Ontem vi em Leiria algo que nunca pensei ver num jogo de uma competição profissional que, segundo consta, a UEFA considera como a quinta melhor do ano. Uma equipa sobe ao terreno de jogo com oito (8!!) jogadores, a maior parte deles forçados, segundo o Sindicato de Jogadores, tanto pelos clubes de origem (nomeadamente o SL Benfica) como pela própria direcção da Liga.
Com esta imagem impensável o jogo realiza-se, o circo continua e a União de Leiria evite a despromoção automática, porque a pontual é coisa de mais jogo menos jogo. Este é o futebol português, o mesmo dos que quer ter três equipas na Champions League, o mesmo daqueles que dizem que é complicado sagrar-se campeão nacional quando vai haver uma equipa a lutar pelo titulo que talvez jogue contra sete ou oito jogadores rivais na próxima jornada. Este é o futebol português que temos e que mostramos ao mundo que já fez eco em várias páginas web da situação de ridículo absoluto em que nos encontramos.
Pinto da Costa falou sobre esta situação e acertou em cheio quando se referiu a esta directiva da Liga - a mesma que quis inventar o ano sem despromoções e que alterou o acordo estabelecido com o protocolo de equipas B que tanta ilusão me fazia pessoalmente - como a prova viva de que o futebol português não se toma a sério. Vale a pena ler:
«É uma tristeza e um motivo de chacota do futebol português, como pude comprovar hoje [ontem] quando falei com pessoas que ligaram do estrangeiro a perguntar o que se passa. Talvez seja bom que alguns artistas que andam por aí reflitam se há capacidade de termos mais equipas na Liga», afirmou, sem rodeios, o líder portista, que deixou ainda vincada a sua rejeição sobre o alargamento da Liga.
«Se há um clube que desiste a três jornadas do fim, podendo alterar os resultados, se há clubes que com muito sacrifício não conseguem não ter três ou quatro meses de salários em atraso, pergunto como é que com liguilha ou sem liguilha podemos ter mais clubes na primeira divisão?»
Na Escócia, uma liga que não é tão diferente da nossa, o mais histórico dos clubes, o Glasgow Rangers, está em falência técnica e perto da desaparição. Numa liga de 12 clubes é difícil garantir a sustentabilidade do torneio e falamos de um país que ensinou os continentais a jogar sem apelar ao kick-and-rush inglês. Já nem vou falar dos casos suiços, austriacos, dinamarqueses, suecos e belgas, tudo países financeiramente muito mais sólidos que Portugal e onde há um pequeno mercado de patrocínios e financiadores que permitem que as provas se realizem sem situações limite como a que se viveu na Marinha Grande.
Portugal é um país pequeno que tem a mania que é grande. Não o é, nem em população, nem em espaço geográfico e muito menos em recursos financeiros para sonhar emular as verdadeiras potências do continente. Se nas ligas espanhola, italiana e inglesa com 20 equipas há muitos clubes com a corda ao pescoço, como se pode sonhar em Portugal com uma liga de 18 clubes quando num torneio a 16 a maioria dos clubes não paga salários a tempo e horas - veja-se Guimarães, Setúbal, Beira-Mar - os clubes sustentados por Alberto João Jardim na Madeira - e vivem-se ridículos como este.
Ser campeão português é o mínimo que se pode exigir ao FC Porto mas uma prova destas é cada vez menos prestigiosa lá fora. A SAD deve entendê-lo e assumir de uma vez que o projecto de futuro deste clube passa forçosamente por reforçar o seu papel na elite europeia (falamos de Quartos de Final de Champions League e de vencer as Europe League quando lá cair-mos) sob pena de nos deixarmos apanhar por esta espiral auto-destructiva. A planificação desta época deixou a nu que um titulo nacional, ganho contra equipas como estas onde os jogadores não têm para comer, pesa muito pouco comparado com competir ao mais alto nível com a nata europeia. A liga lusa deveria ser imediatamente reduzida a 10 ou 12 equipas e o clube devia cada vez mais pensar em montar os seus planteis para brilhar de forma constante na Europa. Por muito que a UEFA diga o contrário, pessoalmente acho que vencer um titulo de campeão português nunca valeu tão pouco!