terça-feira, 15 de abril de 2008

Dicionário do Sistema - Manaca

O campeonato de 1979/80 aproximava-se do fim e, quando faltavam apenas dois jogos, o Sporting e o FC Porto seguiam empatados na liderança. Na penúltima jornada, enquanto o FC Porto recebia em casa o Boavista, o Sporting tinha de ir a Guimarães, 6º classificado, uma das deslocações tradicionalmente mais difícil para os “leões”.

No início da semana que antecedeu o jogo, começaram a surgir rumores de que um jogador do Guimarães estava “comprado” e que ia provocar um penalty ou marcar um auto-golo. À medida que os dias foram passando, os rumores subiram de tom, ao ponto de alguma comunicação social do Porto ter pegado no assunto e levado a que, na véspera do jogo, Pinto da Costa se tenha deslocado a Barcelos, local do estágio do Guimarães, para dar conta aos dirigentes vimaranenses da preocupação sobre as eventuais anomalias que se iriam verificar.

Os jogos realizaram-se no dia 25 de Maio de 1980, com início à mesma hora, e ao Sporting bastava-lhe obter o mesmo resultado do FC Porto. Quando, aos 28 minutos, Frasco marcou para o FC Porto, em Guimarães ouviu-se um burburinho nas bancadas mas, apenas 8 minutos depois, um defesa do Guimarães – Manaca – marcou um auto-golo que deu a vitória ao Sporting nesse jogo.

Mas quem era esse Manaca?
Era um moçambicano, em final de carreira, que tinha sido jogador do... Sporting!

Segundo veio a público, no final do jogo, já nos balneários, houve mesmo uma cena de pugilato entre o autor do auto-golo e um seu colega de equipa, Tozé, com este a acusá-lo de se ter “vendido”.

O escândalo foi de tal modo evidente, que a Direcção do Vitoria de Guimarães, liderada por um jovem presidente – Pimenta Machado – não teve dúvidas e despediu o jogador três dias após o jogo.

Contudo, tal como já tinha acontecido com os casos Calabote, Mário Luís e outros, a comunicação social lisboeta não achou “interessante” aprofundar o assunto e, claro, a PJ também achou que não havia matéria para investigar (nessa altura não havia “apitos dourados”...)

Para a história ficou um nome: Manaca, autor do auto-golo mais famoso da história do futebol português.

2 comentários:

Zé Luís disse...

Lembro-me do epitáfio dito pelo Bitaites:
"Um grande golo, digno de um ponta-de-lança".
Lembro-me do lance no resumo televisivo: cruzamento da esquerda do ataque leonino e Manaca em voo contra a sua baliza que não estava ameaçada, cabeceando a bola a meia altura para um mergulho vistoso realmente digno de um ponta-de-lança.

ALBINO disse...

Um colega vimaranense, que chegou a ser dirigente do Vitória, contou-me que depois do desafio o Manaca abandonou a cidade e nunca mais regressou.