domingo, 29 de abril de 2012

Golos sem goleadores

Com os dois golos marcados no Funchal, Hulk passou a liderar a lista dos melhores marcadores do FC Porto nesta temporada com 14. Leva nesta contagem pessoal mais dois do que James Rodriguez (muito menos utilizado que o brasileiro) e seis dos tentos foram apontados da marca de grande penalidade. É fácil adivinhar que o brasileiro não vai reeditar o triunfo da época passada no troféu de Bota de Prata face à distância de cinco golos que leva de Lima do Sporting de Braga.

Historicamente o FC Porto tem um bom lote de jogadores que se sagraram melhores marcadores do campeonato nacional. Ou que pelo menos andaram lá perto. Este ano, no entanto, a equipa de Vítor Pereira nunca encontrou um homem golo. A falta do ponta-de-lança que todos pedimos faz-se notar neste registo particular e leva-nos a outros anos onde o ataque azul e branco estava entregue a jogadores competentes mas que estavam longe de ser verdadeiros matadores. 

Desde 1991 quando Domingos bateu Rui Águas na corrida ao prémio do melhor marcador o FC Porto teve ao seu serviço 10 Botas de Prata. E venceu 14 títulos de Liga. Só por duas vezes vencemos o troféu sem sagrar-nos campeões nacionais. Com Mário Jardel em 1999/2000, o ano de Campomaior, do atraso de Secretário e do "Bitri" que nunca o foi. E com Pena no ano seguinte, no último ano de Fernando Santos ao leme da equipa. No entanto este será o sétimo ano em que - a confirmar-se o titulo nacional que está tão perto - poderemos celebrar o titulo de liga sem ter o melhor marcado do nosso lado. Habitualmente diz-se que para ser-se grande campeão é preciso ter uma grande defesa e um ataque tremendamente eficaz. No caso dos dragões não exige ter um individuo capaz de marcar mais golos que ninguém senão um leque de jogadores com poder de finalização. 

Naturalmente, ter um ponta-de-lança de garantias permite ambicionar sempre a algo mais. Domingos Paciência, Mário Jardel, Benny McCarthy, Lisandro Lopez e Radamel Falcao foram Botas de Prata e fizeram parte das mais espectaculares e eficazes equipas que tivemos nestes últimos 20 anos de liga. Ao arrancar para esta temporada com Kleber e Walter (que juntos somam nesta liga oito tentos) e depois com o remendo que foi Marc Janko (autor de quatro golos) está claro que os dirigentes do FC Porto pensavam que o titulo de liga que os homens de Vitor Pereira estão perto de ganhar só poderia ser conseguido com uma óptima defesa e um grupo coral de goleadores. 

A linha ofensiva da equipa de Vitor Pereira - que muitas vezes preferiu lançar James Rodriguez nas segundas partes, apesar do seu óptimo ratio goleador - assentou em Hulk, Kleber e Varela durante grande parte do ano, com Moutinho e Belluschi/Guarin na primeira parte da época no apoio (a partir de Janeiro passou a ser Moutinho/Lucho e Janko no lugar de Kleber). Entre todos estes jogadores podemos somar 45 golos. Dos 62 já logrados pela equipa (o melhor ataque da prova) há que acrescentar os golos dos pouco utilizados Walter (2), Cristian Rodriguez, Defour, Alex Sandro (1 cada) e dos defesas Rolando (1), Maicon (3), Sapunaru (2), Otamendi (2) e Álvaro Pereira (1). Um cenário que se assemelha bastante a 2002/03, o ano do primeiro titulo de José Mourinho em que o melhor marcador do FC Porto foi Hélder Postiga (com 13 golos, menos cinco que o melhor marcador da prova) mas em que a equipa, no seu colectivo, chegou aos 73 (menos um que o Benfica, equipa mais concretizadora do ano).

No final, tendo em conta o panorama geral (melhor ataque da prova, titulo nacional quase no bolso, dois jogadores no top 5 dos melhores da liga) é licito repensar o debate do ponta-de-lança como elemento critico fundamental à época do FC Porto. É normal que um clube habituado a contar com jogadores de primeiríssimo nível sinta a falta de uma referência de área. Por cada Jardel houve um Farias, por Falcao haverá sempre um Adriano. E no entanto não foi por ter Adriano e Farias sido os melhores marcadores do Porto em dois anos seguidos que a equipa não venceu o titulo nacional. 

Claro que os palcos europeus exigem muito mais e as defesas da Champions (seja o APOEL ou o Manchester) não são as do Rio Ave, Feirense ou Académica, e aí sim nota-se em excesso nas prestações do clube quando não há um homem golo como foi Jardel, Derlei, McCarthy, Lisandro ou Falcao. Mas essa foi a ambição da SAD este ano porque melhor que nós, eles conhecem bem as estatísticas e os registos do clube nas provas europeias quando aposta num ataque de low profile. A nível interno, este ataque tão criticado durante o ano tem chegado para as encomendas e pode terminar o ano, uma vez mais, como o mais concretizador. Hulk não levará outra bota prateada para casa mas provavelmente poderá vestir a sua terceira faixa de campeão nacional. Como adepto e portista prefiro muito mais ver um jogador do nível de Falcao a rematar o jogo da equipa mas também é verdade que entre os pecados de Vítor Pereira não pode estar uma decisão da SAD, decisão que este soube contornar com um ataque concretizador e, eventualmente, campeão!   

2 comentários:

João disse...

Já o tenho vindo a dizer ao longo da época mas .. porra, o Kléber é tão mau. Podia ter-se notado alguma evolução mas não, jogo nos Barreiros, Hulk ganha a direita, enche o pé contrário e remata quando muito provavelmente o nosso ponta de lança estaria em melhor posição. Deveria estar. Mas não estava. Estava, como é costume dele, acantonado atrás do seu marcador directo. Como SEMPRE.

Por alguma razão que ninguém me consegue explicar, o Kléber, e provavelmente quem quer que seja(m) o(s) preparador(es) físico(s) responsáveis, acha que o movimento que ele deve fazer sempre que o Hulk/Varela/James ganham um flanco é seguir o marcador directo como uma sombra em vez de lhe tentar ganhar a frente ou simplesmente parar para dar uma linha de passe atrasada. Esta merda aprende-se nas escolinhas. É o mínimo. Que o Helton não saiba disto eu até dou o desconto. Que seja novidade para o Rolando e o Otamendi, ainda vá. Agora um avançado que actua como um central é anedótico.

O pessoal critica, e com muita razão, o Janko. Mas basta ver como ele aborda esse tipo de lances (normalmente tenta ganhar a frente, como o Falcao fazia) para ver que é infinitamente melhor que o Kléber. É pena porque tem bom físico e margem para evoluir, mas chegar aos 23 anos sem o mais elementar do mais elementar da posição dele.. pá, emprestá-lo a quem lhye pegue.

Isto só para reforçar o que já tinha dito aqui. A direcção, nomeadamente o Antero Henrique e quem está mais ou menos directamente responsável pela gestão do plantel, são os grandes culpados de termos exponenciado a mediocridade do Vítor Pereira com um grupo desfalcado (desFALCAdo assenta como uma luva), desmotivado, mal organizado e, naturalmente com este mago da bola à frente, mal aproveitado também nas poucas valências que sobravam. E já não é a 1ª vez que o Antero ou o Pinto fazem palhaçadas destas. É preciso ser mais exigente que o milhafre não vai dar borlas destas todos os anos.

José Correia disse...

Costuma dizer-se que o ataque ganha jogos e a defesa campeonatos e, em certa medida, foi isso aconteceu esta época.

A partir da altura em que o Maicon passou a jogar a central e a fazer dupla com Otamendi (com o Rolando a justificadamente ir "descansar") e em que passamos a jogar com um defesa direito de raiz, quantos golos sofreu o FC Porto?