domingo, 1 de junho de 2008

A desilusão das contas da SAD

Acabaram de ser publicados os resultados dos primeiros 9 meses de 07/08. A análise que se segue é limitada, na medida em que os relatórios do 1o e 3o trimestre são "telegráficos", com pouca informação; dito isto, dá para tirar algumas conclusões, e inferir com uma margem de erro algumas previsões.

Há um ou dois aspectos positivos, mas no cômputo geral os resultados são uma desilusão. Começa logo pelo aumento do passivo em 16%, de 117 para 135 milhões de Euros - se a venda de Pepe foi direitinha para amortizar o passivo, tal como Pinto da Costa apregoou, não se nota nada...

Em segundo lugar verifico que os custos estão a aumentar a um ritmo mais elevado do que os proveitos (excluindo vendas de jogadores). Sendo assim, os resultados operacionais (no verdadeiro sentido técnico, que exclui transacções com passes de jogadores - não o sentido sui generis utilizado pela SAD) passaram de 3 milhões positivos nos primeiros 9 meses de 06/07 para 1 milhão negativo. Muito longe de cobrir sequer o serviço da dívida (custos financeiros superiores a 4 milhões/ano)...

Os custos com FSE (Fornecimentos e Serviços Externos) aumentaram 32% (!!); são hoje 7 milhões/ano mais altos do que há 2 anos (ou 60%)... é para mim um mistério que assim seja.

Os custos com pessoal aumentaram em 13%, o que é comprensível. O grosso vai para os custos dos jogadores, e com as renovações com aumento de salário para vários dos melhores jogadores é normal que o total tenha aumentado um bocado, até porque o número de jogadores sob contrato (incluindo emprestados) não diminuiu. Para quem pensava que a saída de Postiga ia ser um "maná" (como tão apregoado por alguns), desenganem-se...

Já as vendas (exceptuando transacções com jogadores) subiram apenas 4%. Sem ser propriamente uma surpresa, já que seria de esperar que as receitas da Liga dos Campeões, TV e bilheteira sejam semelhantes às de 06/07, não deixa de ser algo decepcionante em função das boas notícias que vão saindo sobre patrocínios, merchadising e "Corporate Hospitality" (exploração do Dragão).

Concluindo, valha-nos as vendas milionárias para aguentar o barco. Pelas minhas contas, com a venda de Bosingwa (e exceptuando eventuais vendas adicionais neste mês) devemos acabar o ano com um lucro bastante pequeno, pelos 2 milhões positivos (com uma margem de erro de +- 3 milhões, salvo alguma surpresa).

Se é verdade que a estratégia da SAD assenta (e bem, na minha opinião) em criar as condições para grandes vendas de forma a financiar o défice operacional e financeiro (e o desempenho desportivo), também é verdade que ser necessário encaixar 50 milhões em vendas para fazer lucro (e re-investindo apenas uma relativamente modesta % em novos jogadores) é algo que me dá calafrios: parece-me manifestamente exagerado.

Enquanto conseguirmos fazer vendas milionárias conseguindo continuar a ganhar campeonatos e valorizar novos jogadores (como nos últimos 3 anos), óptimo. Confesso que nos último ano e meio conseguimos fazer isso melhor do que eu esperava (em boa parte por causa do mercado internacional ter espevitado, mas também com mérito da SAD). Mas no dia em que o mercado por uma razão ou outra não funcionar, ou não conseguirmos encontrar substitutos à altura dos que saem (desportiva e/ou financeiramente), vai haver um aperto do cinto demasiado brusco e doloroso...

3 comentários:

José Correia disse...

«Os custos com FSE (Fornecimentos e Serviços Externos) aumentaram 32% (!!); são hoje 7 milhões/ano mais altos do que há 2 anos (ou 60%)... é para mim um mistério que assim seja.»

Presumo que este relatório, por ser "telegráfico", não permita discriminar os diversos custos com FSE. É pena.
Espero que no relatório anual da época 2007/08 já seja possível fazer essa análise.
Por exemplo, eu como sócio do FC Porto e accionista da FCP SAD, gostaria de saber quanto é que a SAD já gastou com a equipa de advogados e pareceres jurídicos que solicitou, por causa de todos os processos que decorrem do 'Apito Dourado'.

José Correia disse...

«Enquanto conseguirmos fazer vendas milionárias conseguindo continuar a ganhar campeonatos e valorizar novos jogadores (como nos últimos 3 anos), óptimo. Confesso que nos último ano e meio conseguimos fazer isso melhor do que eu esperava (em boa parte por causa do mercado internacional ter espevitado, mas também com mérito da SAD).»

Apesar de ser uma estratégia de alto risco, é justo reconhecer que a estratégia seguida pela FCP SAD nos últimos 3 anos - contratações caras > sucesso desportivo > valorização de activos > vendas milionárias - tem tido um inegável sucesso.

Zé Luís disse...

Não estou habilitado para analisar um relatório e contas, nem possuo dados dispon´´iveis para comparação. Por isso, obrigado pelas ideias deixadas.

José Correia, eu não sou sócio nem accionista e por curiosidade gostaria de saber quanto custa esse suporte dos advogados.
Mas é uma despesa inerente aos inúmeros processos a que sujeitaram o FC Porto, creio não haver volta a dar a isso.

Infelizmente, preocupo-me, como cidadão e contribuinte, com o esbanjar de dinheiro no Apito Dourado em toda a sua dimensão, porque isso sai-me do bolso e vejo que os técnicos envolvidos não devem ter mais nada que fazer em investigações além de coisas triviais do pontapé na bola.