quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Inflexível até ao fim?


"Tenho de continuar a acreditar nas minhas ideias. Não acredito em mudanças repentinas ou momentâneas. Quando mudamos as coisas, tudo tem de ser trabalhado. Não prevejo muitas alterações porque é nisto que eu acredito.
(…)
Os jogos são todos difíceis. Quero ver um Porto determinado, concentrado e ambicioso. Estamos focados no que temos de melhorar. Acredito que a equipa vá dar uma boa resposta. Queremos reforçar o nosso primeiro lugar."

Paulo Fonseca, 29-11-2013 (na antevisão ao jogo Académica x FC Porto)


Aquilo que já toda a gente viu, menos o treinador: o modelo táctico que Paulo Fonseca anda a tentar implementar desde o início da época não funciona.

Em primeiro lugar, porque a colocação de um jogador ao lado de Fernando para formar um “duplo pivot” confunde e tira efectividade à acção do Polvo, que sozinho com os seus tentáculos consegue anular a maior parte das investidas do adversário. Nesta equação do meio campo é importante referir também a enorme falta que João Moutinho faz à equipa do FC Porto. Sem o box-to-box e com o seu substituto sempre “amarrado” a Fernando e sem a mesma capacidade técnica do agora jogador do Mónaco, o FC Porto não consegue sair a jogar e, são invariavelmente os defesas centrais quando pressionados pelos adversários, que mandam “chutão” para a frente. Além disso, Lucho Gonzalez está sempre 20 metros à frente de onde devia jogar (ou pelo menos começar a jogar), quase numa posição de apoio ao ponta-de-lança. Com o desenrolar do jogo e as evidentes dificuldades da equipa em sair a jogar, Lucho acaba por se ver forçado a recuar para vir buscar jogo e ensaiar passes de calcanhar que muitas vezes dão perdas de bola. Não há futebol apoiado e solidário, nem dinâmicas, nem sequer um modelo de jogo.

Em segundo lugar, o sector defensivo tem estado muito mais inseguro que no passado, com os mesmos jogadores mais desconcentrados e a cometerem erros infantis com graves consequências. Grande parte desta mudança é uma consequência do estilo táctico que o treinador quer implementar. Fernando perde referência com outro jogador a seu lado e é obrigado, pela primeira vez desde que chegou ao FC Porto, a pensar o jogo ofensivo da equipa quando a sua missão sempre foi a de recuperar bolas e entrega-las aos colegas o mais rápido possível. Não tendo ninguém a quem passar a bola (ainda por cima todos parecem esconder-se) e com Lucho muito mais à frente, Fernando (ou o outro médio, seja Defour ou Herrera) passa a bola para trás obrigando os defesas centrais ao trabalho que deveria ser feito pelos médios e laterais. Os adversários aperceberam-se disso e colocam 3 a 4 jogadores a pressionar a defensiva portista. Daí ao pânico generalizado é um pequeno passo.


Em suma, o cerne do problema táctico está no posicionamento de Fernando e de Lucho Gonzalez. A solução a curto prazo seria voltar de imediato a um 4-3-3 clássico, com extremos rápidos como o Kelvin, por exemplo (o tal que na opinião de Paulo Fonseca não faz o suficiente nos treinos), com o Polvo sozinho no papel de trinco e com Lucho mais recuado com o mesmo papel de outros tempos. Mas este é apenas um dos muitos problemas que Paulo Fonseca não tratou de acautelar e foi empurrando até ao limite. Entretanto os jogadores perderam a confiança no líder, estão altamente desmotivados, arrastam-se em campo, e têm tido um comportamento pouco profissional e até indigno da camisola que vestem.

O treinador queixa-se da qualidade dos extremos, tendo já sido noticiado o regresso de Quaresma… No início da época PF dispensou Iturbe (ou terá sido Antero Henrique?), que tinha sido apenas um dos melhores jogadores da pré-época (e tem 'facturado' com frequência pelo Verona) e praticamente não tem dado hipóteses a Kelvin, constantemente relegado para a equipa B. As últimas exibições do FC Porto demonstram uma equipa sem profundidade nas alas, que afunila o jogo pelo miolo e que não tem rapidez para fazer transições ofensivas, preferindo parar o jogo e devolver para trás para (mais) uma troca de bolas entre os defesas centrais. É ridículo!

É necessária uma mudança urgente de Paulo Fonseca. Outros no passado também se renderam às evidências. Lembram-se certamente de Co Adriaanse, que depois de um empate em Vila do Conde e de sofrer grande ‘contestação’, alterou o esquema táctico colocando Paulo Assunção a fazer de pivot e central em situações ofensivas e defensivas, respectivamente, arrancando em definitivo para o título de Campeão. Poderá não ser assim desta vez, mas pelo menos Paulo Fonseca deveria esgotar todas as possibilidades à sua disposição, porque se está a fazer tarde.

11 comentários:

Franco Baresi disse...

Exactamente a minha análise:
(...)"Em segundo lugar, o sector defensivo tem estado muito mais inseguro que no passado, com os mesmos jogadores mais desconcentrados e a cometerem erros infantis com graves consequências. Grande parte desta mudança é uma consequência do estilo táctico que o treinador quer implementar. Fernando perde referência com outro jogador a seu lado e é obrigado, pela primeira vez desde que chegou ao FC Porto, a pensar o jogo ofensivo da equipa quando a sua missão sempre foi a de recuperar bolas e entrega-las aos colegas o mais rápido possível. Não tendo ninguém a quem passar a bola (ainda por cima todos parecem esconder-se) e com Lucho muito mais à frente, Fernando (ou o outro médio, seja Defour ou Herrera) passa a bola para trás obrigando os defesas centrais ao trabalho que deveria ser feito pelos médios e laterais. Os adversários aperceberam-se disso e colocam 3 a 4 jogadores a pressionar a defensiva portista. Daí ao pânico generalizado é um pequeno passo."(...)

DC disse...

Eu colocaria até o Josué na mesma linha do Fernando e o Quintero, pelo menos a atacar na do Lucho.
E quanto mais linhas se conseguir encontrar numa táctica mais apoios e coberturas temos. Daí o Porto ter muito menos apoios a atacar e muito menos coberturas a defender.
Ainda, sublinho que no ano passado não jogávamos com 2 extremos e sim com 1 extremo e um médio ofensivo, num losango do meio-campo, o que se traduzia em muito mais apoios e coberturas.

Actualmente este Porto a atacar já teve momentos em que se identificavam apenas duas linhas do meio-campo ao ataque, com Fernando e Josué no início de construção e uma linha de 4 bem adiantada ao redor da área, com Lucho, Jackson, Varela e Licá praticamente na mesma linha. Consequência diso? Só duas formas de levar a bola à área, ou passe longo ou jogada individual. Ambas normalmente não resultam.

A chegada do Quaresma, ainda que possa permitir resolver alguns jogos individualmente, só vai, na minha opinião, agravar este problema. Será dado aos extremos a responsabilidade de desequilibrar e meter a bola na área. O Porto continuará a jogar sem apoios, cada um por si a ver no que dá. Demasiada verticalidade, falta de paciência na construção das jogadas, número elevadíssimo de perdas de bola e consequentemente de contra-ataques do adversário. Tudo isso se manterá ou ainda se agravará mais. Se havia contratação que podia complicar ainda mais as ideias absurdas do treinador era esta.

Abel Pereira disse...

Uma vez que não estava a ser alcançado o objectivo de praticar um futebol que trouxesse mais adeptos aos jogos, há muito que a direcção do FCP devia ter exigido que a equipa voltasse ao sistema anterior pondo a jogar os atletas já rutinados nesse mesmo sistema, fazendo entrar os novos a pouco e pouco. Só assim será possível ficarmos a saber se são as ideias de PF que não servem ou se é o plantel que não tem qualidade suficiente. De qualquer modo, seria uma grande surpresa que PF conseguisse organizar o que ele próprio desorganizou. Mas atenção! com PF ou sem PF eu quero que o FCP ganhe, não alinho na teoria de querer que tudo corra mal para que o treinador saia.

Pedro ramos disse...

Eu aceito e compreendo como normal que os treinadores venham dizer que acreditam nas suas ideias (mal era se isso nao acontecesse), o problema é que a ideia central de uma equipa nao pode ser o seu sistema táctico e é isso que parece acontecer com esta equipa. Mesmo mantendo as ideias centrais da sua filosofia de jogo, PF deveria tentar alterar a equipa de forma a ter uma maior coesao global, mas apenas tem tentado mudar jogadores de posiçao mantendo tudo o resto com a esperança que eles provoquem uma dinâmica diferente nas posiçoes em que se encontram.

Nao quero acreditar que a filosofia de jogo de PF se limite ao seu sistema táctico e que se ele abdicar por exemplo do duplo pivô pense que está abdicar das suas ideias. Se isso fosse verdade teria de questionar se ele era capaz de treinar a equipa para outro sistema ou se a única coisa que ele tem para dar a uma equipa é um sistema táctico com o duplo pivô.

A questao dos extremos nao explica minimamente a falta de organizaçao que a equipa tem revelado e confesso que me assusta o regresso de Quaresma nas mesmas condiçoes aparentes do Liedson na época passada e logo com um contrato de 2 anos e meio.

Jorge disse...

Se bem que nao goste do modelo de jogo que me parece que o PF esta a implementar no Porto quando comparado com aquele do VP gostaria de fazer dois comentarios:
O modelo do VP foi constantemente criticado pela falta de audacia/objectividade/verticalidade/criatividade e o modelo de jogo corrente tenta ser forte nesses aspectos perdendo por isso controlo de jogo.
Nao pude ver todos os jogos do Porto mas vi muitos e dos que vi o resultado seria muito diferente (a nosso favor) se nao tivesse havido um numero excessivo de erros individuais quer na defesa, quer no ataque e esses erros nao podem ser imputados ao treinador.
O jogo contra a Academica e um bom exemplo, o golo da Academica resulta de um erro infantil do Fernando. O Porto criou varias oportunidades de golo que nao foram concretizadas e poderia ter criado mais se tivesse havido melhor decisao por parte de alguns jogadores. Nao acho que tenha sido o modelo que tenha falhado nesse jogo assim como nos ultimos jogos da UCL.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Excelente diagnóstico,

O Paulo Fonseca só revelava uma dose de inteligência que ainda não lhe vimos se, durante um periodo de tempo de "salvação nacional", aplicasse a fórmula que todos os jogadores conhecem bem, colocando os nomes nos seus respectivos lugares para render o máximo neste ciclo de jogos até Janeiro.

Com o Lucho a jogar onde se sente cómodo, escudado pelo Defour ou Josué ao lado (não atrás) e o Fernando a varrer, a consistência de jogo do meio-campo equilibrará toda a equipa. Isso abre espaço às subidas dos laterais (até agora nunca bem compensadas pelo meio-campo) e a abertura de campo pelos extremos (Kelvin/Quintero e Varela). Jackson pode, em teoria, estar mais só nos momentos sem bola, mas o ano passado demonstrou ser letal jogando de costas para a baliza com o apoio de um box-to-box imediato ou de um extremo para o jogo combinativo.

Permanecer com o modelo vigente, que não é carne nem é peixe, e continuar a colocar os jogadores fora do seu lugar é só o caminho mais rápido para a destituição!

Henrique disse...

Nuno Nunes, tenho exactamente a mesma visão do jogo que estamos a apresentar. E mais, visto no estádio, devido a esta disposição táctica, parece sempre que estamos a jogar com menos jogadores que o adversário, e eu como fico a meio da lateral, vejo bem a enorme clareira sem jogadores nossos.

Mário Faria disse...

Tenho algumas explicações para o mau momento do FCP e não vem mal ao mundo se as formular:
1)O FCP corre menos que os adversários. Sempre que foram apresentadas essas estatísticas não me lembro dos nossos registos terem sido superiores; apenas com o SCP foram equilibrados; com o Austria de Viena (AV), da primeira volta, fomos largamente superados;
2)A nossa zona de pressão se é eficaz não dura o tempo suficiente e provoca arritmias fatais, porque não sabemos acomodar as nossas insuficiências em ritmos mais baixos: o jogo com o AM foi o melhor exemplo do facto; essa mesma zona de pressão frequentemente funciona mal e nota-se as deficiências do processo com as corridas desenfreadas de Lucho sem o devido acompanhamento dos colegas que deveriam ter tarefas semelhantes: só assim funciona a pressão alta. Os adversários saem, demasiadas vezes, muito confortavelmente dessa zona e não raramente conseguem inverter a situação e passam a dominar, expondo a nossa equipa a esse mesmo veneno: aconteceu nas primeiras partes com o AV e com a AAC. Quando o FCP não consegue abafar o adversário, fica com enormes dificuldades em vencer, ainda que seja de “outro campeonato”. Moutinho ainda não foi substituído e sente-se muito a sua falta, por agora. Acho que o PF deveria estudar muito bem como essas zonas de pressão devem ser feitas e como as pode superar quando o adversário lhe coloca problemas. O modelo, seja qual for, não funciona se esses princípios não forem trabalhados e aplicados de forma consistente. É um trabalho chato e com pouca visibilidade, mas essencial. Quem não o fizer de forma competente não é uma equipa de top.
3)Temos ainda menos gente a marcar golos (perdemos o James) e ganhámos apenas o Josué que até agora não falhou a marcação de grandes penalidades. Varela que costuma definir bem na zona de fogo, esta época raramente o fez. Sem James perdemos qualidade no último passe. A margem de concretização das bolas paradas (salvo as grandes penalidades convertidas pelo Josué) é aparentemente baixo e o fluxo atacante não gere proporcionais oportunidades de golo. E se “as transições rápidas” foram vencidas depois do reinado de Jesualdo, temo que o modelo da “posse” tenha de ser revisito sob pena de esgotar num tipo de jogo demasiado previsível e fastidioso. Por isso, entendo que o PF o queira ajustar: talvez só assim sobreviva. E esta ideia que tenho é muito alicerçada na impotência da nossa equipa B, que marca poucos golos, mete pouca gente no processo ofensivo e que não convida a ver.
4)Temos um défice de qualidade porque alguns jogadores ainda não estão convenientemente adaptados a um modelo que tende a assumir todas os riscos e despesas, quando se bate contra o catenaccio dominante na principal liga: uma batalha permanente contra um muro feito de operários diligentes, motivados e superiormente vitaminados. E a equipa não produz porque os jogadores não correm, e os jogadores não lutam qb porque se sentem cansados, desmotivados, insatisfeitos, infelizes ou vítimas de um modelo que não é amigo das suas características. Licá, Ricardo, Reyes, Hererra, Quintero, Carlos Eduardo e Ghilas, ainda que por razões diferentes, mostram muita tibieza no desempenho das suas funções, não tendo conseguido, ainda, a condição de primeiras escolhas. Não me espantaria se alguns deles se sentissem menos confiantes. PF tem de ser um mestre para cativar os egos dessa rapaziada.
Se conseguirmos superar alguns constrangimentos, não creio que a tácrica vá incomodar. PF tem muito com que se entreter no próximo futuro. Os tempos complicados também dão oportunidade para os que ousam lutar. Fico à espera, Paulo.

Franco Baresi disse...

Estou na mesma posição no estádio e confirmo: 6 atrás (pressionados), um vazio no meio e 4 à frente (à espera do "chutão").

DC disse...

Normalmente as equipas que correm mais são as que perdem os jogos. Quem tem não tem a bola anda a correr atrás dela, quem a tem faz o que quer com ela.

O Barça de Pep, a melhor equipa dos últimos anos, tinha sempre menos Kms nas pernas que os adversários. E também o Porto de VP corria muito menos que os adversários em Portugal.

Correr muito significa, normalmente, não saber o que se anda a fazer em campo.

Luís Vieira disse...

O 4x2x3x1, em si mesmo, não é diabólico, como muitos querem fazer crer. Relembro que grandes equipas internacionais o utilizam com bastante sucesso, de que são exemplo mais evidente Real Madrid, Borussia de Dortmund e Chelsea. Não alinho, por isso, no coro de adeptos que apregoa aos sete ventos que o 4x3x3 é o sacrossanto sistema e o único passível de ser utilizado no FCP. Mais: o Porto já foi campeão em sistemas tão díspares como o 4x4x2 clássico, o 4x4x2 losango e o 3x4x3, para além de que o 4x3x3 já foi alvo de diversas nuances, ora jogado em transições rápidas, ora num modelo de posse à Barcelona. Deste modo, não obstante o 4x3x3 ser o modelo mais useiro e vezeiro no nosso clube, no passado recente, não obriga todos os treinadores a utilizá-lo, nem sequer foi erigido a cláusula contratual irrenunciável. A este propósito convém referir que também já perdemos campeonatos a jogar em 4x3x3. O que realmente interessa no FCP é implementar um sistema ganhador, qualquer que ele seja, de preferência a jogar bem, embora não seja condição essencial, porque o museu não se enche com "notas artísticas", tão aprazíveis a outros clubes, mas sim com troféus. Por tudo isto, se o Paulo Fonseca acredita nas virtudes do 4x2x3x1, se o Paços praticou bom futebol alicerçado nesta organização e se existe a possibilidade de replicá-lo no Porto com sucesso, então não vejo por que mudar. Não me parece que se trate de um caso de desadequação do plantel à disposição táctica; pelo contrário, entendo que alguns jogadores poderiam render mais se usados nas suas posições de origem (designadamente Quintero a 10 e Lucho a 8), que é necessário haver mais intensidade/agressividade nos movimentos e maior entreajuda/proximidade entre os jogadores, em suma, mais do que um problema de modelo, o problema está nas dinâmicas internas desse modelo. Sem desprimor, naturalmente, da carência de melhores intérpretes em situações específicas, principalmente ao nível das alas. Conclusão: o Paulo Fonseca pode ser inflexível à vontade, desde que melhore o seu sistema e nos prove que consegue ser ganhador (como já foi esta época), jogando melhor futebol.