapo.pt/benfica/eusebio-nao-gosto-nada-sporting

E para quem precisa de confirmação, nos jornais "deles" cá vai ela:

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/sport/benfica/eusebio-nao-gosto-do-sporting?nPagina=7

Panteão Nacional...???
É pá a sério, não brinquem comigo...

Miguel Lourenço Pereira disse...

Discordo com o excelente texto do José Correia na sua essência,

Ao contrário de alguns, entendo que o Futebol é uma das maiores expressões culturais e sociais do século XX, ao mesmo nível da criação artistica pictórica, literária e musical. Com o Cinema é a grande revolução cultural do século XX. E é normal que os seus principais interpretes sejam analisados sob um mesmo prisma social. O problema, que o Zé Correia aponta com pertinência, é que o futebol faz-se de clubes mais do que seleções nacionais. Esta na sua essência. E quando um clube se destaca sobre os demais ou um jogador/treinador/dirigente se destaca normalmente consegue-o em contra de outro grupo. Na música, literatura, arquitectura ou pintura as rivalidades também existem mas são em micro-cosmos muito menores. Não há uma rivalidade Xutos e Pontapés vs GNR como há um FC Porto vs SL Benfica.

Mesmo assim acho que já evoluimos o suficiente para entender que um espaço colectivo deve ser de todos e as figuras que lá estão o mais consensuais possíveis. E o consenso é algo muito complicado. O Zé Rodrigues já apontou bem o Otelo. Poderiamos falar do Cunhal, do Soares, do Sá Carneiro, do Delgado, do Afonso Costa, etc... todos eles são homens que polarizaram a população, nenhum foi verdadeiramente consensual. E para mim todos eles mereciam estar num Panteão.

Eu sou a favor de que o Eusébio esteja no Panteão.
É um dos máximos simbolos do que é o futebol em Portugal. Representa uma etapa dourada do jogo em Portugal, foi a figura mais popular e simbólica de um país cinzento durante décadas e na única grande performance colectiva portuguesa até 2000 assumiu-se como o simbolo. Claro que foi usado e explorado pelo Estado Novo com a sua imagem de multiculturalismo colonial. E pelo Benfica mais do que por qualquer outro clube. E que a alegria sua como jogador de clube veio à custa de nós e dos adeptos do Sporting. Mas foi um grande e merece ser tratado como tal.

Dito isso, também considero que não deve ser o único homem do futebol que esteja no Panteão. Da mesma forma que este é um espaço reservado para os heróis militares do passado, hoje já não há guerras a não ser nos relvados, onde verdadeiramente se esgrime o nacionalismo. E ao lado de Eusébio deveriam estar, por exemplo, homens como Peyroteo, José Maria Pedroto e, quando morrerem, Jorge Nuno Pinto da Costa, José Mourinho ou Cristiano Ronaldo. Figuras que popularizaram o nome de Portugal no Mundo, figuras que foram as melhores do seu tempo a nível global e que contribuiram para o desenvolvimento do país e o seu reconhecimento.

Entendo, e acho que tem critério, a ideia proposta pelo Zé Rodrigues de criar uma moratória de 50 anos (ou 30, ou 60) para determinar quem deve estar ou não. Mas tendo em conta que os méritos reais obtidos pelo Eusébio aconteceram precisamente há quase meio século - como os da Amália - acho que neste caso a moratória cumpriu-se. De certa temos duas opções. Ou mantemos a ideia de um Panteão Nacional fechado a um núcleo hiper-restricto baseado em conceitos pretéritos (reis, generais, navegadores) ou o abrimos à sociedade civil através da máxima expressão cultural que se identifica com o resto dos portugueses, a música, o cinema, a literatura, o futebol. Eu sou a favor da segunda!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Por certo, estes são os que já estão enterrados no Panteão:

- Sidónio Pais (presidente de uma pequena ditadura temporal)
- Óscar Carmona (personalidade do regime do Estado Novo)
- Manuel de Arriaga, Teófilo Braga e Humberto Delgado (heróis do republicanismo)
- Almeida Garret, João de Deus, Aquilino Ribeiro e Guerra Junqueiro, bons escritores dos quais apenas um atingiu o estatuto de lenda literária portuguesa.
- Amália Rodrigues
- Personagens históricas dos Descobrimentos e da Inclita Geração

Se Sidónio Pais e Guerra Junqueiro, por exemplo, estão enterrados no Panteão Nacional, não vejo porque o critério tem de ser tão exclusivo!

DC disse...

Aposto que mais de 50% dos portugueses não lhe sabe dizer quem são os ilustres sepultados no Panteão Nacional. Aliás aposto que 90% dos portugueses não sabe dizer uma única obra de Guerra Junqueiro ou João de Deus e 99,99% não consegue citar uma única frase dos autores. Portanto, a notoriedade junto da sociedade dos sepultados não pode, na minha opinião, ser apresentada como argumento (até porque se fosse o Eusébio ia já para lá e o Cristiano deixava já lá o "espaço CR7").
Não é por se gostar ou não do Fado que ele deixa de ser um importantíssimo elemento da nossa cultura e Amália é indubitavelmente a maior representante do mesmo.
Já o futebol não é nem nunca foi "nosso".

Portanto, considero perfeitamente compreensível que Amália esteja no Panteão tal como estão os escritores. Compreendo que seja discutível, mas é certamente muito menos do que o caso de Eusébio. Da nossa cultura como povo, quer se queira quer não, faz parte o fado. De forma exclusiva praticamente.
Já o futebol é um desporto global, de massas.

Se cada um de nós quisesse, encontrava praticamente a todos os elementos do Panteão defeitos ou argumentos para não terem sido colocados lá. Agora acho que se deve distinguir claramente estas discussões. O caso de Amália não tem nada a ver com o de Eusébio.

DC disse...

Já agora, não é a questão de inventar. Acho que não há nenhum inventor de nada no Panteão. Mas há grandes embaixadores e representantes da cultura e dos valores portugueses.

Unknown disse...

Concordo totalmente com o texto.

Vi jogar Eusébio no fim da sua carreira e inclusivamente lembro-me bem como foi maltratado pelo clube do regime. Muitos anos mais tarde, lembraram-se dele, tal como a FPF, e voltaram a aproveitar-se dele como símbolo, explorando-o até ao tutano (com viagens e aparecimentos muitas das vezes despropositados apenas para se aproveitarem do prestígio dele) dando-lhe em troca umas migalhas.

Sou totalmente contra esta histeria da nossa descomunicação social até porque, como bem lembra o texto, foi muito mais importante como figura do clube do que da selecção. Além disso, as declarações que fez (poucas, é certo) contra os rivais e aquela em que diz que não marcava livres contra o benfas com medo de marcar golo, são exemplificativas da sua vertente clubística. Além disso fez toda a sua carreira no 5LB. Tenho muito respeito por Eusébio (como tenho por todos os outros) acho que foi um grande jogador do benfas.

Acima de tudo eu vejo esta histeria colectiva da descomunicação social lisboeta como o fim do ciclo dourado da capital tal como o fizeram com a Amália (apesar de tudo, diferente, por ser apenas uma pessoa). Apesar de um símbolo do antigo regime, como é do benfas e da capital, aproveita-se (tal como Amália, lisboeta) como símbolo do país.

Desculpem, mas o Eusébio a mim diz-me muito pouco (embora o respeite como grande jogador que foi) e eu, como portista, não gosto de ninguém que foi um símbolo do benfas. E este aproveitamento por parte dos partidos só mostra a qualidade deles

Mário Faria disse...

Oh Zé, acho o artigo escorreito e educado. Mas, nestes dias não se falou de outra coisa e parece haver um unanimismo à volta do Eusébio que me arrepia.
Francamente, estou-me a marimbar se vai para o Panteão, que os líderes da AR já terão decidido, a bem da Nação. Não dou para esse peditório. O Eusébio foi um grande jogador, leal e correcto. Um adversário não é um inimigo, a pessoa não acaba no jogador e a defesa da sua memória deve ser respeitada, e para o ser de forma sensata deveria estabelecer-se no “perímetro” do clube que representou. Tal como o FCP deverá fazer relativamente aos seus heróis. Confesso : neste momento, continuo a emocionar-me mais no Espaço K. Que Deus me perdoe.

José Rodrigues disse...

Para mim o q está em questao aqui nao é o Eusébio mas sim o Panteao Nacional.

Isto para mim é apenas mais um prego no caixao (passe a chalaça...) da banalização e perda de simbolismo e autoridade do Panteao, tornando-se numa coisa cada vez menos relevante.

Outro prego anterior tinha sido a Amalia, mas nem tinha sido o primeiro: por ex, é no minimo dos minimos extremamente discutivel ter um Guerra Junqueiro mas não ter um Eça ou um Gil Vicente, quando famos de serviços prestados à pátria. E também há exemplos desse género na escolha de políticos.

José Rodrigues disse...

«Mas tendo em conta que os méritos reais obtidos pelo Eusébio aconteceram precisamente há quase meio século - como os da Amália - acho que neste caso a moratória cumpriu-se»

Nao cumpriu-se, nao senhor!

Como deixei bem explicito, a moratoria q proponho começa a contar a partir da «morte do artista» (mais outra chalaça espontânea, peço desculpa). Não a partir dos «feitos».

É demasiado cedo no caso do Eusébio. Quem decide pode facilmente ficar constrangido ou influenciado por o ter conhecido pessoalmente, ou até ser amigo, ou estar submetido a uma pressão popular histérica ou a pressão de amigos ou familiares do defunto.

E a prova disso é q muita gente (incluindo alguns com uma palavra na decisão) para o justificar até avançou com critérios q violam o q está escrito na lei: nomeadamente a fama, a notoriedade e a alegada humildade e fair play de Eusebio (como se isso fosse um servico à pátria).

E da mesma forma, quem é contra e tem uma palavra a dizer vê-se constrangido a calar-se ou refrear-se nestas alturas (i.e. aquando da morte ou pouco depois dela). Olha, A. Cunhal por exemplo tinha criado mais anti-corpos q sei lá o quê, mas quantas figuras públicas é q falaram mal dele quando morreu? Bem pelo contrário, muitos arranjaram palavras bonitas ou minimamente simpaticas de circumstancia.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Para mim - e isto é meramente pessoal - não me gera o mais absoluto anti-corpo que seja trasladado para lá quando se cumpra o ano obrigatório por lei. Também não me chocou com a Amália e acho que há outros casos que mereciam esse reconhecimento.

O que não duvido é que está a existir um evidente aproveitamente político por parte dos partidos para captar simpatias e votos!

Pedro ramos disse...

Pessoalmente nao me choca nada que Eusébio vá para o Panteao Nacional, podemos discutir quais os critérios, podemos questionar o porquê de um Eça ou um Gil Vicente nao estarem lá, mas sabemos que é a sociedade actual, a política e a CS fazem as regras muitas vezes ao sabor dos tempos.

Por muito que o Benfica e Eusébio se tentem associar um ao outro a verdade é que ele se tornou consensual e universal (dentro e fora do país) pela selecçao. Foi o mundial de 66 que o catalpultou para as grandes figuras do futebol mundial, é esse mundial que ainda o faz diferenciar. Sem ele, mesmo ganhando o que ganhou pelo seu clube, seria apenas mais um, como Torres ou Coluna, mas foi o destaque nesse mundial que o eternizou.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Zé,

Basicamente o Panteão, desde muito cedo, nunca foi um grande exemplo. A partir do momento em que se misturaram personalidades dos Descobrimentos ou o Garret com o Guerra Junqueiro, o João de Deus e o Carmona a história ficou adulterada para sempre. E não foi há pouco tempo que isso aconteceu. Acho que há mais mitologia à volta da ideia de Panteão do que realmente houve na prática!

José Lopes disse...

So um pequeno comentario a um ponto do texto: os Europeus e Mundiais no tempo do Eusebio tinham muito menos seleccoes (4 e 16, respectivamente). No caso dos Mundiais, jogaram 9 seleccoes europeias. Sei que na altura havia menos paises na Europa (antes do desmembramento da URSS, Jugoslavia e Chocoslovaquia), mas creio que mesmo assim isto ajuda a explicar parte do falhanco portugues nos apuramentos da epoca. Basta pensar nos Mundiais e Europeus recentes e vermos para quantos teriamos realmente conseguido o apuramento se o numero de seleccoes admitidas fosse tao restrito (fomos ao playoff nos tres ultimos apuramentos e ficamos em segundo atras da Polonia no apuramento para 2008).

Miguel Lourenço Pereira disse...

Excelente ponto José,

Principalmente no caso dos Europeus, que até aos anos 70 eram só meias-finais e final. Só a partir dos anos 80 nasceu o conceito das meias-finais depois de uma fase de grupos. Era muito dificil chegar lá, a maioria das grandes selecções nunca lá foram. Quanto ao Mundial, Eusébio chegou em 62 a tempo de perder com o Luxemburgo (foi o seu 1º jogo) e a Inglaterra, que ganhou o grupo (depois de um empate inaugural com os ingleses e vitória sobre os luxemburgueses). O pior foi a caminho do México 70. Demasiados riffe-raffes internos e derrotas com Suiça e Grécia. Curiosamente a quem ganhamos, a Roménia, foi quem se apurou!

José Rodrigues disse...

E´ um facto q antigamente era mais dificil apurar para as fases finais, mas isso nao invalida o outro facto de q o contributo concreto do Eusebio pela seleccao se resumiu a um 3o lugar numa fase final.

Mas numa coisa discordo do Zé e concordo com o Miguel: tb se deve ter em conta o q um jogador fez (em competicoes internacionais) ao servico do clube. Mesmo q ache q isso nao chegue para meter um Eusebio no Panteao nacional, e q se deve tambem ter em conta se foi uma pessoa divisiva para os portugueses (e Eusebio foi-o pouco) como diz o Zé.

O problema para alguns é q se se vai dar muita importância ao q foi feito no clube, então pergunto-me se até mesmo um PdC não terá prestado mais serviços ao país do q um Eusébio... já q colocou o nome do país na ribalta durante 30 anos de forma indirecta (Se Eusebio ganhou 2 tacas dos campeoes, PdC foi um grande obreiro de 2 intercontinentais, 2 TC, 2 T UEFA e 1 supertaça).

Ora da mesma forma q alguns exaltam o CV de Eusebio ao nivel de clubes, estou certo q serao os primeiros a minimizar a importancia de PdC para o pais de forma inconsistente (e já agora não, não acho q PdC deva ir para o Panteao).

José Lopes disse...

Pois, Miguel. Isso faz lembrar o apuramento para o Euro 2012 e o inicio terceiro-mundista a tentar chutar o Queiroz com resultados miseraveis dentro do campo. Mesmo assim, la nos apuramos para o playoff. Bastava o Euro ter apenas 8 seleccoes e nunca la iriamos...

Franco Baresi disse...

Há muitos anos criaram o "Panteão". Depois criaram as regras para preencher o "Panteão". E, desde logo, começaram as dificuldades para encontrar os candidatos... Pelo que toca a forçar. Alguém tem que ir para o "Panteão". Neste país não há deuses e deusas para compor o nosso panteão? (para reflectir porque vão estes)

PortoMaravilha disse...

A pa'gina "facebook" da estação de ra'dio pu'blica "france-info" apresenta um "lapso revelador" a propo'sito de Eusébio. Algo assim: "Ajudou o Benfica a ganhar 5-3 contra a Coreia do Norte".

Parece-me totalmente absurdo, para não escrever digno dum asilo mental, a propaganda em torno de Eusébio.

Vi jogar Eusébio nas Antas e vi-o lesionar, muito seriamente, o defesa central do Porto Rolando, com uma entrada por tra's.

Comparar Eusébio a Cristiano Rolando não me parece possi'vel; CR7 é muito mais que o futebol: é um feno'meno societal. Por exemplo, quando Karl Lagerfeld o caricatura no dia'rio "Libération", etc., entendemos que CR7 se tornou lenda'rio.

Eusébio é um "ilustre" desconhecido para quem não conhece um pouco da histo'ria do futebol mundial.

Apesar de tudo uma nota positiva: Algumas ficaram, assim,a saber que tinha nascido em Moçambique.

Azulantas disse...

Ia escrever um comentário, mas o Miguel diz o que penso acerca disto.

"However"... Não iria tão longe ao ponto de incluir personalidades que ainda por cá andam em qualquer lista de possíveis candidatos, nomeadamente Pinto da Costa, que se fosse parar ao Panteão, seria a maior hipocrisia perpetrada por uma sociedade.

Quero dizer ainda que percebo o ponto de vista do Zé Correia, mas a projecção que Eusébio deu ao futebol português no mundo, ainda que mais pelo Benfica do que pela seleção nacional, é algo que nem o os mais mediáticos CR7 e JM conseguirão alguma vez.

Abel Pereira disse...

"À moda da Coreia do Norte"! Há portugueses muito bem informados sobre o que se passa na Coreia do Norte e em Cuba. Antigamente era nos países de leste, na China e mais recentemente no Iraque. Agora temos a Coreia do Norte. Provavelmente daqui a uns anos iremos ver norte-coreanos a emigrar para Portugal e as multinacionais, que ainda não tenham sido transferidas de Portugal para os países de leste e para a China, a emigrar para a Coreia do Norte...
Quanto ao Panteão: tenho muita dificuldade em enquadrar a maior parte dos futebolistas noutro contexto que não seja no seu habitat natural, ou seja, nos campos de futebol.

José Correia disse...

a defesa da sua memória deve ser respeitada, e para o ser de forma sensata deveria estabelecer-se no “perímetro” do clube que representou. Tal como o FCP deverá fazer relativamente aos seus heróis

Exactamente.
E, por isso mesmo, entendo que Pedroto (ex-jogador e ex-treinador do FC Porto) deverá continuar a ser homenageado pelo FC Porto, quer seja no Museu do clube, quer no auditório do estádio que tem o seu nome, quer, eventualmente, com uma estátua, mas não deverá ir para o Panteão Nacional.

José Correia disse...

a projecção que Eusébio deu ao futebol português no mundo, ainda que mais pelo Benfica do que pela seleção nacional, é algo que nem o os mais mediáticos CR7 e JM conseguirão alguma vez

Os tempos são outros e, evidentemente, em termos de projeção mundial, o Eusébio não chega sequer aos calcanhares do Mourinho ou do Cristiano Ronaldo.
Mas, do meu ponto de vista, não é isso que está em questão.

José Correia disse...

Foi o mundial de 66 que o catalpultou para as grandes figuras do futebol mundial, é esse mundial que ainda o faz diferenciar. Sem ele, mesmo ganhando o que ganhou pelo seu clube, seria apenas mais um, como Torres ou Coluna

Isto pura e simplesmente não é verdade.

O Eusébio começou a ter projeção internacional logo num dos primeiros jogos que fez pelo SLB, num célebre Benfica x Santos disputado em Paris, que os encarnados perderam por 6-3, mas em que os 3 golos foram marcados pelo Eusébio. No dia seguinte, o L'Equipe colocou na sua primeira página o título Eusébio 3, Pelé 2.

Em 1962, novamente ao serviço do SLB, foi a grande figura da final da Taça dos Campeões Europeus contra o Real Madrid (5-3) e no final da época ficou em 2º lugar na eleição Ballon d'Or.

Em Outubro de 1963, já era uma grande estrela internacional e foi selecionado para representar a equipa da FIFA no "Golden Anniversary" do "Football Association", no estádio de Wembley.

Em 1965 foi eleito o futebolista europeu do ano, ou seja, ganhou o Ballon d'Or.

Tudo isto (e podia dar mais exemplos) se passou ANTES do Mundial de 1966, o único evento de relevo em que Eusébio teve projeção ao serviço da Seleção Portuguesa de Futebol.

Paulo Marques disse...

O Abel faz a minima ideia do que se passa na Coreia do Norte ou só acha piada ao nome?

José Correia disse...

@José Lopes e Miguel

Eu não sei se, à partida, era mais difícil ou mais fácil do que agora, o apuramento da Seleção Nacional para os Europeus de 1964, 1968 e 1972. Para isso, teríamos de analisar quais foram os adversários que Portugal teve na fase de apuramento para esses Europeus, a qualidade do lote de jogadores selecionáveis, se a Seleção era formada à base de blocos existentes nos clubes ou não, etc.

Mas vocês estão e enviesar a discussão, porque não é isso que está em questão.

Sendo mais fácil ou mais difícil, o que é certo é que o Eusébio não esteve nas fases finais desses Europeus e Mundiais e, por isso, a projeção internacional do Eusébio deveu-se, na sua esmagadora maioria, a feitos e sucessos desportivos alcançados com a camisola do SLB e não com a camisola da Seleção.

Pedro ramos disse...

Se o caro acredita que ele ainda hoje teria todo este destaque internacional e nacional sem o mundial é consigo. Se acha que é pelo facto de ter ganho uma bola de ouro que o tornou numa lenda e ainda hoje e recordado por isso, nada posso dizer. Mas isto que refiro nao é nada de especial, grande parte das lendas do futebol sao em primeiro lugar associadas à sua selecçao e só depois ao clube/clubes que representaram.

Continuo a dizer que foi o mundial que o elevou de apenas grande jogador da sua época para uma lenda intemporal.

José Lopes disse...

Jose, o meu comentario foi apenas a um ponto do texto e nao ao texto em si. Sei bem que e' uma nota lateral, mas que penso ser relevante para a discussao, porque muitas vezes leio comentarios a comparar as idas consecutivas da seleccao a fases finais desde 2000 ao que nao era conseguido ate entao. Tambem sei que e' uma discussao esteril, porque se nao se pode comparar a qualidade da seleccao portuguesa de diferentes epocas, muito menos se pode comparar a qualidade de adversarios da mesma, por exemplo a Polonia em 2007 com a Romenia em 1969...

Quanto ao ponto essencial, ha varias personalidades nao sepultadas no panteao ou nos Jeronimos que mereciam la estar, mais do que algumas que la estao. Acho que ou os criterios para ter essa distincao eram muito mais restritivos, ou entao a porta esta aberta para subjectivismos, ondas levadas pela popularidade, etc. Compreendo que se defenda que os feitos do Eusebio no Benfica tambem podem ser transportados para o pais pelo sucesso internacional que trouxeram, mas entao acho muito complicado deixar-se Pinto da Costa de fora, ou mais ainda Ronaldo. O Eusebio foi um gigante, mas o que transportou alem-fronteiras nao foi a representacao de algo exclusivamente portugues, como o caso da Amalia ou o de escritores que promovem a lingua. Seja como for, ele e' a figura maior do clube portugues mais popular, da capital, e mais representado nos decisores politicos, por isso e' claro que o clubismo vai inquinar a questao. Se um qualquer Eusebio do Porto falecesse hoje, jamais haveria a mesma onda para homenagea-lo milhoes de vezes e leva-lo para o Panteao.

Pedro Albuquerque disse...

Antes de escrever a minha opinião (que é muito perto da do autor do artigo) queria só repor uma verdade.

O Panteão Nacional é dividido entre a Igreja de Santa Engrácia em Lisboa e o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra.

Em Lisboa jazem os seguintes:
Almeida Garrett, escritor (1799-1854)
Amália Rodrigues, fadista (1920-1999)
Aquilino Ribeiro, escritor (1885-1963)
Guerra Junqueiro, escritor (1850-1923)
Humberto Delgado, opositor ao Estado Novo (1906-1965)
João de Deus, escritor (1830-1896)
Sophia de Mello Breyner, escritora (1919-2004)
Manuel de Arriaga, presidente da República (1840-1917)
Óscar Carmona, presidente da República (1869-1951)
Sidónio Pais, presidente da República (1872-1918)
Teófilo Braga, presidente da República (1843-1924)

Em Coimbra estão:
- D. Afonso Henriques
- D. Sancho I

Como podemos ver Portugal homenageia, ditadores e símbolos do Estado como homenageia contra quem ele lutou e soldados que lutaram contra o absolutismo como o escritor Almeida Garrett.

Disto isto, preocupa-me mais que se queira lá colocar mais um símbolo do Estado Novo e que apelidou Salazar de Padrinho do que retirar Sidónio Pais ou Óscar Carmona, esses sim Ditadores e sujeito a adoração do povo português.

Retirem dali Humberto Delgado, Almeida Garrett e D Afonso Henriques e coloquem-nos junto a Luis de Camões, Vasco da Gama, D Manuel I, Alexandre Herculano, Fernando Pessoa e D. Sebastião nos Jerónimos e teremos o verdadeiro Panteão Nacional.

Como se pode perceber sou contra a ideia de transferir Eusébio para o Panteão Nacional mas se optassem pela minha ideia não estaria contra, ao menos teria muitos símbolos do Estado Novo para quem quisesse ver e com a designação do Museu dos Símbolos do Estado Novo.

Bluesky disse...

Eusébio no Panteão (ao lado da Amália) é a consagração democrática do Estado Novo...
Tal como muitos vieram dizer que o holocausto judeu no nazismo era uma mentira, o centralismo lisboeta não se envregonha de ter esquerdistas mais direitistas que Salazar que, estou em crer, se fosse vivo não permitiria tamanha banalidade....

Pedro ramos disse...

Volta a dizer a diferença entre ter sido um grande jogador do seu tempo e ter-se tornado intemporal foi o mundial que realizou. Ballon d´Or? Sabe que Puskas nunca a ganhou, mas estao lá nomes como Omar Sívori, Josef Masopust, Flórián Albert ou Allan Simonsen tudo nomes que dizem imenso ao adepto comum, certo?
Existem muitas lendas que sao associados de forma muito forte a mundiais isso nao é nada de especial, sao momentos que eternizam certos jogadores e os projectam para além do seu tempo, e nesse aspecto os mundiais conseguem ter uma projecçao e uma força que nenhuma competiçao de clubes consegue alcançar.

PS. nao sei se o anterior comentário entrou, por isso reformulei este. Pode apagar um caso entrem os dois. Obrigado.

Abel Pereira disse...

Não sei o que passa na Correia do Norte, mas presumo que os restantes países da Ásia serão exemplares, assim como presumo que à excepção de Cuba, os países das Américas são exemplares. Sobre o Iraque também havia quem estivesse seguro, como parecem estar seguros certos portugueses agora sobre a Correia do Norte, da existência dos motivos que levaram à invasão e ocupação dum país soberano. Afinal os motivos revelaram-se falsos...

Pedro Albuquerque disse...

E já agora porque não Salgueiro Maia?

Pedro Albuquerque disse...

Permitem-me discordar.
Estive recentemente no Qatar (Junho de 2013) e sempre que me perguntavam a minha nacionalidade e eu dizia que era Português, nem uma vez me falaram do Eusébio, mas sim do Figo ou do Ronaldo.

Cochise disse...

Vou lançar uma petição para enviar para o Panteão as lontras do Oceanário (Eusébio e Amália). Eram tão fofinhas. Opinião unânime dos portugueses.

O Urso disse...

A decisao de colocar o Eusebio no Panteao nao deve ser tomada a quente, obvio, nem tao perto da sua morte, obviamente. FACTO, todos estao a falar nisso, a favor ou contra, TODOS.
Este texto e uma parvoice quase tao tendenciosa como quem quer ver o Eusebio no Panteao Nacional. Talvez seja inveja porque nunca nenhum dos aqui escrevendo vao ter a dimensao de uma pessoa que levantou Portugal de um cinzentismo de uma epoca que todos recordam com tristeza excepto quando se fala no EUSEBIO Nao ha paciencia"

RFM disse...

O lugar dos mortos é no cemitério.Ponto Final.
Por acaso a ida para o Panteão foi desejo de Eusébio?
Valha-me Deus...

José Rodrigues disse...

Muito bem visto.

Nem sabia de Sidonio Pais e Carmona. O Panteão é uma palhaçada e um caso perdido: metam lá o Croquete e Batatinha, who cares.

Eduardo Oliveira disse...

mas por que raio é que aplaudiram o Cavaqueira?

Pedro Albuquerque disse...

Foi o Eusébio que levantou Portugal do cinzentismo? E eu pensava que tinham sido os Capitães de Abril.

Cochise disse...

Inveja de não ir para o Panteão? Eu quero é ir para o céu...

Soren disse...

Parabéns José Correia por escrever um texto que suscita tanta discussao.
De facto as televisoes estao de rastos - o Cavaco ia ser agredido e teve de interromper uma entrevista ao sair da missa e fugir escoltado pela "guarda presidencial" para a viatura. Nao foi aplaudido, foi insultado e muito mais aconteceria nao tivesse fugido escoltado. Mais uma mentira em directo de uma televisao sem pudor, nem vergonha.

O panteao nacional é um exemplo cabal do nacional-parolismo. Lá "dormem" figuras que protegeram com os seus escritos as familias que ainda hoje mandam no pais e gente como Humberto Delgado que foi um homem que lutou pela liberdade. Vasco da Gama, Camoes e Pessoa, todos jazem nos Jerónimos por exemplo. Infante Dom Henrique e D. Joao II as duas grandes figuras da historia de Portugal juntamente com Afonso Henriques, jazem noutros locais também (por muito memorial funebre que se queira lá colocar, nao fazem parte do Panteao).
A discussao em torno de Eusébio e do Panteao é parola e serve agora para as forças politicas marcarem posiçao no seio do povo ignorante. Para o ano há eleiçoes (o povo nao tem coragem de fazer cair este governo. E os militares, uns nao estao interessados nisso e outros acreditam que o facto de estarmos na Europa inviabiliza uma intervençao da sua parte sem efeitos muito nefastos para a economia do pais).
No meio de todo este circo, a comunicaçao social vai fazendo render o peixe e protegendo os patroes das reacçoes a noticias verdadeiramente importantes.
Quanto a Eusébio, é evidente que foi o mundial de 66 que o imortalizou, é evidente que foi explorado pelo Estado Novo como figura conciliadora da estrutura do Portugal colonial, é evidente que foi tratado como lixo pelo Benfica e que agora depois de morto continua a ver desde o seu tumulo a sua imagem explorada.
Ao Porto cabe respeitar a sua memória como um jogador imortal de uma qualidade transcendente, como um homem de grande fair-play e humildade.
O silencio do Porto é a melhor forma, esta semana, de respeitar com elevaçao, o homem que faleceu e a sua familia.
Agora o que nos interessa é saber quao marrao é o nosso treinador e como nos vamos apresentar no Domingo perante um ambiente artificial carregado de nacional parolismo, laivos de fascismo e saudosismo bacoco.
Se o Porto ganhar será o ultimo prego no caixao a fechar de vez uma era que já acabou há muitos anos, mas que sobrevevia na memória de muitos na figura viva de Eusébio.
Desengane-se quem pensa que há 2 dias Eusébio foi o unico que foi a enterrar.
Ronado até pode ser melhor que Eusébio, mas a situaçao politica e o timing e o local das vitorias é que faz os mitos no futebol. Pelo simples facto de que o futebol nao é um desporto.

Soren disse...

O Saramago (sim, esse homem que por acaso foi prémio nobel... e "exilado" pela besta que é hoje Presidente da Republica), já está no Panteao Nacional? Ou também fica, como os outros verdadeiros grandes portugueses, de fora desse edificio de tumulos decrépitos?

meirelesportuense disse...

Não me repugna completamente a ideia, mas considero que Eusébio deve ser o herói do Benfica e ponto.
Até porque Eusébio pertence à memória de uma geração que está a chegar ao fim e que viveu desportivamente uma idade repleta de antagonismos.
Nem percebo porque Sidónio lá está no Panteão...Apenas me sugere serem figuras dos diversos Regimes que lá conseguem lugar, Sidónio é um Salazar militarizado que governou um ano e foi abatido a tiro por ser um tirano.
-Marechal Carmona?...
-Fernando Pessoa, Camões, Vasco da Gama, Infante D.Henrique, D.Afonso Henriques, D.Nuno Álvares Pereira, absolutamente correcto.
Faltam lá o Português anónimo que "defenestrou" o Miguel de Vasconcelos em 1640 e o Capitão Salgueiro Maia.

Luís Vieira disse...

A ida do Eusébio para o Panteão "tanto se me dá como se me deu". Faltam lá tantos nomes vultosos (e constam alguns duvidosos) que é difícil atribuir grande credibilidade ao monumento. A escolha deveria ser mais criteriosa e, concordando com o que foi dito, feita com algum distanciamento temporal relativamente à morte do "candidato". Não me escandaliza que um desportista se junte aos insignes falecidos; trata-se de uma forma de criação artística tão nobre como a literatura, a música, a pintura, o cinema, entre outras. Por outro lado, um político não é mais nobre que um jogador de futebol. O que se trata aqui é de aferir o contributo que o destacado português deu para a elevação da portugalidade, a ponto de poder figurar num túmulo privilegiado. O grau de exigência resultará num maior ou menor número de inclusões. Tendo em conta os nomes aqui transcritos, conclui-se que a exigência está nivelada por baixo, pelo que a lista dos ínclitos defuntos constantes no Panteão deveria ser mais alargada, não se compreendendo muito bem a esquizofrenia patente na selecção. Posto isto, face ao panorama descrito, a inclusão do Eusébio não é, de todo, escandalosa e acaba por ser natural. Quer se queira, quer não, o homem atingiu uma notoriedade impressionante, confirmada pelos últimos acontecimentos. Segundo consta, quem viajava naqueles anos, ao ser identificado como português, era logo confrontado com o nome do Pantera Negra. Reitero: como português, não como benfiquista. É evidente que para nós, portistas, é difícil ver tamanho reconhecimento num jogador do arqui-rival, principalmente no seu maior símbolo. Mas o facto é que o Eusébio foi a maior figura nacional durante largos anos, a par, eventualmente, da Amália, levando o nome de Portugal aos 4 cantos do mundo. E fê-lo enquanto português e não enquanto benfiquista (a este propósito refira-se que as manchetes internacionais noticiaram a morte do "português Eusébio" e não do "benfiquista Eusébio"). Neste particular, estou de acordo com o que foi dito em cima: a sua prestação no Mundial de 1966 elevou-o ao estatuto de lenda. Foi o melhor marcador, o melhor jogador e alavancou uma selecção estreante em Mundiais para uma prestação extraordinária, alcançando a melhor classificação de sempre na prova (não obstante os Figos e os Ronaldos deste mundo). Assim se consolidou um mito. Creio que apenas faltará isso ao Ronaldo para atingir o mesmo estatuto, constituindo o Mundial do Brasil uma belíssima oportunidade, quiçá superando o Eusébio (imitando o Maradona em 1986). Por isso, não estou de acordo com o autor do texto quando nega a dimensão "portuguesa-internacional" do Eusébio: para além dos feitos em 66, foi bola de ouro, bi-bota de ouro, 3 vezes melhor marcador da Liga dos Campeões, jogador com a melhor média de golos da selecção, maior goleador português de sempre (não da selecção, como sabido, mas em termos gerais), top-10 dos melhores jogadores de sempre para várias instituições (IFFHS, World Soccer, UEFA, Placar), BBC Overseas Sports Personality of the Year 1966, entre outras distinções. É possível negar a associação destas conquistas a Portugal? Se fosse um jogador do Porto a fazê-lo seríamos tão zelosos a diminuí-lo à sua condição de mero portista? O Ronaldo é apenas estandarte do Real Madrid ou os seus feitos com a camisola "blanca" também têm grande repercussão nacional?

José Correia disse...

não estou de acordo com o autor do texto quando nega a dimensão "portuguesa-internacional" do Eusébio

É melhor reler o artigo, para não deturpar aquilo que eu escrevi.

Ninguém nega a dimensão internacional do Eusébio ao longo da sua carreira, nem o relevo que teve no Mundial de 1966, mas ANTES desse Mundial já Eusébio era uma grande figura do futebol internacional, devido a feitos e conquistas alcançados com a camisola do SLB (e não da Seleção).

Foi assim em 1961, num célebre jogo contra os brasileiros do Santos (na altura considerada a melhor equipa do Mundo) disputado em Paris, no primeiro confronto com Pelé, e onde, apesar da derrota do Benfica por 3-6, Eusébio foi manchete de um dos maiores jornais desportivos europeus (L'Equipe).

Foi assim em 1962, na final da TCE contra os espanhois do Real Madrid, disputada em Amesterdão, que o Benfica ganhou por 5-3 e onde a célebre imagem de Eusébio aos ombros dos adeptos (a segurar a camisola de Di Stéfano dentro dos calções) percorreu o Mundo.

Foi assim em 1963, na final da TCE contra os italianos do AC Milan, disputada em Wembley, em que o Eusébio era a principal estrela da equipa, mas que o Benfica (na altura bi-campeão europeu) perdeu por 1-2.

Enfim, não faltam exemplos de destaques e distinções internacionais do Eusébio ANTES do Mundial de 1966, mas a envergar a camisola do SLB.

Aliás, a projeção internacional do Eusébio era tal que, em 1964 (dois anos ANTES do Mundial de 1996), num tempo em que as transferências internacionais eram poucas, a Juventus cometeu a loucura de lhe oferecer 16000 contos, numa altura em que o Eusébio ganhava 300 contos no Benfica.

Portanto, a ideia de que o Eusébio só passou a ser conhecido internacionalmente após o Mundial de 1966 é pura e simplesmente falsa.

José Rodrigues disse...

"a projecção que Eusébio deu ao futebol português no mundo, ainda que mais pelo Benfica do que pela seleção nacional, é algo que nem o os mais mediáticos CR7 e JM conseguirão alguma vez"

Isso so' pode ser piada.

Estou farto de viajar pelo mundo fora nos ultimos 20 anos e quando ficavam a saber q era portugues falavam-me espontaneamente e de forma sistematica no Figo, e na ultima decada no Mourinho e acima de tudo Ronaldo. Nem uma vez me falaram no Eusebio. E ao longo dos anos cada vez mais comecei a ver estrangeiros com camisolas de Portugal, mas com um Figo ou Ronaldo nas costas. Camisolas q facilmente se encontra 'a venda em qualquer feira em Banguecoque, Marraquexe ou Istambul.

O Eusebio deixou a sua marca sim senhor numa geracao (pelo menos nos aficionados de futebol), mas numa geracao q corresponde hoje a uns 5% da populacao mundial. Para as geracoes mais jovens (fora de Portugal) Eusebio quanto muito e' uma nocao vaga de um bom jogador de tempos idos, assim como Just Fontaine (ele q tem o recorde de golos marcados num Mundial, em 58) para os portugueses - mesmo para os mais velhos. No maximo, repito; isso para quem segue a Historia do futebol de perto, ja' para a esmagadora maioria e' um perfeito desconhecido (tal como o Just Fontaine).

Deixo um exemplo sintomatico: fiquei ontem a saber q o treinador de futebol do meu filho nao tinha sequer ouvido falar do Eusebio.

Um treinador de futebol. Na Belgica (nao numa China). Ainda por cima de origem africana.

José Rodrigues disse...

Só mais um dado para reflexão, só para ilustrar como os anos 60 são muito longínquos para a esmagadora maioria da população mundial, sendo portanto natural q o nome de Eusebio nao diga absolutamente nada a um estrangeiro tipico...

O mundial de 66 dista tanto dos nossos dias como a 1a guerra mundial dista desse campeonato do mundo em Inglaterra.

Pedir hoje em dia a um estrangeiro tipico (´medio´) q saiba quem foi Eusebio é como pedir a um portugues em 1966 q saiba quem era, sei lá, o presidente frances aquando da 1a guerra mundial.

Isso nao invalida, naturamente, q a morte de Eusebio tenha feito eco na imprensa estrangeira, da mesma forma q a morte de Just Fontaine (q ainda é vivo) irá fazer eco na imprensa fora de França.

José Rodrigues disse...

Claro q Eusebio ja´ era bem conhecido no mundo do futebol antes de 66.

Mas tb é verdade q foi o mundial de 66 q cimentou & prolongou a sua fama de forma duradoura. Só para dar um pequeno exemplo: se nao fosse esse mundial podemos estar certos q nao teria agora um minuto de silencio em Inglaterra. Há q admiti-lo.

Alias, nao há NENHUM jogador dos anos 50 ou 60 q tenha criado uma fama duradoura q nao brilhado numa fase final do campeonato do mundo ou do Euro, por muito conhecido q fosse na altura.

DC disse...

Recomendo o artigo do Daniel Oliveira hoje no Expresso sobre este tema. Concordo absolutamente com a visão dele.

Paulo Marques disse...

! Mas o facto é que o Eusébio foi a maior figura nacional durante largos anos, a par, eventualmente, da Amália, levando o nome de Portugal aos 4 cantos do mundo."

Está-se a esquecer de um, se é esse o critério. O Salazar também foi uma "grande" figura nacional que levou o nome de Portugal lá fora.

Unknown disse...

Honra seja feita antes de todos eles, ao maior vulto do século XX. Aristides de Sousa Mendes.

Aristides de Sousa Mendes dignificou e elevou a condição humana; foi um homem e um português justo e bom, que teve a coragem de se erguer conta a injustiça dos homens, salvando milhares de vidas e tendo pago um preço elevado por isso. É hoje uma referência moral e cívica para Portugal e para o mundo.

Luís Vieira disse...

José Correia, não se trata de deturpar o escrito, mas de inferir atendendo ao sentido da opinião. E a sua resposta ao meu comentário reafirma a sua negação, ainda que parcial, da dimensão "portuguesa-internacional" do Eusébio, preferindo reduzi-lo a uma dimensão "benfiquista-internacional". Não precisa de escrever repetidamente "antes" em "caps lock" para me convencer da notoriedade do Eusébio pré-Mundial 66, porque estou de acordo consigo, contudo (e é nisto que reside a nossa diferença de opinião), entendo que essa projecção, embora atingida com a camisola do Benfica, teve efeitos benéficos do ponto de vista nacional, da tal portugalidade que referi. Verdades de La Palisse: o Benfica é um clube português e o Eusébio era igualmente português. Deste modo, as conquistas que obtiveram prestigiaram o país. O mesmo se passa com o Mourinho, o Baía e restante Porto de 2004, por exemplo, não sejamos hipócritas. É evidente que esta análise é estritamente racional, porque enquanto portista ferrenho custa-me encaixar o sucesso internacional dos vermelhos, mas é assim que as coisas se passam. Daí que repita as questões que fiz no final do anterior comentário.

José Rodrigues, acho que essa é a pedra de toque que permite diferenciar os extraordinários jogadores das lendas do futebol: ser a estrela da companhia de uma selecção com grandes prestações em fases finais. Foi assim com Pelé, Bobby Charlton, Beckenbauer, Cruyff, Maradona, Romário, Zidane, Ronaldo, só para citar os mais evidentes.

Nightwish, esse não é critério para coisa alguma, é apenas um facto. Em todo o caso, a Amália era fadista e o Eusébio futebolista, por isso a "publicidade" era boa. Já o Salazar era um ditador, portanto estamos conversados.

José Correia disse...

nao há NENHUM jogador dos anos 50 ou 60 q tenha criado uma fama duradoura q nao brilhado numa fase final do campeonato do mundo ou do Euro, por muito conhecido q fosse na altura

NENHUM?
Zé, conheces um tal de Alfredo Di Stéfano?
Entre outros clubes, jogou no Real Madrid entre 1953 e 1964.
Pois bem, se não estou em erro, nunca participou na fase final de um Mundial ou Europeu.

José Correia disse...

«Di Stéfano is best known for his time at Real Madrid where he was an integral part of one of the most successful teams of all time.
He scored 216 league goals in 262 games for Real, striking up a fearsome partnership with Ferenc Puskás.
Di Stéfano's 49 goals in 58 matches was for decades the all-time highest tally in the European Cup.
Di Stéfano scored in five consecutive European Cup finals for Real Madrid between 1956 and 1960, including a hat-trick in the latter.
Perhaps the highlight of his time with the club was their 7–3 victory over Eintracht Frankfurt in the 1960 European Cup Final at Hampden Park, a game many consider to be the finest exhibition of club football ever witnessed in Europe.»
in wikipedia

José Correia disse...

Há pessoas que nem sabem que Di Stéfano nasceu na Argentina.
E porquê?
Porque a projeção internacional de Di Stéfano está associada ao que ele fez num clube e não ao que fez na seleção.
Aliás, Di Stéfano jogou por três seleções - 6 jogos pela Argentina, 4 pela Colômbia e 31 pela Espanha.

José Correia disse...

Há um outro jogador, George Best, também ele contemporâneo de Eusébio, cuja enorme projeção internacional está também associada, praticamente em exclusivo, ao que fez ao serviço de um clube e não em jogos pela respectiva Seleção.

Nascido em Belfast, George Best jogou no Manchester United entre 1963 e 1974 e nunca disputou uma fase final de um Europeu ou Mundial pela sua Seleção (a Irlanda do Norte).

Unknown disse...

Avaliar os feitos do Eusébio apenas como importantes para o universo benfiquista, julgo ser algo de uma profunda ignorância e incapacidade de ver para além de preferências clubísticas, e talvez até de algum elitismo sem sentido.

Hoje em dia, olhar para os feitos de Eusébio é algo natural...podemos compará-lo com o Ronaldo, ou Figo, ou Rui Costa, e dizer isto e aquilo, quem ganhou mais, se ele hoje em dia seria o mesmo jogador, e toda essa lenga-lenga. Mas a importância de Eusébio transmite-se ao símbolo que ele representou para todo um povo. É preciso relembrar que Eusébio surgiu durante um regime fascista, quando Portugal foi expulsa do conselho da ONU, quando eramos vistos como um povo racista, estúpido e sem q ualidade; estavamos abandonados no mundo, quase como a Coreia do Norte, e onde uma das frases mais importantes era "orgulhosamente sós"...eu não era vivo nessa altura, ainda sou demasiado novo para tal, mas essa expressão "orgulhosamente sós" revela para a mim depressão de um povo, preso nos limites das suas fronteiras. Vejam como o povo português era visto nessa altura, vejam em filmes, alguns até recentes como o Love Actually, em que somos vistos como um povo de barracas, pouco inteligente.

Mas eis surgiu Eusébio e a equipe do SLB dos anos 60, que muita glória trouxe a Portugal. Deixámos de ser um país ignorado e sem interesse, para passarmos a ter uma das maiores figuras do futebol internacional de sempre, alguém que até os ingleses, que nos viam como ignorantes e estúpidos, começaram a respeitar-nos. Não respeitavam porque tínhamos bons políticos, ou porque nossa atitude perante o mundo tinha mudado, mas sim porque do nosso país tinha surgido alguém que era um ídolo para além de fronteiras.

O Eusébio trouxe a um povo que tinha emigrado a fugir da ditadora, que se encontrava em terras estranhas e hóstis, a fazer trabalhos que mais ninguém queria, algum sentimento de orgulho nacional, alguma coisa para podermos olhar nos olhos de outros e dizer "eu também sou português!". Esta não é uma sensação que possa ser avaliada hoje em dia...podemos queixar-nos que o actual governo é um porcaria, que a globalização fez isto e aquilo, mas em nenhum momento nos sentimos sozinhos e abandonados, temos milhares de figuras importantes lá fora a carregar a bandeira de Portugal...mas nos anos 60, era o Eusébio sozinho.

Portanto os feitos de Eusébio podem ter sido feitos ao serviço do SLB, mas foram feitos que contribuíram para uma nação inteira. Ainda hoje Portugal tem um acréscimo de reputação à conta de sua existência e feitos. E não esquecer que antigamente, ir à competições internacionais era muito mais díficil, o Europeu só tinha 8equipes e o Mundial 16, em que se tinham que fazer viagens longas e custosas para se ir jogar contra jogadores sem informações sobre quem são ou como jogam, em que havia falta de profissionalismo em Portugal e tantas outras coisas que as vedetas de hoje nunca tiveram problemas...mais depressa critico o facto de que a super equipe de hoje com grupos onde já tem superioridade sobre maior parte das equipes, vê-se forçada a discutir playoffs...na altura, Hungrias, Polónias, Bélgicas e outros assim, eram colossos, com jogadores do mais alto nível.

Concluíndo, muito fez o Eusébio pelo nome de Portugal. Se fez o suficiente para ir para o Panteão? Eu acho que sim, fez mais do que muitas outras figuras que são homenageadas, inclusive muitos dos quais já estão no Panteão...será que outros mereciam mais? Isso é uma questão para levarem à assembleia da Républica, visto que não existe um critério uniforme, escrito em pedra, sobre quem vai ou não para o Panteão...o Fernando Pessoa, maior escritor de língua portuguesa, está nos Jerónimos, e ninguém critica isso. Acho mais importante que sejam relembrados pelos seus feitos em vida, do que onde seus restos mortais são depositados.

meirelesportuense disse...

Pois é verdade meu caro Carlos, mas pessoas como Aristides de Sousa Mendes não são muito conhecidos, nem populares, nem exaltam os nossos sentimentos mais primitivos...
-Já por exemplo, o Geraldo Geraldes Sem Pavor tinha cá uma espadeirada, que de cada vez que era brandida a preceito, dizimava dez ou vinte escurinhos por movimento pendular...Um espécime no Portugal Medieval do actual e celebérrimo Silvester Stalone ou do próprio Chuck Norris.
Outro que tem lugar garantido no Panteão é o "Maneta" que foi em tempos idos, o homem mais rico de Portugal...

Anónimo disse...

Eu apesar de discordar do Miguel Lourenço Pereira, concordo com ele no critério. Se se deixa entrar no Panteão homens que pouco ou nada fizeram, só e apenas só por motivos ideológicos, ou porque estão próximos de nós temporalmente, então personalidades como o Eusébio e a Amália também devem entrar. Como disse o Miguel, o Futebol é uma manifestação cultural muito importante no nosso século e na nossa cultura. Mas também podem existir outras manifestações, que pese embora possam não ser, a nível de audiência ou no âmbito social, tão importantes, são, potencialmente, esteticamente mais valiosas, por exemplo. Se o critério é aquele que se tem visto até agora, então o António de Oliveira Salazar deve, obrigatoriamente, estar no Panteão. O mesmo para o Cunhal, e para tantos outros.
Agora, na minha opinião, o critério deve ser bem mais restrito, e julgado pela contribuição que dá, na história, à boa ventura do país e à identidade nacional. Se daqui a duzentos ou trezentos anos o Eusébio tiver a importância que tem hoje, ou se tiver moldado definitivamente (se bem que isso é impossível) a mundividência do povo português, acho que sim, deverá entrar para o Panteão. Parece, acima de tudo, que a República gosta de imortalizar símbolos que são pouco importantes na história quando comparados com outros.
Corrijam-me se estiver errado, mas o Príncipe Perfeito não está no Panteão, pois não?...
Cumprimentos