sexta-feira, 17 de março de 2017

A "onda" Azul e Branca

Durante anos tivemos de levar com a triste evidência de que o Benfica era capaz de viajar por algumas zonas do país e encher estádios de clubes modestos com os seus adeptos locais, um triste reflexo da falta de apego ao clube local que grassa em Portugal e também da teia de relações entre clubes que preferiam agradar aos dirigentes lá de baixo do que fazer do seu estádio uma panela de pressão para sacar pontos importantes. Nesse periodo também vimos, demasiadas vezes, como na serie de quase uma dezena de jogos fora disputados num raio de 100 kms de casa, poucas vezes conseguiamos reproduzir a mesma cena com adeptos portistas mobilizados para jogar "em casa" nas deslocações fora da equipa. Uma tendência que tem vindo a mudar. 2016 está a ser, também, o ano da onda azul e branca.

Os adeptos do FC Porto sentiram algo especial este ano e parecem reconectar-se com a equipa.
Apesar dos assumidos erros de gestão da SAD - o último e mais sério foi, sem dúvida, o "caso Depoitre" e a consequente saída de Antero - e de que o plantel no início do ano não parecia perspectivar um grande futuro, a dinâmica positiva tem sabido reconectar os adeptos e sócios com a equipa. O mérito desse trabalho deve ser distribuido entre Nuno - apesar das polémicas conferências de imprensa tem sabido manter um discurso sério, positivo e que gera empatia, ao contrário do que passou sempre com os seus antecessores - os jogadores, que deixam cada vez mais evidente que deixam tudo em campo (e é impressionante ver como jogadores como Danilo, Marcano, Felipe ou Iker assumem em cada gesto esse ADN á Porto que também vemos em André André, André Silva, Ruben Neves ou, sim, Herrera) e claro, uma mudança de postura da SAD. Este ano voltou-se - ainda que pouco para o que merecem - a criticar-se as arbitragens sem medos, seja através do DD seja em pontuais declarações presidenciais. O Director Desportivo, Luis Gonçalves - agora um homem do futebol e não um carreirista interno da SAD que chegou a auto-proclamar que era solicitado por meia Europa como futurivel CEO - trabalha em silêncio e não há ruido interno. Todos têm remado sempre na mesma direcção. Não há milagres (basta ver o Relatorio de Contas, entender que a sombra Alexandre segue aí, ...) mas sim houve um ligeiro despertar que aos adeptos soube a mel.



E claro, no meio de tudo isto, está a dinâmica da equipa. Depois do sufocante golo de Rui Pedro contra o Braga e o soltar de adrenalina que gerou, a dinâmica colectiva tem sido tremenda. Nove vitórias seguidas, jogos com goleadas que há muito não se viam, uma mudança táctica do 4-3-3 para o 4-4-2 que potenciou o jogo ofensivo ao tempo que não peliscou a brutal eficácia defensiva que NES montou desde o Verão e a sensação de que o Benfica nunca foi tão frágil (o Sporting colocou-se cedo fora de corrida) tem criado uma nova empatia e muitos dos jogos fora do Dragão (porque o forte que NES pedia tem sido visivel a cada quinzena) têm contado com uma excelente mobilização dos adeptos. Sinal mais para os SD que não têm faltado á chamada e cujo o apoio tem sido muito mais sentido e importante que nos últimos dois anos mas também para muitos portistas anónimos que têm sentido a crença de que este ano pode invertir um ciclo negativo histórico.

A "onda azul e branca" - que também se fez sentir na recepção da comitiva no regresso de Turim, para manter o cordão de união depois de uma esperada derrota europeia que não deve desenfocar do objectivo principal - sobretudo visível nesses jogos fora de casa é uma forma mais de transmitir todas as sensações positivas que se têm gerado á volta desta equipa, perfeitamente representada por jogadores como Marcano, Danilo ou Soares.
A raça, a luta, a omnipresença e a humildade como requisitos históricos do que sempre foi "jogar á Porto", com raça, atitude e deixando tudo sobre o campo. Há, futebolisticamente, sempre muito por trabalhar (o jogo das alas tem sido um problema sobretudo a nível defensivo e falta um acompanhante á altura de Oliver em muitas ocasiões) mas a nivel animico e emocional este FC Porto, partindo de uma base pior, parece ser uma equipa muito mais compacta, sólida e ambiciosa do que os projectos anteriores. Muitos dos jogadores principais, quando tiveram uma baixa de forma, foram sempre bem substituidos em rendimentos por colegas. De um excelente arranque de Otávio tivemos o renascimento de Brahimi. Do trabalho de Herrera sucedeu-se o dinamismo de André André. Quando André Silva, com total naturalidade, baixou o seu ratio de golos surgiu do nada - graças a Deco e a Pinto da Costa - Soares para manter o pulmão activo.



Inspirados pelo mais do que merecido triunfo em casa contra o Sporting, a "onda azul" começou a fazer-se sentir e também graças ao apoio brindado pela direcção do clube que está positivamente determinada em não deixar este apoio morrer.
Em Arouca (4 mil adeptos), no Bessa (10 mil adeptos, um terço do estádio, com quase nove mil a serem adquiridos pelo clube a preço de público geral e depois revendidos a portistas a valor mais baixo num gesto excelente por parte da SAD) e em Guimarães (cerca de 5 mil adeptos), três complicadas deslocações fora nos últimos meses, a mobilização dos adeptos foi vísivel e fez-se ver e ouvir constantemente. Em nenhum momento, apesar de serem dois estádios onde cronicamente o FC Porto é recebido com hostilidade e num campo modesto como a vizinha Arouca onde muita gente ficou de fora até bem entrada a primeira parte, se sentiu a sensação de jogar fora salvo pelas habituais arbitragens caseiras anti-Porto a que estamos já todos mais do que habituados.
Ao adepto portista, a cada fim-de-semana,  a equipa nunca deu motivos para duvidar verdadeiramente e agora que partimos para o sprint final essa conexão equipa-adeptos parece mais forte do que nunca. Esse é o primeiro titulo conquistado este ano.

Na tensão e nervos das jornadas pós-Luz, onde é fundamental sair, como minimo, a um punto, essa ajuda mútua pode revelar-se absolutamente fundamental. Se o FC Porto se sagra campeão em Maio, contra o prognóstico de muitos em Agosto, será mérito de muitos. E nesta ocasião dos adeptos que têm feito parte desta onda também! Um verdadeiro título á Porto!


1 comentário:

Luís Vieira disse...

Praticamente de acordo com tudo, apenas sublinho o esquecimento do Colectivo. É algo useiro e vezeiro (até nos agradecimentos dos jogadores no Dragão). Bem sei que os Super são a maior claque do clube, mas não se pode esquecer quem tanto apoia o mesmo, "onda azul" incluída.