quarta-feira, 18 de junho de 2008

Os ciclos


Já não bastava o ciclo económico para nos lixar a vida. Temos o ciclo no futebol. Lucho acha que o seu ciclo no FCP acabou e tem que mudar. O ciclo parece ter uma determinação e vida própria, e ocorrerá no futebol, ao que parece muito provavelmente, de três em três anos. Os jogadores são uma espécie de vítimas da sua força inexorável. Nada podem fazer, se não submeter-se às pressões do ciclo ou do mercado, se preferirem.
Anseiam por novos projectos, outros campeonatos mais competitivos, mais visibilidade e notoriedade. E mais dinheiro, sobretudo. Quem lhes pode levar a mal. O futebol é um negócio e os jogadores são profissionais.

Gostaria que os profissionais da bola fossem menos rebuscados e fossem mais directos na definição dos seus anseios e projectos. Essa “que já dei muitas coisas ao clube” para explicar a fuga, é um argumento que me chateia. Até parece que o clube tem que estar eternamente grato e que, por isso, deve tratar da venda do passe dos que "já deram muitas coisas", fora do âmbito meramente negocial.

O FCP é parte interessada no negócio e deve defender os seus direitos – respeitando o homem e o atleta – sem alienar o esforço do investimento feito e as mais valias que acha justo realizar. Se o futebol é negócio, é para ambas as partes e só deverá ocorrer uma venda se for, igualmente, favorável para o detentor do passe do atleta. Os valores de venda não são despiciendos, para nenhuma das partes envolvidas.

O FCP não pode ser uma peça que se verga e subjuga sob a forma de pressão alta, que mais parece chantagem. Espero que Lucho, pelo respeito que nos merece, não chegue a esse desvario.
Por outro lado, igualmente, espero que o FCP seja exigente e inteligente, sob pena de ficarmos com o jogador como todos desejam, mas com a espada Webster a ameaçar-nos primeiro e a atacar-nos, logo que a lei o permitir.

Obviamente, que tenho pena que o FCP perca um jogador tão valioso e que se enquadrava tão bem na equipa. Não era o mágico, mas foi o comandante nestas últimas três épocas. A sua inteligência e superior leitura do jogo, a imensidão de espaço que cobre, as rupturas que provoca e os equilíbrios que confere à equipa, fizeram de Lucho um jogador quase imprescindível. Além disso, tem sido um excelente profissional. Espero que com o fim do ciclo, não sobre uma menopausa cerebral que lhe retire a lucidez e todo o brilho que com garbo soube criar.


Não sei quais as probabilidades de o manter, renegociando o vínculo contratual e as condições salariais, dentro de um quadro de razoabilidade. Se não puder ser, assim, há que passar ao plano “B” ou “C”, contemplados pela nossa Direcção, certamente, uma vez que o planeamento da próxima temporada está a ser preparado, meticulosamente, há mais de um ano, e que Lucho deixou bem claro na entrevista:
“Nunca falámos de preços. Esse (25 milhões) foi um valor atirado pela Imprensa, talvez um pouco exagerado. Não posso dizer que o meu passe custe tanto dinheiro. A ideia dos dirigentes é que fique, mas já lhes manifestei a minha intenção. Creio que o melhor é buscar uma solução em que todos saiam a ganhar”.

Enfim depois do ciclo da UEFA, aí está o novo ciclo, bem mais apelativo de qualquer forma. É o tempo do defeso, com o cortejo de entradas e saídas, com os novos recrutas a jurar amor eterno ao clube, que aprenderam a respeitar desde pequeninos e que anseiam representar. Que ninguém se iluda : esse amor vale um ciclo. Há divórcios mais céleres. Fiquemo-nos pelo ciclo. Haja futebol!

6 comentários:

Nelson Carvalho disse...

"O FCP é parte interessada no negócio e deve defender os seus direitos – respeitando o homem e o atleta – sem alienar o esforço do investimento feito e as mais valias que acha justo realizar. Se o futebol é negócio, é para ambas as partes e só deverá ocorrer uma venda se for, igualmente, favorável para o detentor do passe do atleta. Os valores de venda não são despiciendos, para nenhuma das partes envolvidas."

Subscrevo esta parte por inteiro, especialmente no caso particular do Lucho, que foi tão somente a mais cara aquisição de sempre do FC Porto, para alem de ser um dos jogadores mais bem pagos do futebol Português.

De resto, isto dos ciclos não mais é do que o mercado que gravita em torno do futebol a fazer pressão, seja para as transferências e sua comissões, ou ordenados chorudos para os atletas.

Jorge Aragão disse...

Não quer ficar... que se va...
Saiu o Deco, veio ele. Sai ele, virá outro.
É a lei do futebol actual. Por isso não endeuso ninguém pois são quase todos iguais.
Veja-se C. Ronaldo,num grande clube e a querer trocar pelo Real para mim bem menos atractivo...
Não quero é jogadores contrariados como quando foi com o costinha e o maniche que nãojogaram nada.
Desde que o Clube não fique a perder, obrigado ao lucho, grande profisional, seja feliz e a vida continua.

José Correia disse...

Bosingwa já saiu.
Assunção já saiu.
Quaresma está com um pé e meio fora (e se ficar vai ser muito complicado de gerir).

Compreendo que o Lucho queira sair mas, se por si só, já seria uma enorme perda, muito difícil de colmatar no imediato, neste contexto, em que já saíram dois titulares e meio, será ainda mais gravoso.

25 milhões de euros?
Como limiar mínimo, talvez, mas não me satisfaz.

miguel87 disse...

Tal como eu previa, vamos a caminho do desmembramento da equipa titular (ou pelo menos da chamada espinha dorsal). Como tal, o prof. vai ter que mexer e muito na sua querida estrutura e não estou a vê-lo com capacidade para levar a cabo tal tarefa com o sucesso necessário. Juntando a isso a esperada pressão dos casos de apitos, tou a ver uma época muito dificil pela frente, ao estilo de 2004/2005.

Mefistófeles disse...

Talvez não, Miguel87. Já resistimos a tanta sangria...Quer-me parecer que o FCP está atento e tem planos B sólidos já preparados. Só faz falta quem fica, continuaremos a ser os mais fortes porque temos de longe a melhor estrutura profissional. É, pelo menos, a minha forte convicção. Se Lucho for, bueno...tudo de bom para ti, Comandante ! Desde que nunca jogues no sport lisboa.

José Correia disse...

«Os avisos de Lucho González, desde a Argentina, anunciando a sua vontade de deixar o FC Porto não demovem Pinto da Costa do propósito de o manter no plantel para o tetra.

De resto, o presidente nem sequer admite que a contratação de Cristián Rodríguez possa ser analisada sob o prisma da alternativa a uma saída do El Comandante. “Para o ano o Lucho será jogador do FC Porto, mesmo tendo vontade de ir para outro campeonato. Por ter vontade de jogar é que vai ficar cá”, disse, mantendo a inflexibilidade em relação a este processo apesar do atleta ter garantido que informou a SAD antes de partir de férias.»

in Record, 25/06/2008