sábado, 23 de agosto de 2014

O discurso da "espinha dorsal" cai no "Fundo"

“Cancelo é propriedade da Meriton Capital, fundo de investimento de Peter Lim, e passará a ser jogador do Valência assim que se formalize a compra do clube. É um futebolista joven, que chega por empréstimo desportivo do Benfica mas que, tal como André Gomes e Rodrigo, no momento da compra, pasará a pertencer formalmente ao clube. Praticamente já podemos dizer que é jogador do Valência”.
Amadeo Salvo, presidente do Valência a 21-08-2014

“Segundo o jornal espanhol Super Deporte o SL  Benfica vendeu os direitos económicos dos jogadores Bernardo Silva, João Cancelo e Ivan Cavaleiro a um fundo asociado a Jorge Mendes, empresario dos jogadores, antes de formalizar os seus empréstimos a AS Monaco, Valência e Deportiva la Coruna, respectivamente. O jornal espanhol indica que os restantes dois futebolistas estão destinados a rumar ao Valência no final da temporada se o clube for finalmente adquirido por Peter Lim. Entretanto o AS Monaco divulgou também que tem opção de compra sobre Bernardo Silva, informação que Luis Filipe Vieira não facilitou e que poderá explicar na entrevista televisiva agendada”
Diario de Noticias, 09-08-2014

Eu sou muito repetitivo com a questão da formação do FC Porto.
Gostaria de ter um 11 com valor suficiente para ser titular do clube que tenha passado pela formação ainda que saiba que isso é impossível. Mas sou consciente de que, num plantel de 25 jogadores, há sempre espaço para meia dúzia de futebolistas da casa. Mais tendo em conta esta brilhante geração que nos bate à porta e do qual o Ruben Neves é a mais agradável surpresa. No FC Porto há espaço para todos, desde que sejam bons, ainda que eu tenha uma preferência pessoal pelos jogadores da casa. O que eu nunca disse (nem ouvi dizer dentro do Clube) foi que ambicionava ser a “Espinha Dorsal” da selecção. Esse discurso vem lá de baixo, cheira a mofo e contradiz-se com o que o respectivo clube que orgulhosamente o prenuncia faz.

O Benfica nos anos 60 foi, efectivamente, a equipa que compunha o “core” da selecção. Não o era nos anos 40, nos anos 50, não o foi nos anos 80, 90 e 2000. Na década de 70 partilhou protagonismo com Sporting e Porto, nas distintas metades da década. E no entanto o discurso da “espinha dorsal” sempre foi dado como verdade absoluta. Repetido até à exaustão como se a selecção fosse propriedade privada do Benfica. A formação do “clube de Portugal” tem sido penosa  a tal ponto que qualquer Miguel Bastos, Hugo Leal ou Manuel Fernandes eram tidos como os arautos de uma nova era dourada. Nos últimos cinco anos a tendência começou a inverter-se. O novo centro de estágio (com o patrocínio do banco de todos nós num clube que se queixa agora de ser perseguido pela banca) e, sobretudo, o aliciamento a vários treinadores e olheiros do vizinho Sporting permitiram melhoras evidentes. Qualidade há, como provou a último Youth Champions League, ainda que não seja tanto como para criar uma dose de euforia típica daqueles lados. Foi o pretexto perfeito para o populista Vieira retomar o discurso do futuro estar em casa, da “espinha dorsal da selecção vir com selo do Benfica”, etc, etc. Uma pena que Vieira tenha o hábito de dizer uma coisa e fazer outra.

Jorge Jesus, um treinador que contrata 50 jogadores para aproveitar seis e ficar com o rótulo de fazedor de estrelas, não gosta da formação. Já o provou varias vezes que prefere jogadores de fora aos da casa e por mim que o continue a fazer se isso significa trazer os quilates de qualidade que importa. A isso o Benfica alia a falta de cash flow, evidente desde que as empresas de Vieira, que era o fiador do clube, ficaram na lista negra na derrocada pós-BES. Com empréstimos por pagar, sem dinheiro fresco em mãos e salários no limite, era preciso decidir pelo presente ou pelo futuro. Vieira fez uma coisa e disse outra.


O Benfica vendeu os passes das suas “pérolas portuguesas” da formação. De golpe, André Gomes (que é formado entre FC Porto e Boavista, onde esteve dos 15 aos 19), Ivan Cavaleiro (o novo Mantorras), João Cancelo (um lateral incapaz de sobreviver à preferência de Jesus por um carniceiro) e o “novo Rui Costa”, Bernardo Silva, foram todos vendidos ao fundo de Jorge Mendes e Peter Lim, acabando emprestados aos clubes onde o agente tem particular influencia: Deportivo, Valencia e Monaco. De toda a formação benfiquista estes eram, provavelmente, os poucos jogadores que se aproveitavam realmente. O presidente do Benfica não teve problemas em vendê-los – continuando a investir nos jogadores pedidos por Jesus – e em cortar as pernas a mais uma geração da casa. Mas fê-lo de forma cobarde, como lhe é habitual, sem o dizer nem aos sócios nem à CMVM (o que é mais grave e diz muito da capacidade de investigação da entidade). Seguramente que em Julho falarão de um valor mirabolante, impossível de confirmar, ao que se seguirá uma justificação pomposa e uma nova campanha de marketing patrocinada pelo vierismo “hardocre” da imprensa amiga. O Super Deportes – o jornal mais bem informado do que se passa em Valencia – não tem de render pleitesía a Vieira e a Mendes e não se importa de chamar os bois pelos nomes. Para eles a situação é clara e evidente. Só em Portugal se continua a acreditar em fadas e gnomos.

Oficialmente os jogadores estão emprestados, na realidade nunca mais vestirão a camisola encarnada. Mas todos sabemos que o discurso da “espinha dorsal” vai continuar a ser perpetuado e que o próximo miúdo de 20 anos a jogar pela equipa principal está fadado a ser o novo Eusébio. O FC Porto aposta pouco, muito menos do que eu desejava, na sua formação. Mas exceptuando o discurso quase embriagado de Antero Henriques quando se lançou o Visão 611 (um projecto que caiu no esquecimento e silêncio absoluto) pelo menos nós não vendemos banha da cobra.

PS: Quanto ao “clube que melhor forma em Portugal”, estão em estado de euforia orgásmica com o repatriamento de um jogador que foi um fantasma de futebolista nos últimos dois anos e que se não fosse pela teimosia de Paulo Bento tinha desaparecido do mapa nos últimos anos. Entre outras coisa, vêm com o paleio de que é mais um jogador da “formação”, nascido e criado em Alcochete, no plantel. Gostam de viver na mentira e na ilusão, pobres coitados. Nani, esse portento de Alcochete, foi formado no Real Massamá até à tenra idade de 17 anos. Tem o ADN lagarto desde pequenino, não haja dúvidas. 

6 comentários:

Mocho Astuto disse...

Falta explicar como estas pérolas da formação benfiquista foram incluídas no negócio Rodrigo/Andre Gomes. Diz-se por aí que não entra mais um tostão na luz por estes jogadores. Abraço

Pedro ramos disse...

A politica de outros clubes nao me interessa para nada, mas se é verdade o que diz o Super Deportes, nao consigo perceber o porquê de esconder o negócio, algo aqui nao bate certo.
Cancelo, Ivan Cavaleiro e Bernardo vendidos por 30 ou 40 milhoes de euros seria o melhor negócio de todos os tempos que alguma vez realizado por um clube de futebol, juntando ainda André Gomes por 15 milhoes, seria motivo para cantar loas vindos de todos os cantos a LFV.
Bernardo, por exemplo teria uma avaliaçao próxima de Markovic, 20 milhoes de euros tendo jogado 8 minutos na liga portuguesa e significaria que a equipa b, sem necessitar que os seus jogadores se valorizem na equipa principal, já teria rendido 55 milhoes de euros em 2 anos. Nem o Barcelona consegue nada parecido.

Nao conheço um único adepto rival que nao ficasse eufórico com estes negócios, daí continuar a nao perceber o porquê sua nao divulgaçao... a nao ser obviamente que todo este sucesso nao exista verdadeiramente.

PS. Sobre Nani o único aspecto divertido foi a separaçao feita por BdC entre o seu regresso e a venda de Rojo, porque como todos sabem o MU iria sempre emprestar o jogador sem custos para o Sporting, apenas porque sim. O nosso clube é que nao percebe nada disto senao também poderiamos buscar lá alguns jogadores sem custos em vez de pagarmos pelo empréstimo de jogadores.

Costa disse...

Como é que se chama mesmo este blog ?!

Joao Goncalves disse...

que eu saiba o Super Depor não comenta valores... diz sim que pertencem ao fundo, mas posso estar enganado.

O que me quer parecer e já ajudava a explicar a tal verba dos 45M€ pelo Rodrigo + André Gomes, é que estes 3 foram no pacote como oferta ao comprador... e quicá se algum capital do Garay também não passou para o JM ganhar depois dinheiro com as transferências no Zenit... quem sabe..

Pedro ramos disse...

"El precio pagado por Meriton Capital Limited, fondo de Peter Lim, es alto, de hecho hace dos meses ya se habló de esta posibilidad y entonces el precio de salida eran 30 millones. Uno por uno, el traspaso del mediapunta Bernardo Silva está tasado en 20 millones, mientras que los de Cancelo y Cavaleiro diez millones cada uno."
Isto é o que aparece no artigo, indicado pelo Miguel.

Nuno Leal disse...

sobre o Nani in wikipedia:

Despite growing up in Lisbon, Nani and his brother supported FC Porto as a boy and his footballing hero was Luís Figo.[6][9]

Engraçado, que já antes de um manchester UTD-Fcporto há usn bons anos, li no site do Man UTD que o nani era fã do FcPorto. Contudo, claro, essa informação não faz parte da página wikipedia dele em português.

fait divers à parte, acho nani um grande jogador, que por alguma razão que desconheço inverteu o sentido do sucesso nos últimos anos. mas que há 3, 4 anos atrás jogava muito à bola, jogava. Tenho pena de não o ver no Porto a jogar com a camisola do seu coração. Recuperá-lo como parecia termos recuperado o Quaresma. Aconteceu o mesmo com o Pauleta, um grande portista mas que nunca calhou um dia jogar no Porto. Mas concluindo, tenho pena do nani ter ido parar empurrado pelo man UTD ao sporting, acredito que ele quer por-se a andar o quanto antes, mas vamos ver.