domingo, 5 de abril de 2015

Prospecção mundial sub19, um passo inevitável Parte II

Continuação da primeira parte do artigo publicado aqui sobre como o FC Porto deve apostar a sério numa prospecção mundial em jogadores cada vez mais jovens para evitar entrar numa espiral descontrolada de gastos.

O problema de uma ausência de politica de cantera em 20 anos
Sem o cashflow dos Fundos e agentes para comprar na América ou no Leste Europeu, sem querer ser um balão de ensaio regular para os grandes clubes europeus, a única solução para manter-se competitivo no espaço europeu e nacional é reduzir gastos com o pessoal ao máximo, ter um plantel barato e essencialmente produzido em casa. Isso significa comprar mais (e melhor) a nível doméstico (uma inversão que se vai assistindo ainda que com escasso resultado) mas também lançar mais produtos de formação.
Se o FC Porto tivesse, historicamente, uma cantera como a de um Ajax, Feyenoord ou Lyon (que apostou neste modelo há sete anos, prevendo o que ia suceder, quando estavam na mesma posição que o FC Porto a nível mundial, e agora estão a colher os lucros) o problema resolvia-se mais facilmente. Mas não temos.
Ruben Neves e Gonçalo Paciência são a excepção.

Ainda faltam a André Silva, Ivo Rodrigues, Tomas Podstawski, Rafa Silva, Francisco Ramos ou Rui Pedro muitos tropeções para serem jogadores grandes. E eles são a nata da nossa formação. Para procurar reequilibrar a balança o clube desviou o investimento em grandes nomes para a primeira equipa num novo modelo para as camadas jovens que inclui o empréstimo com opção de compra para jovens promessas entre os 16 e os 19 anos.
Essa é a faixa etária ideal. Antes disso é impossível avaliar com certeza o potencial de um jogador, há problemas legais em excesso e o risco é tremendo. Mas entre os 16 e os 19 tudo se facilita. Os jogadores são menores (e muitos têm de mudar-se com familiares) mas a avaliação real de potencial é mais certeira, o seu desenvolvimento físico está quase completo e a maturidade mental está noutro estado. A margem de erro reduz-se ao mínimo ao mesmo tempo que o preço de custo é ainda relativamente baixo, salvo casos pontuais.



Apostar na prospecção juvenil, uma solução a médio prazo inevitável
Até essa franja etária (os 16 anos) o lógico é que o clube procure, essencialmente, jogadores nas escolas Vitalis e, em casos muito pontuais, jogadores a nível regional de valor contrastado. A partir de aí, até aos 18 anos, devem começar a chegar os primeiros jogadores de fora do Grande Porto (ampliando a nível nacional a prospecção) e esses casos de estrangeiros que são apostas de futuro. A partir dos 18 até aos 20 – e fim da etapa lógica na equipa B – entende-se a contratação pontual de um Pité, por exemplo, que demonstre potencial real a um nível competitivo já profissional, mas o resto deve vir directamente dos escalões base para alimentar a primeira equipa.

Esta claro que a ideia não é nova e ninguém a tem explorado melhor que a Udinese mas o certo é que todos os grandes europeus têm feito isso na última década e meia.
Foi assim que Messi chegou a Barcelona, Fabregas ao Arsenal, Piqué, Pogba e Januzaj ao Manchester United, etc. Os grandes clubes europeus têm-se dedicado a essa prospecção a fundo, filtrando cada vez mais o talento que dispõem. Só que há mercados ainda por explorar e há jogadores que entendem que mais vale fazer a formação num clube médio do que num clube grande. Menor concorrência, maior facilidade de chamar a atenção são motivos de sobra,
Por isso, para um clube como o FC Porto, o modelo a seguir é simples. Os jogadores são seguidos nos torneios juvenis pela nossa excelente rede de scouting a nível mundial, sabendo que muitos dos melhores não estão ao nosso alcance. Aos restantes, os seus respectivos clubes são abordados para negociar o empréstimo de um  ou dois anos com opção de compra. Se o jogador demonstra valer o investimento, activa-se a compra definitiva e acaba-se a formação em casa (outro ponto a favor à medida que as restrições impostas pela UEFA nesse campo vão aumentando).

Riscos e beneficios
Estes não são jogadores de tostões.
Os clubes de onde vêm sabem disso e negoceiam bem. Para a sua idade e experiência são caros. E até agora não há provas de sucesso desde que o processo começou com Kelvin, Atsu, Ba e Kadu já nos dias de AVB e Vitor Pereira. No total chegaram já cerca de 15 futebolistas nessa modalidade para a equipa B e juniores nos últimos anos. A taxa de sucesso é, até ver, reduzida. Um golo que valeu um titulo (Kelvin) e um extremo que quis sair antes de "explodir" (Atsu.) É no entanto interessante entender que esses jogadores, quanto mais novos chegarem, menor deveria ser o custo.
Kayembe custou mais de 2,5 milhões de euros ao clube. Lichnovsky 1,9 milhões (e já se vendeu 45%). Caballero custou cerca de 1 milhão. São 6 milhões em jogadores que não têm tido minutos na equipa principal. O investimento tem de caminhar para a redução do risco controlado. Depois destes exemplos (e de Victor Garcia e Pavlovski)  recentemente tanto Gudiño e Leonardo Ruiz chegam com opção de compra em valores que superam o milhão de euros.
E há também Siemann, Lumor, Johansen, Elvis, Chidozie, Ezeh, Fede Varela, os irmãos Djim, Anderson Dim, tudo apostas de baixo custo para trabalhar em casa. Com a esperança de que saia, entre vários, uma pérola que justifique o projecto.



Tanto para os empréstimos como opção de compra como para as contratações de jovens sub19 a valores inferiores ao milhão de euros, o sinal é o mesmo. Esperar, desenvolver e (forçosamente) apostar para tentar rentabilizar. No caso dos empréstimos a situação é ainda mais evidente. Depois de um ano no Porto é fácil entender se há potencial real ou não e o risco de activar opção de compra é sempre menor. Menor do que apostar num Quintero ás cegas, por exemplo, ou num contentor de jogadores para encher. Este processo é largo e só agora começou pelo que os resultados vão demorar a fazer-se sentir na primeira equipa. Muitos destes jovens chegarão com idade de juvenil ou júnior, terão de passar pela equipa B, talvez ser emprestados e só depois chegarão ao plantel principal. Três a seis anos como disse. É um risco porque é muito tempo para um clube que pode, entretanto, ficar sem a referencia presidencial. Mas sem dinheiro para investir, sem fundos a que recorrer e sem possibilidade de crescer à sombra dos Real e Barcelona, esta é uma das soluções mais lógicas.

Tornar a primeira equipa mais sustentável a nível de custos de salários e aquisição de passes e manter viva a possibilidade de manter-nos atentos aos “Jacksons” do mercado. Também é certo que pode implicar um menor investimento na primeira equipa a curto prazo (e de aí os empréstimos) e uma perda de competitividade (vide caso Lyon).
No entanto, a possibilidade de ter vários elementos de um onze formados em casa (ainda que venham dos quatro cantos do Mundo, pagos a bom preço, mas com quatro ou cinco anos de Olival) é talvez o melhor cenário de futuro para o FC Porto.   

14 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que o texto se contradiz um pouco. Diz-se, correctamente, que esta vertente da prospecção não está a funcionar e que os talentos são caros (sempre mais de 1M€) mas defende-se mais do mesmo, esperando resultados totalmente diferentes. Salvo 1 ou 2 excepções por época (para a B) não faria mais sentido investir grande parte desse dinheiro na prospecção/formação nacional? Basta ver a enorme quantidade de jogadores belgas de qualidade que estão a aparecer para concluir que há muito potencial por explorar em Portugal.

Mas a meu ver o caminho devia ser mais ousado, criando uma academia de raiz num PALOP. Investindo uns 3/4/5M€ em infra-estruturas e 1/2/3M€ anuais controlava-se todo o processo de formação (e todos os talentos criando uma rede de prospecção) em países com centenas de milhar/milhões de jogadores sub-16. E na prática quem entrasse na academia passava a ser do clube, portanto todo o investimento iria directamente para a formação. Seja como for deixar todo este potencial nas mãos dos Cátios Baldés para mim é incompreensível.

Cumprimentos.

Unknown disse...

Boa noite Sr. Miguel Lourenço Pereira.
Antes de mais, uma boa Páscoa.
Tenho para comigo que o Sr. Miguel é um Portista a sério, um portista que não escreve por escrever e que não deve vender a alma ao diabo. Tem uma opinião consistente e que não muda por interesses. Portanto tenho-o em excelente conta, não é a toa que leio tudo aquilo que aqui publica.
Posto isto, começo a minha análise/critica a sua opinião.
Concordo consigo, a actual gestão desportiva do FCPORTO, não pode continuar desta forma e terá que existir uma mudança, mas então que mudança?
Tal como você disse, e bem, negócios como Danilo, Alex Sandro, Hulk (custou mais de 20 milhões), Jackson entre outros não podem continuar.
Sejamos honestos, o negócio ideal é o negócio Cissoko. Lembram-se deste negócio fantástico, compramos por 300 mil euros, veio ganhar se calhar nem 20 mil euros por mês e foi vendido por 20 milhões de euros. O lucro é brutal o investimento de risco é quase nulo. Dei este exemplo, mas, pode também aparecer aqui o Paulo Ferreira, mas esteve 2 anos ou o Ricardo Carvalho que foi formado por nós.
Eu ainda sou do tempo (tenho 31) em que o Plantel dos grandes teria de ter no máximo 4/5 estrangeiros, pois só podiam jogar 3 estrangeiros ao mesmo tempo nas competições europeias. Habituei-me a ver imensos portugueses no 11 do FCPORTO, custa-me ver que actualmente o FCPORTO pode apresentar, como já o fez um 11 sem portugueses. A mim custa-me mas tenho que aceitar isso. Ironia do destino, quando ganhamos a Liga dos Campeões em 2004 o 11 titulares tinha 9 portugueses (se considerarmos o DECO tuga). E desses 9, apenas 3 foram formados no clube (Vítor Baía, Jorge Costa e Ricardo Carvalho). Nuno Valente veio num pacote com Ninja e Tiago, Paulo Ferreira veio do Setúbal, Maniche e DECO chegaram custo 0, Costinha não foi muito caro assim como o Pedro Mendes. Em número redondo estes 6 jogadores podem ter custado no máximo 5/6 milhões de euros (jogador livre tem um preço razoável de assinatura).
Se juntarmos a isso o Carlos Alberto, a equipa campeã da Europa em 2004 foi feita talvez com 10/12 milhões de euros (tanto quanto custou o Alex Sandro).
Mais, todos estes jogadores, excepto o Carlos Alberto, foram contratados no mercado Interno. Já sei que tínhamos o melhor treinador do mundo (isso é meia equipa) e que tivemos sorte mas não existe campeão sem sorte, o Real no ano passado aos 93 tinha a final perdida e um canto mudou tudo. Na minha opinião o clube deve de apostar na formação, mas eu pergunto em que moldes? Nos moldes dos lagartos que nem deram campeonatos nem deram dinheiro. O RQ e o CR juntos não chegam ao valor do Danilo em termos de venda. O que fizeram os lagartos na liga dos campeões? Nada, a não ser duas goleadas históricas frente ao Bayern. Isto é, os lagartos até acertaram na política, excelente formação, mas depois faltou o resto. Faltou dinheiro para competir com o FCPORTO, pois se tivessem dinheiro, poderiam juntar jogadores experientes aos miúdos e então sim, ganharem campeonatos e boas prestações na liga dos campeões.
Neste ponto pergunto agora, imaginam a politica de formação que os lagartos tiveram a funcionar no FCPORTO? Alguém acha que os sócios do FCPORTO iam aturar isto muito tempo? A minha resposta é NÃO. Não aceitávamos pois estamos habituados a ganhar. Nos últimos 33 anos o máximo de anos sem ganhar um campeonato foi 3.
Dito isto em que ficamos? Continua…

Unknown disse...

A minha análise é a seguinte. Concordo consigo que a aposta na formação será obrigatória, e que daqui a 2/3 anos terá um peso de 25% a 30% (só se ganharmos as próximas 2 edições da liga dos campeões ou aparecesse alguém do médio oriente a querer comprar o clube) no plantel sénior. Mas para isso acontecer teremos de contratar não só miúdos bons mas também teremos de ter excelentes treinadores.
Para a formação dar certo é preciso ter excelentes treinadores e bons jogadores. Portanto será necessário rever e analisar toda a estrutura do futebol de camadas jovens do FCPORTO, será necessário fazer um estudo das academias espalhadas na Europa e que actualmente estão a dar frutos (Lyon é um caso de study, com 8 jogadores no 11 principal).
Desta forma, julgo que a equação acertada para uma formação ter sucesso será aliar a formação jogadores com qualidade e experiência mas que tenham um custo muito baixo. Pois um custo baixo implica directamente um ordenado baixo e todos nós sabemos que a actual folha salarial do FCPORTO é muito elevada, por isso a dificuldade das contas e da obrigação de termos de vender. As receitas normais não cobram as despesas salariais.
Agora vem a pergunta dos 100 milhões, onde encontrar essa qualidade com experiência? Pois, aí é que entra um x na equação que é o mais difícil de resolver. Jogadores com qualidade não existem em abundância quer no nosso campeonato quer noutro qualquer, se juntarmos a variável barato, ainda mais difícil se encontra a resolução do x. Pois bem, mas aí é que entra o trabalho de casa, de encontrar profissionais que queiram ganhar, que venham com o intuito de ganhar pois aposto que ninguém dava nada por Pedro Mendes, por Paulos Ferreiras, Por Maniches, por Nunos Valentes, e eles chegaram e venceram.
Mais um exemplo.
O 11 de Viena tinha Quim e André (que vieram do Rio Ave e Varzim) por bolas e equipamentos ambos já vieram com 25/26 anos, antes umas semanas da final o nosso melhor central lesionou-se, um central de classe mundial chamado Lima Pereira. Lima Pereira chegou ao FCPORTO e não dava uma para a caixa foi o Mestre que ensinou e que o moldou fazendo de uma vara um central de excelência, o ARTISTA andava perdido pelo campeonato francês no Tours F.C, Paulo Futre era bom mas na altura ninguém sabia que iria ser um dos melhores de sempre, Mlyna jogava no poderoso Bastia, Celso tinha chegado do Bahia, Sousa chegou pela 1ª vez vindo do Beira-mar, Frasco do Leixões, Eduardo Luís do Marítimo, portanto formamos em 87 talvez a melhor equipa da história do FCPORTO também com meia dúzia de tostões, estava a esquecer o Jaime Pacheco (não jogou a final) que veio do Aliados de Lordelo. Pedroto sempre que podia via jogos do distrital e foi aí que viu Jaime Pacheco e recomendou o FCPORTO para que ele fosse treinar as Antas. Não estou com isto a dizer para o Lopetegui ir ver os jogos da distrital, nada disso, dei 2 exemplos de anos de ouro do nosso clube com jogadores que custaram meia dúzia de tostões, alguns foram por bolas e equipamentos. Se em 2004 tivemos sorte, em 87 as meias-finais eram a nata do futebol europeu e ganhamos os 3 jogos. Portanto, não é fácil arranjar qualidade a custos reduzidos mas não digam que é impossível, é preciso sim muito trabalho de pesquisa mas uma pesquisa sem percentagens de passes uma pesquisa honesta. Eu penso que será este o caminho. Formação, aliada a contratação de jogadores de qualidade/experiência que tenham um baixo custo que vai implicar directamente redução da folha salarial que é outro dos nossos problemas.
Bruno Miguel Guedes- 28061

José Correia disse...

«Ainda faltam a André Silva, Ivo Rodrigues, Tomas Podstawski, Rafa Silva, Francisco Ramos ou Rui Pedro muitos tropeções para serem jogadores grandes»

E também a Rúben Neves e a Gonçalo Paciência.

Veremos quantos destes chegarão ao patamar de "jogadores grandes".

Pedro ramos disse...

Eu nao tenho uma resposta clara para este problema. O que tenho observado é que até agora esse plano de recrutamento tem sido um fiasco, com muitos milhoes já investidos, e se a resposta é contratar 30/40 jogadores para que 1 consiga ter sucesso, os custos financeiras vao continuar exactamente iguais.


Mas eu deixo uma questao mais ampla: qual é o nosso problema - mau recrutamento ou má formaçao? Será que depois de contratarmos jovens com potencial temos capacidade de lhes dar as ferramentas certas para poderem vingar no futebol ao mais alto nível? Será que é com luís castros que o conseguimos?

Mas também penso que devemos e temos de equilibrar tudo isso com a contrataçao de jogadores tipo Jackson, isto é, jogadores feitos que possam chegar e impor-se de imediato, até porque imaginemos que alguém como Ruben Neves consegue triunfar no futebol, até quando ficará no clube, será que aos 20/21 anos ainda estará cá?

Veremos o que Lope consegue alterar, até porque penso isso foi uma das razoes da sua contrataçao.

José Correia disse...

«Tanto para os empréstimos com opção de compra, como para as contratações de jovens sub19 a valores inferiores ao milhão de euros, o sinal é o mesmo. Esperar, desenvolver e (forçosamente) apostar para tentar rentabilizar. No caso dos empréstimos a situação é ainda mais evidente. Depois de um ano no Porto é fácil entender se há potencial real ou não e o risco de activar opção de compra é sempre menor.»

Exactamente.
O problema, a dificuldade, é conseguir fazer isto bem e, em paralelo, continuar a fazer crescer um projecto futebolístico ganhador.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Santosanonymus,

Não há ocntradição. Há a constatação de um facto (até agora o modelo não trouxe grandes jogadores para a primeira equipa) mas também a certeza de que é uma ideia que deve seguir de pé, assumindo que é um processo para o médio prazo e que para ter 4 ou 5 casos de sucesso haverá outros tantos (ou talvez mais) que não o sejam.

Se o FCP conseguir que um Gudiño ou Ruiz sejam titulares indiscutiveis da primeira equipa nos próximos 3 anos, com um investimento conjunto de cerca de 2 milhões de euros, qualquer eventual venda de cada um deles sufraga a ideia. Não podemos é continuar a pagar 10 milhões ou mais pelos Quintero, Danilo ou Alex Sandro do mercado.

Quanto ás duas propostas enunciadas:
a) na Belgica há um importante trabalho de base a nivel nacional, que ultrapassa qualquer clube. Há também uma importante miscenização cultural que permite que apareçam jogadores de origens muito distintas e que se complementam. Em Portugal nem o primeiro nem o segundo elemento se confirmam pelo que é irreal pensar num cenário paralelo.

Quanto aos PALOP, historicamente o futebol africano não tem produzido uma imensa quantidade de jogadores que justifique algo assim. O próprio Ajax Cape Town, escola do Ajax e modelo base dessa filosofia, raramente envia jogadores de nivel para a primeira equipa (McCarthy foi um exemplo) e o ASEC Mimosas, da Costa do Marfim, serve de ponto para vários clubes belgas mas por cada 1 que funciona há 10 ou 20 que não triunfam na Europa. Nem Cabo Verde, nem Guiné nem mesmo Angola ou Moçambique são grandes viveiros de talentos para justificar esse investimento.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Pedro,

Qualquer projecto que começa do zero dá prejuizo antes de dar lucro. A formação do Barcelona da Masia começou a funcionar a sério nos anos 70 e demorou quase 20 anos para sacar um jogador fora-de-serie. Foram 20 anos a investir na cantera até que apareceu Guardiola. O Ajax passou pelo mesmo processo, etc, etc.

Se o FCP tiver um prejuizo acumulado na ordem dos 20 milhões de euros com este projecto nos próximos 5 anos e no final desse quinto ano tiver vendido um Gudiño ou Ruiz (ou qualquer outro) por um valor superior, parece-me claro que a ideia em si mesma tem pernas para andar. Porque uma coisa é resgatar um Danilo que mais de meio mundo já conhecia e esperar que funcione, outra é pescar um sub17 ou sub19 e esperar o mesmo resultado. E tendo em conta o que já andamos a pagar por jogadores com mais de 19 anos (e que segue a corrente do mercado) esse passo é inevitável.

No entanto isso não invalida que o clube abdique de procurar os seus Jacksons. Nada disso. Mas sim que haja um equilibrio maior na "classe média" do plantel, que cheguem cada vez mais jogadores a custo zero ou baixo custo (e essa tem sido a tendência recente) para que entre os Jackson e os Rubens haja um maior peso no plantel.

Miguel Lourenço Pereira disse...



Há dois pontos fundamentais para que isso funcione. Estabilidade no banco (e por isso Lopetegui deve seguir, se realmente este é um projecto de olhos no futuro) e confiança por parte da SAD na ideia, aguentando os altos e baixos que possa ter de forma imediata pensando num bem comum. Se ao menor sinal de tropeção ou á maior euforia da entrada de milhões se voltar a uma politica de contentores ou a pagar 15 milhões por um lateral direito brasileiro, nada disto serve para nada.

Miguel Lourenço Pereira disse...

O Ruben, com a idade que tem, já demonstrou estar bem perto desse patamar. Ao Gonçalo falta-lhe muito jogos de titular e golos importantes. Mas aos adeptos sobretudo falta paciência. Nem tudo o que sai da formação tem um impacto imediato!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Bruno,

Não adianta tecer qualquer tipo de comparação com as realidades de Viena e Gelsenkirchen. São dois mundos que já não existem no futebol contemporaneo. No primeiro por causa da limitação de estrangeiros e no segundo por dois factores diferenciais, um "boom" de qualidade interna que se reflectiu a nivel geral no futebol português e de que o FCP se soube aproveitar (também por necessidade de tesouraria, dois anos antes pagavam-se milhoes por Ibarra e Quintana) e o segundo denominador chama-se José Mourinho, personagem irrepetivel (na sua versão 2002-05).

O Lyon é um exemplo a seguir. Dominou o futebol francês como nós o português e teve o azar de se cruzar connosco para o poder fazer na Europa. Tinha um modelo de investimento similar (Brasil, sobretudo, e jogadores da zona) e depois deu uma volta completa e apostou a 100% na formação. Hoje em dia lidera uma liga onde há clubes que investem muito mais, com jogadores recrutados aos 10 anos na sua cantera e trabalhados por ex-jogadores da casa e imbuidos no espirito do clube. Mas o Lyon como muitos clubes de outros paises europeus tem a vantagem de ter muito mais fácil o trabalho de prospeção. Não só porque há mais federados como também há mais jogadores de outras origens que não a local e portanto perfis muito distintos. Há filhos de magrebinos, caribenhos e centro-africanos do mesmo modo que há provençais e filhos de suiços ou italianos naquela equipa. No Grande Porto ou até mesmo em Portugal esse cenário não é real.

A formação não é um capricho para um clube com 200 milhões de passivo, é uma necessidade. E se a nivel local não existe talento suficiente para oferecer a formação como como solução o clube tem de procurar alargar os seus horizontes. Apesar de ter dado poucos frutos acredito que é um projecto com pernas para a andar e que deve seguir, lado a lado, com a continuidade na procura de Jacksons que mais ninguém encontre (ou esteja disposto a pegar neles) e em jogadores de custo reduzido que nos podem valer bons negócios como Cissokho, Derlei, Paulo Ferreira, Pepe ou Fernando.

Anónimo disse...

Exacto, a questão é que o Rúben Neves hoje já vale mais e já jogou mais que os jovem estrangeiro contratados para a equipa B. Daí discordar que se privilegie a prospecção jovem internacional em relação à formação que claramente está a ser mal aproveitada.

Em relação à Bélgica é verdade que foi um trabalho nacional, por isso até estive para utilizar o exemplo de um clube local. Entre 2001 e 2006 estrearam-se na equipa principal do Sporting: Viana, Quaresma, Ronaldo, Nani, Veloso. Isto é 100% mérito do clube, nada tem a ver com a estrutura nacional (com que não se pode contar em Portugal, infelizmente).

É contraditório utilizar o exemplo de um academia propriedade de um clube europeu e depois dizer que esse investimento não se justifica. Para o Ajax, que nem sequer é um clube rico e é especialista na formação local, claramente justifica-se (apesar de não ter uma gestão tão próxima quanto a que defendo). A selecção de Cabo Verde, que tem uma população bem inferior a Aveiro, tem 100% da sua selecção a jogar no estrangeiro. E o que não falta em Portugal é história ligada aos jogadores africanos, mas é impossível produzir grandes jogadores sem investimento, seja onde for.

Cumprimentos

Miguel Lourenço Pereira disse...

O Ruben vale mais porque joga. Porque foi chamado pelo treinador da equipa principal quando nenhum adepto dava nada por ele e tem jogado. E mérito para ele e para o Lopetegui mas não podemos pegar num exemplo individual e transformar isso numa causa geral.

Se a formação local tiver 1 bom jogador em 100 e o FCP conseguir ter 3 jogadores contratados fora, para os sub19 ou B, a jogar na equipa principal, em 30, qual é o melhor ratio de sucesso?

O Sporting lançou em 5 anos a 5 jogadores internacionais. Mas também lançou muitos outros que não vingaram. Por cada Ronaldo havia um Paito. O trabalho de formação do Sporting nos anos 90 e principios dos 2000 foi bom. Mas na década anterior fomos nós quem tivemos a melhor geração local. São questões ciclicas e que variam de muitos factores e um clube não pode projectar exclusivamente uma politica com base nesse pressuposto.

Houve nos últimos anos jogadores do Grande Porto como o Neto, o André Gomes ou o Coentrão que podiam ser titulares do FCP e que nos escaparam. Seguramente que sim. E há muito trabalho a fazer nessa área também, sem dúvida. Mas pensar que é em ex-colónias com escassa projeção internacional ou, pura e simplesmente, acreditar que o escasso espaço geográfico que cobre o norte do Mondego podem ser suficientes para sustentar uma politica para os próximos anos parece-me muito pouco para o que o FCP é e quer ser.

Unknown disse...

Será que não se consegue aumentar o potencial futebolístico desses jogadores que vêm de fora em menos tempo para que depois possam ser valorizados ainda mais no futuro?