quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vítor Pereira e a Estrutura


Um artigo de opinião de Luís Sobral (publicado no Maisfutebol), com uma perspectiva interessante acerca da escolha de Vítor Pereira e da famosa estrutura do FC Porto.

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«Antes de escrever o que quero escrever, o mais importante: saudar o aparecimento de mais um treinador português que se sente capaz de competir ao mais alto nível. Dito isto, o resto.

A primeira impressão é abrir a boca de espanto.
Depois de ouvir Vítor Pereira na apresentação como treinador do F.C. Porto não tenho dúvidas de que lhe falta quase tudo para aquele tipo de confronto.
Primeiro, não convence. Segundo, não entusiasma. Terceiro, mas não menos importante, não inspira receio.
Um treinador do Porto não é aquilo. É mesmo muito diferente daquilo.
Tem de ser empolgante, genial e agressivo, como Mourinho.
De cara fechada como Fernando Santos e Jesualdo Ferreira.
Ou inesperado e entusiasta, como Villas-Boas.
Também tem de ser competente, como todos os que citei. Acredito que Vítor Pereira o seja. Mas precisa de ganhar o resto. Depressa. Ou então precisa a estrutura do F.C. Porto de o completar, dando mais uma vez provas de inteligência e elasticidade.

A segunda impressão, mais reflectida, é um pouco diferente.
O F.C. Porto tem a melhor organização de futebol que existe em Portugal e provavelmente uma das mais competentes da Europa. Só isso permite que se movimente tão bem no mercado, que domine em Portugal e, sobretudo, que tenha conseguido somar três competições europeias no século XXI.
Esta estrutura é o verdadeiro segredo do sucesso portista. Está suportada sobre pessoas, valores, rotinas e princípios que são conhecidos no interior do clube e pouco falados cá fora. Funciona muito bem.
Nesta estrutura, o treinador deve encaixar. Deve saber ao que vem, aceitar o que existe, testado e adaptado ao limite. Se conseguir influenciar de forma positiva, melhor. Não chega para mandar, no sentido inglês do termo. Não chega para revolucionar. Não chega para salvar. Não chega para ser número um, mesmo que o pareça na ficha do jogo.

Nesta contexto, um treinador da casa é sempre a solução óbvia. Aliás, há uns anos que o F.C. Porto anda a formar treinadores, num mistura curiosa entre ex-jogadores e pessoas com formação académica. Uma mistura que ganha títulos, forma e potencia futebolistas. E coloca nomes em diversos bancos, em Portugal e fora.
No fundo é como se tivessem dito à estrutura do clube, depois de um ano fantástico, que encarasse um desafio ainda mais difícil. Fazer bem com um treinador que não chega ao banco dourado pelo carisma, pela carreira, muito menos por ser a solução mais simples e consensual.

A eleição de Vítor Pereira para treinador do campeão garante o essencial: não haverá ruptura. Não se perderá tempo, a estrutura manter-se-á. Os jogadores estão lá, ele conhece-os, eles conhecem-no. Como princípio de história já houve muito pior.
Se pensarmos assim, Vítor Pereira poderá de repente fazer sentido. O sentido relativo, claro, de alguém que nunca teve semelhante responsabilidade. Mas não se passou algo parecido com Mourinho? E com Villas-Boas? E, numa dimensão diferente, até com Fernando Santos e Jesualdo Ferreira?

Arriscado? Sim, claro. Mais difícil do que tem sido norma nos tempos mais recentes? Talvez sim. É possível que funcione? Não serei o primeiro a dizer que não. Afinal, os dirigentes do F.C. Porto, por tudo o que já fizeram, merecem essa prova de confiança. Mesmo se, como parece, foram pela primeira vez nos últimos anos apanhados de surpresa.»

Nota: Os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

9 comentários:

Miguel Lourenço Pereira disse...

Uma ideia muito similar á que expressei no EJ.

A nossa estrutura garante, á partida, uma boa dose do sucesso dos individuos que passam pelo clube. Se o VP é formado na casa sabe-o melhor do que ninguém. O FC Porto potencia treinadores para sucesso posterior e em alguns casos para o único verdadeiro sucesso da sua carreira, como sucedeu com Oliveira, Jesualdo ou F. Santos, por exemplo.

Espero que o VP seja um técnico que entenda a realidade do clube, as suas necessidades e saiba motivar o plantel da melhor forma. Continuamos a ter o melhor grupo em Portugal e um dos melhores da Europa e com 70 ou 80 milhões de encaixe com o AVB, Falcao e eventualmente Moutinho ou Rolando, temos capacidade de recrutar bons jogadores para enquadrar-se no projecto desportivo.

um abraço

eumargotdasilva disse...

Claro que o Porto tem um estrutura muito bem montada; há um mês o AVB foi a Londres e um passarinho soprou no ouvido do presidente com quem ele falou e o que fez, está óbvio...
Também está óbvio que o AVB está morto e enterrado e não voltará àquela casa;
está óbvio que era fundamental sossegar as hostes, os mercado e a banca, e não havia ninguém mais à mão... - infelizmente para o VP essa é a conclusão a tirar, compete-lhe também fazer-nos acreditar que podemos ter um milagre todos os anos...
Tudo isto é óbvio;
o que continua sem estar óbvio para mim, é porque é que o AVB se foi...- pelo dinheiro? (só se estiver a pensar em montar um scuderia quando deixar o futebol)... pela prestação desportiva? (estava muito melhor no Porto e com um desafio 100vezes maior: a graça é fazer omeletes sem ovos não é com ovos) ... pelo prestígio? (forma estranha de ver o mundo, sem querer contrariar muito o Alexandre B. o Chelsea pode ter dinheiro mas não tem nem história nem os troféus que temos - mas aceito que aparecerá mais nos jornais...) ... não, creio que fez o seu crescimento demasiado próximo do Mou, e perdeu as referências... afastou-se dele, mas na hora de apagarem as luzes não se controla e enfia o garfo no prato...

Alexandre Burmester disse...

"(...)sem querer contrariar muito o Alexandre B. (...)"

Esteja à vontade, Magestade. A discordância civilizada e urbana, como a sua tem por timbre, é bem-vinda. O que não é bem-vindo são os comentário acintosos e insidiosos à simples e descomprometida opinião alheia.

Nota: Não ser "bem-vindo", não é necessariamente sinónimo de "impublicável".

jotajota disse...

Uma questão que me tem deixado intrigado é a saída de Pedro Emanuel. Pareceu-me ao longo da época alguém muito importante no grupo de trabalho. Tem carisma e espírito de liderança como já acontecia quando capitaneava a equipa de futebol. Na sua primeira experiência como treinador de futebol foi campeão nacional de juvenis.Ao que dizem terá sido indicado por Vilas Boas à Académica. Na minha modesta opinião Pedro Emanuel poderia ser uma peça muito importante na equipa técnica pós Vilas Boas.O que se terá passado, para além de uma natural vontade de ser treinador principal?
Preparar uma solução de futuro? Algo mais?

Daniel Gonçalves disse...

Concordo com este artigo do Luís Sobral, Vítor Pereira não entusiasma, não nos faz sonhar, pelo menos para já, com vitórias retumbantes, mas o essencial era mostrar aos jogadores que a ruptura não era absoluta e total, que havia alguém da equipa técnica da temporada passada que ficava cá e assegurava a continuidade com o espírito e o trabalho anterior.

Jota, o que se passou com o Pedro Emanuel é que toda a gente - referi-mo à estrutura FC Porto - contava com a continuidade de AVB, daí ter-se deixado sair o Pedro Emanuel, para este ganhar experiência numa outra equipa, sendo que o lugar dele seria tapado por alguém com um perfil semelhante. É claro que agora, após a saída de AVB, a saída de Pedro E. poderá sentir-se dentro do espírito do balneário. Que o substituto dele cumpra bem o papel que lhe coube a ele.

Paulo Marques disse...

Há uma coisa que eu não percebo... O VB não disse que ficava mesmo quando sabia do interesse da Juventus e outros clubes? A diferença entre as eventuais propostas são assim tão grandes para justificar a mudança de opinião?

Mário Faria disse...

PdC deu prioridade ao modelo. Embora VP não entusiasme particularmente pelos seus dotes oratórios, parece ser o homem com maior capacidade para dar continuidade a uma filosofia de jogo e a uma metodologia de treino que foram claramente ganhadores na época passada.
Muitas vitórias, um modelo suportado na posse de bola, equilibradamente ofensivo, sustentado num 4x3x3 dinâmico e pressionante, que os jogadores perceberam, interpretaram e com que hoje se identificam. PdC entendeu que o melhor era não tocar no “sistema” e para o concretizar tratou de prender VP, o homem em melhores condições para o manter e aprofundar.
Del Neri foi um exemplo e as sequelas com a saída de Mourinho deixaram-nos à beira de um ataques de nervos, com 3 treinadores numa só época, cada qual o mais inadaptado, apesar do excelente plantel do FCP e o enorme investimento alocado para o formar.
Não discuto a saída de AVB. Senti uma certa desilusão que se apagou muito rapidamente. Aprendemos a não espantar-nos muit´Aconteceu e temos de viver com ela. Preocupa-me mais esta incerteza quanto à constituição do plantel a verificar-se uma série de saídas de jogadores nucleares e não termos tempo para encontrar alternativas credíveis.
Acho que temos de tomar algumas iniciativas e correr alguns riscos, nomeadamente a contratação de 2 ou 3 jogadores para lugares chave, até agora ocupados por jogadores que o mercado persegue. É um jogo de paciência e de nervos, mas o tempo urge. A época está aí à porta.

Alexandre Burmester disse...

Não tem cara fechada como o Fernando Santos, diz o articulista. E eu digo: ainda bem! Toda e qualquer semelhança com o Santos - excelente homem, diga-se - é de evitar! Graças a ele o F.C. Remendados de Agramonte ostenta um tírulo de campeão nacional no seu currículo!

Azulantas disse...

É pá Alexandre, não vamos bater mais nos rapazes do Parque da Cidade que eles já sofreram q.b.

Mas teve piada essa dos Remendados de Agramonte, lá isso teve.

Abraços!

Hugo