segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A Europa dos ricos

Acaba de ser publicado o ranking de receitas orgânicas dos clubes europeus para a época 06/07 (Deloitte Football Money League). Antes de mais convém assinalar que este ranking de receitas exclui receitas com jogadores (i.e. transferências). Dois factos saltam à vista:

1) As receitas dos maiores clubes europeus continuam em forte crescimento: os 20 clubes mais ricos viram em média um aumento de 15% em relação à época anterior.

2) A diferença entre eles e... nós, FCP. Principalmente entre os clubes do top10 e nós (que não entramos sequer no top20).

O Real Madrid lidera a lista com receitas de 350 milhões de euros; no 9o lugar temos o Inter com 195 milhões - compare-se isso com os ~55 milhões da FCP SAD. Dito de outra forma, o Real tem receitas orgânicas cerca de 6x superiores às nossas, o Inter 3,5x.

Alguns olharão para estes números e encolherão os ombros, dizendo que no futebol a "lógica é uma batata". Pois bem, desde que a Lei Bosman impera que não é bem assim: nas últimas 3 épocas os clubes do top10 de receitas açambarcaram 71% dos lugares nos 1/4 de final da Liga dos Campeões. Se a isto juntarmos outros clubes um pouco mais abaixo, temos que em média 7 das 8 vagas nos 1/4 final são preenchidas pelos 20 clubes mais ricos da Europa.

Será pois a nossa sina ficar para trás? Penso que "nim". Em média sim, teremos cada vez menos sucesso comparativo em relação ao top10; mas penso ao mesmo tempo que podemos ir sistematicamente aos 1/8 final e fazer "umas flores" de vez em quando, indo mais longe - vencer a Liga dos Campeões é um sonho, mas não impossível.

Que fazer? Muita coisa poderia ser dito sobre isto, mas resumidamente: penso que as receitas podem ser esticadas, em particular as receitas televisivas. Mas acima de tudo penso que temos que apostar na nossa grande vantagem competitiva: o mercado português, começando pela formação (e passando pelos estrangeiros que jogam em Portugal).

Mercado português onde ainda por cima há pouca rivalidade financeira, o que leva a que a pressão a nível de salários e passes seja mais baixa do que em Inglaterra, Espanha ou Itália.

O objectivo será pois conter as despesas o melhor possível (contendo as despesas em passes e salários) potencializando as mais-valias financeiras de futuras vendas (não esquecendo no entanto que nem todas as compras devem ser na perspectiva de vender mais tarde), sem comprometer a valia desportiva do plantel. Sem se gerar mais-valias financeiras consideráveis não teremos hipóteses de discutir taco-a-taco, ano após ano.

Isto não invalida naturalmente que se explorem outros nichos (ultimamente tem sido o argentino) - mas que ninguém se ilude que o FCP vá conseguir sistematicamente comprar jogadores argentinos com cartaz (como era o caso de um Lucho ou Lisandro) a preços acessíveis. Isto pode parecer um paradoxo mas quanto maior sucesso tiverem Lucho e Lisandro no FCP, menor a probabilidade de que façamos negócios idênticos no futuro (já que cada vez mais os clubes europeus ricos irão directos à "fonte"...).

A médio e longo prazo, o nosso futuro na Europa passa pela aposta no mercado português: repare-se que as grandes mais-valias geradas nos últimos anos foram todas oriundas do mercado português: R Carvalho, Pepe, Deco, P Ferreira. Anderson foi vendido por valores elevados, mas com mais-valias mais baixas (já que foi bastante mais caro - tal como um Lucho, já agora).

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Football_Money_League

2 comentários:

José Correia disse...

«o Real tem receitas orgânicas cerca de 6x superiores às nossas, o Inter 3,5x. (...) em média 7 das 8 vagas nos 1/4 final são preenchidas pelos 20 clubes mais ricos da Europa»

Evidentemente, é muito mais fácil gerir um clube tendo muito dinheiro para gastar, mas o grande mérito da gestão desportiva do FC Porto tem sido o de ser capaz de esbater estas enormes diferenças, recorrendo à formação e, principalmente, a uma prospecção eficaz de talentos emergentes, os quais, normalmente, encontram na estrutura do FC Porto as condições ideais para evoluir e exteriorizar as suas capacidades.

Sérgio Conceição, Baía, Jorge Andrade, Deco, Ricardo Carvalho, Maniche, Anderson, Pepe, Quaresma, Lucho, Lisandro, etc., são alguns dos muitos exemplos de jogadores de top internacional, que ilustram o que referi anteriormente.

Claro que este modelo de gestão acarreta riscos e problemas.
Um dos problemas é conseguir gerir as expectativas (desportivas e financeiras) dos jogadores, quando começam a despertar o “apetite aos tubarões” europeus.
Outro problema é o de conseguir, no final de cada época, vender o mínimo indispensável, isto é, vender para equilibrar as contas, mas sem vender um número excessivo de jogadores (idealmente, não mais de dois), de modo a não destruir a estrutura da equipa.

É uma equação difícil, que foi muito bem gerida no final da época passada, mas não tão bem no final da época 2003/04, após a vitória em Gelsenkirchen.

Jorge Mota disse...

Parabens pelo excelente texto e já agora pelo blog que tem grandes postadores e é já para mim um blog de grande referencia.

Como já tinha dito ao José Correia, irei muitas vezes usar os vossos textos no meu blog. Espero que não se importem. Caso contrário digam qq coisa.

Amanhã utilizarei já este texto com a devida referência.

Um abraço.