sábado, 29 de março de 2014

“Viscondes” na cabine do árbitro

No dia 11 de Novembro de 1956, jogou-se no Campo da Tapadinha um Atlético x Sporting.
Ao intervalo o jogo estava empatado 1-1 e, pelos vistos, o presidente do Sporting – Carlos Góis Mota – não estava a gostar da arbitragem de Braga Barros, árbitro de Leiria. Vai daí, não esteve com meias medidas, invadiu a cabine do árbitro e, segundo foi referido na altura, de pistola em punho (segundo outras versões tinha a pistola à cintura) “aconselhou-o a tomar mais atenção na 2ª parte pois poderia prejudicar-se”.
Nos segundos 45 minutos as coisas correram bastante melhor aos “viscondes”, que marcaram mais dois golos, tendo o Sporting ganho esse jogo por 3-1.

Para quem não saiba, além de presidente do Sporting [1], Góis Mota era um destacado membro do regime da época, tendo ocupado os cargos de Procurador Geral da Republica, Comandante e Secretário-Geral da Legião Portuguesa [2].

Góis Mota faleceu em 25 de Janeiro de 1973. Em 2001 foi distinguido com o Prémio Stromp [3] na categoria Saudade.

Felizmente, os tempos mudaram e, em 2014, os presidentes do Sporting já não invadem as cabines dos árbitros de pistola em punho (ou à cintura)…







Nota: As imagens anteriores foram retiradas de uma reportagem da SIC intitulada “Árbitro de Elite”, transmitida esta semana (no dia 25-03-2014), em que o protagonista é o árbitro Pedro Proença, o qual, soube-se agora (9 dias após ter arbitrado um SCP x FC Porto de triste memória), foi colega de faculdade de… Bruno de Carvalho.


[1] O Dr. Carlos Cecilio Nunes Góis Mota, enquanto dirigente do Sporting Clube de Portugal, começou por ser Vogal nas Direcções presididas por Joaquim Oliveira Duarte, entre 15 de Agosto de 1938 e 14 de Agosto de 1940. Regressou à Direcção em 19 de Janeiro de 1946, como Vice-presidente de Ribeiro Ferreira, funções que desempenhou durante sete anos, até 23 Janeiro de 1953, altura em foi eleito Presidente do SCP. Liderou o Clube durante quatro gerências, até 31 de Janeiro de 1957, altura em que foi substituído pelo seu vice-presidente Cazal Ribeiro.

[2] A Legião Portuguesa foi uma milícia criada em 1936, que estava sob a alçada dos Ministérios do Interior e da Guerra, e que nas décadas de 50 e 60 se caracterizou pela perseguição e repressão às forças oposicionistas ao regime, para a qual contribuiu o seu Serviço de Informações e a sua vasta rede de informadores.

[3] Os prémios Stromp são atribuídos anualmente pelo Grupo Stromp, a dirigentes, técnicos, atletas ou sócios do clube e são considerados como uma espécie de "Oscares" leoninos. Em 1971 foi criada a categoria "Saudade", para premiar os grandes vultos do passado do SCP.

19 comentários:

José Correia disse...

«(...)A contestação ao Sporting era, por via indirecta, a contestação ao salazarismo. Sobretudo, porque os seus dirigentes eram, quase sem excepção, figuras gradas do Estado Novo. Mas, por uma dessas ironias do destino, seria para o Sporting que Carlos Gomes haveria de ir. Sem que alguém lhe perguntasse se era esse o seu desejo. Sabia que o Benfica também entrara na corrida, talvez fosse para lá que o seu coração pendia, mas... Quando dirigentes do Sporting foram a sua casa exigir-lhe que assinasse a ficha, que estava tudo tratado com o Barreirense, não se conteve, falou da dignidade violada, do desrespeito, dessa nefanda forma esclavagista de tratar da vida dos jogadores, como se fossem mera mercadoria. Disseram-lhe que se calasse, que o Barreirense receberia 50 contos pela transferência e ele mais 10. Não se calou. Exigiu 50 contos para si. Ribeiro Ferreira, presidente leonino, cedeu. Sabia que o Sporting precisava de um guarda-redes que substituísse Azevedo, o Hércules do Barreiro, que era já anjo em queda livre. E pensou de si para si que aquele jeito rebelde de falar, de defender os seus interesses, passariam com a idade e com alguns apertõezinhos. Era moda, então...

Ao Sporting chegou Carlos Gomes em meados de 1950. Um ano esteve como suplente de João Azevedo, que, dia após dia, tornava mais tensas as suas relações com os dirigentes do Sporting. Por não querer continuar a ser... explorado. Sabia bem que ao primeiro deslize estaria condenado. No arranque da temporada de 1951/52, a queda do anjo. Nas Salésias. No Belenenses estreou-se Matateu. Marcou quatro golos. O Sporting perdeu por 3-4. Para a baliza do Sporting, logo na partida seguinte, foi Carlos Gomes. Tinha 19 anos...

Depressa se tornou ídolo de sportinguistas. Em 1953, ganhava cinco contos mensais. O mesmo ordenado do seu primeiro mês no clube. Achava pouco. Pediu audiência a Góis Mota, presidente do Sporting, para que o aumentasse. Góis Mota, que, para além de procurador-geral da República, era um dos mais arrepiantes torcionários da Legião Portuguesa, afamado já por entrar nas cabinas dos árbitros, ao intervalo, de pistola em punho, teve salazarenta reacção, que Carlos Gomes contaria, assim, no seu livro de memórias O Jogo da Vida: «Queres mais dinheiro? Pois mete na tua cabeça, se é que a tens, que enquanto for presidente são cinco contos ou nada. Para que queres tu mais dinheiro? Para putas e automóveis?» Retorquiu o guarda-redes que não tinha nada com isso, que não aceitava que lhe pagassem «cinco miseráveis contos» havendo no clube quem recebesse 20 ou mais. Ficou marcado. Inapelavelmente... (...)»
in '100 figuras do futebol português - A BOLA - 1996'

http://www.fcbarreirense.com/index.php?option=com_content&task=view&id=831&Itemid=36

Bluesky disse...

A 2ª Circular foi a Fátima no nosso fado do futebol...
E agora aparece um fdp qualquer armado em herói com voz de Ponte de Amarante, a desdenhar os nosso troféus...
Afinal a cultura salazarista continua por lá: inveja, mesquinhice e sobretudo ódio!!!!

JOSE LIMA disse...

Fantástico post do José Correia pleno de oportunidade. Recordo-me destas "habilidades" desde os anos 50 (tinha eu 12 anos).
É bom a lagartada mais jovem ficar a saber como se ganhava naquela época.
Abraço

Filipe Sousa disse...

A Liga permite que dirigentes de clubes tenham contacto com os árbitros, já dentro do estádio?

meirelesportuense disse...

Vá lá, "não sejam maus", eles são amigos de Faculdade...E um amigo é sempre um amigo, depois, no campo tudo se aplica, reparem que o Proença confessou que ao intervalo sabem se erraram ou não durante a 1ª parte, para quê?...Se for para comporem as coisas na 2ª então ainda pior.
-Então, que estavas a fazer na Herdade dos Salgados?
-????...
-Eu vi-te.
-Eu também...

Paulo Marques disse...

Comparar os acontecimentos é de mau gosto, pese embora que sejam ambos reprováveis.

meirelesportuense disse...

Os Clubes do Regime eram ontem, como são hoje, os Clubes de Lisboa.A resposta é simples, porque é lá que está todo o Poder...E onde está o Poder está o Dinheiro e onde está o Dinheiro está o Poder de fazer as coisas.
O Porto lucrou com a Liberdade, porque a Direita que esteve durante algum tempo periclitantemente no Poder e era apoiada maioritáriamente no Norte.Durante alguns anos iludiu dizendo querer fazer do Porto uma grande Cidade, depois pensou melhor, olhou para os bolsos e voltou de malas aviadas para Lisboa cagando decididamente no Porto...Os resultados são bem visíveis.
A partir do momento em que aderimos à moeda única só ficou Lisboa a contar para o mealheiro.
Não fora a capacidade de luta de meia-dúzia de pessoas e o Porto Clube assim como o Porto Cidade já tinham desaparecido do mapa.
Por isso eles julgam que se ainda ganhamos hoje é porque jogamos jogo sujo e porque pensam eles assim?
-Porque sabem que têm todo o Poder nas mãos e manipulam tudo o que tem valor no País, portanto se não ganham tudo tendo como têm tudo nas mãos, alguma coisa lhes está a correr fora dos eixos...E isso só pode ser?!?!?!

meirelesportuense disse...

Vejam o que acontece em Espanha, não existem nenhumas semelhanças entre os Clubes do Regime Português e os do Regime Espanhol?...Claro que existe.
-Daí serem irmãos até no Jornalismo...O que vale ao Barcelona é o poderio económico da sua Cidade e Região Administrativa.Por isso Lisboa combate o Regionalismo Português.

JOSE LIMA disse...

Nem mais meu caro. Veja onde vai ficar a Sede do novo Tribunal Arbitral... Com os figurões do costume a julgar...
Abraço

José Correia disse...

Eu não fiz qualquer comparação.
Limito-me a constatar como, 58 anos depois, os presidentes do Sporting (esse clube de historial impoluto e acima de qualquer suspeita...) continuam, com toda à vontade, a entrar nas cabines dos árbitros.

José Correia disse...

"Recordo-me destas "habilidades" desde os anos 50 (tinha eu 12 anos)"

Caro José Lima, temos de falar mais vezes, para eu actualizar o meu arquivo sobre o Sistema do antigamente.

Abraço

José Correia disse...

Os regulamentos da Liga permitem que dirigentes de clubes pressionem e, inclusive, ameacem os árbitros que vão arbitrar os seus jogos com processos judiciais?

nonameslb disse...

Sem querer insultar ninguem porque para mim o futebol nunca foi e nunca sera uma guerra,eu gostaria de fazer 2 perguntas.Quem foi Urgel Horta? Que Presidentes do Benfica foram membros do regime?

meirelesportuense disse...

Vejam o que aconteceu hoje:-O Porto nem jogou muito bem mas sofreu um primeiro golo no decurso de um fora-de-jogo e de um ressalto, na primeira parte 0-1.
Na segunda parte com Quintero e Ghilas 1-1 aos 46 minutos e numa reacção pronta e mais uma desatenção defensiva, 1-2 aos 48...Já nem falo na GP perdida porque até acho que o Penaltie é forçado, mas no golo anulado a Jackson que faria a igualdade, mais uma vez a equipa principal foi a do Capela.O Nacional ganhou, mas quem lucrou mais?...O Poder está a movimentar-se muitíssimo bem.

Daniel Gonçalves disse...

Caro nonamesb, às 21:04,

O seu argumento é enganador. Urgel Horta não foi Presidente do FC Porto ao mesmo que tempo que era deputado à Assembleia Nacional, não acumulava funções e, mais importante ainda, ser deputado por um "círculo eleitoral" não implicava necessariamente que era membro - como o nonameslb designa - do regime nem tal implicava que se aceitava esse regime - o Estado Novo - sem críticas. Ser membro do regime era pertencer à Legião Portuguesa ou à PIDE/DGS por exemplo. A União Nacional quando nasceu tinha como intuito abranger pessoas de ideias politicamente diversas e alargar a base social do regime, para próprio sustentáculo deste. Quantas personalidades apoiaram o regime numa fase inicial para posteriormente o atacarem e julgarem que era necessário a sua substituição? O General Humberto Delgado é uma delas, mas houve muitas outras.

Daniel Gonçalves disse...

Caro nonamesb, às 21:04,

"Que Presidentes do Benfica foram membros do regime?" Não sei, mas talvez o Sr. nos queira dizer. Mas para além de “membros” do regime quantos Presidentes, vice-presidentes ou outros dirigentes do seu clube eram simpatizantes, apoiantes ou adeptos do Estado Novo? É que podiam ser apoiantes sem serem membros activos na governação, convêm esclarecer este importante ponto. Relembro um adágio que caracterizava o regime que pode servir para explicar muita coisa: havia aqueles - entenda-se "apoiantes" - que saíam pela porta da frente, portanto às claras e à vista de todos, das instituições vigentes no Estado Novo na altura de pedir favores em troca de apoio, e havia aqueles que saíam pela porta das traseiras, para não serem vistos, depois de irem pedir favores. Quantos entre estes últimos eram benfiquistas? Não sabemos e talvez nunca saberemos, agora é mera especulação, mas não devem ter sido poucos a avaliar pelos favores que o seu clube teve na altura.
Mário Coluna não era amigo pessoal de Salazar? Coluna não esteve presente, com grande pompa e lugar de relevo, ao lado das personalidades e dos genuínos membros do regime na inauguração da ponte actualmente designada 25 de Abril? Não era necessário ser-se apoiante do regime para ter esse relevo que teve Mário Coluna?
Eusébio não fez propaganda ao serviço do regime/Estado Novo, e defendendo a guerra colonial ou guerra do Ultramar? Não significava tal acto de propaganda que Eusébio apoiava o regime?

Portanto poupe-nos a sua argumentação básica e enganadora.

Daniel Gonçalves disse...

Caro nonameslb,

Convêm ainda realçar que o Dr. Urgel Horta nunca pediu favores para o FC Porto, nem se aproveitou do cargo de deputado para alcançar benefícios para o FC Porto, nem o FC Porto obteve qualquer favor especial do regime pelo facto de ter tido um dirigente, ou ex-dirigente, como deputado na Assembleia Nacional. Isso é que importa realçar, e posso especular que talvez o mesmo não se possa dizer do seu clube.

Pi disse...

O que ninguém repara é naquilo que o Bruno Carvalho diz ao perguntar onde estava o proença. O bruno carvalho à semelhança do ppc anda a controlar onde andam os árbitros e fá-lo saber a eles. É pressão em larga escala.

Vat 69 disse...

Pi, você é mesmo ingénuo...teorias dessas só existem em sentido inverso, coisas rebuscadas, tipo dar uma chapada em si mesmo e depois dizer que foi agredido por alguém afecto ao FCP à porta de um restaurante por um portuense que já foi ministro e agora é figura activa na sad benfiquista, é algo que só será escalpelizado pelo seboso brilhantina man se estiver o FCP em causa...o facto de ele o ter "debaixo de olho" é porque são amigos de faculdade...não seja ingénuo...