terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Analisando o Málaga

O Málaga chega ao Porto para disputar umas das mais igualadas eliminatórias dos Oitavos de Final da Champions League. São duas equipas com uma filosofia similar, futebol ofensivo, apoiada numa cultura de posse, com individualidades capazes de desequilibrar em qualquer momento e que equipam de azul e branco. Os espanhóis são estreantes nesta fase da competição e até à última ronda, partilhavam com o FC Porto a liderança na fase de grupos como a melhor equipa em prova. Apuraram-se com uma inesperada autoridade num grupo onde estavam os milhões do Zenit e a história do AC Milan depois de uma pré-eliminatória que passaram a duras penas. São uma equipa com mais recursos do que pode aparentar à primeira vista, e com um problema existencial muito importante. Para o ano, façam o que fizerem, não estarão nas provas europeias.

Vitimas da primeira onda de suspensões com vista à aplicação do Financial Fair Play, os malaguenhos sabem que façam o que fizerem na prova e na liga espanhola, para o ano não há Europa, nem milhões. Na liga espanhol têm feito uma temporada de altíssimo nível, similar ao ano passado, oscilando sempre entre o quarto e o quinto posto mas a uma distância curta do 3º lugar, ocupado pelo Real Madrid. Desde que a equipa soube da suspensão da UEFA (apesar de terem naturalmente recorrida da decisão) a liga deixou de ser uma prioridade. O clube sabe que tem de acabar nos sete primeiros lugares (a suspensão é para o 1º ano que se qualifiquem para as provas europeias, se o Málaga ficar fora das provas matematicamente a suspensão passaria para o ano seguinte, caso se qualificassem) mas deixou de pisar o acelerador. Na Copa del Rey foi eliminado pelo Barcelona nos Quartos de Final, mas não só teve o futuro campeão espanhol contra as cordas nos dois jogos, como foi provavelmente a única equipa que discutiu, olhos nos olhos, um jogo directamente com o Barça esta época. E perdeu apenas a eliminatória nos últimos dez minutos de um confronto de 180 minutos.


Agora chegam ao Porto para lutar na terceira frente, a mais importante.
Triunfar na Champions significa, sobretudo, revalorizar o plantel que, em Junho, seguramente, será reorganizado para que o clube possa pagar as dividas que tem em atraso. Há quatro ou cinco jogadores com mercado e que podem permitir um encaixe à volta dos 80 milhões de euros e não há nada melhor que a prova rainha do futebol europeu para servir de passerelle  Nós sabemos bem como funciona. Por isso mesmo jogar bem e vencer o FC Porto é algo mais importante do que possa parecer à primeira vista para uma equipa que, futebolisticamente, não fica nada a dever ao FC Porto e que conta com um guarda-redes em estado de graça, um médio criativo digno sucessor da magia de Iniesta e um treinador que sabe preparar os jogos como poucos.


Analisamos o Málaga zona por zona:

Baliza: É o líder do prémio Zamora, troféu entregue em Espanha ao guarda-redes menos batido. E tem demonstrado, semana após semana, porque é um dos pilares do sucesso da equipa. Apesar de algum erro pontual, Willy Caballero é um seguro de vida e um osso duro de roer para o ataque dos dragões. Bom posicionamento, ágil, bom entre os postes, relegou para o banco o mais experiente Kameni.

Laterais: Monreal saiu em Janeiro para o Arsenal, mas o Málaga tem um leque de laterais de bom nível, tanto a nível ofensivo como no trabalho mais defensivo. O lado esquerdo é monopolizado por portugueses. Do recém-chegado Antunes ao veterano Duda, é por aí que a equipa gosta mais de atacar, tendo algumas vezes utilizado o lesionado (não jogará) Eliseu a partir dessa posição para ganhar superioridade no ataque. Pelo lado direito joga Jesus Gamez, um lateral mais defensivo mas bastante bom tacticamente.

Centrais: Pode ser a área mais débil da equipa. O argentino Demichelis e o uruguaio Lugano podem ser os titulares, apesar de que o uruguaio tem a concorrência directa de Sérgio Sanchez e Wellington, que jogaram a maior parte dos jogos da fase de grupos. No banco está ainda o norte-americano Onyewu, jogador que dificilmente será primeira opção para Pellegrini e que deixa claro que esta zona está mais longe da qualidade média do plantel do que qualquer outra.

Médios Defensivos: Ignacio Camacho começou a despontar na cantera do Atlético de Madrid e foi uma das primeiras contratações do sheik Al Thani, quando este se fez cargo do clube em 2011. É um jogador com um excelente sentido posicional, muito trabalhador e com um óptimo remate de meia distância. Ao seu lado deverá jogar, no apoio, o francês Toulalan, um dos elementos fundamentais na grande campanha europeia dos espanhóis na primeira fase. Pellegrino pode também procurar utilizar o chileno Iturra, um maratonista trabalhador para perseguir incansavelmente Moutinho por todo o terreno, soltando Camacho para uma missão mais ofensiva no apoio ao ataque, ou lançando Baptista ou Portillo no ataque no seu lugar.



Extremos: Uma das grandes surpresas da temporada foi sem dúvida a segunda juventude de Joaquin. O extremo que despontou há uma década no Bétis e passou pelo Valência vive uma segunda juventude, com golos, assistências e momentos deliciosos que trazem magia e imprevisibilidade ao jogo ofensivo do Málaga. É o dono do corredor direito e será um osso duro de roer para Alex Sandro, obrigando-o a ter cuidado com as subidas no terreno. Do lado esquerdo não está o titular habitual, Eliseu, pelo que Pellegrini pode apostar por jogar com Duda ou lançar o rápido Portillo ou o feroz Julio "la bestia" Baptista.

Médio Ofensivo: A estrela da equipa, um dos melhores jogadores jovens do futebol mundial, líder e figura deste Málaga. Isco não precisa de apresentações, é o sucessor natural de Andrés Iniesta e em Málaga sabem que em Junho terá assinado por um clube de primeira linha do futebol europeu (acabou de renovar o contrato ampliando a cláusula de rescisão para 35 milhões de euros). Tem ordem para deambular pelo terreno, puxar Fernando da sua posição, criar superioridade no miolo ou associar-se com o tridente ofensivo. Tirar Isco do jogo é meio encontro ganho. O seu suplente, o brasileiro Lucas Piazon, emprestado pelo Chelsea, não deve jogar.

Avançados: Depois de vender Buonanotte, o ataque do Málaga ficou definitivamente entregue aos golos de Saviola, bem nosso conhecido, e do veterano paraguaio Roque Santa Cruz. Dois jogadores perigosos, que precisam de pouco espaço para deixar a sua marca. Também pode entrar Seba Fernandez, um jogador polivalente que se mexe bem em todas as posições do ataque, ou o jovem Fabrice, essencial na fase preliminar. Julio Baptista começou a ter minutos nas últimas semanas e pode ser opção apesar de que não esteja nas melhores condições físicas, pelo menos para a primeira mão.

Treinador: É um dos melhores técnicos da liga espanhola. Fez milagres com o Villareal e repetiu-os com o Málaga. Esqueçam a época num Real Madrid marcado pela precoce eliminação na Copa del Rey - até porque os números realizados foram brutais a todos os níveis - Pellegrini é um técnico que sabe manejar um balneário, com um brilhante conhecimento táctico e capaz de preparar os jogos até à exaustão. É uma hipótese para o Manchester City na próxima época e também joga muito do seu prestigio internacional nesta eliminatória.


14 comentários:

Anónimo disse...

O Caballero tem mais 3 anos que o Kameni logo não me parece que o Kameni seja mais experiente.

Anónimo disse...

Miguel,o Toulalan jogou pouquíssimo na fase de grupos, foi fundamental porquê?

Miguel Lourenço Pereira disse...

Anónimo,

A experiência não vem apenas com a idade. O Kameni teve passagens largas por clubes de bom nível e joga internacionalmente há vários anos, a "explosão" do Willy é bastante recente em comparação.

O Toulalan foi fundamental na fase preliminar, quando a equipa ainda nem sequer estava montada, e nos primeiros jogos que permitiram ao Málaga criar uma boa vantagem para gerir. Foi muito bem substituido pelo Iturra, que o ano passado jogava na 2º divisão espanhola, mas é o cérebro e motor da equipa!

Anónimo disse...

Que o Toulalan é bom jogador, disso não tenho dúvida! É que eu tinha consultado o site da UEFA, para verificar quais tinham sido os jogadores mais utilizados, e o Toulalan só jogou os 90 minutos na fase de grupos uma vez, sendo que nos primeiros três jogos nem sequer foi utilizado. No play off sim, fez os dois jogos completos. Agora, seja com Iturra, Camacho ou Toulalan, vai ser difícil!

Anónimo disse...

Quando aqui na “Reflexão” se realizou a “sondagem” qual o clube preferido para os oitavos de final da Liga dos Campeões. A minha escolha recaiu e tendo em conta a minha opinião pessoal, numa das duas equipas mais fracas e acessíveis, o Málaga. A outra é o Schalk 04, mas como todos nós sabemos e até por experiencia própria, as equipas alemãs são sempre um osso muito duro de roer, independente da sua melhor ou pior classificação interna.

Tendo em conta que o nível de jogo do actual FC Porto de Vítor Pereira, só fica a perder para o Barcelona, como ultimamente é quase unanimemente reconhecido; até aqui na “Reflexão”. Diria que a eliminatória já está no papo.

Portanto discordo completamente com o artigo do MLP; quando escreve que esta é “… umas das mais igualadas eliminatórias…” O Porto é sem margem de dúvidas bastante superior ao Málaga.
Quando o MLP escreve: “Há quatro ou cinco jogadores com mercado e que podem permitir um encaixe à volta dos 80 milhões de euros…” ; parece que se esquece que o FC Porto só com o Moutinho e o James, pode fazer um encaixe semelhante.
Quando MLP escreve “… um médio criativo digno sucessor da magia de Iniesta” Será que pensa mesmo que esse médio é superior ao J. Moutinho e tem mais “magia futebolística” que um James Rodrigues!!! Convenhamos que é um exercício de sobrevalorização de uns em detrimento de outros.
“…e um treinador que sabe preparar os jogos como poucos…” Então não é o FC Porto dirigido superiormente pelo grandíssimo Vítor Pereira, em qual eu sempre acreditei e defendi e que hoje é considerado por todos e bem, responsável de o Porto jogar quase ao nível do Barcelona.

Pedro Góis

Anónimo disse...

Quando analisamos a equipa do FC Porto temos:

Baliza: Helton, o melhor GR actuar em Portugal e Internacional pelo Brasil e igualmente o GR menos batido em Portugal. E também ele um dos pilares do sucesso da equipa. Apesar de algum erro pontual, como aconteceu em Paris.

Defesa: Na direita, temos o lateral 20 milhões, um dos mais caros do mundo e por alguma razão a SAD pagou tanto dinheiro por um LD. Na esquerda, temos o A. Sandro. Ambos foram determinantes nas conquistas internacionais no seu anterior clube. A DC temos o internacional Argentino, Otamendi e um dos melhores centrais no mundo num futuro próximo, que dá pelo nome de Mangala. Já para não falar de Maicon.

Médios: Nós só temos o polvo Fernando acompanhar o todo terreno e pendular Moutinho e o cerebral “El Comandante”. Um trio de luxo ao serviço do FC Porto, que poucas equipas do mundo, desdenhariam ter.

Avançados: O Málaga tem Joaquim e o Porto tem JAMES, uma certeza mundial; e ainda a dar os primeiros passinhos da sua enorme categoria. Depois temos o Atsu que é bem superior a um tal de Eliseu por exemplo. A PL o grandíssimo e eficaz Jackson que faz sozinho muito mais e melhor que dois Saviolas e dois R.S Cruz juntos.

Estrelas: Uma das estrelas da equipa do Porto, e um dos melhores jogadores do mundo, uma dos líderes e figuras deste Porto é James, que não precisa de apresentações, e no Porto sabe-se que é pretendido já há bastante tempo pelos maiores clubes de topo do mundo; só que tem uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros. Mas no Porto esta é só uma das estrelas a brilhar entre a constelação de estrelas, onde se encontram, J. Moutinho, Lucho, Jackson, entre outras.

Treinador: É o melhor técnico da liga portuguesa e que consegue colocar a sua equipa a jogar um futebol que só fica a dever ao Barcelona de Tito Villanova. Vítor Pereira contra a opinião quase geral dos adeptos, até há um mês e meio atrás; é um técnico que sabe manejar um balneário, com um brilhante conhecimento táctico e capaz de preparar os jogos até à exaustão. É a escolha de Pinto da Costa… está tudo dito.

Em conclusão por A mais B o FC Porto é por demais evidente que é muito superior ao Málaga e que tem tudo para passar esta eliminatória com a maior das facilidades. Uma muito remota e hipotética eliminação do FC Porto, só poderá ser justificada se tudo o que eu escrevi, seja completamente errado; quer em relação ás nossas estrelas, jogar á Barcelona… ou se estiver, mesmo enganado sobre o grandíssimo VITOR PEREIRA.

Hoje, na minha opinião, fica já resolvida a eliminatória e favor do Porto. Jogamos, ou não jogamos quase á Barcelona!

Pedro Góis.

Anónimo disse...

Pessoal, se poderem dar uma olhadela agradecia:

http://tertuliaportista.blogspot.pt/2013/02/porto-vs-malaga-visto-lupa-antevisao.html?spref=fb

Comentem se concordam ou não com o que foi referido...

Continuação do bom trabalho!

Obrigado,

Hugo disse...

Espero bem que a equipa nao pense assim senao era derrota garantida . Isto nao e o FM. Atsu bem superior ao Eliseu ? Lol

Anónimo disse...

Kameni: Le Havre, Espanyol, suplente no Málaga - Sem títulos a declarar
Caballero: Boca Júniors, Elche e titularíssimo no Malaga - 1 intercontinental, 2 libertadores e 1 campeonato argentino


Clubes de bom nível? O Espanyol luta por mais títulos que o Boca Júniors?
Porque é que não tem a humildade de admitir que errou em vez de tentar arranjar desculpas?


Já agora, Iturra cérebro do Málaga? LOL
É isso e o Fernando ser o cérebro do Porto.

Anónimo disse...

Caro Hugo, o Atsu com 1 perna é melhor que o Eliseu com 2.
Mas quem é o Eliseu? O que é que vale o Homem? A torcer estava eu que ele fosse para o Benfica...
Ainda me lembro dele quando era avançado e jogava no Belenenses, aquilo era uma nódoa autentica, depois foi à selacção (ainda hoje me pergunto como). E mais, o Varela mete o Eliseu no bolso...
Saudações portistas
BlueZimbra

Mário Faria disse...

Bom guião do Miguel. O Pedro Góis está a brincar, numa versão suave ou a achincalhar numa visão provavelmente mais certeira. Se no futebol tudo se medisse em função dum mais que discutível peso da qualidade e do valor de mercado dos jogadores em presença, o Málaga não teria sido primeiro no seu grupo e conseguido tão excelente nível. E, se fora assim, nunca teríamos ganho a CL e deveríamos estar muito gratos por termos chegado já aos oitavos, e conseguido bater-nos, olhos nos olhos, com o PSG.
Gosto pouco de brincar com o bom nome do meu clube e de chacota já basta a que temos de ler e ouvir dos adversários. A ironia tem de ser inteligente para produzir efeito. A chacota é medíocre. Criticar os nossos males e exageros é sempre bem-vindo, desde que feito com sobriedade e respeito.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Caro Pedro,

Sim, estamos em desacordo. Acho o Isco um melhor jogador que o James (diferente do Moutinho), o Pellegrini melhor que o VP e o encaixe do FC Porto e do Málaga são complementares, não entram em concorrência directa.

Colocar o FC Porto ao nível do Barcelona não é um exercicio de portismo, é um exercicio de falta de lucidez.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Anónimo,

Deve ter entendido mal. O cérebro da equipa é o Toulalan, não o Iturra, que fique claro.

Quanto à carreira do Kameni, lembrar-lhe-ia a Copa del Rey ganha pelo Espanyol, a final da Taça UEFA com o Espanyol, uma CAN e uma medalha de ouro olimpica com os Camarões que é algo a que o Willy não pode aspira, até porque nesses anos do Boca era suplente do titular, Abbondanzieri.

Antes de ler só o que põe nos titulos da wikipedia, convém ver um pouco de futebol jogado também ;-)

Anónimo disse...

Caro Mario Faria como se pôde observar hoje á noite, o Málaga é uma equipa bem inferior ao Porto. Sò quem não acompanha a liga espanhola é que pode ficar iludido sobre este facto, seja pela sua classificação ou pela carreira da liga dos campeões.

Pedro Gois.