terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os Mestres e os Misters

Não só em Portugal, na Holanda também, sempre houve uma certa distinção e rivalidade entre os treinadores que saíram da fornada de jogadores e os que transitaram do ISEF (ou congénere) para o desempenho de cargos maiores como técnicos de futebol.

É bem certo que Pedroto diplomou-se com um afamado curso técnico em França e Artur Jorge andou pela Alemanha de Leste para se enriquecer para a profissão que haveria de seguir. Antigos jogadores de nomeada, inteligentes e cultos, sabiam que precisavam de aprofundar conhecimentos e confrontar-se com outras experiências, teóricas e práticas mais evoluídas.
Aliás, essa cultura do conhecimento já vigora em Portugal. Hoje os técnicos de futebol são “obrigados” a cumprir os diversos patamares do curso de treinadores para acederem à respectiva carteira profissional. Não sou capaz de valorar a qualidade dos ditos cursos, mas mal não devem fazer.
Apesar disso, há uma certa rivalidade que se mantém, não obstante essa separação entre a “ciência” e o “pragmatismo” tender a estreita-se porque o conhecimento e a informação são de muito mais fácil acesso, hoje.

JF foi provavelmente o primeiro licenciado pelo ISEF a ganhar a carta de alforria como treinador e Queiroz (depois do êxito ao serviço das camadas jovens) passou a ser o homem que sabia, planeava, organizava e formava: um gestor de recursos que dominava as áreas do jogo.
Com um certo declínio de ambos – pelo insucesso das equipas que treinaram – foi o regresso dos homens com tarimba: Toni, António Oliveira, Octávio, Manuel José, Cajuda, Inácio, Fernando Santos, José Mota e Jaime Pacheco, entre outros.

Com o regresso de José Mourinho e o seu recrutamento pelo FCP algo mudou. JM comandou, inovou e doutrinou. Pelo caminho aproveitou para pôr em causa metodologias e práticas dos velhos técnicos que não conheciam o modelo integrado de treino. O êxito alcançado no FCP em dois anos, transportou-o para o cume da fama que o Chelsea internacionalizou. As suas virtudes e os seus conhecimentos serviram a uns quantos que apareceram por essa altura, para se posicionarem como promissores seguidores da escola que fundou, mas não duraram.

Azenha terá sido o expoente máximo do insucesso, pois a sua carreira como treinador principal parecia ter tudo para vingar, mas o que fez ou não fez naqueles meses no Setúbal poderão ter acabado de vez com o seu propósito de fazer carreira como treinador principal.

Neste momento, apenas 5 equipas do escalão maior são comandadas por treinadores/mestres. Os misters parecem ter voltado a ter preferência. Vingada não vingou, e os maiores parecem ser: Jorge Jesus (o novo Messias do SLB), Domingos, Paulo Sérgio e Paulo Bento. Com Queirós na selecção e JF em fim de carreira, restam Carvalhal e Machado para mostrar serviço.

Tal como o recente confronto europeu provou, JM (o mestre) vê a sua estrela menos reluzente enquanto Guardiola (o mister) brilha intensamente.

Não creio nem um bocadinho que Guardiola tivesse reinventado um novo conceito de futebol. Este Barça tem muito do estilo de Cruyft, Van Gaal e Rijkaard, numa nova versão ainda mais atraente, uma vez que a mistura é melhor condimentada e mais apetitosa.
Além disso, demonstra uma certa tendência do futebol espanhol, nomeadamente das suas selecções que têm um padrão de jogo com muitas semelhanças. Uma questão de estilo, tal como o Milão com o seu dream team ou o Dinamo de Kiev que vi a jogar a bola de forma deslumbrante.

Misters ou mestres é indiferente desde que a qualidade prevaleça.
Guardiola aí está a mostrar o caminho, sem medo e indiferente ao número que lhe cabe como special.

5 comentários:

Pedro disse...

Dinamo de Kiev em 1987. O melhor futebol que algum dia vi no estádio das Antas.

Valeu-nos a grande equipa que tinhamos, alguma sorte, e muito engenho do Artur Jorge.

Era uma equipa 20 anos á frente do seu tempo.

ruben melo disse...

portista desde que me lembro nessa altura dava valor apenas ao tenis, mas a maior liçao tatica que tive ate hj foi aquando do unico campeonato ganho pela raposa velha do futebol, num jogo em que o benfas estava a perder e qd todos os adeptos e comentadores esperavam que o homem tirasse 1 defesa para meter 1 avançado, ele tira 1 avançado para meter outro medio...acabam por dar a volta ao jogo e no fim aquando da pergunta dos jornalistas sobre o pq de nao ter posto mais avançado mas sim tirar 1 para meter um medio, trappatoni, responde-lhe com a maior simplicidade do mundo: para que por mais avançados la a frente se a bola nao lhes chega?

quem me dera que o nosso treinador pegasse nestas palavras e percebesse que o segredo do jogo e encara-lo com a maior simplicidade do mundo...gostava que o nosso treinador em vez de aproveitar os seroes para ver benfas e sportings a jogar que obrigasse os jogadores a alimentarem-se de jogos do barça...ou da seleçao espanhola...o passe e o movimento mais basico do futebol e e o que claramente menos se treina...

Offshore disse...

é off-topic
Viram o golo de Lisandro de livre directo ?
Excelente golo, muito bem executado.
Porque razão não fazia o mesmo enquanto atleta do Porto ?
Porque não aproveitaram essa característica ?
Porque é que actualmente não temos ninguém que garanta uma taxa de sucesso deste tipo de situações ?

Anónimo disse...

Já o Pedroto dizia: "O futebol não é para teóricos. Os professores de ginástica servem para isso mesmo, para dar ginástica". : -))

Zé Correia: O Carvalhal será um misto de mister e de mestre, pois além da sua formação académica foi profissional de futebol.

Ah, o Mourinho também "jogou", no Rio Ave quando o pai treinava o clube, mas parece que a bola o atrapalhava um bocado. : -)

Anónimo disse...

A melhor equipa que eu vi jogar foi a selecção holandesa de 1974 e 1978, a" Laranja Mecânica", treinada por um "mister", o grande Rinus Michels.

Nas Antas foi o Milan de Fabio Capello a melhor equipa que vi: aquilo parecia bilhar. O Capello é outro "mister". Os "mestres" com sucesso são poucos, e Portugal tem uma percentagem de "mestres" superior à média europeia. Em Inglaterra, por exemplo, é coisa que não existe. Todos os treinadores britânicos são antigos jogadores e mesmo o Wenger e o Ancelloti também o foram.