terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A entrevista de Lopetegui ao El Pais em frases e conceitos


Julen Lopetegui concedeu uma entrevista ao prestigioso jornal espanhol El Pais. Uma entrevista onde coloca sobre "papel" aquilo para que foi contratado e o que tem como objectivo aplicar. Parece evidente, pelo discurso do treinador, que todos na estrutura do clube têm assumido que é um projecto a médio prazo independentemente do que passe até Junho, pelo menos. Parece-me uma boa solução e ninguém poderá dizer que a SAD não é fiel a si mesma, com o relevante resultado final. Este treinador sabe que tem o respaldo da direcção - coisa que faltou a Vitor Pereira, por exemplo, de forma clara - e que a aposta do Clube em renovar o clube de cima abaixo obedece a esse desejo de mudar.

Realmente, para quem conhece o trabalho a fundo de Villas Boas e Vitor Pereira, o rumo aplicado por Lopetegui é um regresso ao que já se fazia. O que muda essencialmente são os interpretes. Cada vez mais novos, cada vez mais preparados para os desafíos do futuro imediato. A idade não é coincidência. Por um lado, Lopetegui é um treinador de formação. Sempre o foi em todas as suas experiências prévias. Por outro está a velha filosofía de que a aprendizagem é um largo processo e quanto antes se começar, melhor. Não é o mesmo tirar “vícios” a veteranos que ensinar, quase desde os primeiros passos profissionais, a jovens promessas.

Dessa entrevista, muito boa aliás, retiro algumas frases chave que vale a pena reler para entender o que quer e o que planeia Lopetegui para o FC Porto nos próximos dois anos:

 “Da-se por garantido que os jogadores entendem o jogo e não é verdade”
A esmagadora maioria dos adeptos parte do principio que todo o jogador tem, no seu interior, um Xavi Hernandez mas que só alguns poucos o desenvolvem. Lopetegui pertence ao grupo (onde me incluo aliás) que pensa precisamente o oposto. A maioria dos jogadores são, em termos tácticos, e para usar o bom calão da minha “Invicta” “cepos”. E são-no porque a esmagadora maioria dos clubes, na área da formação, não fomenta a aprendizagem do jogo como tal mas sim o desenvolvimento físico e, eventualmente, o trabalho posicional concreto. Quando um futebolista com 19 anos chega à primeira equipa há muitos conceitos básicos que nem sequer explorou ainda e por isso o salto para a elite custa tanto a muitos que tanto prometiam nas camadas jovens. Por isso mesmo o trabalho do treinador é cada vez mais importante. Menos espaços, ritmo mais intenso, maior necessidade de compreender o máximo número de conceitos possíveis. Hoje em dia os futebolistas continuam a ser as estrelas mas cada vez mais os jogos se decidem no trabalho diário dos treinadores.

“Quando recebi a oferta do FC Porto percebi que queriam criar uma maneira de entender o jogo. Esta é a equipa mais jovem da história do Porto  e esse converte-a num projecto muito atractivo.”


Lopetegui parte do principio com esta afirmação que nunca se jogou como se joga agora no clube o que não é certo. Não é por acaso que ao Porto de Villas-Boas se comparava em toda a Europa com o Barcelona de Guardiola. O que sim está claro é que o ano de Paulo Fonseca deixou claro que não deve haver novas derivas futuras e que o modelo deve ser aprofundado até ás categorias base. A juventude do projecto também não deve enganar. Os problemas financeiros do clube forçam-nos a recorrer cada vez mais a jogadores jovens (comprados, emprestados, graças a fundos) com salarios mais baixos e potencial de rentabilidade futura maior.

“Eu quero que os meus jogadores sejam capazes de entender o jogo e acho que quando jogas entendes muito pouco e isso passava-me também a mim. E a verdade é que a riqueza da tua equipa depende das soluções que te dão os teus jogadores”.


Cada vez é mais importante ter jogadores de talento no plantel. O espaço para haver futebolistas que apenas sabem cumprir uma função (vide Fernando, por exemplo) vai diminuindo quando queres implementar um modelo de jogo que exige uma constante adaptação do jogador. E isso leva-nos a Ruben Neves. É um 6? É um 8? Não é bem nenhuma das coisas mas desempenha-se igualmente bem em ambos lugares porque entende o jogo e sabe adaptar-se ás soluções que tem para oferecer. Por isso Oliver pode jogar na ala em momentos pontuais ou Brahimi. Jogadores uniposicionais funcionam cada vez menos em equipas dinâmicas que querem ter a bola. A maior diferença? Cristiano Ronaldo é o melhor rematador do mundo, joga bem em diagonal mas precisa de espaço para mexer-se e aproveitar os seus recursos. No meio do meio-campo ou só na área perde muito. A Messi podemos vê-lo em qualquer zona do terreno de jogo porque está preparado desde a mais tenra idade a saber dar soluções para todos os problemas.


“Temos de ser muito agressivos quando perdemos a bola no campo contrario. Esse roubo é uma arma, mas de ataque, não de defesa, porque o adversário está a preparar o seu ataque e se a recuperas encontras espaços livres”.


Uma das grandes armas do Porto de Villas-Boas (e do Barcelona de Guardiola) era a pressão alta e o rápido roubo de bola, um conceito recuperado do Milan de Sacchi e do Dinamo de Kiev de Lobanovsky. Essa pressão alta obriga aos jogadores a um constante trabalho físico o que muitas vezes choca com a juventude dos jogadores do plantel (o Ruben jogava 80 minutos por jogo há poucos meses) e esse savoir faire de saber como dosificar-se (o melhor exemplo do futebol actual é, sem dúvida, Tiago). Nesse puzzle um jogador como Herrera seria válido – devido à sua boa capacidade de recuperação – se depois a sua tomada de decisão não fosse habitualmente desastrosa. Essa dose de agressividade pedida por Lopetegui tem faltado este ano em muitos jogos e deve-se, sobretudo, à natureza dos jogadores disponíveis.

“A chave de tudo é que a posse de bola não seja uma arma contra nós. É preciso saber dar-lhe uso.”


Os grandes profetas da possessão têm lidado com este problema há bastante tempo. Ter a bola nos pés para atacar e também para defender (e nesse capitulo a Espanha demonstrou que tanto pode ser uma máquina de ataque ao bom estilo holandés como uma Itália com a bola a defender e evitar o desgaste físico e psicológico do jogo posicional sem esférico) e isso foi uma das grandes queixas ao FC Porto de Vitor Pereira e agora também a este. Tinhamos a bola mas raramente sabíamos transformar a posse em perigo real.
O caso mais exemplar dos últimos anos talvez tenha sido o jogo contra o Malaga, no Dragão, onde o domínio foi asfixiante mas as oportunidades (e o resultado) tão escasso que acabamos eliminados no jogo da segunda mão. Naturalmente que ter a bola só serve se esta for aplicada em criar desequilíbrios basculando o rival até encontrar gretas. Para isso é preciso dois elementos fundamentais: um conjunto de jogador que saiba fazê-lo de forma homogénea (e aí é onde entram as habituais criticas a Quaresma, Tello ou Herrera que perdem o sentido grupal no processo) mas também uma rotina que é difícil de aplicar num projecto renovado quase de raiz e que se prolongará ad aeternum num clube que vive de vender os seus melhores activos.

“Ás vezes podes correr menos e outras vezes mais porque o rival também pode querer ter a iniciativa do jogo e o futebolista tem de estar preparado para isso, para essa dupla dinâmica.”

O FC Porto disputa 90% dos jogos de uma temporada procurando ter a iniciativa. Aliás, como ficou demonstrado na derrota com o Benfica, mesmo na esmagadora maioria dos jogos contra os rivais pelo titulo, a iniciativa cabe-nos a nós. Salvo algum jogo pontual de Champions League, a bola é nossa. O grande problema é precisamente esse, que os jogadores se habituem tanto a ter a bola que contra um rival distinto se vejam completamente descaracterizados e perdidos em campo. É um tema importante mas não fundamental, ainda que esse 10% de jogos se possam transformar rapidamente nos jogos mais importantes do ano. No entanto acredito que face á nossa realidade é cada vez mais importante saber pensar o jogo tendo a bola mas abrindo espaços nos habituais autocarros que encontramos. Afinal, esse é o nosso cavalo de batalha.

“Os treinos devem ser explicados aos jogadores antes de que se ponham a fazer os exercícios. É preciso que entendam o porquê porque assim sabem melhor o que têm de fazer.”


Como disse ao principio o trabalho do treinador – e por isso a escolha do treinador – é cada vez mais relevante. No FC Porto sempre se pensou o oposto, que o importante era ter um homem de estrutura (vide Fernando Santos, Jesualdo Ferreira) e bons jogadores. Ciclos curtos sempre e pouco poder ao treinador. Uma ideia extremamente desfasada da realidade. Houve uma altura do jogo, sim, onde os treinadores eram apenas responsáveis da condição física. Depois passaram a ser, sobretudo, organizadores e motivadores. Hoje são o motor de tudo. Os jogadores movem-se em espaços pre-determinados e a pesar do seu talento, uma equipa só funciona se o seu treinador está a fazer bem o seu trabalho. De aí que os treinos sejam cada vez mais relevantes. Não só nos lances estudados de laboratório mas, sobretudo, na repetição de circunstancias de jogo. É bom saber – não era difícil de imaginar – que o treinador do FC Porto é consciente dessa situação mas também parece claro que apesar das suas boas intenções há ainda muitos jogadores que não assumiram o seu papel como se espera deles.

“O futebolista aprende por repetição e descobrimento espontâneo e por isso temos de automatizar movimentos mas sempre com cuidado, não queremos matar a criatividade do jogador. Este tem de saber que nesse momento chave, quando acaba o espaço para o automatismo e aparece o espaço para a improvisação, o que fazer”.

Quaresma, Tello, jogadores de talento técnico superior mas com problemas no jogo automatizado colectivo. Brahimi, Oliver, jogadores de talento técnico superior e com total integração nos automatismos do grupo. Essa é a grande diferença entre uns e outros. São os quatro virtuosos com a bola mas apenas dois deles realmente sabem que naquele momento onde o treino acaba e a realidade começa, que decisões tomar para beneficio do colectivo. Seguramente haverá trivelas fantásticas de Quaresma e sprints com golo ou assistência de Tello e é importante ter esses jogadores no plantel para desbloquear uma equipa. Mas a realidade é cada vez mais outra e um treinador que tem um futebolista como Pedro Rodriguez, por exemplo, tem uma mina de ouro. Só os grandes clubes podem presumir de ter figuras mundiais tão grandes que saibam manobrar com igual facilidade os dois componentes. Para clubes como o FC Porto, com as suas limitações de mercado, é inevitável ter um Tello em vez de um Pedro Rodriguez (para que entendam o abismo que há entre dois jogadores da mesma escola de formação) porque o segundo é muito mais raro e portanto caro e o primeiro, embora espectacular, aos treinadores mais exigentes não convence. O que terá de saber fazer Lopetegui – e quem esteja no seu lugar – é reducir ao máximo as debilidades individuais dos Tellos, transforma-los de melhor forma possível em Pedros. Jogadores que sabem que a sua criatividade não desaparece com o treino mas que, dominando ambas facetas, nos momentos da tomada de decisão, raramente se enganam. E ele sabe bem isso!

Quem quiser a entrevista na integra pode fazê-lo aqui.

24 comentários:

João Machado disse...

Excelente comentário Miguel. E excelente até por 2 referências no texto, uma ao Messi e ao porquê de ser o melhor do mundo... Jogue onde jogar, entendo o jogo como ninguém e dá-lhe o que este precisa. Sempre. E referência ao Pedrito, que é para mim o protótipo de extremo moderno, e que se quer no futebol actual. É tudo o que Quaresma não é, por exemplo.
Referência ainda para o que disse Julen sobre os jogadores entenderem o jogo... Não entendem, na sua grande parte. Concordo em absoluto com o Mister (o que dizer dos comentadores e LFLobos da vida...)! Quaresma aos 30, por exemplo, percebe muito menos do jogo que Óliver aos 19... E como isso importa no jogar da equipa.

PS: só discordo na parte da referência ao jogo Porto-Málaga. VP fez tudo bem. O Porto, no que lhe concernia, não podia ter estado melhor. Só que ainda são os jogadores que jogam e no último terço, sem James, a nossa criatividade era muito muito curta. São os jogadores que desequilibram e tivemos vários lances que deviam ter dado mais, mas Varela, Izmaylov, Moutinho e mesmo Lucho faltava-lhes o sal do futebol: criatividade.

DC disse...

É uma boa entrevista. Revela a intenção do Porto de adoptar este estilo de jogo o que me agrada bastante. Tenho muita pena que não o tenham feito com VP e tenham tido a lamentável experiência de PF a atrasar este processo.
Como tal, seja qual for o resultado deste campeonato, entendo que é mais benéfico dar uma segunda época a Lopetegui do que voltar a rasgar tudo e começar de novo.
Muito interessante também a referência à importância da tomada de decisão e à liberdade do jogador para o fazer. O entendimento do jogo é o essencial num jogador. Os problemas do Tello, por exemplo, nos 2x1 e 2x0 partem todos desse entendimento. Espero que Lopetegui trabalhe isso com ele.

E espero que a equipa vá evoluindo também no estilo de jogadores contratados, já que para este modelo de posse ainda há bastantes corpos estranhos, com centrais e médios a estarem claramente desajustados para este modelo.

Portanto, não acho Lopetegui um grande treinador, mas acho-o competente. E percebe-se que tem as ideias certas e confiança nelas. Espero que os eventuais maus resultados não façam a direcção, novamente, deixar de acreditar nas ideias e partir para o caminho fácil de mudar tudo. É necessário continuar a trabalhar os jogadores actuais e contratar na próxima época de acordo com esta ideia de jogo para que a equipa cresça de forma sustentada.

tiago disse...

Acho interessante a visão do treinador e subscrevo a maior parte das suas ideias.Mas penso que há um problema: Oliver, Tello ou Casemiro (já para não falar de Jackson) estarão no Porto para o ano?
Se ele quiser ensinar os jogadores a ler o jogo, pode fazer esse trabalho com Ruben Neves, Gonçalo ou o Ricardo Pereira.Mas será que ele terá 2 anos para trabalhar estes jogadores?
E Quaresma e Adrian? Será que vão aprender agora a ler o jogo?
E Quintero, que vai na 3ª epoca, quando vai assumir-se como titular?Sendo a equipa mais nova do Porto em muitos anos, temo que a pressão dos resultados ditará se este treinador terá condições ou não de aplicar as suas ideias nesta equipa.

João Machado disse...

A propósito do tema, dei com isto estes dias:

http://equipa-tecnica.blogspot.pt/2015/02/lopetegui-e-importancia-da-decisao.html

Luís Vieira disse...

Parabéns Miguel, conseguiu condensar num artigo, a reboque da entrevista do Lopetegui e, consequentemente, do seu entendimento do jogo, uma filosofia de futebol. Não é a verdade sobre o futebol. Não é o "fim da história", à la Fukuyama, aplicado ao futebol. É uma forma positiva de encará-lo e, se bem aplicada, entusiasmante (como vimos em Barcelona e com a Espanha), mas, convém não esquecer, há outras formas de o conceber que também dão resultados. E no Porto o sucesso é (quase) tudo - arriscaria dizer que no futebol, em geral, ou na esmagadora maioria dos clubes, caso contrário o José Peseiro seria um treinador celebrado em vez de andar a mendigar pelos Emirados Árabes Unidos. As ideias do Lopetegui são boas, a sua operacionalização é razoável, resta, por isso, aguardar pela sua evolução para ver se serve ou não ao Porto. Uma coisa é certa: se não conseguir resultados, a sua filosofia de futebol não lhe bastará para se manter no cargo. Por outro lado, o Miguel também está de parabéns por ter conseguido avaliar 3 jogadores normalmente questionados por estas bandas, sem destruí-los, apontando-lhes defeitos e virtudes. Mesmo não concordando com algumas apreciações (como, por exemplo, o adjectivo "desastroso" para caracterizar a tomada de decisão do Herrera - como pudemos vê-lo no jogo com o Moreirense, em que ofereceu 2 golos de bandeja, ou no trabalho efectuado hoje pel'O Jogo), elogio a postura de quem consegue criticar construtivamente. Mais a mais, não é so o Tello que pode melhorar a sua capacidade de decisão, o Herrera também pode fazê-lo, sendo que o Lopetegui tem tido um impacto muito postivo na sua produção. Basta comparar a época passada com esta. Noutro âmbito, discordo que o Jesualdo tenha sido um mero "homem de estrutura": foi muito mais do que isso, por vezes era a própria estrutura a nível comunicacional. De resto, em termos técnicos, era bastante bom, um verdadeiro professor, como o comprovam os variados elogios que os jogadores lhe vão fazendo, reconhecendo a importância determinante na sua evolução, designadamente o Falcão, o Hulk e o Lucho, o que não é coisa de somenos. Decididamente, com ele, começaram a perceber melhor o jogo, pelo que o trabalho de treino do Jesualdo não deve ser menorizado.

Anónimo disse...

Bom artigo Miguel, só lhe falta postar mais no EmJogo ;)

Miguel Lourenço Pereira disse...

JON,

No Porto vs Malaga a equipa fez tudo bem e faltou o ultimo terço. Ora, se a outra equipa se posiciona, como fez o Malaga, longe da grande área (defenderam sempre numa linha de 25 metros da baliza, esse ultimo terço é, realmente responsabilidade dos jogadores. De aí o problema que levantou o Lopetegui. Aquela equipa estava habituada a encostar os rivais até á grande área e procurar aí os espaços. O Malaga subiu a defesa, obrigou a procurar esses espaços muito mais atrás, com vários metros livres entre a defesa e o Willy Caballero e isso foi contra as rotinas do colectivo. Faltou saber encontrar o momento certo para encontrar os espaços e as movimentações que fizessem sangue naquela defesa e nesse caso, como bem apontas, faltou a criatividade individual!

Miguel Lourenço Pereira disse...

"não acho Lopetegui um grande treinador mas acho-o competente".

Estamos de acordo. O Lopetegui não vai ser mais do que já vimos. Nem pela idade, nem pela experiência me parece que vá "explodir" como treinador. O que vai sim é ter a sorte ou o azar de ter o tempo e os jogadores certos que se adaptem á sua ideia de futebol. Se o conseguir, sendo que é uma ideia positiva, é altamente provável que tenha uma boa dose de sucesso. Se faltar um desses dois condimentos (tempo para amadurecer ideias e jogadores e futebolistas de nivel) então ficar-se-á pelas boas intenções.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Tiago,

Disso mesmo falei no comentário á entrevista.
O FCP por necessidade de tesouraria e por posicionamento numa liga menor em termos de receitas e exposição está condenado a ser um clube de ciclos curtos de 2-3 anos, como aliás vários dirigentes confirmaram. Para um treinador assim ter sucesso precisa de tempo e ter muitos jogadores a trabalhar as suas ideias. O projecto passaria por manter os mais novos, aqueles que mais tenham aprendido, e ir vendendo progressivamente os mais velhos, um pouco como está a passar com o Lyon que depois da hegemonia que teve na década passada reencontrou-se precisamente dessa forma com o sucesso!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Luis,

O Jesualdo foi um bom pedagogo e um bom treinador de campo, o que antigamente era praticamente as funções de um segundo-treinador imprescendivel. O perfil dos Murphys, Taylors e afins. Sabia falar com os jogadores, fazê-los aprender dos erros e nos treinos trabalhava muito o aspecto táctico. O Fernando Santos também é desse perfil. Mas nenhum deles era um verdadeiro treinador de qualidade e ambos se adaptaram perfeitamente ao ideal de estrutura porque abdicavam do papel de "gestor" do treinador - contratações, renovações, debate com dirigentes para investir aqui e ali - e trabalhavam com o que tinham de forma clara. Para mim essa é a grande diferenã de ambos para um Vitor Pereira que tinha tudo para ser um homem de estrutura salvo por um "defeito", um caracter especial que lhe exigia querer mais!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Obrigado António, falta de tempo que espero que deixe de ser um inconveniente brevemente!

Luís Vieira disse...

Miguel, continuo em desacordo. O Jesualdo foi, sim, um "verdadeiro treinador de qualidade" e não pode ser metido no mesmo saco que o Fernando Santos. O palmarés de ambos no clube ajuda a compreender a diferença, mas é apenas um indicador. O Jesualdo é um profundo conhecedor do jogo, basta ouvi-lo em debates na comunicação social ou em conferências desportivas/académicas para percebê-lo. Foi um treinador de corpo inteiro e não um mero "segundo-treinador". Era soberano no campo/aspecto técnico, era o "front-man" na comunicação (quase o "single-man", passe a expressão) e tinha intervenção na gestão das contratações, mantendo uma relação muito estreita quer com o departamento de scouting, quer com o Antero Henrique, quer com o Presidente. Admito que o Lopetegui tem mais preponderância neste aspecto de "manager", como pudemos ver nos recentes defesos ou na interligação equipa A-equipa B, mas isso não invalida o trabalho abrangente do Jesualdo na sua passagem de 4 anos pelo nosso clube (a maior, consecutiva, no reinado do Pinto da Costa).

Anónimo disse...

Eu aqui concordo com o Luís.

Anónimo disse...

Eu acho que a maioria dos treinadores dá um grande privilegio à tomada de decisão, porque teoricamente, é necessário que assim seja.

Mas depois, há coisas que podem e devem ser usadas para desculpar um treinador. Vê o exemplo do Hulk. Alguém era louco o suficiente para tirar o Hulk da equipa só porque não era o melhor na decisão, e meter lá alguém que fosse melhor nessa característica do que ele, salvo aquelas excepções como o Messi, etc.?

O Herrera é a mesma coisa. Decide mal com bola (bastantes vezes), mas e sem bola? Como se enquadra nas ações colectivas? Como funcionam as ações dele a nível de princípios específicos ofensivos? Eu diria que bastante bem... E é aquilo a que podemos chamar um jogador com algumas dificuldades de execução ou percepção num ou noutro aspecto, e com algum défice na tomada de decisão.

O Quaresma não dá tanto ao jogo quanto o Herrera, é certo, mas também, sejamos honestos, o homem tem evoluído bastante, cumpre perfeitamente com aquela que, penso eu, seja a sua função nos processos da equipa, e acrescenta algumas coisas fruto da sua qualidade técnica que, por exemplo, o Tello não acrescenta (este dá outras coisas também, é certo). Pensa assim, o Quaresma nunca na vida vai explorar o espaço tão bem quanto o Tello, mas o Tello nunca na vida vai ter a qualidade de cruzamento e remate do Quaresma (acabam ambos por não ser exímios na decisão de qualquer dos modos). Ou compara com o Adrian, que decide bem.

E depois há outros factores. São dois jogadores com grande peso no balneário, que não sabemos como treinam, por exemplo. Diziam que o Quintero treinava mal... Se tens um jogador que treina mal e que é muito talentoso com a bola nos pés, e tens outro que cumpre as funções que lhe são indicadas precisamente porque treina bem, ainda que seja pior tecnicamente, acho que a decisão não é difícil. Pelo menos para mim, não era.

(isto a propósito de um comentário no blog, porque à partida as declarações do treinador e as opções parecem inconsistentes)

João Machado disse...

Isso parece-me óbvio... O Quaresma joga porque tem de jogar (peso balneário, adeptos, etc.). Não acho que ele dê mais ao jogo e nos coloque mais perto de ganhar que o Tello, o Adrián, ou o Ricardo.
Da mesma forma, o Herrera joga porque tem presença na área, que no sistema que o mister usa é fundamental. Sem bola acho que ele é muito fraquinho ainda, embora "corra muito". Só digo sobre isso que Lucho, o nosso melhor 8 pelo menos desde Maniche, às vezes bastava dar 2 passos ao lado e matava jogadas adversárias... É o tal "entender o jogo". Por outro lado, Herrera é para valorizar e quiçá vender. Já Evandro com 27 não acredito. No entanto, para mim, no mínimo, entende melhor o jogo que Herrera...
Casemiro, por exemplo, tem tanto tempo de jogo face a Rubén porque deve ter cláusula de número de jogos...

Ou seja: é óbvio que há mil condicionantes que um treinador tem de ter em conta quando escolhe o 11 para além da tomada de decisão.


PS: Não há notícias de renovação para Quaresma, certo? Oxalá, oxalá... Ainda me dói o coração pensar que Lucho saiu com salários em atraso numa altura em que fomos buscar Quaresma para "símbolo" por salários seguramente astronómicos. :(

Anónimo disse...

Não acho. Se o Quaresma tivesse que jogar pelos adeptos (e também pelo peso no balneário), tinha jogado contra o Lille e afins, e o Lopetegui tomou uma posição, sendo que nem os assobios dos adeptos o demoveram, se bem te lembras.

Acho que dá coisas diferentes do que esses três. Apesar de ser um pouco curioso, dado que o Quaresma não é tão forte no 1x1 quanto foi, se reparares, muitas equipas da nossa liga, no sector defensivo, quando a bola chega ao Quaresma e está 1x1, metem uma cobertura muito próxima da contenção. Pode ser respeito dos outros treinadores, seja o que for, ajuda no espaço. Outra coisa do Quaresma boa é que, se for referência na saída em contra ataque ou ataque rápido, ele por norma consegue executar rápido e bem um passe na profundidade contra linhas defensivas que estejam no sector intermédio. Nota-se, especialmente quando joga com o Tello, e por alguma razão o Jackson baixa, o Tello costuma fazer diagonal na profundidade, e no caso de o Quaresma receber e rodar, é costume tentar meter lá a bola. Mas este exemplo também ajuda a perceber que se fosse ao contrário, o Quaresma não conseguia fazer o que faz o Tello, i.e. esse tipo de movimentos (já no Barça o Tello fazia e bem). Da mesma forma que nenhum dos dois se movimenta entre linhas como o Adrian, ou explora espaço e movimento como ele. E que nenhum dos dois será tão elástico quanto o Ricardo. São contextos. Depende do que queres numa determinada fase da evolução do modelo, da estratégia perante determinado adversário, do estado do jogador (como treina, se anda motivado, etc.), etc. Por isso é que a rotatividade, o tal papão, não é algo assim tão mau. Não é rodar por rodar, é perceber que se há um tipo de movimento que o Tello faz e o Quaresma não, e que se esse movimento pode estrategicamente ser muito importante para a equipa, ceteris paribus, então opta-se pelo Tello. Ou então, se o que faz o Tello for mais importante perante um determinado adversário do que aquilo que faz o Quaresma... Imagina a situação da profundidade, é preferível o Tello ao Quaresma (isto é se melhorar na finalização lol).

O segundo parágrafo não concordo nada. Não é a questão de o Herrera correr muito ou correr pouco. Ele corre bem. Na função que se presume ser a que o Lopetegui lhe atribui, ele cumpre muito bem. Ele não está só em zonas de finalização. Um exemplo que nos últimos jogos tem sido claro é a alternância entre os interiores na finalização... Ultimamente, um vai na finalização, por exemplo, quando a bola varia de corredor para tentar criar superioridade na ala e criação, e o outro fica à entrada da área para eventuais segundas bolas/transição defensiva. E o Herrera tem cumprido muito bem. Pode ter as tais dificuldades de execução/leitura com bola, mas sem bola, não o trocava pelo Evandro de maneira alguma. E gosto bastante do Evandro.

Sobre o Lucho e o Maniche, a questão é que são funções diferentes em modelos diferentes. Não dá para comparar. O Messi na Argentina nunca foi o Messi do Barcelona do Pep/Tito e agora desta fase do Luis Enrique. Ou se foi, foi a espaços. Antes de entender o jogo propriamente, deves entender a tua função no modelo de jogo que o treinador te propõe e que vai evoluindo conforme vários factores.

O Herrera será para vender, mas:

a) isso faz parte da cultura do clube e por conseguinte do modelo.
b) não acredito que isso tenha muita influência nas escolhas do treinador. Não é a explicação mais simples.

Casemiro não é tão mau quanto se pinta e até tem evoluído. Prefiro o Rúben na maioria das coisas, honestamente, mas entende-se.

Sobre o PS, desculpa mas não acredito nessa saída dos salários em atraso. Só o Lucho saberá porque saiu, mas duvido muito que tenha sido por isso honestamente.

João Machado disse...

O Lucho saiu porque viu o barco completamente à deriva, porque lhe deviam dinheiro mas houve dinheiro para pagar a um gajo que é uma primadona e queria mandar no balneário tanto como ele, e porque lhe ofereceram guito a valer para a reforma lá no boda onde ele se meteu...

Claro que foi um conjugar de razões, mas foi um erro total deixá-lo sair, especialmente se havia um trade-off entre Quaresma e Lucho...

Exercício: imaginem que este ano não tínhamos Quaresma, mas sim Lucho. Imaginem o que não traria em experiência e liderança ao balneário, vs. um tipo que se acha o maior e que em cada 5 bolas que recebe tenta 3 trivelas… Um é um senhor e um líder natural, o outro é rapazola com uns penteados da casa dos segredos…

Anónimo disse...

Desculpa lá Jon, mas dizeres que o clube devia dinheiro ao Lucho e que foi por isso que ele saiu, é uma acusação grave. Sem provas disso, não tem valor nenhum, como deves entender.

Eu acho que só o Lucho e poucas pessoas saberão porque razão o Lucho saiu. Não sei se foi pelo Quaresma, até porque eles já estiveram no mesmo balneário. Não sabemos se foi um trade-off.. Porque razão haveria de ser um trade-off anyway?

Eu preferia ter o Lucho ao Quaresma... Mas o Quaresma é tão rapazola da casa dos segredos pelo penteado quanto o Lucho é pelas tatuagens (e penteados, diga-se). Eu não sei se o Quaresma se acha o maior, não o conheço, mas admito que transpareça bastante isso pelas atitudes dele às vezes. Não seria um capitão que eu indicasse. Mas daí a valer zero, ou a ser uma barata no nosso clube, ainda vai bastante.

Daniel Gonçalves disse...

JON às 19:10 disse
"O Lucho saiu porque viu o barco completamente à deriva, porque lhe deviam dinheiro mas houve dinheiro para pagar a um gajo que é uma primadona ..."

Totalmente FALSO. Não sei onde é que foi inventar esta «estória» ou onde ouviu tal boato, mas não corresponde à realidade dos factos. Lucho saiu porque teve uma atitude desrespeitosa (para não utilizar palavra mais forte) para com a Administração e para com o Clube. Se houve alguém que se considerou uma primadona e acima do Clube, faltando ao respeito à estrutura do FC Porto esse alguém foi o Lucho, portanto caro JON não venha com opiniões deturpadas da realidade. Nada de novo do Lucho, já é reincidente, em 2009 teve uma atitude incorrecta ao vir para a opinião pública afirmar que "se fosse necessário ia a nado para a Valência". Portanto esteve muito bem a Administração em "despachar" Lucho, nenhum atleta está acima do Clube e faltas de respeito devem ser sancionadas. Ficar refém dos amuos ou dos caprichos de um atleta é que não.
Quanto ao "gajo" a que o JON se refere, independentemente do valor futebolístico, está a servir o FC Porto, portanto mais respeito pelo atleta em questão, porque esse vocabulário "gajo" é um desrespeito quer para com o Clube quer para com o atleta, é melhor consultar os Estatutos do FC Porto e deveres do sócio/adepto para com os funcionários e atletas do Clube.

João Machado disse...

Caro Daniel,

Quer dizer... eu não posso dizer que deviam dinheiro ao Lucho, mas o Daniel pode afirmar que o Lucho teve uma atitude desrespeitosa? Sem afirmar qual e como e onde? Ok...

Quanto a dizer que o Quaresma é um gajo... Acho que era chato era se dissesse que era uma gaja, embora a julgar pelas leggings e saias que alguns jogadores agora usam, fico meio na dúvida...

DC disse...

Lucho desrespeitar a direcção? Pois sim... Deve ser provavelmente o jogador mais querido pelo PdC actualmente.
Realmente na net é só fontes seguras.

Daniel Gonçalves disse...

Caro JON,

não contrariou o meu argumento sobre a atitude primadona do Lucho.

Sobre o comportamento desrespeitoso do Lucho, bastava acompanhar alguns "ruídos" que vieram para a praça pública. Quando o treinador era o Paulo Fonseca e implicou agressões físicas e insultos verbais da parte do Lucho a funcionários do Clube. Obviamente que o FC Porto possui uma estrutura interna fechada e não permite - ainda bem - que qualquer assunto interno, ou pormenores relativos a ele, venha para a praça pública. Quando o campo de treinos ficava ao lado do antigo estádio das Antas era mais fácil sabermos de atritos, ou da falta deles, no balneário, bastava observamos “in loco” o treino da equipa.

Uma coisa é dever meses de salários a um atleta, outra coisa muito diferente é o jogador sair sem receber algum valor relativos a prémios de jogo a vencer no futuro, ou sair sem receber uma possível indemnização/recompensa. Sendo justo, e nem é preciso atermo-nos ao Código de Trabalho, qualquer instituição que se preze após a atitude de Lucho podia despedi-lo com justa causa.

Daniel Gonçalves disse...

DC,

"Deve ser provavelmente o jogador mais querido pelo PdC actualmente." Foi o próprio Presidente do FC Porto que lhe confidenciou tal? Se não sabe do que fala é preferível não efectuar afirmações sem fundamento. Guarde essas fontes seguras para si.

Daniel Gonçalves disse...

"Deve ser provavelmente o jogador mais querido pelo PdC actualmente."

No entanto a direcção aceitou, sem pestanejar ou sem remorsos, em 2014 uma proposta vinda de um clube, sediado num País insignificante no panorama futebolístico, e vendeu o Lucho quando este podia perfeitamente acabar a carreira no FC Porto. Se o atleta era tão valorizado a adorado pela Administração não teria sido vendido. DC você não sabe do que fala.