domingo, 10 de fevereiro de 2008

Dicionário do Sistema - letra D

Direcção-Geral dos Desportos – Durante os longos anos em que no futebol português vigorou o sistema do antigamente, o poder discricionário da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) era apoiado na Direcção-Geral dos Desportos, um organismo do estado, centralista e, obviamente, protector dos clubes da capital. Contudo, em 1955, as arbitrariedades federativas ultrapassaram todos os limites. Nesse ano, um FC Porto-Sporting foi adiado pela FPF, porque José Travassos, um dos melhores jogadores de sempre do Sporting, ficara retido em Madrid devido ao nevoeiro e não iria chegar a tempo ao jogo.
Esta atitude de descarado proteccionismo, levou à revolta dos adeptos e dirigentes do FC Porto e, para além de ter sido ameaçado pela PIDE em pleno Estádio das Antas, o presidente Cesário Bonito foi irradiado pela FPF. Não satisfeita, a FPF suspendeu, por três anos, seis directores do FC Porto, que também não tinham calado a sua revolta.
O escândalo assumiu tal proporção, que o ministro da Educação, Eng. Leite Pinto, percebendo que o caso poderia ter consequências políticas sérias, devido ao levantamento dos portuenses e ao apoio que teve por todo o lado (o embaixador americano escreveu para Washington, dizendo que havia ameaça de guerra civil), decidiu atender a contestação dos dirigentes do FC Porto.
Este é apenas mais um exemplo do quero, posso e mando dos clubes da capital que, por sistema, dividiam os títulos entre si.


Donato Ramos – No dia 2 de Janeiro de 1993, o Sporting tinha uma deslocação difícil ao Estádio da Mata Real onde, na época anterior, a de estreia do Paços de Ferreira entre os grandes, perdera por 1-0. O Sporting ganhou por 3-0, mas no fim do jogo estalou a polémica: Jaime Cardoso, chefe do departamento de futebol do Paços de Ferreira, acusou o seu congénere Juca de ter entregue presentes escondidos em sacos de plástico à equipa de arbitragem chefiada pelo viseense Donato Ramos.
O árbitro confirmou a recepção de "insignificantes máquinas fotográficas", mas disse que deixava a arbitragem se o caso desse lugar a algum castigo. Uns dias depois, a 7 de Janeiro de 1993, foi instaurado um processo disciplinar ao Sporting, por suspeita de aliciamento ao árbitro mas, apesar de ter ficado provada a oferta, não houve qualquer tipo de sanção e o processo foi arquivado.
Donato Ramos andou pela I Divisão durante mais uns anos e da parte do Ministério Público / PJ, também não houve, que se saiba, qualquer interesse em investigar.

1 comentário:

Nuno Nunes disse...

Não conhecia este episódio de mais uma prova do que é o desportivismo do clube dos viscondes. Muito interessante o tratamento dado a este caso pelo MP. A este e a outros como as ofertas ao árbitro King. Mas eles é que são sérios...