sábado, 12 de janeiro de 2013

Baía a presidente, Baía a presidente!

Vitor Baía pertence ao mesmo lugar da geração dos anos 90 que ocupa Fernando Gomes, o "Bibota", com os portistas que cresceram nos anos 70 e 80. É o máximo símbolo no campo do que significa ser jogador, capitão e emblema do clube.

Quando voltou, depois de um período no Barcelona que começou bem mas que entre alguns erros e muitas lesões acabou mal, num jogo contra o Beira-Mar em casa, agora com o 99 às costas, esperava-a uma legião de adeptos fanáticos, desejosos de testemunhar em primeira pessoa o regresso do filho pródigo. Estava frio, muito frio, chovia  como no Porto habitualmente sucede nestes momentos. Eu tinha 39,5 graus de febre, estava de cama há dois dias mas conseguiu convencer por artes mágicas os meus pais que nunca me perdoaria perder o regresso do Baía depois de tantos anos. E lá fui ver um jogo com pouca história mas com muito simbolismo.

Só os grandes nomes são capazes de inspirar nos adeptos esse tipo de sensações, de intimidade.
Ao contrário dos seus colegas de equipa, os Jorge Costa, Sérgio Conceição, Paulinho Santos, Rui Barros ou Nuno Capucho, o antigo guarda-redes sempre deixou claro que não tinha nenhuma intenção de ser treinador. O seu lugar era atrás de um gabinete com um posto de acordo com o seu status. Simbologia para um líder que superou todos os registos, que ainda é o futebolista com mais títulos conquistados, e que começou a carreira na ressaca de Viena para acabar pouco depois da ressaca de Gelsenkirchen.


É claro que sabemos que para Vitor Baía ser algum dia presidente do FC Porto precisa de ter atrás de si uma equipa extremamente competente. Porque bom gestor não é.
Os seus problemas financeiros, as dividas (entretanto perdoadas) espelham o que habitualmente acontece com futebolistas com muito dinheiro, erros de aplicação de fundos, confiança nas pessoas erradas e falências precoces. Baía, de quem alguns dizem que até era benfiquista em miúdo, não seria a primeira pessoa em que eu pensaria para manter um controlo sobre as verbas do clube. Mas como símbolo institucional é uma das máximas referências do portismo.

Perante o cenário, já aqui avançado, de uma liderança bicéfala depois de acabar o mandato de Pinto da Costa (este ou os seguintes), o clube precisaria de uma figura consensual com os adeptos para presidente do clube enquanto que a SAD estaria entregue aos homens que, realmente, vão liderar os destinos do clube. Da mesma forma que muitos não engolem a imagem de Antero Henriques como presidente de facto, ninguém exclui que ele continue a mandar, como em parte já faz, com um "testa-de-ferro" no cargo. Nesse sentido, a figura de Baía, mais jovem, mais presente, mais subordinado, encaixa melhor que o perfil do "Bibota", outro eterno símbolo e crónico presidenciável.

Baía foi provavelmente o maior guarda-redes da história do futebol português. Como presidente seria um romper evidente com a herança de Pinto da Costa. O estilo do presidente é inimitável mas ninguém imagina Baía como guerreiro do Norte, a lançar farpas e ataques aos poderes instalados, dentro e fora de Portugal, a utilizar a retórica como arma política e com um faro para os negócios impecável. Mas a herança de PdC será pesada para todos e talvez muitos adeptos prefiram um líder simbólico, apoiado por uma equipa que mantenha a estrutura de sucesso, que uma aventura com alguém que aterre de fora, como António Salvador e Rui Moreira, e que rompa com os moldes actuais de gestão do clube.

Baía seria portanto um nome de consenso e de pouco poder, um presidente para a fotografia, de uma forma que os Adelino Caldeira, Fernando Gomes, Antero Henriques ou Reinaldo Teles jamais poderão ser. A sua herança, junto dos adeptos, daqueles que o viram nascer, crescer e triunfar de dragão ao peito seria um capital de prestigio e popularidade que demoraria muitos anos a perder-se, salvo uma gestão desastrosa, e deixaria espaço para que os homens dos corredores do poder continuarem a fazer negócios à sua maneira.

"Baía a presidente, Baía a presidente!" seria, seguramente, algo que não me surpreenderia ouvir da guarda pretoriana, ou da claque, como lhe queiram chamar, quando chegar a hora. Porque como parou o impossível no campo, o 1 (ou 99, como prefiram) também poderia continuar a tapar as perguntas mais incómodas no gabinete presidencial!

Outros artigos nesta série: 
A Sucessão: António Oliveira
A Sucessão: Antero Henriques
A Sucessão: O Fim de um Tabu

25 comentários:

Anónimo disse...

Que VERGONHA!!!

O HOMEM graça a Deus está para durar.

José Rodrigues disse...

O que é que é uma vergonha? Não percebi...

Miguel Lourenço Pereira disse...

Que debatamos a sucessão do NGP Zé, há quem acredite na fonte da eterna juventude. Andaram os espanhóis atrás dela na América e está na Madalena!

Alexandre Burmester disse...

O anónimo comentário reflecte bem aquilo que eu escrevi no primeiro artigo desta série, acerca do tabu da sucessão de Salazar! É sacrilégio sequer pensar que Pinto da Costa algum dia se retirará - mesmo que o próprio já o tenha deixado antever!

Anónimo disse...

Vitor Baia nao quero... nao lhe reconheço capacidades como gestor, não faço ideia se percebe de futebol (o facto de ter jogado não implica que sabe "ler" o futebol ao ponto de saber quais são os melhores treinadores ou jogadores), não valorizo que tenha sido jogador e penso que esse atributo não faz um bom presidente (PdC é o melhor presidente de sempre e não foi jogador).
As unicas vantagens do VB seria a sua capacidade de liderança (essa sim reconheço) e a mistica que transporta junto da massa associativa.
No computo regal...repito, não aprecio essa solução.
O meu voto (ja o disse noutro post) recai sobre o AVB. Vai fazer uma análise dessa possibilidade? :)

Alexandre Burmester disse...

Por outro lado, o nosso anónimo pode ter apenas lido o título do artigo do Miguel, e pensado que ele fazia um apelo à mudança imediata! ;-)

Anónimo disse...

Uma boa análise do MLP em relação a uma hipotética candidatura de VB a presidente do FCP. Subscrevo esta análise na sua totalidade, o que não invalida que na minha opinião uma solução como esta nunca terá o meu apoio e voto. É que facilmente se conclui que um presidente com estas condicionantes estará para o FCP como a Rainha Isabel está para a Inglaterra; não passará de uma figura com peso institucional, mas sem poder efectivo. Como eu sou um daqueles que gosto enfrentar o touro pelos cornos, logo só um candidato de corpo inteiro terá o meu voto.

Anónimo disse...

Tem toda a razão Alexandre; cá para mim ainda vão aparecer por aí os defensores que Pinto da Costa passe a ser presidente vitalício. Mesmo que não seja ele a executar o cargo. Eu sou um daqueles que vivi o clube antes e durante a direcção de PdaC; mas não nos podemos esquecer que estes mais de 30 anos de presidência de PdaC gerou que a grande maioria dos Portistas que não conheceram outro presidente não consigam eles próprios distinguir o que é ser Portista ou Pintista. Para eles é a mesma coisa.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Anónimo,

Obrigado pelo comentário. Nenhuma das análises publicada significa que quem a escreve apoia publicamente este ou aquilo candidato como futuro presidente. Eu, pessoalmente, não vejo o Vitor Baía como um grande presidente a não ser que trabalhe com uma excelente equipa por detrás.

um abraço

HULK 11M disse...

Nem Vitor Baía nem António Oliveira, mas... se tivesse que escolher entre um e outro não hesitaria em votar no Oliveira, apesar de tudo o que li por aqui...
Venham daí mais 5... nomes!!! :-)

Anónimo disse...

Estou "assustado" com esta nomeação.

É o ultimo grande jogo do João ... e dizem-me que um dos fiscais de linha é o Ferrari...

O FCP devia "por" o MGuedes, O Rodolfo e outros a serem entrevistados e a condenarem e denunciando esta nomeação .

CALADOS ESTAMOS TRAMADOS.

E voces distraídos com candidatos a candidatos...

Andre Correia disse...

Oliveira ou antero henrique perfeitos para a sucessa ou msm o salvador

Pedro disse...

Nao tenho comentado muito estes temas da sucessao porque, teria de saber as equipas e programas de cada um.
Só uma 2 perguntas: porquê que pensam que alguém como Baía ou Fernando Gomes( ex-jogador) seriam apenas presidentes para a fotografia? Porquê que pensam que muitos adeptos se contentavam com isso, sobretudo se acham que é para manter o mesmo modelo de gestao? (Aparentemente estes 2 apenas se candidatariam como forma de manter a actual estrutura).
Pessoalmente, e já o disse, dificilmente apoiarei, qualquer soluçao que seja para manter esta gestao financeira, e a nao ser que exista uma inversao bastante acentuada da politica actual, nao apoiarei nenhuma soluçao de continuidade, independentemente do testa-de-ferro que quiserem arranjar.
Cumps

André disse...

Acho que o António Salvador seria um excelente presidente com Antero a tratar do futebol.É uma pessoa que tem sucesso e experiência no futebol português.Fundamental ainda é ser do FCPORTO.

Daniel Gonçalves disse...

Discordo do Miguel Lourenço Pereira.

Não considero Vítor Baía o perfil adequado para Presidente do nosso FC Porto, talvez para outro cargo na estrutura. Penso que Jorge Costa encaixaria melhor no perfil que considero adequado para Presidente, alguém com cara de pau ou cara de poucos amigos, manhoso, astuto são qualidades necessárias para lidar com o clima desportivo, social e político tipicamente português. Os nossos inimigos/rivais devem temer e respeitar o nosso Presidente, pois isso é preferível a ser visto como um ex-ídolo - é desta maneira que panorama nacional, mesmo os nossos adversários, encara o Baía - do futebol nacional e, consequentemente, susceptível de ser influenciado e manipulado, pois Baía pode sentir-se vinculado por questões de "etiqueta" desportiva.
É preferível termos um Presidente com as virtudes de um Armand du Plessis (aka Richelieu) do que alguém com o perfil de um Neville Chamberlain. Uma personalidade que não se importe de ser temido em certos meios, que se «borrife» (para não usar outra palavra menos educada) para o "desportivismo" quando este apenas implica vassalagem ou servilismo.
Considero o Baía demasiado pacato para o cargo, e coloco António Oliveira no mesmo prato da balança, prefiro um "bruto" (no sentido de força física e mental) ao estilo do António Salvador. Não vivemos num Mundo ideal em que a ética seja respeitada e valorizada, portanto, vendo a realidade de uma forma pragmática, para não sermos "comidos" temos de colocar de lado um respeitinho com sabor a submissão.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Daniel,

Eu em nenhum momento disse que o Baía era o perfil adequado. Simplesmente estamos, no RP, a abordar o perfil de distintos sucessores de PdC tendo em conta os pontos a favor e contra e as suas respectivas bases de apoio!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Pedro,

Porque o perfil de ambos não indica, desde já, que sejam lideres, pastores de homens, figuras capazes de pegar no clube e moldá-lo ao seu estilo de gestão. São figuras mais ou menos simpáticas e consensuais com os adeptos mas que teriam uma necessidade evidente de uma equipa forte atrás que pode ser perfeitamente a actual, onde também não há nenhuma figura que inspire liderança absoluta!

Anónimo disse...

Só a hipotese já é ridicula ?

José Rodrigues disse...

Mas porque diabo nao e' sequer conciliavel que se seja 'Pintista' ao mesmo tempo q se discuta a sua sucessao?

Alias o proprio homem disse q nao tenciona ficar mais do q 3 anos, despoletando ele proprio o tema.

José Rodrigues disse...

Bem, sobre o Baia...

Antes de mais estou convicto q uma lista (mais ou menos de continuidade) com Baia a presidente e A. Henrique, A. Caldeira e A. Ferreira na SAD seria uma lista vencedora. Muito dificilmente outra lista venceria esta lista (so' com o apoio de PdC, o q duvido muito).

Tambem me parece extremamente plausivel q numa tal (hipotetica) lista Baia fosse pouco mais do q uma 'Rainha de Inglaterra'. O mesmo ja' nao diria necessariamente em listas com uma composicao algo diferente (por ex, com Baia 'herdando' apenas A. Henrique da lista actual), nao excluo a possibilidade.

De qq forma, do modo q Baia deixou a SAD parece-me q nao devem morrer muito de amores uns pelos outros, sendo pouco provavel q tal lista venha a realmente acontecer. Mas nunca se sabe...

De resto Baia poderia ser um candidato interessante preenchendo alguns bons requisitos mas deixa tb imensas duvidas noutros, e muito dependeria do programa e de quem o acompanharia.

HULK 11M disse...

Concordo em absoluto com o "perfil do candidato ideal" traçado pelo Daniel.
Só discordo da apreciação feita ao António Oliveira. Ele não é nada "pacificador", antes pelo contrário, até é bastante conflituoso, razão pela qual eu colocaria reticencias à sua candidatura. Mas é um facto que nos últimos tempos ele anda a tentar criar uma imagem de conciliador. Será uma coincidência ou está a preparar uma candidatura a qualquer coisa?

Bluesky disse...

Disse aqui há dias neste site, e pelos vistos fui mal compreendido, quando disse que uma pessoa genial como Pinto da Costa abandonasse o barco no ultimo dia do seu mandato e dissesse: agora meus senhores, é convosco!. Não acredito minimamente nisso e quando chegar a hora, creio que o nosso presidente dirá as dicas suficientes na pessoa a suceder-lhe no cargo, como aliás já disse várias vezes e para quem não tem memória curta citou 2 ou 3 nomes; Belmiro de Azevedo, Pôncio Monteiro (já falecido) e Américo Amorim!!!!
Tirando o falecido os outros dois devem perceber de futebol como eu percebo de hipermercados ou cortiça...
Por isso acho que seja quem for o presidente que venha a suceder a Pinto da Costa, será sempre alguém que os portistas votarão porque PC assim o fará!!!!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Mas Felisberto, uma pergunta. O FC Porto passou a monarquia quando?

Carlos Santos disse...

Caro Miguel, com todo o respeito, não sejamos ingénuos...Você tem alguma dúvida que se PdC "indicar", directa ou indirectamente, um candidato esse mesmo será obviamente o vencedor? Se tem, não as tenha, é que será mesmo assim.

O FCP não é uma monarquia, mas devido ao sucesso arrebatador que PdC obteve, a sua figura não é muito diferente da de um Rei absolutista com a vantagem que conquistou esse estatudo através do mérito.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Carlos,

Eu quero acreditar que temos uma massa de sócios (que não é o mesmo que massa adepta) que tente ver se um projecto apontado por PdC reune as condições necessárias para ser o melhor para o futuro do clube. Não duvido que o seu voto tenha imenso peso, mas não dou por garantido a 100% que se PdC aponta um nome (que não vai fazer de certeza), ele seja vencedor absoluto!